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ASTROLOGIA ESPORTIVA
Flamengo, o mais querido do Brasil
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artigo | Parte 2
O significado simbólico dos urubus
O feio e repugnante urubu é a ave carniceira que, ao comer os restos orgânicos em putrefação, permite à natureza renovar-se em seus ciclos. Nos cultos de magia afrobrasileira, o vermelho e o negro são as cores de Exu, o mensageiro dos orixás e aquele que toma conta das encruzilhadas para permitir – ou não – o acesso a outros planos. Na condição de mensageiro, Exu lembra Mercúrio e Gêmeos; na condição de agente universal da transmutação de energias, sugere Escorpião. Plutão, por outro lado, expressa processos de eliminação que, no panteão africano, correspondem ao modelo operacional de Omulu-Obaluaiê, a divindade daomeana da varíola que tanto traz a doença quanto permite sua cura. Na verdade, a varíola, quando manifesta-se na pele, não está surgindo naquele momento, mas apenas exteriorizando um conteúdo mórbido que já estava presente em profundidade, de forma invisível.
Escorpião, Plutão, Exu, Obaluaiê, urubus... imagens diversas para consubstanciar o mesmo princípio de eliminação do que é velho, inútil, tóxico, repugnante. Após a destruição, o terreno estará limpo para a nova semeadura. Assim é também a função do Flamengo. Sua relação com a torcida é de catalisador de processos mórbidos que precisam ser regenerados através da catarse coletiva. Através do vínculo de paixão, que comporta sofrimento e alegria em nível de massa, o torcedor promove a purgação que o tornará mais leve, mais limpo, mais purificado. É isso que o fenômeno rubronegro expressa: um gigantesco mecanismo terapêutico, um ritual de exorcismo compartilhado. Neste sentido, há pouca diferença entre a final do campeonato – ou o jogo desesperado em que o clube joga suas últimas chances de classificação – e as concentrações-monstro promovidas por seitas evangélicas no mesmo templo aberto do Maracanã.
A carta especulativa também destaca a importância da casa 5 - ligada a esportes e ao prazer do jogo, da aposta, do "tudo ou nada". Essa casa 5 é regida por Vênus em Libra, em trígono com o Ascendente: Flamengo, "o mais querido". Já a Lua no otimista e extrovertido signo de Sagitário na cúspide da casa 7 mostra a torcida alegre, barulhenta, sempre a alimentar a esperança de títulos impossíveis. O otimismo incorrigível e a tendência ao exagero de Sagitário levam a imensa torcida a transformar jogadores apenas medianos em craques inesquecíveis. Quem não se lembra, por exemplo, do desengonçado Fio Maravilha [esquerda] , que caiu nas graças dos torcedores em meados dos anos 70 e virou samba de sucesso na voz de Jorge Benjor?
Com a Lua em Sagitário e seu regente, Júpiter, em Leão, o mapa do Flamengo tem sua cota do elemento Fogo, que rege a fé e o entusiasmo. E com a conjunção Sol-Urano na casa 6, temos aí o clube com forte apelo sobre a massa trabalhadora. Se bem que as pesquisas mostrem que a torcida do clube se espalha de maneira quase uniforme por todas as classes sociais, o estereótipo dominante no Rio é o do flamenguista suburbano, que vai para estádio de trem e comemora títulos caindo invariavelmente no samba (ou no funk estilo pancadão).
Há, contudo, uma outra carta que também precisa ser analisada. Vamos à história:
Por ter sido fundado visando a prática do remo, o seu primeiro nome foi Grupo do Flamengo, tendo a seção terrestre sido criada em 1902. Esta, entretanto, só ganhou força em 1911, com a transferência do quadro principal do Fluminense para lá. Em 24 de novembro deste ano foi criada, por este grupo, o Departamento de Futebol.
Departamento de Futebol do Flamengo – 24.11.1911 – solar (12h LMT)
Rio de Janeiro – 22s54, 43w15
Este aparecimento se deu em função de um desentendimento entre os jogadores de futebol do Fluminense e a comissão técnica do clube. O capitão da equipe, Alberto Borgeth, abandonou o clube, sendo seguido por nove dos onze jogadores titulares. A retirada tinha um objetivo: criar um novo clube de futebol. Escolheu-se o Flamengo, por este clube ainda não praticar o futebol. As cores escolhidas foram o vermelho (cor dos flamingos), e o preto, que já existia na bandeira original, entre os remos. Antes disso, as cores do Flamengo eram o azul e o amarelo. Essas cores, entretanto, possuíam muito pouca resistência ao Sol (muito forte no Rio de Janeiro) e à salinidade das águas da Baía de Guanabara. [3]
Quando observamos esta nova carta, o que chama a atenção de imediato é a conjunção do Sol no início de Sagitário com Júpiter no final de Escorpião, ambos em oposição a Marte no início de Gêmeos. É o aspecto que define o Flamengo como alegria do povo, expressando otimismo, energia expansiva e as tão decantadas ginga e malandragem. Contatos dinâmicos Marte-Júpiter tendem a simbolizar um comportamento eternamente juvenil (juvenil vem de Júpiter) e uma disposição aventureira. Tanto o mapa do autor de Peter Pan, o garoto que não queria crescer, quanto o da estréia da peça em Londres apresentam este aspecto.
