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olhar brasileiro em Astrologia
Edição 186 :: Dezembro/2013 |
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CABALA APLICADA À ASTROLOGIANetuno, fator de integração cósmica
Num artigo denso e original, o astrólogo e escritor Paulo Duboc utiliza conceitos filosóficos baseados na Cabala para explorar o significado de Netuno como interface entre a condição do homem vivente na Terra e sua realidade espiritual. Desde tempos imemoriais, muito se tem falado sobre Netuno e sua imensa atividade, muito mais como símbolo do que como planeta [1]. Netuno esteve sempre associado à água, ao mar, aos tempos modernos, sendo que seu simbolismo, bastante peculiar, carrega um conteúdo muito mais coletivo do que individual. Ao lado: estátua de Netuno nos jardins do Palácio de Queluz, Portugal. Neste trabalho pretendemos demonstrar: 1° – Netuno como Símbolo. 2° – Netuno como Fator de Integração. Não restam dúvidas, para a grande maioria dos pesquisadores em Astrologia e técnicas correlatas, de que este planeta se relaciona a uma consciência espiritual. Amplamente se tem esse assertiva como verdadeira, e aceita de forma absoluta. O conteúdo de Netuno é sutil, inefável, transcendente, e sua proposta, magistralmente firmada na tradição astrológica, é fazer inteligenciar a vida tal como uma conexão entre o aqui e o ali, o interno e o externo, como num ludus virtual em que a parte visível necessita encontrar a invisível. Netuno é parte de ambos, como diz a autora americana Dion Fortune, e tudo é parte de tudo o mais. O grande problema para o pesquisador é entender Netuno do ponto de vista intelectual. Mas, para o pesquisador que vive a experiência adequada a um Netuno que vibra para si de forma clara, o grande problema é chegar nele. Parece haver muitas vias de acesso a tão grande vibração. Netuno é considerado, no "jogo" metafísico conhecido como Cabala, o último estágio para o atingimento da Consciência Cósmica, e um dos mais interessantes estudos foi feito por Dion Fortune. Merece atenção a simbólica, porque exprime uma condição de amplidão. Para o pesquisador Jean Chevalier, Netuno encarna "o princípio da receptividade passiva, que se manifesta tanto pela inspiração, intuição, mediunidade e faculdades supranormais, como pela utopia, loucura, perversão e ansiedade disparatada." E acrescenta: "É por essa razão que seu domicílio está no signo psíquico de Peixes, que alguns denominaram Sanatório do Zodíaco." Netuno tem relação direta com o subconsciente e, no plano dos centros psíquicos, conhecidos com chakras, ele consubstancia a glândula pineal do ser humano [2]. Considerando a simbólica na área ou plano social, Jean Chevalier fala que "sua influência marca sobretudo o anarquismo, e seu contrário, o comunismo, os movimentos do tipo irracional ou surrealista, bem como a polícia". Os gases, os tóxicos, os entorpecentes e o mundo das radiações (radiologia, radiodifusão e televisão) também se encontram sob sua regência. Inegavelmente, não se pode negar a evidência da Internet e sua imensidão como ligada exclusivamente a Netuno [3]. Certamente, atingir a vibração netuniana é um coroamento à pretensão do Ser Humano nesse estágio iniciático. Muitas vias de acesso tentam rapidamente chegar a ele, incluindo a droga, os caminhos dos desvios íngremes, abruptos, bisonhos, surrealistas. Mas nenhuma via é tão eficiente quanto a do conhecimento, pois é através dele, na expressão grega gnose, que podemos apreciar a expressividade do conhecimento como Caminho da Iniciação. A Teoria do Conhecimento é algo em que se debruçou o espanhol Demétrio Santos, astrônomo, físico e estudioso de Astrologia. Para ele, "importa não só o objeto conhecido, como também o sujeito cognoscente, pois ambos se acham intimamente ligados". Assim, os procedimentos denominados esotéricos, com os quais o sujeito pode fazer a introspecção, hão de contrastar-se com os mesmos fenômenos experimentados por outros sujeitos quando carecem de instrumentos adequados para medi-los ou verificá-los, a fim de chegar a um conhecimento mais objetivo e que possa ser compreendido por todos, sem que se considerem tais fenômenos como meramente subjetivos. Netuno pode ser considerado o mais importante dos planetas face à sua atuação, que exige ou não o conhecimento, mas que atua de forma direta na psique humana. Portanto, ou através do acesso lento e criterioso expressado pelos degraus áridos da chamada Iniciação, ou pela via do delírio, onde se incluem todas as desvalias que processam o sofrimento moral, em sua primeira fase, e depois físico. Em sendo a psique o objeto de afetação mediata, a vibração planetária age como um