Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 135 :: Setembro/2009 :: - |
|
|
Novidades em mapas do Brasil Um link direto para os vinte mapas mais recentes Em breve: uma nova versão de Mapas do Brasil. |
ASTROLOGIA E COMPORTAMENTOMercúrio, inteligência emocional
|
Carlos Hollanda |
Os hábitos formam seqüências de procedimentos automáticos (dirigir, comer, andar, nadar, andar de bicicleta etc.) que dispensam a concentração do raciocínio, uma espécie de economia psicobiológica de energia. A Lua, na Astrologia, “governa”, entre outras coisas, desde reflexos involuntários (movimentos peristálticos, por exemplo) até os movimentos e trabalhos executados pela memória hábil, sem que tomemos consciência de que realizamos operações complicadas. A Lua também está relacionada ao sistema nervoso autônomo. Graças a ele, nossa atenção pode ser direcionada para outras tarefas, complicadas ou simples, mas que seriam impossíveis sem sua coordenação, nos “bastidores”, de movimentos não direcionados conscientemente. No entanto, todo esse maravilhoso mecanismo também pode ser causa de alguns mal-entendidos, quando a consciência solar, isto é, o centro da personalidade, o self, está fora do contexto de uma circunstância (deixando ligado o “piloto automático”) e/ou quando não estamos exercendo nossa curiosidade/interesse (Mercúrio/Marte/Vênus) em algum momento.
Exemplos disso podem ser encontrados nos atendentes de fast food que, quando abordados num horário extremamente cheio, não conseguem cumprir corretamente todas as solicitações (qualquer pessoa cometeria erros se estivesse no lugar deles). Nestes casos, os pedidos fora dos padrões fatalmente causarão uma espécie de curto-circuito, pois é o “piloto automático” quem está no comando, e a solicitação exige raciocínio sobre algo inusitado. Disso decorre que, naquele momento, não basta ao atendente reportar-se simplesmente ao sistema nervoso autônomo para cumprir a exigência. É preciso criar um novo ambiente mental para tanto, e isso é o que permite avaliar o quanto o indivíduo está exercitando seus neurônios. É por isso que são tão comuns os atrasos nos pedidos, e acontecer de pedirmos uma salada de atum e vir uma pizza (já aconteceu comigo!). Muita gente pode discordar, dizendo que o erro no atendimento não tem nada a ver com a memória hábil, mas se eu disser que a maioria dos pedidos daquele horário e daquele local era pizza e quase nunca de sanduíche, acho que entenderão o que quero dizer.
Operários de fábrica, com movimentos e raciocínios repetitivos, também entram nessa consciência de piloto automático. Qualquer um precisaria de um certo tempo para trocar um procedimento habitual por um novo. O mesmo acontece com digitadores, escritores, analistas, enfim, todos os que usam teclados e são considerados inteligentes e hábeis pela velocidade de resposta sensorial com suas ferramentas de trabalho. Basta mudar uma única tecla para que haja muitos erros e atrasos. Agora mesmo estou digitando este texto num teclado diferente do habitual e estou tendo de consertar um monte de acentos que pus fora do lugar!
Não adianta brigar com alguém cujos hábitos não estão de acordo com o que achamos que deveria ser correto. É preciso dialogar e lembrar sempre, de preferência de maneira sutil ou cordial, que as coisas podem ser feitas de uma outra maneira. Excesso de cobrança só piora situações já delicadas.
O chamado “jogo de cintura”, comum nos brasileiros (o conhecido “jeitinho”), torna-se presente quando utilizamos nossa capacidade de raciocínio lógico sob muitos pontos de vista e sob experimentação constante. Nosso país é um laboratório excelente para isso em qualquer linha de trabalho.
Recentemente enfrentei mais uma fase de Mercúrio retrógrado. Analogamente, houve uma série de dificuldades para terminar este e outros artigos que me foram solicitados. Não por falta de informações, mas pela necessidade de cumprir com dezenas de compromissos não planejados, como transformar um texto escrito para leigos em um artigo adequado para conhecedores e obter a resolução de problemas em cartório (coisas simples, mas que demoraram mais de um mês para serem resolvidas, sempre por um motivo imprevisto ou um encadeamento de motivos, todos governados por Mercúrio).
