Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 135 :: Setembro/2009 :: - |
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ASTROLOGIA E COMPORTAMENTOMercúrio, inteligência emocional
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Carlos Hollanda |
Lógica, verbalização, inteligência, justificativas, intrigas e controvérsias. Tudo isso faz parte do conjunto de atributos de Mercúrio, planeta que está por trás das maiores conquistas do pensamento, mas também dos desentendimentos que levam à guerra e ao sofrimento.
Quantas peças o levado Hermes tem me pregado,
confundindo meus pensamentos!
Ó, divino símbolo de sagacidade, poupa-me
de tantos interesses e de tantas solicitações,
para que eu possa cumprir todos os compromissos.
Deixa-me dormir sossegado pelo menos durante 4 horas seguidas.
(prece do workaholic desesperado)
Selo do correio da França mostrando um Mercúrio de duas cabeças, uma das muitas representações de Mercúrio presentes na cultura greco-romana. As outras imagens deste artigo mostram Mercúrio em selos postais da Grécia, Espanha, Itália e Chipre.
Lógica, verbalização, inteligência, justificativas, pensamentos, controvérsias... tudo isso faz parte do conjunto de atributos de Mercúrio, deus greco-romano da comunicação, mensageiro dos deuses, patrono dos ladrões e embusteiros, criador de intrigas, mas também de soluções muito práticas. Escrever sobre este planeta e seus atributos requer a exposição de muitas informações. O texto cresce como se não fosse possível frear o fluxo de idéias oriundas não se sabe de onde. Sempre há uma sensação de que falta algo, mas os dados são tais que, inevitavelmente, encontram equivalências na vida de cada um. As fofocas, os diálogos, as discussões e debates estão dentro desse espectro de atuação, assim como os mal-entendidos, que podem gerar desde personalidades idolatradas pela mídia até assassinatos, guerras e muito, muito sofrimento. Os mal-entendidos são atributos especiais do ser humano, derivados de sua capacidade de raciocínio, sua lógica, sua curiosidade natural. A lógica nos parece uma das grandes conquistas de nossa evolução. Nosso cérebro consegue fazer uma série de conexões que nos permitem relacionar um infindável conjunto de elementos. Entretanto, apesar de nos gabarmos de possuir um cérebro privilegiado com relação ao do restante dos seres terrestres, nosso pobre órgão é absurdamente limitado quando confrontado com o oceano de informações contidas em tudo o que existe. Isso inclui o que é dito ou pensado.
Normalmente achamos que somos muito inteligentes, mas desconsideramos centenas, milhares de coisas, ao fazermos conjecturas, ao falarmos, ao escrevermos, ao pensarmos. Como podemos julgar-nos absolutamente certos sobre um assunto se desconhecemos pormenores que podem modificar completamente a trajetória da lógica que estamos usando? Lembro que meu sobrinho uma vez perguntou por que antigamente as pessoas achavam que a Terra era plana. Expliquei que não havia recursos, nem conhecimento, daí eles achavam lógico a Terra ser achatada porque viam uma linha reta no horizonte etc.
Enquanto explicava, subitamente um leque de conjecturas se abriu em minha mente. Graças àquele menino de dez anos, passei a perceber o quanto a lógica pode ser “burra”, se não forem considerados alguns fatores importantes. Se desconhecemos um ou mais fatores, distanciamo-nos da realidade a ponto de acharmos, por exemplo, que todas as pessoas do mundo podem ter carro, podem fazer queimadas e podem jogar lixo nas ruas sem que isso afete o meio ambiente.