poderoso agente de transformação, podendo tornar-se um fator tanto da organização quanto da reorganização vital do ser humano. Netuno como fator de transformaçãoNetuno pode ser considerado um fator de transformação porque tem extensividade, subjetividade e integralidade. Da extensividade netuniana Netuno tem presença marcante no que respeita à evolução da humanidade desde que entrou em Aquário, em 1841, e foi descoberto por Le Verrier, em 23 de setembro de 1846, a partir de que foi considerado um "arquétipo da integração ou da dissolução universal". Seu ciclo é inexorável, e sua presença como tipo arcaico exprime a ideia de "extensividade para fora de si", gerando o que Demétrio Santos descreve como "uma ressonância da alma do grupo: raça, classe, sentimento de pertencer à comunidade, alinhamento a um infinito subjetivismo cósmico". Esquema da Árvore da Vida da tradição filosófica da Cabala. Keter, ou Kether, o princípio no topo da árvore, corresponderia a Netuno. A extensividade é uma face da vibração netuniana, trazendo a ideia de sair de si, expandir-se, ir além das fronteiras. Dion Fortune considera tais fronteiras como limites de universos chamados Sephirots, sendo que o mais alto seria o de Kether, a Coroa. Em Kether, segundo a autora, "não há forma, apenas ser puro". Imediatamente considera a "existência e a não-existência", sendo que Kether estaria "pouco para cá dessa não existência". Porém, na Tradição Hebraica, cada vibração sefirótica é ministrada por um planeta, sendo Netuno o planeta correspondente a Kether. Assim, para a autora, "para penetrar em Kether é preciso penetrar numa modalidade de consciência e, para tanto, é preciso se dar conta de que é preciso reproduzir essa modalidade em nós mesmos". Ou seja, Netuno será extensivo à penetração em Kether. O fato de Netuno poder ser extensivo implica que o uso da energia de Netuno, tal como a música, terá que ser absorvido pelo coração e cantado pela alma. O ciclo completo de Netuno ao redor do Sol é de 150 anos aproximadamente. Em 1998, já no limiar do século XXI, recomeçou uma nova ordem, mostrando que o mundo evoluiu do conceito grego de que o "homem é a medida de todas a coisas" para um princípio novo, antrópico e que supera as premissas mais radicais da Astrologia tradicional. Outra vez recorrendo a Demétrio Santos, afirma ele em seu livro Astrologia Física que "não só o homem é criado para o Universo com o qual se acha e tem dependência, mas que seus mesmos átomos possibilitam sua existência nele". Talvez por Netuno se possa concluir tão expressiva síntese. Nesse mesmo período do retorno, a Lei de Causa e Efeito se tornou a base de toda a ciência, incluindo a Astrologia. Sem ela não se podem prever os feitos futuros e o comportamento dos elementos que manejamos. Diz ainda o autor espanhol: Se o sujeito, homem ou ser vivo, existe no Universo, há de achar-se unido ao resto de seus elementos, e, se o sujeito se modifica, também se modificará o resultado da ação ambiental nele. O que significa: se houver conhecimento do futuro, modificar-se-á o resultado da ação ambiental.
Da subjetividade A ação de Netuno é extraordinariamente subjetiva. O mapa de nascimento oferece, pela posição de Netuno, o ponto extremo dessa subjetividade, que ocorre na psique. Mais precisamente, Netuno age:
A subjetividade é o "caráter de todos os fenômenos psíquicos, enquanto fenômenos de consciência". O subjetivo tende a ser aparente, ilusório, podendo mesmo faltar. A condição essencial da subjetividade é o sujeito referir o fenômeno a si mesmo e o chamar ‘meu’. A experiência de Netuno tem mostrado que a pessoa relata o sonho, a viagem planetária, o contato extraterrestre, a perturbação, o delírio, a imagem que está prestes a ser pintada sempre como ‘meu’, ‘minha’, e, se o corpo físico apresenta sinais visíveis de perturbação, o faz como efeito dessa causa. As chagas iguais às do Cristo no corpo físico de determinadas pessoas não têm nenhuma patologia definida. Determinadas campainhas que tilintam nos ouvidos, sons perceptíveis, visões e centenas de fenômenos similares nada apresentam do ponto de vista físico. Pode-se extrair algo "astrológico" e que relaciona Netuno, desde o Mapa Radical, e que vai pela linha dos trânsitos e, mais ainda, da Progressão. Assim, no subjetivo há uma “expectativa”, seguida de “angústia”, experiências extra-tempore e aparente desordem para a construção de uma ordem. Só o tempo, em seu ciclo, comporta a compreensão do fator Netuno. Ou ele desalinha na enormidade do caos do escapismo ou faz avançar num tempo ainda não firme para a consciência em evolução. O que é um fator? Aquilo que executa alguma coisa ou concorre para um