Pensem no que aconteceu com vocês nos dois últimos períodos de Mercúrio retrógrado (você encontrará as datas em Cosmo e Cotidiano, de Vanessa Tuleski, nos Blogs de Constelar). Lembram-se de quantos mal-entendidos ocorreram, quantas chamadas telefônicas caíram (se bem que, em algumas cidades, não é necessário nenhum motivo especial para defeitos em telefones) ou quantas foram completadas, mas no número errado? Alguma documentação necessária foi perdida? Atrasou-se? Todas as cartas foram respondidas? E as memórias? Simbolicamente as memórias são associadas à Lua, mas todo planeta retrógrado reporta a imagens e experiências já ocorridas, talvez a uma reavaliação delas, entre outros atributos simbólicos. Coisas oportunas que gostaríamos de ter dito em outra ocasião e não dissemos, experiências que gostaríamos de repetir...
Outra experiência comum a todos, mas especialmente forte para os que evidenciam Gêmeos e Virgem (e Mercúrio dignificado) no mapa, são os lapsos de memória. Diferentemente de um problema de saúde, tais lapsos ocorrem pela quantidade absurda de imagens, pensamentos e sensações (reais ou mesmo simuladas) que invadem a mente durante a fase.
As pessoas ouvem o que querem ouvir e entendem o que querem entender. Depende de quão “confortável” (Vênus) pode ser uma informação. Se o fato de vir a saber algo provoca uma crise interna, há um mecanismo de autodefesa e/ou de ataque, para evitar uma mudança nos pontos de vista. É comum observarmos a resistência a mudanças em pessoas cujo mapa apresenta o signo de Touro em evidência (Sol, Lua ou Ascendente em Touro ou outros fatores que possam enfatizá-lo), não tais mecanismos de autodefesa também são observáveis em qualquer outro indivíduo, pois, em algum grau, todos temos desejo de conforto, de estabilidade e de sensações agradáveis aplicados ao que conhecemos ou desejamos conhecer. Há também a preguiça de fazer conjecturas, pois permanecer imerso no preconceito demanda menos energia. Ser ignorante – não no sentido de falta de inteligência, mas de não saber ou não conhecer alguma coisa – não confere poder, mas requer muito menos responsabilidade. É uma situação muito mais “confortável” para muitas pessoas.
O preconceito é originado por vários fatores. Um deles é o sofrimento causado por algo, sem que esse algo seja compreendido, ou quando se lhe atribua uma característica imprópria.
Um amigo vive insistindo que não “acredita” (como se alguém vivesse tentando fazê-lo crer) em Astrologia. Esse mesmo rapaz costuma prestar atenção a mensagens de médiuns, o que parece incoerente com seu ceticismo superficial. O motivo não é exatamente racional, como ele tanto afirma, mas é uma necessidade de combater uma mágoa muito forte proveniente de relacionamentos mal sucedidos. O gatilho para a criação de uma barreira como essa, repleta de justificativas racionais (muito pertinentes, por sinal, mas carentes de informações completas – vide trecho que fala de Marte e o discernimento emocional), foi a mágoa derivada de rompimentos afetivos, principalmente seu último casamento.
A culpa parece ter sido projetada em todos os que agem (ou que ele pensa que agem) como uma suposta vidente (para ele não há diferença) que interpretou erroneamente uma série de previsões para sua ex-esposa. A vidente dissera à sua então esposa que ele teria muitos problemas financeiros pouco tempo após a consulta. Tomando aquilo como uma verdade absoluta, toda uma expectativa negativa tomou conta da parceira e de suas atitudes. O casamento terminou, porém o marido não teve um problema financeiro (como fora entendido) que afetaria o relacionamento. O problema veio depois, quando meu amigo cedeu parte de seus bens em prol da filha do casal. Esse suposto erro (talvez uma falha grave na comunicação, pois o problema realmente ocorreu em decorrência da separação, e não por qualquer tipo de irresponsabilidade dele) e os sentimentos dolorosos daí decorrentes, impregnaram-se em seu subconsciente e, hoje, mesmo com mentalidade científica e curiosidade peculiar, recusa-se – e até ataca desnecessariamente, interferindo sem ser solicitado quando alguém fala em previsões – a procurar saber de fato no que se baseiam tais conhecimentos.
