Abril de 2009: bastou uma semana para que a gripe suína se transformasse numa histeria mundial. O surto se iniciou em algum momento no final de 2008 ou início de 2009, entre criações de porcos de áreas pobres do leste mexicano. No início de abril – provavelmente no dia 1º – o ciclo de transmissão do vírus tornou-se exclusivamente humano. A partir do “paciente zero”, uma criança de cinco anos do vilarejo de La Gloria, no Estado de Veracruz, os casos começaram a multiplicar-se, rapidamente atingindo as centenas. Em 24 de abril, o governo do México e a imprensa da capital acordaram para o problema e reconheceram a existência de uma epidemia. No dia seguinte, os casos começaram a pipocar de forma inquietante, inclusive no exterior. A OMS começou a assumir a possibilidade de uma pandemia.
Impossível não pensar, diante da iminência de uma pandemia, em processos semelhantes já ocorridos no passado e em suas possíveis correlações astrológicas.
A peste negra e a gripe suína
Em 8 de novembro de 1998 Fernando Fernandse e Ana Teresa Ocampo apresentaram um estudo astrológico sobre epidemias num evento promovido pelo SINARJ, na Barra da Tijuca. O mesmo estudo foi publicado na edição de novembro de 1998 de Constelar, com o nome de Peste Negra, o Apocalipse do século XIV. Trata-se de um detalhado estudo sobre a terrível epidemia que varreu todo o mundo então conhecido em meados do século XIV, matando aproximadamente um terço da população europeia. O artigo se encerrava com a proposição de três princípios de identificação astrológica de epidemias. Podemos tentar aplicá-los à gripe suína de 2009, para verificar se o quadro confirma as hipóteses de dez anos antes. Seguem-se algumas citações do artigo de 1998 acompanhadas de comentários atuais:
A ênfase em signos regidos pelos planetas tradicionalmente considerados opostos à vida e ao bem-estar, Marte e Saturno. A presença de qualquer desses planetas como dispositor final do mapa pode ser um poderoso indicador de epidemias de grande porte. Esta é a hipótese levantada pelos médicos-astrólogos do século XIV.
Esta condição encontra-se parcialmente preenchida na eclosão da gripe suína, entre 1º e 2 de abril de 2009, quando o “paciente zero” – um menino de 5 anos – manifesta sinais da virose na pequena cidade de La Gloria, estado de Veracruz, México. O mapa da ocasião mostra seis planetas ocupando signos regidos por Marte e Saturno. Em apenas quatro dias outras três mil pessoas da mesma cidade haviam contraído a estranha doença.
Contudo, a gripe suína permaneceu vista como um problema local por mais três semanas. O sinal de alerta finalmente aconteceu na sexta-feira, 24 de abril, quando o Ministro da Saúde do México admitiu que o país enfrentava uma epidemia que já havia feito, até aquele momento, 20 mortos. 24 de abril é o dia em que o mundo acorda para o problema e novos casos começam a ser relatados em locais cada vez mais distantes do foco original – inclusive no exterior. A doença é “batizada” e começa a ser chamada “gripe suína”. O governo manda fechar as escolas na cidade do México e máscaras cirúrgicas passam a ser distribuídas a toda a população.
O mapa de 24 de abril preenche todas as condições delineadas pelos astrólogos do século XIV: metade dos planetas está em signos de Marte e Saturno; Marte está em domicílio e é dispositor final da carta, considerando o esquema de regências clássico.
A presença de Netuno em Aquário relacionada com a de Plutão em signos de Fogo (…).
Netuno estava em Aquário quando da eclosão da peste negra e encontrava-se de novo em Aquário de 1998 a 2011, num período em que diversas epidemias e pandemias eclodiram no mundo. A gripe suína resulta de mutações do vírus da gripe aviária, que apresentou vários surtos no Oriente a partir de 1997. Todo o período de eclosão e propagação da gripe aviária ocorreu com Plutão em Sagitário, signo de Fogo.
A ocorrência de aspectos Marte-Júpiter e a ativação do eixo Gêmeos-Sagitário – o eixo da troca e da velocidade.
Na data de 24 de abril, cuja importância já foi ressaltada mais acima, não havia nenhum planeta no eixo Gêmeos-Sagitário, mas havia uma interessante configuração: Júpiter conjunto a Netuno e ao asteroide Quíron (comumente relacionado à medicina) em Aquário e ambos em quadratura com Mercúrio em Touro. Na eclosão da peste negra na Europa havia uma configuração análoga, qual seja, Júpiter em Touro em quadratura com Netuno em Aquário. Mercúrio e Júpiter são exatamente os regentes do eixo do movimento e dos deslocamentos rápidos – Gêmeos e Sagitário.
No balanço geral, dos três princípios propostos para a compreensão da peste negra, dois se aplicam totalmente e um se aplica parcialmente à compreensão da gripe suína [1]. Mas é preciso ir mais além, investigando outras configurações presentes no céu no período da eclosão da gripe suína.