resultado. Assim, Netuno poderá ser considerado um fator, tal com veremos, pois torna-se responsável direto pela mais extraordinária forma de evolução da espécie humana, e que ocorre na consciência. Sua presença é subjetiva, sua forma é sutil, e sua manifestação é sensitiva. Todas juntas geram a energia que "forma o óleo precioso que desce pela barba, a barba de Aarão", em verdade, a própria energia da Consciência Cósmica. Nosso objetivo é estudar a Astrogênese, ou a forma inicial da vida. Certamente Netuno é um fator subjetivo de grande força e expressão. Por ora, cabe entender que tem uma relação estreita com Plutão, formando-se um processus que identifica a expansão da consciência à compreensão do estado crístico, onde a regeneração, a transformação e a morte são um polo dessa Astrogênese. Tentemos entrar com coragem no sítio encantado de Netuno para compreender tais assertivas. Do fator Netuno sobre o Ascendente Comecemos pelo Ascendente, um ponto energético na Linha do Horizonte virtual da Terra [4]. Como camada sutil inserta num plano de astralidade, contido na dimensão tripla terrenal, o Ascendente é, por natureza, o conversor de uma energia "ausente", existente num estágio ou dimensão chamado "passado-futuro", para uma energia presente ou consciente, num estágio chamado Presente. A forma do Ascendente é o si-próprio, espraiado nas 12 casas de experiência da Terra. Essa forma, já definida no grau de nascimento, contém o sistema de códigos genéticos onde está a memória universal (passado-futuro), ou o chamado Archetipus Primordialis do Ser Humano. É preciso associar a forma chamada Ascendente, no momento em que inicia sua jornada na face da Terra, com os códigos herdados. A forma chamada Ascendente terá a consciência do Tempo (signo solar) e do Espaço (Terra-Lua). O Ascendente, que teve noções de tempo em outra vida, agora tem a experiência direta do espaço, na vida atual. Cessada a transição ou nascimento, inicia-se a vida sequenciada em Unidades de Tempo sob o que o ego-corpo evolui. Nesse instante fatal coloca-se em jogo uma Lei de Correspondência Vibratória na manifestação da vida física (eletrônica) com a vida psíquica - planetária e espiritual, sideral e estelar. Notas adicionais do Editor: [1] Netuno só foi descoberto como planeta em 1846. Porém, seu simbolismo remonta à mitologia greco-romana e outras mais antigas, sempre em associação com as águas oceânicas.
[2] Para a maioria dos pesquisadores de fenômenos de percepção extrassensorial, a glândula pineal desempenha neles uma função importante.
[3] Esta conexão entre Netuno e a Internet não é consensual entre os astrólogos. Adonis Saliba, por exemplo, em debate durante o Congresso da SARJ de 1998 (Rio de Janeiro), defendeu a associação entre a Internet e Plutão, tendo em vista, principalmente, as origens e usos militares da Grande Rede e sua imaterialidade. Para outros astrólogos, a Internet é uma típica manifestação de Urano, guardando várias analogias com o simbolismo deste planeta: a instantaneidade, a comunicação com base na alta tecnologia e o caráter democrático da Internet, que permite a todos transformarem-se em produtores de informação, e não apenas meros consumidores.
Já os astrólogos de orientação clássica tendem a atribuir à Internet uma regência mercuriana, dada sua natureza de canal de comunicação.
[4] O Ascendente corresponde simbolicamente ao nascente, ao ponto do horizonte onde o Sol se levanta. Contudo, seu cálculo não leva em conta o horizonte visível, e sim o horizonte racional. A compreensão deste conceito exige algumas noções de geometria espacial, já que o horizonte racional corresponde a um plano paralelo ao do horizonte real, mas que apresenta uma interseção com o plano do Equador terrestre. Assim, o horizonte racional tende a não ser visível para o observador terrestre, já que se situa abaixo do horizonte local. Já o plano do horizonte local, ao contrário, é visível, sendo tangencial à superfície da Terra.
[5] A Roda da Fortuna, ou Parte da Fortuna, é uma das partes arábicas, na verdade de origem grega ou hindu e trazidas para o Ocidente pelos árabes. Todas as partes arábicas são calculadas a partir de distâncias angulares (arcos) entre três pontos, que podem ser planetas, cúspides (pontos iniciais) de casas ou ainda outras partes. Na Astrologia da Idade Média, as partes arábicas gozaram de muita popularidade como recurso preditivo, especialmente em Astrologia Horária (método de julgamento de questões a partir de um mapa levantado para a hora e local em que uma pergunta foi formulada).
Outros artigos de Paulo Duboc. Leia também: Netuno, ciclos e universos paralelos |
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