Este processo defensivo, além da associação óbvia com os atributos arquetípicos de Saturno, também faz parte de uma combinação dos princípios simbolizados por Mercúrio e Marte, sendo Mercúrio a característica informativa do evento (ainda que possa estar errada, mal comunicada ou mal interpretada) e Marte o princípio de discernimento existente nos recônditos emocionais da psique, na exclusão e eliminação de uma “ameaça” através da consciência de separatividade e da afirmação do ego, com a finalidade de manter-se íntegro e de evitar sofrimento.
Podemos associar corretamente a necessidade de proteção a Saturno, ao criar limites e barreiras, mas é Marte quem executa toda a vigilância, impedindo, através da reminiscência da dor sofrida, sua reincidência. É uma sensação tão sutil que muito raramente se torna consciente, se bem que seja real a ponto de interferir ativamente no comportamento.
Autodidadas, segundo o o dicionário Aurélio, são “aqueles que se instruem por si, sem auxílio de professores”. Podemos dizer que são, antes de tudo, livres pensadores que precisam de independência para que seus intelectos, sensibilidade, percepção e habilidades possam se manifestar com todo potencial. Algumas pessoas optam pelo autodidatismo pelo fato de ser menos oneroso financeiramente, embora estejam cientes de que a sociedade leva muito em conta o aval de uma instituição. Outras são autodidatas por natureza, pois não conseguem permanecer em estado passivo numa sala de aula ou não querem deixar de coordenar elas mesmas o próprio método de aprendizado. O ego não é uma coisa ruim, pode ser um instrumento bastante eficaz quando se está consciente dele. E estes indivíduos têm necessidade de adequar as exigências de seus egos às exigências do mundo. É uma necessidade de emergir completamente do útero coletivo do qual saíram, auto-afirmando-se e provando a si mesmos que são capazes. Não procedendo dessa forma, tais pessoas arriscam-se a perder suas forças e sua combatividade, sentem-se menos especiais e não se realizam como seres humanos. É preciso respeitar tal opção, assim como é preciso respeitar os que têm disciplina para aceitar atitudes pouco afáveis de professores ditatoriais ou aulas burocráticas de mestres enfadonhos.
Há um outro grupo (há muitos grupos e motivos, mas este é um tanto quanto especial) que só consegue aprender de uma maneira muito particular, e cujas necessidades intelectuais e emocionais não são supridas pelos métodos atuais de ensino. Este grupo de autodidatas cria métodos próprios, encontra livros cujos assuntos sempre têm relação com o que deseja aprender, e consegue associar as experiências do cotidiano com o processo de aprendizado de forma muito mais adequada e melhor orientada do que qualquer professor ou instituição de ensino seria capaz. Não que professores e instituições sejam incompetentes, mas estes indivíduos simplesmente têm um momento muito exclusivo para sentirem atração por algum assunto ou disciplina. Em geral, tal momento não é simultâneo com o sentido de tempo de nenhum sistema de ensino, nem encontra uma brecha que coincida com o calendário letivo. Tais autodidatas são extremamente inteligentes, com muitas habilidades diferenciadas, desenvolvidas ou a desenvolver, e sofrem de uma crise social de descrédito. São perfeitamente capazes de desempenhar várias funções e profissões, mas dificilmente encontram uma área onde seu individualismo ou grande evolução mental possa ser aproveitados sem que tenham de abrir mão de boa parte de seus potenciais. Às vezes são chamados de tipos obsessivos (e podem até ser), mas todo este potencial não deveria ser jogado fora pela sociedade, sendo melhor que se comprovasse a eficácia do conhecimento dessas pessoas.
