O simbolismo do nome
Santa Catarina é um dos estados brasileiros
com "batismo" mais antigo. Muito antes de ser parte do
nosso território, este pedaço do país já
era conhecido pelo nome que carrega até hoje. A análise
de seu conteúdo simbólico pode permitir uma primeira
tentativa de estabelecer uma regência astrológica.
Comecemos por lembrar que, das várias santas
que levam o nome de Catarina, duas estão intimamente ligadas
às origens deste Estado: a de Alexandria, por sua vinculação
tradicional com a estrela Canopus, tão importante no mapa
da chegada de Gonneville; e a de Siena, por ser a padroeira do país
de Caboto que, através dela, homenageou a própria
esposa ao batizar a ilha onde está hoje Florianópolis.
O que as duas santas tiveram em comum? Ambas foram
mulheres de grande inteligência, capazes de transitar sem
dificuldades pelos meandros do pensamento teológico; ambas
impuseram-se pelos próprios méritos num mundo dominado
por valores masculinos; ambas ousaram dar opiniões e conselhos
diretamente aos homens mais poderosos de suas respectivas épocas;
e ambas ganharam a admiração e o respeito desses poderosos
(é certo que Catarina de Alexandria acabou degolada, mas
isso só aconteceu depois de recusar um pedido de casamento
do vaidoso e truculento imperador Maxêncio).
|
Catarina de Alexandria [à esquerda,
presa à roda do suplício] parece mostrar
um perfil mais combativo, como ao enfrentar o debate com cinqüenta
filósofos em praça pública. Lembra Joana
d'Arc, mais tarde, defendendo convictamente suas opiniões
diante dos acusadores, no tribunal de Rouen. Já Catarina
de Siena revela uma dimensão mais mística e
visionária, se bem que aliada a uma notável
capacidade filosófica. Ela não apenas tinha
visões, mas podia contextualizá-las com maestria
no quadro de referências da teologia católica.
|
Todos estes traços remetem ao arquétipo
de Sagitário, signo da religião, da filosofia, do
pensamento inspirado (e não apenas lógico, como em
Gêmeos), das formulações morais, da profecia,
e também do combate por causas ou valores considerados nobres
e elevados.
Mulheres com forte ênfase em Sagitário
tendem a valorizar a própria independência e a expressar
opiniões com vigor e franqueza. Podem ser guerreiras, ou
visionárias, ou ambas as coisas ao mesmo tempo. Mas dificilmente
serão submissas. Sagitário é um signo masculino,
aventureiro, atrevido, que precisa de espaço para manifestar
suas melhores características. Mais adiante, encontraremos
na história da região Sul um personagem que sintetiza
muitos desses traços, e que se transformou num símbolo
da mulher catarinense: Anita Garibaldi.
Por outro lado, podemos considerar a função
que o território catarinense desempenhou ao longo das primeiras
décadas da exploração do Novo Mundo. No quadro
da expansão marítima européia, o Brasil não
representava um objetivo prioritário, exceto pela extração
do pau-brasil - madeira que, aliás, quase não era
encontrada no Sul. Mesmo assim, dezenas de navios aportaram no litoral
de Santa Catarina, e grupos de degredados ou de náufragos
espanhóis e portugueses ali chegaram a viver durante muitos
anos, sempre contando com a recepção amistosa dos
índios Carijó. O que atraía tantos europeus
eram dois projetos: o primeiro era a possibilidade de encontrar
uma rota marítima para as Molucas, as famosas ilhas das especiarias.
A primeira expedição a consegui-lo foi a de Fernão
de Magalhães, em 1522, mas muitos navegadores já o
haviam tentado antes. E quase todos tiveram de parar em Santa Catarina
para reabastecimento ou reparos de emergência. O outro projeto
começou a esboçar-se em 1514, quando se teve notícia
pela primeira vez da existência do império inca. O
sonho de encontrar minas fabulosas de prata empurrou um navio após
o outro para o litoral sul e daí para os caminhos do interior
- a pé, até o Paraguai - ou para a exploração
fluvial da bacia do rio da Prata.
