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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 138 :: Dezembro/2009 :: -

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COMPORTAMENTO

Entendendo Saturno em Libra

Carlos Hollanda

Querer agradar e preocupar-se em ser aprovado pelos demais não é
sinal de fraqueza. É sinal de responsabilidade. Este é o sentido
de Saturno em Libra, trânsito que acaba de começar
e que se prolongará até outubro de 2012.

Desde outubro de 2009 retorna ao signo de Libra o planeta que ali está exaltado: Saturno. Há 29 anos aproximadamente não o víamos neste campo de seu percurso em torno do Sol. O atual período libriano de Saturno terá duas etapas devido ao seu movimento retrógrado. A primeira seguirá até 7 de abril de 2010, quando Saturno retorna a Virgem e ali fica até 21 de julho. Dali por diante, permanecerá em Libra até 5 de outubro de 2012. Este último será um ano curiosamente repleto de expectativas quanto a términos e recomeços de ciclos: ingresso de Saturno em Escorpião, eclipse total do Sol em fins de novembro, a anunciada data do término do Calendário Maia em 21 de dezembro e a estrela Regulus, a alfa da constelação do Leão, chegando a Virgem, no zodíaco tropical. Mas por enquanto vale a pena saber como se caracteriza a passagem de Saturno por Libra.

Cronos e Réia

Cronos recebendo um dos filhos que teve com Réia, para devorá-lo.
Visto na mitologia clássica como um "maléfico", Cronos - ou Saturno - é também
um símbolo de parcimônia e seriedade.

Libra, junto a outros signos, como Touro, Câncer, Virgem e Escorpião, é vinculado a questões ecológicas e ambientais. Talvez o mais homeostático de todos, já que estamos falando da idéia de equilíbrio e coexistência (Libra). Daí seu ecologismo: todas as coisas e seres precisam estar em harmonia para que haja possibilidades de existência, do contrário a vida não tem meios para se estabelecer e se manter. Com Saturno em Libra o ativismo ambiental atinge maior organização e seriedade. Serão quase 3 anos com essas questões em maior evidência e, se já estamos preocupados com isso nos últimos anos, os próximos serão decisivos para atingir um patamar de excelência na contenção dos gases que provocam o efeito estufa (Ar, elemento de Libra).

Tudo o que Saturno “toca” em sua trajetória pode vir a enrijecer, porém ganha em estabilidade, seriedade e capacidade de execução. Outro detalhe imperioso com Saturno em sua exaltação é a questão da responsabilidade. Saturno representa isso também e, se ele está num signo em que seus atributos são muito poderosos (sua exaltação), significará muito ser responsável por algo, por alguém, por um sistema, pelas próprias ações e por perceber o quanto essa responsabilidade está em tudo o que vivemos ou deixamos de viver. Estamos nesse momento, e esses assuntos estarão profundamente em voga nos próximos anos.

Saber-se responsável. Pelo quê? Por criar a própria realidade. Nós o fazemos todo o tempo (tempo = Saturno), ainda que não o percebamos. Reclamamos quando somos julgados, mas esquecemos do quanto julgamos; sofremos por estarmos sozinhos, mas esquecemos de nossa contribuição para afastar as pessoas; nos irritamos quando pensamos ser vítimas de coisas que “jamais teríamos feito”, quando já o fizemos de um jeito ou de outro várias e várias vezes sem o saber. Se você se crê uma pessoa exclusivamente virtuosa, observe as reações e situações adversas que enfrenta. Não estaria você criando todas ou a maior parte das condições para que aquilo tudo esteja acontecendo? Não seria aquilo um sinal para que você dê “meia volta” e olhe para dentro para ver onde está sua responsabilidade? Não, não se trata de culpa. Isso é coisa ultrapassada, coisa de antigos sistemas de controle comportamental e mental. Não. Ter responsabilidade sobre a própria vida está longe de viver se culpando pelas coisas que acontecem. É saber como e por que se está gerando as circunstâncias e assumir uma direção que possa vir a alterar aquele estado. Essa é uma das virtudes evocadas pelo símbolo de Saturno em Libra.

