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 Edição 179 :: Maio/2013

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ASTROLOGIA E ARTE

O zodíaco surrealista de Johfra - Áries a Leão

Fernando Fernandes

O pintor holandês Johfra Bosschart criou entre 1974 e 1975 uma obra-prima do surrealismo: a série de doze quadros retratando os signos zodiacais, cuja representação revela um profundo conhecimento de mitologia, simbolismo e das tradições do hermetismo europeu.

Johannes Franciscus Gijsbertus van den Berg, ou mais simplesmente Johfra Bosschart, foi um artista plástico holandês nascido em 1919 e falecido em 1998, às vésperas de completar 79 anos. Em sessenta anos de trabalho profícuo, deixou uma obra única, que ele mesmo descreve como "surrealismo baseado em estudos de psicologia, religião, referências bíblicas, astrologia, antiguidade, magia, feitiçaria, mitologia e ocultismo".

Bosschart

Johfra Bosschart perto do fim de sua vida.

O momento de amadurecimento da produção artística de Johfra parece ter ocorrido por volta de 1962, quando, aos 44 anos, o pintor inicia seu segundo casamento e muda-se para a França, deixando para trás a Hollanda natal. Nesta fase, o interesse em Astrologia e Mitologia tornar-se-á cada vez mais evidente, culminando com uma série de pinturas, produzidas entre 1974 e 1975, que retratam os doze signos num estilo semelhante ao das cartas de tarô: imagens complexas, sugestivas, com forte conteúdo simbólico e uso intencional da cor e das referências míticas para sintetizar cada um dos arquétipos zodiacais.

A maioria das análises das pinturas de Johfra privilegia a perspectiva espiritualista, vendo as doze telas sobre o zodíaco como expressões das etapas de um processo de iniciação e ascensão espiritual. Evidentemente, esta leitura não pode ser descartada, até mesmo em função dos vínculos do pintor com a Ordem Rosacruz (mais detalhes na análise da carta natal de Johfra). Por outro lado, o artista tinha suficiente conhecimento de Astrologia para inserir em cada tela elementos para a elaboração de um perfil psicológico do signo retratado. Esta é a linha de análise que adotamos neste artigo.

Áries

Áries - JohfraA impetuosidade é a tônica desta tela, presente tanto no carneiro que investe de cabeça baixa quanto no guerreiro que carrega a tocha. A vitalidade dessa representação é reiterada pelos tons vermelhos da paisagem e pelos vulcões ativos ao fundo. Tudo parece em ebulição, numa imagem que evoca um tempo de começos ou recomeços, onde tudo ainda está por fazer. As montanhas distantes, assim como as próprias colunas metálicas que enquadram a composição, são ricas em ângulos, pontas, espinhos, lâminas, em consonância com a agressividade do signo e com a necessidade de estabelecer um vetor de força. A paisagem nua lembra despojamento. É tempo de atividade, o repouso ainda terá de esperar.

Muito discretas, outras três figuras completam o conjunto de imagens arianas: a salamandra, nas pedras em primeiro plano, e, ao fundo, o casal que representa a magia e a justiça. A salamandra é a personificação mítica do fogo, sendo-lhe atribuída, na tradição medieval, o poder de manipular este elemento e também o de transmutar as emoções. O mago de capa vermelha, no canto esquerdo do plano de fundo, reitera valores arianos, num nível distinto daqueles em que atuam o guerreiro e o carneiro: o mago é aquele que manipula energias para iniciar processos. Já a mulher de olhos vendados, que simboliza a justiça, expressa aqui a contraparte de Áries: Libra, seu signo oposto.

Touro

TouroDas doze representações zodiacais, a que mais se assemelha a uma celebração da vida natural é exatamente esta. Em primeiro plano, um guerreiro em repouso abre mão das armas, enquanto crianças brincam com seu capacete; dominando o centro da imagem, uma mulher de formas voluptuosas apoia-se sobre o touro, símbolo de fartura. Temos aí a própria deusa Vênus numa representação de notável complexidade simbólica: a mão esquerda da deusa repousa sobre o dorso do animal, enquanto a direita sustenta uma lamparina cuja luz brilha na altura da cabeça. Temos aí ao mesmo tempo uma referência à sensualidade, ao contato prazeroso com a matéria (o Touro) e às escolhas determinadas pela razão (a lamparina simbolizando aqui a luz da consciência).