Nesta aventura em busca de riquezas mirabolantes,
Santa Catarina era o refúgio temporário, o porto seguro,
a fonte de água, de alimentos e - algo que um marinheiro
entediado por meses de solidão oceânica jamais desprezaria
- de belas mulheres nativas. Tudo isso expressa uma função
canceriana. Câncer, signo feminino por excelência, representa
a nutrição, a proteção, a segurança,
a água, a fertilidade, o regaço materno. É
também o alimento para a imaginação, um assunto
típico de seu regente, a Lua.
|
Índios carijós em gravura do
século XVI. |
Santa Catarina está ligada à busca
da prata dos incas, sendo a prata um metal regido pela Lua. Seus
primitivos habitantes, os Carijó, também eram chamados
índios Patos, em virtude da grande fartura dessa ave na região.
Na verdade, não eram patos, e sim marrecos, o que não
faz muita diferença: todas as aves aquáticas são
significadas pela Lua. Lembramos que, no mapa da partida de Gonneville
de Honfleur, a Lua em domicílio domina toda a carta. Quando
o navio L'Espoir chega em São Francisco do Sul, a
Lua continua em destaque, em função da tripla conjunção
de Júpiter, Marte e Saturno em Câncer. Netuno, planeta
das águas oceânicas e dos delírios de imaginação,
completa o quadro, sempre em aspecto com os luminares. O toque Lua-Netuno
dá a Santa Catarina uma função hiperfeminina,
ligada ao elemento Água e a tudo o que ele significa: afetividade,
intimidade e interiorização. Lua e Netuno desaceleram
a atividade física e propiciam a busca do repouso, do devaneio
e do lazer. Nas primeiras décadas do século XVI, atordoados
capitães viram boa parte de sua tripulação
desertar nas praias catarinenses, trocando o duro cotidiano das
embarcações pela facilidade de formar verdadeiros
haréns em terra firme. As índias, diga-se de passagem,
não apenas davam prazer aos seus novos senhores, como também
trabalhavam para eles, cuidando da produção de alimentos
e demais serviços domésticos. Dolce far niente
e refeições na hora certa... o que mais um marinheiro
poderia desejar?
Beto Carrero e Oktoberfest
Estas são apenas observações
iniciais, referentes a um período muito recuado e pouco conhecido
da história de Santa Catarina. Mas parece claro que, com
base nos pontos enumerados, uma dominante Sagitário-Câncer-Peixes
afirma-se desde os primeiros anos. Júpiter, regente de Sagitário
e co-regente de Peixes, exalta-se em Câncer, e aí pode
estar uma chave importante para compreender o significado astrológico
deste Estado. É exatamente o posicionamento que encontramos
na carta da chegada do L'Espoir (A Esperança
- um nome jupiteriano), reforçado pela conjunção
de Júpiter com Canopus, a Estrela de Santa Catarina.
|
As constelações
que formam o navio Argo estão bem ao sul, fora, portanto,
da faixa zodiacal. O mapa mostra, próximo ao topo, as
constelações de Leão (Leo), Câncer
(Cnc) e Gêmeos (Gem). Abaixo, em azul claro, está
Carina, a constelação de Canopus. Logo acima de
Canopus, estão Vela, Puppis e Pyxis. |
A combinação Sagitário-Câncer-Peixes
traz à luz valores de Fogo e Água. O entusiasmo sagitariano,
somado à ênfase lunar-netuniana no devaneio e no descompromisso,
produz uma disposição para o lazer e o divertimento,
perceptível até hoje. O parque de diversões
de Beto Carrero, localizado numa área litorânea (Câncer),
tem como marca registrada o peão montado (cavalos, Sagitário);
A Oktoberfest de Blumenau, a exemplo de todas as festas semelhantes,
reúne os significadores da cerveja (Lua e Netuno) e do imigrante
(Júpiter). Santa Catarina é também o Estado
com melhor distribuição populacional em todo o país:
em vez de grandes metrópoles fumacentas, o que há
são dezenas de cidades de porte médio, onde o habitante
da área urbana jamais está muito longe das raízes
rurais. Tais assentamentos humanos (Câncer) ainda em contato
com o espaço aberto (Sagitário) atualizam um dos sentidos
mais típicos de Júpiter no signo da Lua: o lar bucólico.
Um dado curioso é que, quase quinhentos
anos depois da chegada de Gonneville, São Francisco do Sul
foi a cidade escolhida pelo desenvolvedor de sistemas Floriano Caldeira
Possamai para para sediar a produção de um dos mais
conhecidos softwares brasileiros de cálculo astrológico.
Nome do software: Canopus!... Pura coincidência ou ainda um
reflexo distante da carta de 5 de janeiro de 1504?
A ilha dos Manezinhos
|