Vale lembrar que nosso conhecimento depende do nível de interesse por algum assunto. Mercúrio, assim como qualquer outro planeta ou fator no mapa, não pode ser considerado isoladamente para definir uma disposição psicológica. Basicamente falando, nosso nível de interesse pelas coisas está vinculado a uma associação entre Vênus, Marte e Mercúrio, no sentido de libido, necessidade de satisfação e a lógica utilizada para alcançar o intento. Obviamente isso não é uma regra fixa, pois um desejo intenso de transcender o mundano (Júpiter, Netuno, Urano e Marte sendo considerados) também pode ser associado ao simbolismo de Mercúrio (meios práticos, lógica, raciocínio, capacidade dedutiva, verbalização, discussão). De qualquer forma, o interesse está associado à libido e à curiosidade. Uma coisa leva a outra. Se não temos libido, não temos curiosidade. Se não temos curiosidade, é porque a libido não está presente para aquele assunto ou experiência. Eis uma questão que deveria ser discutida por educadores, pois o rendimento escolar aumentaria consideravelmente se houvesse mais preocupação em despertar a libido dos alunos (em qualquer idade), direcionando-a, é claro, para o assunto a ser tratado (e não se trata de sexo, mas de estímulo a interesses).
Os mal-entendidos também podem estar associados à disposição marcial (de Marte). Dependendo de qual for o interesse, de para onde está direcionada nossa carga emocional (vide afirmações de Daniel Goleman em seu livro Inteligência Emocional), é possível que o mais inteligente dos seres humanos cometa erros que, dependendo do ponto de vista, poderiam ser facilmente evitados. Mas aí esbarramos novamente na barreira do interesse. Um hacker pode ser considerado um gênio de informática, mas seria arrasado numa competição de culinária, onde alguém com pouco estudo demonstraria tremenda capacidade e adaptabilidade. Alguém que ainda não aprendeu a dirigir pode ser um desenhista e/ou escritor de mão cheia e um motorista de táxi pode nem saber escrever corretamente.
Se nosso interesse nos leva, devido a circunstâncias ou eventos recentes, a tentar criar uma barreira de autoproteção (muitas vezes baseada numa excelente retórica), uma brincadeira feita por alguém mais animado e bem humorado pode ser entendida como ameaça, despeito ou deboche. Por isso é tão importante que seja dada uma oportunidade de resposta, uma abertura para que o indivíduo possa explicar sua disposição real. Nem sempre as pessoas querem brigar, mas a pressa em concluir pela lógica, sem averiguar as motivações – Marte – e o verdadeiro sentido pretendido pelos interlocutores, impede a conciliação das idéias e informações.
Uma das melhores coisas que a inteligência humana já inventou foi a internet, com o correio eletrônico e a troca de informações virtuais. Isso vem acelerando bastante o processo de aprendizado, o recebimento de dados que antes levavam dias e até semanas para serem enviados. Criou-se até mesmo uma linguagem “emocional” com caracteres que formam expressões faciais, como os emoticons, sorrindo – :-) – chateado – :-( – e vários outros sinais indicativos. Com isso, muitos mal-entendidos foram evitados, mas a palavra escrita ainda assim tem muitas limitações, e cuidados devem ser tomados ao falar de temas que podem provocar reações acaloradas. O mundo virtual é frio, não tem tonalidades de voz, não tem gestos nem som. Há, contudo uma vantagem sobre uma conversa ao vivo cuja propensão é se tornar discussão: o tempo para avaliar o que foi escrito e o que foi lido e explicar pormenorizadamente o que se quer. Se, num grupo de discussão via Internet, alguém diz algo que é interpretado como uma bobagem, aquele que iniciou o assunto pode retrucar educadamente e provar o que disse mediante uma série de exemplos ou pesquisas. Ao vivo, muitas vezes instala-se certa confusão, quando o teor emocional do assunto leva os interlocutores a tentar defender seus pontos de vista sem deixar tempo para o direito de resposta do outro.
Há que se considerar esse problema: ouvir. Muito pouca gente se dispõe a ouvir o que outra pessoa diz. Todos estão tão preocupados com os próprios conceitos e visões particulares que raramente se dão ao trabalho de dar atenção verdadeira ao que alguém esteja dizendo. Digo atenção verdadeira no sentido de adquirir uma postura que permita absorver o que é comunicado. Antes disso, julgam a partir do pouco que ouviram e não a partir do que se quer realmente transmitir. Essa situação é muito comum para quem trabalha com Astrologia (embora seja aplicável a todo e qualquer ramo). Dificilmente alguém que pergunta a respeito da validade desta arte-ciência tem paciência para ouvir o que realmente é necessário para que haja um entendimento genuíno. Para estas pessoas, basta o que é transmitido pela mídia ou por conhecidos que tiveram algum contato. O resultado é um emaranhado de informações resumidas, em sua maioria, incorretas e difamadoras.
