Em novembro de 2000, a Escola Astroletiva lançou seus cursos de Astrologia Médica via Internet, sendo que o módulo introdutório foi aberto à participação de todos os interessados. Apareceram mais de 700 participantes e muitas questões interessantes, parte das quais foi selecionada para este artigo. Para preservar a identidade de missivistas e pacientes, não são citados nomes nem apresentados os mapas utilizados. Contudo, relacionam-se os dados suficientes para a compreensão de cada caso.
Netuno e Peixes
–Soube que Netuno na primeira casa dá uma grande sensibilidade às drogas, inclusive medicamentos, e que as pessoas com este posicionamento necessitam de doses menores de remédios, certo? A dúvida é: este princípio também vale para quem possui um Netuno forte, seja no Meio do Céu ou em dignidade por signo, ou Netuno na XII?
ANA TERESA OCAMPO – Netuno é importante, mas é de ação muito sutil para os planos físicos de existência. Ele terá maior importância se fizer contatos com planetas pessoais do mapa. É claro que estando enfatizado numa carta – angular, muito aspectado, ênfase em Peixes – colore a vida dessa pessoa num tom de maior sensibilidade e susceptibilidade. Mas o principal fator a se considerar para alergias e susceptibilidades é em geral a Lua. Ela é quem dá as principais dicas de como “digerimos” e expressamos nossa relação com o mundo externo, seja dos alimentos, seja dos afetos. Netuno sozinho, seja angular (Ascendente, Meio do Céu) ou domiciliado, pode não ser um fator de ênfase importante, especialmente se o resto do mapa indicar outras áreas de tensão mais evidentes para considerar.
–Peixes no Ascendente também aumentaria a sensibilidade aos medicamentos?
ANA TERESA OCAMPO – Peixes no Ascendente me parece mais importante que o planeta Netuno sozinho para o tom do mapa; como já disse, Netuno é transpessoal, e o Ascendente é um ponto bastante pessoal do mapa. Peixes ascendendo pode indicar uma natureza mais sensível, especialmente porque o restante da carta tende a corroborar isso, mas veja essa sensibilidade de uma forma mais geral que restrita apenas a medicamentos ou alimentos.
Discutindo a casa 6
–Quando a casa 6 não apresenta nenhum planeta, o que significa para a saúde da pessoa?
CARLOS HOLLANDA – A casa 6 não só é a casa da saúde, mas do trabalho. Muitas vezes a má saúde é decorrente de trabalho excessivo ou de más condições de trabalho. Para que tenhamos saúde, é preciso que nosso mecanismo de assimilação de experiências objetivas ou físicas também trabalhe bem. Este mecanismo é o corpo. Quando não há planetas numa casa, antes de tudo verificam-se as características do signo na cúspide. Dependendo de que signo está na casa 6, podemos ser propensos a problemas derivados de impulsividade (Áries), de fatores emocionais (Escorpião) ou causados por estresse (Aquário, Gêmeos, Virgem).
O significador dos assuntos da casa é o regente do signo que está em sua cúspide. Se é Saturno, podemos ter artrose, LER ou podemos ser sistemáticos com nossa saúde a ponto de evitarmos doenças mediante diversos meios de prevenção. O signo que este regente ocupa, bem como suas condições por aspecto, também mostram as características da saúde e do trabalho. Se ele estiver no meio de um stellium, onde Marte também está, mesmo que a órbita seja muito extensa, ainda assim é grande a tendência a cirurgias.
Se o dispositor estiver em Câncer, os prováveis problemas de saúde podem ser derivados de problemas em família e neuroses ou reminiscências de traumas infantis. Pode atuar gerando problemas no aparelho digestivo e na linfa. Mesmo assim, nem sempre a mera presença de um planeta num signo é significadora de doenças. É preciso considerar suas condições por aspecto e o restante do mapa. Na maioria dos casos, o regente da 6 refere-se ao modo como o indivíduo conduz sua alimentação e seus cuidados com a saúde, bem como a sua capacidade de prestar serviços.
ANA TERESA OCAMPO – Em qualquer caso de casas vazias num mapa, deve-se procurar pelo regente do signo em sua cúspide, seu posicionamento e aspectos. A casa onde ele se situa, e os aspectos dinâmicos que apresenta, dirão muito da área e da intensidade com que essa “casa vazia” expressa suas questões.
No caso das casas tradicionalmente significadoras da saúde (VI, VIII e XII) o princípio aplicado será o mesmo. Na casa VI, o regente indicará como esse indivíduo lida com seu cotidiano, e em que setores de sua vida as rotinas diárias levam-no ao prazer ou à restrição e ao sofrimento. Dependendo dos signos no eixo VI-XII, podemos pesquisar dicas importantes sobre áreas susceptíveis de adoecimento, tanto no plano físico quanto no emocional, mental etc. Mas não se iludam muito, nenhuma casa sozinha aponta para fatos absolutos e determinantes no mapa; o conjunto todo de regências e jogos de relação do mapa é que sintetiza as “áreas de escape” na vida da pessoa.