Não que quem nasceu com essa posição seja “o virtuoso”. Não é bem assim que funciona. O símbolo evoca isso, mas mesmo quem nasceu com esse planeta nesse signo no mapa pode dar várias escorregadelas éticas como qualquer mortal. A questão é: você já se perguntou porque tem vivido tanto isso que se vulgarizou chamar de “karma”, mesmo que isso não seja o karma propriamente dito, ensinado pelas doutrinas orientais? Por que está vivendo tanto um padrão repetitivo? Por que o atacam tantas vezes sem ter parecido que você atacou? Por que lhe obstruem os caminhos quando você tem boas intenções? Dê meia volta. O que vê? Pois é...

Saturno em Libra também é uma espécie de reforço estatal, cultural e jurídico sobre as questões estéticas (Libra). Daí uma outra responsabilidade: o problema das pichações e depredações das fachadas nas grandes cidades, das obras públicas, dos monumentos. O desprezo para com a atividade de museus, galerias de arte, com exposições/eventos de moda, com manifestações de arte nas ruas, com o valor de obras de arte vendidas em feiras ou outros locais de apreciação e comércio. “Ah, isso é só um desenho, não é coisa séria”. “Ah, depredaram aquele chafariz com aquelas estátuas em bronze. Ainda bem, né? Pior se fosse o Ministério da Fazenda”. Afirmações graves e perigosas, diga-se o mínimo. A perda e desconsideração da estética é um problema de grandes proporções. Somente quem nunca se atreveu a trabalhar e conviver em um ambiente de baixa ou ausente adequação estética pode crer que isso não afetaria o desempenho e a qualidade de vida, o estado psicológico e as relações humanas imediatas. A harmonia e o belo não existem apenas para entreter. Trata-se de uma questão de saúde mental e de ordem social. Como podemos conviver harmonicamente uns com os outros quando numa parte da cidade há luxo e ostentação, com avenidas decoradas com arquitetura suntuosa e tudo limpinho, e na outra miséria, lixo, descaso?

Graffiti de banheiro.

Este impressionante banheiro público, em foto publicada no site http://knol.google.com/k/graffiti#,
expressa bem a (falta de) valores estéticos que Saturno em Libra
tentará reverter.

Sei que isso pode parecer uma visão unilateral, mas explico: não é. Não é porque sem sombra de dúvida sobre esses problemas incidem várias causas, obviamente não apenas a estética. No entanto, sabendo que a estética é um processo tão cultural quanto fisiológico (eis um autor cujos livros podem embasar essa afirmação: Rudolph Arnheim), sabendo que dependendo do ambiente em que estivermos podemos nos sentir aliviados ou estressados, enjoados, deprimidos etc., logo você entenderá perfeitamente o que digo. Se preferir, faça uma experiência passeando por um local com o pé direito (altura do piso ao teto) muito baixo e depois vá para outro que seja o inverso. Ou, ainda, altere as condições de iluminação de sua sala. Ou, mais precisamente, ande dentro de uma estação do metrô durante algumas horas e depois vá a algum Jardim Botânico ou Horto planejado paisagisticamente. Por fim, passeie numa favela, com as estreitas ruas sem saneamento básico, e em seguida vá para um luxuoso condomínio do bairro mais chique de sua cidade, se puder entrar em qualquer uma das duas opções.

Vinicius de Moraes"As feias que me perdoem, mas a beleza é
essencial." O esteta Vinicius de Moraes
tinha o Sol em Libra em trígono com Saturno
em Gêmeos.

A falta de estética, já pensando em Vinícius de Moraes, é algo muito sério, está longe de ser secundário. Nossas motivações são uma mescla de Vênus-Marte, se pensarmos astrologicamente. É a relação libidinal para com aquilo que nos desperta desejo e que nos incita a ir adiante, não necessariamente em termos de realizar um ato sexual, mas de conquistar nossos objetivos. Alguma coisa tem que nos seduzir. Sem essa sedução, coisa de Vênus, planeta regente de Libra, tudo se complica muito.

Responsabilidade social. A conservação do patrimônio artístico e histórico é responsabilidade de todos. Apontar o dedo e dizer que “não, eu não, foi aquele fulano quem depredou” é o mesmo que evadir-se da responsabilidade de viver no próprio lar. Havemos de convir que ver alguém destruindo e não acionar os mecanismos sociais para sanar a situação é ser conivente. E aqui escrevo como se estivesse falando a voz de Saturno em Libra. A desarmonia do ambiente, a falta de interesse pela estética (a palavra aqui repetir-se-á propositalmente, já que é a tônica de Libra), provocam desarmonia nas relações humanas. Não se trata apenas das dificuldades causadas pela desordem, no sentido “não-virginiano” da palavra, o que por si só já seria algo bastante grave, mas da expressão do estado psicológico caótico e da impossibilidade de manter-se a elegância nos contatos humanos.