O touro é branco - cor de pureza e elevação - e ao fundo veem-se outras figuras que podem ser associadas a Vênus: as pombas, o anjo, o azul do céu. Os delicados tons de verde, marron e azul falam da harmonia entre o céu e os reinos vegetal e mineral. Todos os elementos dizem respeito à vida rural, evocando um mundo arcaico e pacífico. A moldura que cerca a composição é feita de cobre delicadamente decorado, em meio à vegetação. O cobre, que também constitui a matéria-prima da rosa em primeiro plano - é o metal venusiano por definição, maleável e sempre presente na confecção de artefatos decorativos. Aqui e ali vemos raízes de árvores e partes da folhagem - formas vivas, orgânicas e estáveis capazes de dar sustentação a todo o conjunto. Neste mundo calmo, a vida triunfa em todos os sentidos, garantindo a continuidade.

Gêmeos

Gêmeos JohfraEm Gêmeos, todos os elementos são duplicados. Em primeiro plano, o macaco (animal regido por este signo) segura o globo terrestre, exprimindo curiosidade. O mesmo casal jovem que ocupa a parte central do quadro, empunhando o caduceu, reaparece mais acima, fundido numa figura andrógina. O caduceu, aliás, é considerado o emblema de Hermes (Mercúrio), sendo, portanto, um símbolo geminiano: trata-se de um bastão em torno do qual entrelaçam-se duas serpentes (duas - de novo a dualidade) e que é adornado com asas em sua parte superior (asas, lembrando o elemento Ar). A referência ao caduceu aparece duplicada ao fundo nas duas colunas, que sustentam o Sol e a Lua e em torna das quais dragões apoiados em nuvens enrodilham suas caudas.

No quadro de Johfra, todos os seres representados têm as mãos ocupadas, segurando algo ou apontando para algo. É a dimensão geminiana da habilidade manual e da comunicação. Outro detalhe digno de nota é que, dos doze signos, os únicos cujas representações não estão totalmente enquadradas dentro de uma moldura são Gêmeos e Sagitário. Trata-se de dois signos que expressam trocas e movimento, sendo portanto, avessos a qualquer tipo de limitação.

CâncerCâncer Johfra

As tenazes do caranguejo e sua analogia com as mãos que guardam e protegem, eis a analogia visual que Johfra estabelece para o signo de Câncer. O caranguejo (ou lagosta) parece sair de dentro de uma grande concha: ostras são animais que também podem simbolizar este signo. Tal como o comportamento de Câncer, que esconde e protege alguns de seus melhores sentimentos, a ostra se reveste de uma carapaça dentro da qual se esconde a pérola. Mais ao fundo, na areia da praia, vemos algumas tartarugas, mais um exemplo de animal que se protege sob um grosso casco. As sugestões de coisa protegida e de esconderijos se espalham aqui e ali no quadro, repetindo-se na arca cheia de tesouros, quase enterrada na areia, e no castelo à beira-mar, que vislumbramos à direita. A própria moldura que enquadra a composição lembra madeira antiga, cheia de musgo e umidade, e guarda segredos em suas múltiplas reentrâncias. Johfra enfatiza aqui o lado feminino e aquático de Câncer, signo das águas protegidas, do lodo insondável e cheio de vida, e da mutabilidade emocional que tanto pode ser associada às marés quanto às fases da Lua, que paira na figura sobre as águas tranquilas de uma baía.

Leão

Leão JohfraJohfra vai direto ao ponto ao representar Leão como um signo associado à ideia de centralidade e de poder. Ao contrário dos quadros que retratam outros signos, aqui a figura dominante - o Leão-Sol - está nitidamente destacada, sem qualquer diálogo ou contraponto. Tudo remete à energia solar, nobre, real e generosa. "Eis como todos os grandes líderes deveriam ser", parece querer dizer o artista (ele próprio, aliás, nascido sob uma conjunção Netuno-Júpiter neste signo). As referências solares estão presentes por toda parte: na incrível luz dourada que cobre a tela inteira, nos girassóis, na altivez das palmeiras, no coração que, do alto, se sobrepõe ao próprio sol, num símbolo muito claro da prevalência da luz espiritual sobre a energia radiosa do sol. A luz que desce do coração, ao alto, se espalha pelo peito do leão celeste e se concentra fortemente na região do baço - a mesma área que os espiritualistas chamam de plexo solar, para daí irradiar-se para toda a paisagem. Abaixo, vemos um vale verdejantes e um rio de águas limpas, enquanto o castelo de torres altas domina a paisagem. Temos aí a imagem idealizada do poder civilizador de Leão, que agrega forças em torno da autoridade e impõe o domínio que permitirá o progresso de todos.

As sete telas, de Virgem a Peixes

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