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Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 137 :: Novembro/2009 :: - |
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EVENTO EM PERNAMBUCOAstrologia e imaginário nordestino
É fato sabido que as cosmovisões holísticas, entre as quais se inclui a Astrologia, estão divorciadas do saber científico desde o século XVII. Daí resulta, de um lado, uma ciência fragmentária e excessivamente dependente de protocolos esterilizantes; de outro, saberes tradicionais que, à mingua de pesquisas mais estruturadas, correm o risco de se transformarem em bens culturais de consumo descartável, num mercado sempre ávido pelo exótico. É neste panorama que iniciativas como a do NASEB - Núcleo Ariano Suassuna de Estudos Brasileiros, vinculado ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco - provocam surpresa e criam a expectativa de novas pontes para o diálogo transdisciplinar.
O evento acadêmico teve lugar em 20 e 21 de outubro, no Hall do Centro de Convenções do Teatro da UFPE, e fez parte da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Sob a coordenação do NASEB, aconteceram oficinas, atividades lúdicas, uma exposição cultural, lançamento de livro e uma aula-espetáculo com Ariano Suassuna. A proposta era homenagear o Ano Internacional da Astronomia, mas num patamar inclusivo, capaz de abrir espaço para as múltiplas formas de religação entre o homem e o céu presentes na cosmovisão do homem nordestino. Por isso a presença de diversas entidades representativas da cultura popular. E por isso, também, a participação da sala de estudos cosmológicos Luzes do Céu, grupo constituído pelas astrólogas Ângela Brainer, Martha Perrusi, Dulce Figueiredo e Stella Siebra, entre outros. O resultado foi a percepção de que a linguagem da Astrologia permeia a cultura popular desde o período colonial. Recuperando o fio da meadaÂngela Brainer O evento apresentou uma Astrologia diferente. Não a que está nos livros com as mais refinadas técnicas, tampouco a das discussões filosóficas, mas a que está na manifestação do conhecimento popular, a que está na mata, no agreste, na caatinga, nos riachos e na alma do sertanejo. A Astrologia presente na observação sensível, selvagem e sábia do povo rural nordestino. Tivemos contato com o saber de uma vivência astrológica distinta, de um Brasil peculiar, único, construído e mantido pelo povo que a cada dia, a cada noite, a cada estação, trava uma luta contínua, respeitosa e responsável pela transmissão e manutenção das suas memórias e raízes. É um incansável combate pela continuidade dos valores expressos em suas cantigas, em seus cordéis e em seus almanaques, onde o cortejo dos astros marca as chuvas e estiagem, apontando o sucesso e o fracasso da saga do povo nordestino. A música esteve presente na rabeca, instrumento melódico, utilizado desde a Idade Média, lembrando a harmonia das esferas celestes a ser copiada pela reaproximação dos saberes. Os cordelistas retrataram sua visão cósmica e encantaram o povo com o poder mágico das palavras e rimas, que de forma poética, lúdica, celebram as aventuras dos heróis, dos deuses, dos mitos, dos astros e das estrelas. E as parteiras, tão acostumadas com a tarefa de cortar o cordão umbilical, uniram-se desta vez à proposta de religar o cordão que vinculava a Astrologia às ciências oficiais. As parteirasMartha Perrusi As parteiras, testemunhas da hora do nascimento, estavam presentes para marcar a hora do inicio desta proposta de religação da astrologia com as ciências oficiais. Fazendo parte do Projeto Saberes e Práticas das Parteiras Tradicionais de Pernambuco, que busca reconhecer e salvaguardar todo conhecimento prático das parteiras rurais, das indígenas e das parteiras das comunidades quilombolas, Dona Abigail, parteira em Jaboatão dos Guararapes, quando consultada sobre a relação da lua com os nascimentos, declarou: “Às vezes estou em casa e sou chamada pra fazer um parto. Vejo pela lua que não é a hora, só vou pra levar um chazinho e deixar a pessoa calma. Quando chego digo logo: - fia, isso é a lua que tá fazendo isso com você, ainda não é a hora.” Quando terminou seu relato afirmou: “ a gente sabe a hora porque é a lua quem comanda no nascimento.” Dona Abigail Constatamos, pelos depoimentos das parteiras, que é forte a presença da oração nos rituais que antecedem os nascimentos. Dona Abigail alegou, categoricamente, que antes da realização do parto elas rezam três Salve Rainha. Acertando a reza inteira, é sinal de que o parto será bom; caso errem, levam imediatamente a parturiente para o hospital. Errando na Salve Rainha, elas não realizam o parto.
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