Tanto o mapa do “paciente zero” (1º de abril) quanto o da internacionalização da gripe (24 de abril) apresentam duas configurações em comum: a conjunção Júpiter-Netuno num signo de Ar e a quadratura Vênus-Capricórnio. O toque mais dramático está presente no mapa do dia 24, quando Mercúrio, além de fazer quadratura exata a Netuno, formou também conjunção com a estrela fixa Algol, a de pior fama do zodíaco.
Algol vem do árabe Al Ghul, significando “O Demônio”. Representa o olho esquerdo da górgona Medusa, decapitada por Perseu. Tradicionalmente é considerada a mais perigosa de todas as estrelas, sendo associada a infortúnio, decapitação ou enforcamento e natureza violenta que causa a própria morte ou a de outros.
Agronegócio e pandemias
Quem estava sendo decapitado na pandemia de 2009? Para começar, as próprias vítimas, que se dividiam em dois grupos: mexicanos pobres e turistas que visitaram o país entre março e abril. Com toda a certeza, também as autoridades mexicanas, que há meses vinham recebendo denúncias sobre as precárias condições sanitárias das criações de porcos em alguns estados, sem tomar providências realmente efetivas. Evidentemente, tiveram de pagar o custo político de paralisar a economia do país, como parte das providências de enfrentamento da epidemia.
Mas quem deveria ter saído muito arranhado do episódio da gripe suína era o próprio modelo de agronegócio hoje praticado no mundo: em nome da racionalidade da produção e da redução de custos, aves e animais de corte são criados em confinamento sob condições cruéis, e recebendo cuidados cada vez mais distantes de suas reais necessidades biológicas. Frangos, porcos e vacas que mal podem se movimentar, que se alimentam de rações com doses maciças de hormônios de efeito cancerígeno, que são submetidos à luz artificial permanente para acelerar o próprio metabolismo – é isso que as modernas fazendas-modelo produzem, de olho na exportação.
A enorme concentração de animais criados em condições antinaturais já cria as condições favoráveis para a eclosão de epidemias. Qualquer descuido sanitário, ou qualquer mutação genética em vírus antes inofensivos, pode provocar um surto epidêmico de vastas proporções. É quando o vírus, antes restrito a animais, passa para hospedeiros humanos, que, a partir daí, tornam-se os propagadores da doença. É o que aconteceu com a gripe suína, que, apesar da origem animal, apresenta uma propagação totalmente humana.
Touro e os animais de corte
Ao falarmos de animais – especialmente animais destinados à alimentação – é bom não esquecer o simbolismo do signo de Touro.
A conjunção dos sete planetas visíveis em Touro, em maio de 2000, colocou um foco bem definido nas relações entre tecnologia e natureza. A subsequente descoberta de Sedna, planetoide cujo simbolismo aponta claramente para a questão da diversidade biológica, agregou mais peso ao foco taurino (Sedna está em Touro desde 1968!). A descoberta de Éris, planeta-anão cujo simbolismo está ligado à temática libriana de enfrentamento de ameaças coletivas, reforça ainda mais a ênfase na sustentabilidade, grande desafio da humanidade nas próximas décadas.
Nas semanas da eclosão da gripe suína, notou-se também uma persistente quadratura entre Vênus, regente de Touro, e Plutão, regente moderno de Escorpião. A quadratura sempre marca um conflito, uma desarmonia. No caso, os conceitos em choque são a abundância de recursos oriundos da natureza (Vênus/Touro) e a forma como são socialmente processados, distribuídos e reciclados (Plutão/Escorpião). Como o modelo de agronegócio hoje praticado não leva em conta a sustentabilidade, a natureza (Touro) tem cobrado um alto preço sob a forma de tragédias ambientais e de desequilíbrio biológico, abrindo campo para que micro-organismos (Plutão) se transformem em ameaças globais. Foi o caso do mal da vaca louca (2001), da gripe aviária (vários surtos nos últimos anos), da SARS (2003) e da gripe suína (2009).
Falando em porcos: chiqueiros são regidos por Saturno, conforme William Lilly. Em 2009 Saturno estava em Virgem. Por causa de uma doença oriunda – segundo a imprensa americana – de más condições sanitárias em chiqueiros mexicanos, a população de grandes centros urbanos foi obrigada a cobrir o rosto com máscaras cirúrgicas cuja função é purificar o ar. A população foi orientada a evitar toques físicos e a lavar as mãos com frequência. O que vimos, pois, foi uma exacerbação do separativismo e da excessiva preocupação virginiana com filtragem e purificação.