Nota: Preservamos aqui a preferência de cada astrólogo quanto à grafia das casas: Hollanda com algarismos arábicos e Ana Teresa com romanos.
–O posicionamento de Marte na casa 6 poderia auxiliar na manifestação física de alguma doença indicada por outros dados do mapa?
CARLOS HOLLANDA – Marte na 6, nas condições em que está, indica, além da própria tendência ao diabetes (de acordo com o que o restante do mapa confirma), potencial para cirurgias e disfunções cardiovasculares, mas veja, não podemos ser drásticos em diagnósticos. Seria interessante ver o histórico familiar.
ANA TERESA OCAMPO – Marte na casa VI costuma deixar claro as doenças agudas, físicas, e estas podem ser abruptas, inflamatórias, cirúrgicas. É diferente de Netuno, por exemplo, que no eixo VI-XII costuma mascarar os diagnósticos e dar um trabalhão para os médicos…
Discutindo o planetoide Quíron
–Existe algum estudo de Astrologia Médica que envolva o planetoide Quíron? A posição de Quíron no mapa pode fornecer alguma indicação sobre onde está a nossa “ferida” ou onde podemos encontrar a cura?
CARLOS HOLLANDA – Sobre Quíron existem dois livros que, mesmo após tê-los relido, considero um pouco confusos. Um deles é de Barbara Hand Clow, publicado pela Pensamento. O outro não me disse muita coisa na época em que li, tanto que não o possuo e infelizmente não consigo lembrar o nome do(a) autor(a) para lhe passar.
Em 1999 saíram dois ou três livros sobre Astrologia Cármica, mas com abordagens um pouquinho divergentes. Um de Zolar e outro de Judy Hall, que me lembro. Existem ainda os seguintes autores: Dorothée Bizemont, Jeanne Avery e Ry Reed. Jeff Green fala bastante sobre o assunto em seu livro sobre Plutão e Martin Schulman tem uma coleção a esse respeito. Todas as abordagens são um pouco discordantes, por isso é necessário filtrar bem as informações.
Liz Greene e Howard Sasportas falam um pouco sobre Quíron, no livro Os planetas Interiores, publicado pela Roka (ou Roca, como se escrevia na época). Howard Sasportas ainda fala um pouco mais, em As Doze Casas (Pensamento).
ANA TERESA OCAMPO – Conheço poucos astrólogos que trabalhem com Quíron, e os que conheço são mais ligados à área da Psicologia. Eu sempre o deixo marcado no mapa, como um fator a mais para entender certos temas de sofrimento ou tensão da pessoa, mas não o uso como um fator isolado de análise. Acredito que este é mesmo um grande tema para pesquisa, mas o que vejo nos mapas é que ele, geralmente, corrobora o tema geral. Presto atenção a ele especialmente quando faz conjunção ou oposição a algum planeta pessoal.
Nestes casos, você pode aprofundar a leitura considerando a qualidade deste planeta e o signo (ou eixo de signos) em que Quiron está; costuma dar umas boas dicas sobre questões internas (mais psicológicas do que físicas) que essa pessoa não consegue resolver ou com as quais não consegue lidar. Nesses casos, funciona mesmo como uma espécie de “ferida latente”, da qual muitas vezes nem se fala muito se o astrólogo não der uma pesquisada.
–Carlos Hollanda: você comentou a atuação de Quíron na Astrologia Cármica. Fiquei muito interessada e gostaria de saber se é possível encontrar algum material com esta abordagem ou se ela é oriunda de seus estudos particulares. Pessoalmente, conheço somente duas técnicas: a Carta Nodal ou Dracônica e uma outra, que monta um novo mapa considerando como Ascendente a cúspide da casa onde se situa Saturno. Com este último processo é possível tirar algumas observações bem significativas.
CARLOS HOLLANDA – Sem dúvida nenhuma, a carta com Saturno no Ascendente e a dracônica são boas ferramentas. O que acontece é que, como todas as técnicas e modelos de interpretação, chegamos a conclusões e sínteses muito parecidas. Particularmente prefiro usar uma combinação de técnicas todas as vezes em que tenho dúvidas a respeito de uma percepção do mapa. Entre as técnicas usadas para o estudo de reminiscências, pode-se usar o mapa tradicional, isto é, sem alteração alguma, bastando que se mude o enfoque da leitura. Outra técnica é o uso do ayanamsa, o zodíaco sideral. Outra é o uso das relações planetárias e de signos em ângulos de 150 graus, que eu chamo de “lei dos quincunces”. Como sempre, uma não é melhor do que a outra. É nosso modo de usar que faz a diferença.
Ana Teresa Ocampo é astróloga e médica homeopata e sanitarista. Carlos Hollanda é autor de diversos livros, como Progressão Lunar e Kabballah.
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