Muitos profissionais formados se espantam quando têm oportunidade de ver um autodidata trabalhando. De início pensam que aquilo que o autodidata faz dará completamente errado, para depois surpreenderem-se com o resultado. Coisa comum entre os músicos. Os que têm formação clássica, por exemplo, assumem uma certa postura acadêmica com resultados belíssimos, mas muitos que jamais viram um professor à sua frente, que aprenderam “olhando”, conseguem resultados tão ou mais impressionantes quanto os primeiros. Aqui, falando em termos astrológicos, voltamos à questão Marte/Mercúrio do direcionamento do desejo, somado ao individualismo e brilhantismo uraniano, um modo, digamos, “muito adiantado” de fazer as coisas e de perceber o mundo.
Voltando à proposta inicial do artigo, que são os mal-entendidos, pode-se dizer que os autodidatas estão entre as pessoas que menos a sociedade se dá ao trabalho de ouvir, exceto quando a mídia cria em torno deles uma atmosfera de glamour. Alguns dos problemas mais comuns de comunicação aqui envolvidos são conseqüência da não utilização de um jargão institucional ou de um método que seja tido como “o melhor” ou “o mais aceito”. O autodidata pode estar dizendo exatamente a mesma coisa que o especialista de formação convencional, às vezes de forma muito mais acessível ao público, mas corre o risco de não ser compreendido ou, pior, repelido pelos mesmos leigos que acreditam (por vício) que quanto mais complicado o linguajar, melhor o profissional. Em suma: “santo de casa não faz milagre”.
Na questão do autodidatismo, um meio-termo pode ser alcançado. O excesso de individualismo precisa ser compensado com a aplicação das capacidades adquiridas a serviço do bem comum, pois, de uma forma ou de outra, e mesmo não tendo o aval da comunidade, o conhecimento não acadêmico foi obtido através dos meios que a própria comunidade disponibiliza. O autodidata, a despeito de quanta pressão possa ter sofrido, deve deixar de lado a frustração do não reconhecimento, e até mesmo uma possível auto-piedade, para dar lugar à compreensão de que faz parte de uma elite de seres altamente sofisticados e individualizados. Por outro lado, a sociedade deve abrir um precedente para que as possibilidades oferecidas por tais pessoas possam ser aproveitadas. Há meios perfeitamente viáveis para que qualquer instituição averigüe capacidade e conhecimentos, basta mais vontade e menos protecionismo.
Obviamente existem muitos acadêmicos geniais. Contudo, existem muitos acadêmicos que servem apenas para mostrar que têm diploma e nada mais. Estes mesmos poderiam ter sido grandes autodidatas em temas totalmente diversos daqueles a que as instituições dão seu aval, bastando que seguissem seus desígnios marciais, ou seja, seu “tesão” por seja lá o que for.
Um dos meios de reduzir a tendência a más interpretações é dar um estímulo à capacidade de ser tolerante, adotando uma postura que admita a possibilidade de averiguar fatos e sentimentos. Há que se ter flexibilidade para oferecer uma chance a quem quer que tenha comunicado algo que nos desagrade. O mesmo serve para nossos padrões, que precisam de reavaliação periódica. Mudar de idéia não é tão ruim assim.
Este “outro lado” pode ser associado facilmente aos conceitos de Júpiter, Vênus, Netuno e também Urano, se o compreendermos (entre outras coisas) como uma sintonia fina entre muitos egos diferentes, eliminando as barreiras e excesso de autoproteção.
Isso é bem característico da oposição entre os pilares direito e esquerdo da Árvore da Vida, sendo Mercúrio, Marte e Saturno o pilar esquerdo (o Pilar da Severidade) e Vênus, Júpiter e Urano o pilar direito (o Pilar da Misericórdia) – Urano associado ao topo do pilar direito.
Outros artigos de Carlos Hollanda.
|
Atalhos de Constelar | Voltar à capa desta edição |Carlos Hollanda - Mercúrio, inteligência emocional e mal-entendidos | Mercúrio retrógrado e Inteligência Emocional | Edições anteriores Lúcia D. Torres - A trajetória de Plutão de Câncer a Capricórnio | A profecia kafkiana | Pai, uma espécie em extinção | |
Cadastre
seu e-mail e receba em primeira mão os avisos de atualização
do site! |
|
2013, Terra do Juremá Comunicação Ltda. Direitos autorais protegidos. Reprodução proibida sem autorização dos autores. |