O conhecimento (falando de Mercúrio e seus atributos) é uma faca de dois gumes. Por um lado, liberta-nos de muitas barreiras impostas pela sociedade ou por nossos medos. Por outro, confere-nos uma enorme responsabilidade acerca do que se deve fazer a respeito. Quanto mais conhecimento obtemos sobre algo, mais nos aproximamos, numa progressão geométrica, da fonte que origina muitos outros conhecimentos. O resultado dessa avalanche, quando se trata de um indivíduo com bom senso, é a percepção expressa no pensamento socrático: "Tudo o que sei é que nada sei". Conhecimento é poder, mas quando aplicado. Sem isso, torna-se poder em potencial, como costuma dizer Lair Ribeiro. De qualquer forma, todo poder traz grande responsabilidade, e a informação pode até agir como uma bomba, haja vista a força que tem um boato. Ele mexe com as pessoas, com a sociedade e, se bem espalhado, pode alterar uma época da história, como aconteceu na idade média na Europa, durante a Inquisição, ou em Salem, Massachussets, nas colônias inglesas do século XVII, durante a caça às “bruxas”. Ele pode até vencer uma guerra, quando manipulado na forma da “contra-informação” promovida por estrategistas militares e espiões na Segunda Guerra Mundial, pouco tempo antes da invasão da Normandia no “Dia D”.
Talvez uma boa expressão-chave para as experiências da vida relacionadas a Mercúrio seja ponto de vista. A qualidade da experiência não está (assim também com qualquer um dos planetas) nos eventos externos, mas no que vivenciamos e absorvemos, isto é, como reagimos ao que nossa predisposição interna nos faz sentir no mundo físico. No caso de Mercúrio, os pontos de vista parecem ser o ponto forte deste arquétipo.
Os pontos de vista se particularizam quando nosso Marte atua, fazendo uma espécie de seleção baseada num julgamento emocional. Simplificadamente, o mecanismo funciona mais ou menos assim: Saturno estabelece os limites e o senso de autoproteção; um nível abaixo, Marte considera, avalia, confere e restringe, reagindo emocionalmente, com discriminação e ousadia, às situações que se apresentam; Mercúrio, no nível seguinte, computa todos os dados e transmite. Pode parecer estranho falar de Marte como algo tão disciplinado, mas basta lembrar dos mitos gregos e da posição que ocupa na Árvore da Vida (Kabbalah). O deus grego Ares, toda vez que tomava a iniciativa, provocava muitos problemas, em geral corrigidos por Atena e por Zeus. O Marte disciplinado concentra energias e direciona por uma via emocional, contendo (lembrem-se da armadura) e “defendendo”, tal qual o soldado que é e representa, para resistir ao “mal” e definir o “bem”, ambos conceitos (limitados) criados a partir dessa consciência emocional restritiva.
A regência tradicional de Escorpião é atribuída a Marte (a atribuição de Plutão a este signo é recente). Basta observarmos o modo como os tipos psicológicos com este arquétipo em evidência (Sol, Lua, Ascendente ou muitos planetas em Escorpião, por exemplo) usam seu discernimento para permitir – ou não – que algo entre em suas vidas ou que suas emoções os dominem. A identificação excessiva com Marte, todavia, costuma gerar indivíduos extremamente autodefensivos, desconfiados e pouco tolerantes, ao mesmo tempo exacerbando a consciência de separatividade e perdendo o contato com as outras pessoas (o conhecido “ego ariano” quando sem controle). É preciso deixar uma brecha para a contraparte jupiteriana da complacência, mas isso é assunto para outro artigo.
Este discernimento, ainda que emocional, é o que permite refrear a miríade de fatores que penetram na consciência através de Mercúrio, dando-lhes alguma finalidade e fazendo com que o indivíduo tire proveito deles.
Comunicar-se, sem dúvida, não é uma tarefa tão fácil quanto geralmente se pensa. Temos que considerar que o ouvinte, leitor ou visualizador, pode estar numa fase em que se disponha a entender apenas o que (subconscientemente) ele quer, não importando o que o interlocutor quer dizer de fato.
