A
ilha dos manezinhos
Entre 1748 e 1756 algo em torno de 6 mil portugueses
oriundos do Arquipélago dos Açores (a maioria) e da
Ilha da Madeira desembarcaram no Desterro, como erra chamada então
a ilha onde hoje se ergue Florianópolis. Esta imigração
foi decisiva para a definição do perfil étnico
de Santa Catarina, que se completou apenas um século mais
tarde, com a chegada dos alemães e italianos.
Os alemães dão a tônica da cultura
do vale do Itajaí, da mesma forma que os italianos definiram
o perfil de Criciúma e do restante da região carbonífera
do sul do estado. Mas Florianópolis é o caso único
de uma cidade açoriana fora dos Açores, ponte entre
o litoral brasileiro e aquele arquipélago vulcânico
perdido no meio do Oceano Atlântico, como explica o site Portal
da Ilha:
A imigração açoriana coincide
com o desenvolvimento das armações de baleia. Com
isso, boa parte dos "colonos" acabaram se empregando na
atividade pesqueira e na construção naval. Formando
a grande maioria da população da Ilha, os açorianos
participaram de modo decisivo na elaboração da cultura
local. As técnicas de pesca, o carro-de-boi, a olaria de
cerâmica utilitária e decorativa, a renda-de-bilro,
o "boi-na-vara" e a "farra-do-boi", as festividades
do Divino, o "pão-por-Deus", os fandangos, etc.,
são herança dos filhos do Arquipélago, que
ainda nos legaram uma literatura oral e uma mitologia riquíssimas,
forneceram o substrato lingüístico local e desenvolveram
aqui o engenho de farinha, a partir da combinação
do moinho de vento com a atafona.
Os descendentes dessa gente humilde constituem hoje
a massa dos Manezinhos, termo pelo qual são conhecidos
os nativos de Florianópolis ou os que ali decidiram viver.
O Manezinho mais famoso de todos é um certo Gustavo
Kuerten, cujo sobrenome alemão parece comprovar que a cultura
açoriana há muito tempo deixou de ser uma questão
étnica para se transformar num patrimônio de todos.
Mas quais seriam os significadores astrológicos
dos Manezinhos? Para isso é preciso considerar o mapa da
chegada dos primeiros colonos. O grupo inicial de 88 casais, num
total de 461 pessoas, desembarcou na ilha no dia 5 de janeiro de
1748. Dentre esses açorianos pioneiros, muitos vieram à
força, por serem considerados um "peso morto" em
seu arquipélago de origem: velhos, órfãos,
inválidos etc.
Basta um conhecimento elementar de Astrologia para
reconhecer neste movimento um forte componente netuniano ou pisciano.
Netuno é significador do ilimitado, do oceânico, das
camadas marginalizadas da sociedade, assim como da pesca, da musicalidade,
da emigração forçada, do exílio, da
insularidade, de tudo, enfim, que faz parte do processo de formação
de Florianópolis. E basta observar o mapa daquele 6 de janeiro
de 1748 para logo observar alguns fatos interessantes.
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Chegada dos primeiros casais de açorianos
na Ilha de Santa Catarina - 6.1.1748 - 27s35, 48w33. |
- Netuno é o planeta de maior destaque na
carta, seja por sua oposição e Sol e Júpiter,
seja pelo seu isolamento. O mapa tem o formato de um balde (nove
planetas ocupando metade da mandala enquanto o décimo planeta
ocupa sozinho a outra metade), configuração que dá
ao planeta isolado uma importância especial, como se fosse
a alça que puxa todo o conteúdo do balde. É
exatamente este Netuno em Câncer que determina a identidade
da cidade, sua maneira de lidar com o mundo e de reconhecer-se a
si própria.
- A posição de Netuno no mapa da chegada
dos açorianos está em oposição à
posição de Netuno na carta da partida do navio L'Espoir,
de Binot de Gonneville, 243 anos antes. Os dois mapas têm
ativação do eixo Câncer-Capricórnio,
mas com os mesmos planetas (Sol-Netuno) em signos opostos.
- Júpiter em Capricórnio, no mapa da
chegada dos açorianos, está sobre o Sol do mapa da
chegada de Gonneville ao sul do Brasil. O significado é de
que a vinda dos novos imigrantes significou uma expansão
(Júpiter) do foco civilizatório plantado um tanto
inconscientemente pelo aventureiro francês.
Inegável é que há uma reiteração
de padrões: novamente o eixo Câncer-Capricórnio,
novamente Netuno em papel de destaque, novamente Júpiter
envolvido na configuração mais importante do mapa.
Se a Atlântida realmente existiu, o Arquipélago
dos Açores é o que resta do continente submerso. E
os Manezinhos de Florianópolis, os herdeiros modernos do
povo desaparecido. É fantasia, mas por que não? A
ênfase de Santa Catarina em Câncer, Júpiter,
Netuno e no navegante mítico Canopus permite-nos imaginar,
no meio da neblina, ilhas fabulosas onde repousam potes de ouro.
Abrir horizontes é exatamente a vocação deste
estado nascido há 500 anos das aventuras de um normando sem
juízo.
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Fernandes.
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