A vingança de Montezuma
No já referido estudo sobre a peste negra, depois de enfatizarmos a ligação entre Netuno em Aquário e a pandemia do século XIV, estabelecemos conexões com outra epidemia de gravíssimas e vastas consequências, ocorrida logo nos primeiros anos da presença europeia no continente americano. Não por acaso, esse trecho do artigo de 1998 trata exatamente do México, terminando com uma previsão que se revelou bastante correta:
Outro ciclo de quinhentos anos é o que medeia as passagens de Netuno em Aquário entre 1507 e 1521 e nos tempos atuais, a partir de 1997. Em ambos os casos, Plutão está em Sagitário [2]. No século XVI, o grande movimento coletivo foi o confronto cultural entre as civilizações europeia e ameríndia, cujo foco de máxima exacerbação expressou-se no massacre da civilização asteca pelos invasores espanhóis. Como já vimos, o genocídio bélico fez-se acompanhar, naquela ocasião, pelo morticínio provocado pelas doenças contra as quais os nativos não tinham defesas imunológicas. A repetição da mesma configuração, no final do século XX, coloca novamente o México em evidência através da emergência do movimento Zapatista, que carrega atrás de si toda uma tentativa de revivescência dos valores da cultura indígena. (…)
É provável que estejamos presenciando o início de um grande movimento de ajuste civilizatório nas Américas entre as culturas de base europeia e nativa. As tensões serão maiores exatamente onde a massa de origem autóctone é mais significativa, como no México, na Guatemala e em todos os países da região andina. E não é improvável que alguma nova epidemia venha à luz, e desta vez no sentido inverso, ou seja, da população indígena rural para os brancos de ascendência europeia.
Agora vamos aos fatos: foi ao longo do trânsito de Plutão em Sagitário e Netuno em Aquário (1507 a 1515) que a Europa tomou conhecimento da enorme expansão de fronteiras consubstanciada na descoberta do Novo Mundo e nas ricas possibilidades econômicas do continente. Se bem que as descobertas tenham acontecido ainda com Plutão em Escorpião e Netuno em Sagitário, foi apenas com a disseminação dos relatos de viagem de Américo Vespúcio e do primeira mapa da América, em 1507, que a notícia chegou em detalhes à população europeia, quanto Netuno já fazia a transição de Capricórnio para Aquário.
A popularização do nome América, assim como sua incorporação ao imaginário europeu, é um fenômeno de Netuno em Aquário – literalmente, uma fantasia utópica de uma terra livre e cheia de novas oportunidades. Contudo, a conquista dos mais ricos territórios do Novo Mundo acontece já com Plutão em Capricórnio: o Império Asteca do México, entre 1519 e 1521, e o Império Inca da região andina, em 1532.
Da conquista espanhola aos tempos de Hugo Chávez
Pode-se fazer assim um instigante paralelismo: o período de 1507 a 1515 guarda analogia com o período 1998 a 2007, já que ambos apresentam, ao mesmo tempo, Netuno em Aquário e Plutão em Sagitário. Já a fase de 1515 a 1520 pode ser comparada ao período de 2008 a 2011, em que temos simultaneamente Plutão em Capricórnio e Netuno em Aquário.
Foi exatamente sob Plutão em Capricórnio e Netuno em Aquário que o conquistador espanhol Hernán Cortés, à frente de um pequeno exército de 500 homens, conseguiu seduzir e capturar o líder máximo do poderoso império asteca, o mais importante poder político organizado das Américas. A conquista, que começou em 1519, teve como grande arma os micro-organismos que traziam as doenças europeias, até então desconhecidas dos nativos. Por falta de anticorpos, milhões de indígenas vieram a morrer de epidemias de doenças comuns, como a gripe e sarampo. Por esse motivo a conquista do México costuma ser considerada a primeira guerra bacteriológica da História.
Plutão em Capricórnio é tempo de derrocada de grandes impérios. No século XVI, foi o Império Asteca, à custa de armas e da gripe. Agora pode ser a vez do império americano, por culpa da recessão econômica e – talvez – de uma nova pandemia.
A ressonância astrológica do início do século XXI com os primórdios da colonização do continente trouxe uma espécie de movimento de compensação: novas lideranças continentais subiram ao poder com um discurso fortemente nativista, apelando para as raízes ancestrais. Foi o caso de Hugo Chávez na Venezuela, de Rafael Correa no Equador e especialmente de Evo Morales na Bolívia. E a ressonância chegou ao ponto de promover a eclosão de uma nova e perigosa pandemia exatamente numa região rural e habitada pelos descendentes de indígenas mexicanos.
Eis o que escrevemos em abril de 2009:
Sob a mesma configuração que trouxe a mortal gripe europeia para dizimar os guerreiros do império asteca, surge num povoado habitado por “descendentes dos astecas” o vírus mutante que pode espalhar-se além-fronteiras e aniquilar europeus e seus descendentes modernos, os americanos. Assim, a previsão que fizemos dez anos atrás começa a tornar-se verdade de maneira dramática e inesperada.
Os avanços da ciência do mundo desenvolvido não permitiram que a “vingança de Montezuma” se concretizasse em 2009. Mas o agronegócio e suas as práticas da criação de animais continuam sendo o calcanhar de Aquiles do modelo de prevenção de novas pandemias. Foi assim que um certo mercado de frutos do mar e animais selvagens na cidade de Wuhan, na China de 2020, traria outra vez o medo para os noticiários mundiais.
NOTAS
NOTAS
[1] O único aspecto que não se aplica à gripe suína, Marte-Júpiter, só foi citado no artigo de 1998 em função de um erro: na época, trabalhamos com um mapa da chegada da peste à Europa em 1º de novembro de 1348, quando o fato havia ocorrido, na verdade, quase um ano antes.
[2] No início do período, já que Plutão permanece em Sagitário até 1515, quando entra em Capricórnio.