Uma expressão facial cômica pode ser entendida por alguns como escárnio, se assim estiverem dispostos a interpretar, devido a circunstâncias recentes pelas quais tenham passado. Por outro lado, tais circunstâncias e tal disposição autodefensiva podem ter-se originado em períodos de tempo mais distantes, e constituem uma série de implicações que envolvem problemas de infância, rejeição por parte dos pais, eventos traumáticos em geral, inadequação social e, podemos aventar a hipótese, reminiscências de existências anteriores (carma genético – ancestralidade – carma reencarnatório).
Podemos ter aqueles tipos que, após terem reprovado determinadas atitudes em outrem, mantêm em seus subconscientes o registro da impressão de tais atitudes. Tal memória estocada permanece latente até que alguém dê a deixa para que o desaprovador expresse de novo sua desaprovação. Neste caso, o “desaprovado” é alguém que, às vezes inadvertidamente, lança a fagulha do comportamento defensivo ou dos sentimentos incômodos que foram alimentados pelo desaprovador até aquele momento. O problema é que nem sempre existe de fato uma “deixa” ou um motivo real, uma repetição da atitude que gerou todo o processo. De acordo com o ânimo, com sua disposição primária de emoções, com o modo como interliga os fatos e palavras, o desaprovador lança seu ponto de vista sobre o outro, sem se dar conta de que o outro pode estar com intenções absolutamente diferentes das que foram decodificadas pelo desaprovador. Tal mecanismo pode ter sido acionado sem que o “desaprovado” tenha consciência disso.
A memorização se torna muito mais fácil quando o fator a ser recordado tem uma resposta emocional definida, isto é, quando desperta um sentimento (às vezes derivado de uma sensação). Quem memoriza rostos, objetos e formas, por exemplo, em geral é extremamente sensível aos humores – uma função característica do símbolo da Lua no mapa astrológico. Um rosto pode ser cômico, belo, assustador, mas sempre que é memorizado há algum traço que o tenha tornado marcante não só pela análise fria, mas pelo fato de criar uma certa atmosfera em nossa mente subconsciente, ligando fatos e efeitos a todo um encadeamento de registros desde o nascimento (ou até de existências anteriores, se for o caso). O mesmo se dá com objetos, com locais etc. As emoções despertadas serão automaticamente associadas àquela imagem, som, sabor, aroma ou textura.
Não estamos constantemente conscientes de nossas emoções, mas elas estão sempre atuantes em certo grau. Isso é facilmente provado quando escutamos uma música. As melodias, como linguagem universal, despertam emoções ligadas a eventos do passado. É por isso que dizemos ter gostado de uma música nova. Algo contido nos ritmos, nas variações de tonalidade, transmite o sentimento de segurança, de estar “em casa”, de sentir-se acolhido, mesmo quando se trata de uma música agitada, pois ela nos remete de qualquer maneira a um estado de ser já conhecido e que nos pode ser agradável. As músicas das quais não gostamos agem exatamente ao contrário, seja pelo fato de não nos despertar emoções, seja por trazer sentimentos dolorosos à tona. Este mecanismo age em nível individual. Para cada um, a mesma música pode ter efeitos diferentes, basta que haja uma memória de prazer ou de dor.
A capacidade de memorização pode ser ampliada ao associarmos um assunto a emoções. Um exemplo é o fato de recordar datas históricas, como a de uma proclamação de independência de um país. A princípio, tal data remete-nos apenas a um fato que ocorreu muito antes de termos nascido e que, portanto, não nos diz respeito individualmente. Entretanto, pode-se associar ao fato histórico o sentimento de segurança por pertencer a um povo, ter raízes e uma cultura própria (baseada na consciência coletiva derivada dos eventos ocorridos naquela data). Há diversos fatores emocionais que podem despertar a mesma memória em cada pessoa. Os arquétipos planetários aqui envolvidos são a Lua e Mercúrio, sendo a Lua o reservatório de imagens e sentimentos e Mercúrio o fator que dá forma verbal e inteligível ao que é captado desse reservatório ou solicitado pelo mundo externo.
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