Ah, dizer isso parece coisa de dicas de etiqueta e de como comportar-se em festas de ricaços? Parece “frescura” de quem “não tem o que fazer”? Não é bem por aí, se bem que um pouco de etiqueta só faz bem. Elegância não é apenas vestir-se com roupas de grife ou andar empinado falando palavras difíceis para parecer saber mais do que realmente se sabe. É saber como aceder, recuar e relativizar a postura alheia, devolvendo ao interlocutor aquilo que ele lhe oferece, mas amortecendo os potenciais pontos incisivos em demasia. É procurar “Justiça”, com “J” maiúsculo, isto é, ser justo. Não é devolver na mesma moeda, é valorizar a moeda de troca. Libra, como Touro, é regido por Vênus e seu simbolismo não se restringe ao das relações humanas no sentido do “fizemos acordo, apesar de eu o detestar”. Trata-se da valorização do ser humano. O outro é “valioso”, pois é com ele que eu cresço, é a partir dele que eu me vejo. Dele eu dependo, ainda que odeie admitir isso e me creia um ermitão. Dependo até mesmo para me considerar um ermitão, pois sem o outro não existiria isolamento social, já que eu me isolo dos outros. Se eu não quero me relacionar é com os outros. Assim, de qualquer maneira dependo deles, estando eles ali ou não. Ser elegante é também saber calar quando necessário, mesmo que tenhamos ganas de expressar ditatorialmente nossas convicções.

Querer agradar e preocupar-se em ser aprovado pelos demais não é sinal de fraqueza. É sinal de responsabilidade. Temos responsabilidade (Saturno) de fazer com que os outros se sintam felizes, pois se assim o fizermos, fatalmente assim nos sentiremos pelo retorno. Ainda que nos pareça que nossos esforços (Saturno) estejam dando com os burros n’água e que o que recebemos em retorno soe como falta de consideração, não-reconhecimento, é preciso manter a postura, pois se o retorno não vem por um lado, virá por outro. Não adianta continuar dando murros em ponta de faca esperando “consertar” ou persuadir os outros de que eles estão errados e que são injustos porque não enxergam nossa nobreza. É ser injusto consigo mesmo. Suas forças poderiam ser direcionadas para algo mais prático e para quem queira se aliar (Libra) a você, ou então você pode não esperar tanto assim daquela pessoa, fazendo um pouco mais por si mesmo. Querer manter estáveis coisas que simplesmente são fluidas é o pior erro de Saturno em Libra.

Saturno em Libra é a exaltação do equilíbrio. Equilíbrio político, ecológico, dos modelos jurídicos, da justiça social. Mal o Senhor do Tempo adentrou Libra e já nos vimos diante dos absurdos das propinas dadas aos deputados em Brasília, com o retorno (parece até série de super-herói, com o super-vilão que não morre nunca!) de Arruda! Só tem um problema para o sujeito: com Saturno em Libra aquilo que está fora da ordem ou da justiça será enquadrado com rigor. Assim se espera. Ao menos a cobrança costuma ser mais intensa. Esse trânsito planetário representa incompatibilidade com qualquer coisa mal estruturada em termos de relações e responsabilidade social. Se por um lado a exaltação de Saturno ali indica fortalecimento de laços, tendência a acordos sólidos e bem ponderados, maior número de casamentos, bons fechamentos de contrato, por outro, o que for feito levianamente nesses campos simplesmente irá ruir sem dó nem piedade.

Em termos ecológicos é o momento de cobrança desse equilíbrio e dessa adesão responsável à sobriedade, sem histerias. É saber ponderar agindo junto. É “chegar junto”, como finalmente, depois de muita insistência, EUA e China começaram a fazer, ainda que tudo possa não passar de fachada (mas se for, quem tem a perder é todo mundo, eles inclusive). Em termos políticos é hora de prevenir os radicalismos, justamente num momento em que todas as forças coletivas gritam entusiástica e violentamente por eles. Diálogos não só entre políticos e países, mas em casa, no trabalho, na associação de moradores, no condomínio, entre pessoas que convivem em seus trajetos diários, mesmo sem se conhecer. É hora da gentileza e da elegância, de se educar para não ferir o território alheio e para esclarecer para os outros seus próprios limites e territorialidade.

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