Enquanto o mapa da fundação do clube apresenta o desequilíbrio na destribuição espacial dos planetas (metade da carta vazia e cinco planetas concentrados em Escorpião), o mapa do departamento de futebol espelha uma distribuição mais equitativa de recursos, como se o Flamengo, ao criá-lo, tivesse preenchido um potencial que permanecera até então inexplorado. O futebol, na verdade, expande e, de certa forma, “engole” o clube.
A Lua em Capricórnio, em trígono com Saturno em Touro, fala de permanência, mas ao mesmo tempo sua condição de planeta em exílio e em quadratura com Vênus em Libra pode dar uma pista para outros componentes importantes na relação entre o time e a imensa torcida rubronegra. Jaime Camaño, em sua Astrologia comportamental e as essências florais de Minas, diz o seguinte sobre indivíduos com este aspecto:
Hipersensibilidade e hiperemotividade (...) Na mulher, conflitos internos entre a parte mãe-esposa-doméstica (Lua) e a parte mulher-fêmea-vaidosa (Vênus). Uma natureza não aceita a outra. (...) No homem, falta de habilidade para lidar com as mulheres. (...) Sentimentos de inferioridade. Faz chantagem emocional para chamar a atenção. A família intromete-se em tudo, no namoro, no casamento, na vida conjugal (...) Por ironia, a família, muitas vezes, terá de colaborar financeiramente para salvar esse mesmo casamento que tantas vezes reprovou. Problemas financeiros causados por instabilidade emocional ou por situações mal avaliadas. [4]
Se pensarmos no time como o elemento ativo, masculino, e na torcida como o elemento receptivo e feminino, esta descrição estabelece analogias com a relação que se estabelece entre ambos no Flamengo. É o amor que avança entre tapas e beijos, com a torcida sempre ansiosa e apreensiva, o que a leva a “intrometer-se em tudo” e a provocar reações inábeis ou desastradas de dirigentes e jogadores. O hino não oficial do Flamengo, de autoria de Lamartine Babo [foto abaixo], explicita este lado de “mulher de malandro” da torcida rubronegra ao afirmar:
Ele me mata,
Me maltrata,
Me arrebata
De emoção,
No coração.
(...)
Eu teria
Um desgosto profundo
se faltasse
o Flamengo no mundo.
Em síntese: é o único hino de clube com inequívocas referências a um relacionamento sadomasoquista (traço, aliás, já prenunciado na ênfase Plutão-Escorpião da carta de 1895). Dividida entre o papel de ambiciosa mãe capricorniana, que quer monitorar a ascensão do filho, e da amante libriana desejosa de agradar o companheiro, a torcida do Flamengo é sempre uma parceira instável e hiperemotiva que exige atenção absoluta. Zico, com sua sensibilidade pisciana, foi dos poucos ídolos que soube compreendê-la, representando o papel do amante esforçado e irrepreensível.
Qual dos dois mapas, o da fundação do clube ou o da criação do departamento de futebol, reage mais claramente aos trânsitos e progressões? Na verdade, ambos. A fase de apogeu do Flamengo vai de 1978 a 1981, com a conquista de vários campeonatos estaduais, o campeonato brasileiro, a Libertadores da América e o intercontinental de clubes, em Tóquio. Entre 1980 e 1981, o Flamengo foi simplesmente a melhor equipe do mundo. As progressões secundárias sobre as duas cartas mostram um fenômeno único e interessantíssimo, que é a ativação de cada uma delas pelos planetas progredidos da outra, com destaque para os aspectos de Júpiter progredido, o princípio benéfico e expansor. Já os trânsitos para os mesmos anos vão mostrar uma forte concentração em Libra, ativando Vênus nas duas cartas (trânsitos de Saturno, Plutão e Júpiter) e a presença de Urano a formar conjunção quase ao mesmo tempo com o Sol da fundação, em Escorpião, e o da criação do departamento de futebol, em Sagitário.
Na verdade, o Flamengo tem dupla natureza: é o adolescente alegre que levanta o entusiasmo nacional e esconde, sob a aparente jovialidade, o temível sacerdote que promove o ritual da purificação coletiva. É o flamingo de pernas longas (Sagitário) que se transmuta no negro urubu (Escorpião).
NOTAS:
[1] O autor do artigo esclarece que foi à sede do clube apenas por um ato de sacrifício, acompanhando
amigos e pensando no bem da astrologia brasileira, pois
definitivamente seu coração não é rubronegro!
[2] Citação extraída do site oficial do clube, em 1999.
[3] Idem.
[4] CAMAÑO, Jaime et alii. Astrologia Comportamental e os Florais de Minas. SP, Pensamento, 1998.
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