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O SIMBOLISMO ASTROLÓGICO DO SUL DO BRASIL

A Estrela de Santa Catarina

Fernando Fernandes

 

Normandos, canibais e piratas

A carta solar da partida apresenta, pela terceira vez, uma forte ênfase em Câncer. Desta vez, Sol, Saturno e Júpiter estão em conjunção neste signo, todos em oposição a Netuno em Capricórnio. Marte em Virgem faz oposição a Urano em Peixes. A viagem não poderia ter sido pior: o escorbuto (doença provocada pela carência da vitamina C) dizimou parte da tripulação; depois de enfrentar tormentas, L'Espoir ancorou nas proximidades da foz do rio Paraíba, numa praia habitada pelos índios mais perigosos do litoral, os ferozes e antropófagos Goitacá de origem tapuia; em fuga, Gonneville chegou à Bahia, onde reabasteceu o navio e rumou para a travessia do Atlântico. Já bem perto de casa, no canal da Mancha, L'Espoir foi atacado primeiro por um pirata inglês, e em seguida por um pirata da Bretanha (região francesa vizinha à Normandia). Para escapar com vida, os tripulantes do L'Espoir jogaram o próprio navio contra as pedras e fugiram a nado em direção à costa.

L'Espoir deixa São Francisco do Sul - carta solar - 3.7.1504 - 26s14, 48w38

O índio catarinense que virou burguês

Em 20 de maio de 1505, os 28 sobreviventes entram a pé em Honfleur, entre eles o próprio Binot Paulmier de Gonneville e seu novo afilhado, Essomeriq. O navio estava perdido com toda a sua carga, mas Gonneville cumpriu a promessa feita a Arosca de cuidar bem de Essomeriq. Este, convertido ao cristianismo e batizado com o próprio nome do protetor, casou-se com Marie Moulin, filha de Binot Paulmier, e viveu em Honfleur até os 94 anos, deixando vasta descendência. Um dos netos do príncipe indígena foi o abade Jean Paulmier que, um século e meio depois, em 1658, solicitaria ao papa o envio de missionários ao sul do Brasil.

O que há de comum nas cartas dos três eventos - a partida do Espoir de Honfleur, a chegada em São Francisco do Sul e a partida de Santa Catarina - é a permanente ênfase em Câncer e em aspectos envolvendo Netuno e os fatores mais importantes de qualquer carta, Sol e Lua. O toque netuniano responde pelo próprio caráter da viagem como uma aventura oceânica docemente enganosa, movida pelo sonho de roubar aos portugueses uma parte da fabulosa riqueza das Índias. Explica também as sucessivas perdas de rumo e as encrencas em que o navio se meteu, enfrentando calmarias, tormentas e, por fim, ataques de piratas.

De Carina a Catarina

Um outro dado digno de atenção é a força de Júpiter na carta da chegada a São Francisco do Sul. Além de ser o único planeta dignificado (está em Câncer, signo de sua exaltação, em aspectos fluentes com Urano e com a Lua, regente de Câncer), Júpiter também apresenta uma conjunção quase exata com a estrela Canopus, da constelação de Carina.

Carina significa a quilha do navio que carregava Jasão e os argonautas em busca do velocino de ouro. Está próxima das constelações de Puppis (proa), Pyxis (bússola) e Vela, formando com estas um conjunto que Ptolomeu identificava sob a denominação geral de Argus (o navio de Jasão). Na Astrologia Clássica, está relacionada a eventos relativos ao mar e à navegação, assim como aos rios e fontes. Dizia-se que poderia significar morte por afogamento, quando em conexão com a casa 8. Segundo Ptolomeu, as principais estrelas deste grupo têm a natureza de Júpiter e Saturno.

Santa Catarina de Alexandria foi assim retratada no Renascimento: uma santa culta e versada em Filosofia. A estrela Canopus era atribuída a ela.

A estrela mais brilhante de toda este conjunto de constelações, e a segunda mais brilhante do céu depois de Sirius, é Canopus. Seu nome vem do principal piloto da frota de Menelau, morto quando do retorno da Guerra de Tróia, em 1183 a.C. Em homenagem a Canopus, os gregos erigiram uma cidade com o mesmo nome, e foi lá que Ptolomeu fez suas observações do céu. Sempre associada ao mar, a estrela Canopus era chamada pelos hindus de Agastya, um filho de Varsuna, deusa das águas. Considerava-se que era promissora de imunidade contra doenças e de sentimentos piedosos, transformando o mal em bem. Desde o século VI, é chamada de Estrela de Santa Catarina, pois, ao levantar-se no céu, indicava para os peregrinos gregos e russos a localização do convento dedicado à santa no Sinai. Mas quem foi Santa Catarina? É o que veremos a seguir.

Uma santa muito atrevida e a respeitável esposa de um navegador

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