O simbolismo de Plutão
expressa os mistérios do submundo do deus mitológico
Hades, mas também fala de loucura, êxtase, aniquilamento
e da violência dos rituais de passagem do deus Dionísio. |
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Minha concepção sobre o Plutão
astrológico mudou completamente quando cheguei à conclusão
de que Hades e Dionísio são a expressão da
mesma 'força'.
Falar de Dionísio não é algo
fácil. Dionísio não se expressa pela via da
razão, da mente, do ego, ou até mesmo da consciência.
Em meu texto incluído no livro Astrologia para um Novo
Ser, escrevi algo sobre a grande mutação genética
que é capaz de colocar o homem em outros níveis de
consciência. De fato, esse era um tema que vinha caminhando
entre diversas escolas de magia na época. E esse salto no
abismo de transformação física em mudança
de estados de consciência estava me dando os primeiros momentos
de encontro com Dionísio. Tanto que, no livro, digo que Dionísio
é o décimo-terceiro deus, aquele que aparece quando
completamos a jornada do herói na travessia das doze portas.
Porém, o raciocínio não estava muito bem sedimentado,
já que Dionísio não é um criador de
consciência.
Não há como conhecer Dionísio
sem entrar em sua dança. Ele tem diversas semelhanças
com Shiva e existe até um excelente livro a respeito. Dionísio
é a figura do Sol Negro. Existem sistematicamente três
deuses greco-romanos associados ao Sol Negro: Baco, Plutão
e Saturno. Essas três figuras tem interessantes relações.
E em toda mitologia onde se manifesta o solar, o Sol Negro se faz
presente. No final de 2003 aconteceu um eclipse solar, a morte do
Sol, em Sagitário. Naquele momento tivemos dois Sóis
Negros no céu: o próprio eclipse e Plutão.
Assim como no caso de Lilith, que aparece duplamente no eclipse
lunar.
Entrar na dança de Dionísio é
terrível. É o deus (ou, em termos mais junguianos,
um arquétipo) mais complexo que já se manifestou para
a humanidade. Dionísio é o deus estrangeiro, aquele
que por onde for não está em seu lar e não
se sabe de onde veio. Dionísio e suas panteras e leopardos,
senhor das sombras, o rei do mundo dos mortos andando sobre a terra.
Dionísio tem seu grande poder no sangue da terra, o vinho.
Sempre com sua taça, que lembra a taça do Plutão
astrológico. O vinho foi proibido no Islã, por ser
sinônimo de confusão. E é, na mística
islâmica, o termo utilizado para a experiência divina.
E essas palavras dizem absolutamente tudo sobre a experiência
dionisíaca, a confusão, o caos, a perda de controle
e, ao mesmo tempo, o êxtase divino, onde somos um com o Uno,
sem diferença.
Dionísio é o senhor da agonia e do
êxtase. Leva à experiência narcísea, ao
mergulho incontrolado na própria imagem. A experiência
do espelho é contemplar o ser real, aquele que está
do outro lado, o reflexo, o verdadeiro. Dionísio leva isso
para a confusão, para o mergulho procurando todo o êxtase,
o completo abandono, a dor final no desespero do despertar pela
via errônea. E assim o faz com toda a sedução,
sem o nosso controle. Acabamos por nos perder em nossas máscaras,
que são absolutos atributos dos cultos de Dionísio,
Ártemis e Hécate. O teatro grego é fruto da
iniciação de Dionísio, onde todos colocam máscaras
iguais e se perdem na mania , na possessão divina. Dionísio
é um deus que cavalga. Ele leva a experimentar a loucura,
o despedaçar, o desaparecer. A tragédia grega como
expressão dionisíaca, a vida sendo a tragédia.
Os cultos de Ártemis e de Dionísio
são relacionados. Em alguns lugares de culto, o ritual começava
no tempo da deusa e terminava na do deus. Dionísio é
o deus dos espantalhos, o senhor das máscaras. Em sua iniciação,
o iniciando se deparava com diversas máscaras penduradas,
como que sem rostos por trás delas. Máscaras com olhares
terríveis, como o das Górgonas. No mundo infernal,
Cérbero impedia a entrada no Hades. A face da Górgona,
controlada por Perséfone, evitava a fuga. Dionísio
é aquele que brinca com a máscara, que as dá
e as tira. O deus da impessoalidade completa.
Quando se diz que na experiência dos trânsitos
de Plutão existe um 'vazio', o termo é completamente
incorreto. Dionísio é o deus da inconsciência.
Dos estados de inconsciência. Dos estados alterados de (in)consciência.
Ele é a variação oposta da experiência
solar. É o inimigo do Sol, de Apolo, sendo seu concorrente
para receber o trono de Zeus e, claro, da consciência apolínea,
luminosa e esclarecedora. Quando Plutão está causando
sua confusão, seu holocausto, está se alimentando
da consciência, transitando informações para
o ego do inconsciente, que é o Sol Negro. São os estados
de morte. É o simbolismo do Arcano XIII, o transitar entre
mundos, entre as deusas da morte e do sexo. Dionísio domina
as mulheres e as leva em surtos de loucura e prazer absoluto. A
passagem entre Hades e Dionísio é a morte. É
assim que entendo esse arcano. Até a Morte, temos Hades,
os mistérios do outro mundo, do incompreendido. Depois do
arcano da Morte, temos Dionísio, o mistério desse
mundo. Fazer a passagem, via a entrega do Enforcado. O sentido do
sacrifício do Sol e o nascimento do Sol Negro.
Violentos ritos de passagem
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