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CONGRESSO EM BUENOS AIRES
GeA: Astrologia com sotaque portenho
Em junho acontece em Buenos Aires mais um GeA, o Encuentro
Gente de Astrologia, mais tradicional evento do gênero na América
Espanhola. Veja como foi o GeA de 2006.
O
congresso GeA - Encuentro Gente de Astrologia - é realizado há
dez anos normalmente no mês de junho, atraindo a participação
de astrólogos argentinos e de outros países latino-americanos.
A partir de 2006, a Astrologia brasileira também se fez presente,
com dois palestrantes.
Na versão 2006, a palestrante Emilia
Olga Ghirlanda (foto) abriu o GeA apresentando o tema O zodíaco
como holograma da vida ao mesmo tempo em que, na sala ao lado, apresentava-se
o espanhol Juan Estadella, que discutia os aspectos nos mapas de retorno
solar. Estadella, que também estará presente em agosto no
simpósio do Sinarj, conseguiu ser ao mesmo tempo o palestrante
mais jovem e mais formal do evento, apresentando-se de terno e mantendo
a sobriedade até mesmo durante o jantar, onde continuava de terno
em meio a uma animada comemoração pela vitória da
Argentina na Copa da Alemanha.
Alejandra
Lauria apresentou uma análise da vida e obra do diretor teatral
russo Constantin Sergejewitsch Stanislawski, sob o tema: Os desígnios
cósmicos e as bases da arte cênica realizadas por um capricorniano.
Stanislawski, nascido em 17 de janeiro de 1863 em Moscou, revolucionou
para sempre as artes cênicas ao desenvolver um método de
preparação do ator baseado na construção do
personagem a partir da vivência de sua realidade psicológica
e corporal. Foi com Stanislawski que ganharam força técnicas
como os laboratórios de improvisação e a intensa
preparação física do ator, cuja corpo e cuja voz
deveriam, na opinião do diretor russo, constituir um instrumento
de trabalho preciso, flexível e sempre bem afinado. Para um tema
tão específico, uma platéia ainda mais específica:
estiveram presentes apenas duas pessoas - ambas com vivência profissional
em teatro, como a própria palestrante. Foi a menor platéia
do evento, o que não impediu que ocorresse uma animada troca de
percepções. Para um leigo, o nome Stanislawski pode não
significar muita coisa; para um astrólogo que também tenha
sido ator, mergulhar no mapa desse russo genial pode representar uma rica
experiência de compreensão da própria memória
afetiva.
Uma
constante em congressos de Astrologia, também presente no GeA:
o stand de livros especializados. A diferença, aqui, é que
os títulos são todos em espanhol. Autores brasileiros, escrevendo
em português, não encontram nenhum espaço nas estantes
do país vizinho. O mercado é dominado pelas editoras locais
(com destaque para a Kier) e pelas poderosas concorrentes espanholas.
Celisa
Beranger ocupou uma das vagas na cota brasileira da programação
do Xº GeA. A outra foi do próprio autor deste artigo, que
falou sobre o simbolismo astrológico do Hino Nacional Brasileiro
no exato momento em que Buenos Aires inteira parava para ver a seleção
local estrear na Copa da Alemanha. Naturalmente, a torcida local preferiu
o hino argentino. Já Celisa trouxe para casa o prêmio do
concurso de monografias do GeA na categoria internacional, com o trabalho
Estrelas Fixas - os dois métodos, que também foi
tema de sua palestra. Na foto, Celisa Beranger (à esquerda) aparece
ao lado de Silvia Ceres (centro) e Adrian Argüelles (direita), os
organizadores do GeA. O geminiano Adrián, que já trabalhou
no programa nuclear argentino, é hoje o responsável pela
retaguarda tecnológica de Gente
de Astrologia, administrando o site e todos os seus recursos interativos.
Um
dos trabalhos mais criativos do GeA foi apresentado pelo discreto pesquisador
Osvaldo Cirigliano, que falou
sobre as relações que vinculam o grupo sanguíneo
de um indivíduo com as indicações de seu tema astrológico
natal. Com base em evidências estatísticas, o autor misturou
fisiologia, bioquímica, antropologia e psicologia para defender
uma tese que, na pior das hipóteses, já teria o mérito
de ser cientificamente testável. Do ponto de vista de apresentação
de resultados de pesquisa, foi o momento mais interessante do congresso
(Constelar está tentando obter autorização
para traduzir o texto).
O
GeA de 2007 acontece no mesmo endereço de 2006: o centro de convenções
do hotel Íbis, na região central de Buenos Aires, a apenas
duas quadras do edifício do Congresso Nacional (foto). Trata-se
de uma localização central, se bem que tranqüila e
arborizada. O único perigo é representado pelos cães
que enchem a praça em frente, levados por crianças e aposentados,
e que de vez em quando cismam em ameaçar algum astrólogo
distraído. O autor deste artigo, por exemplo, perdeu parte de uma
palestra tentando escapar de um irritado schnauzer.
O
perigoso cão que discrimina astrólogos brasileiros. A foto
só pôde ser tirada depois que o dono apareceu e pôs
a fera na corrente.
Viviana Rodríguez apresentou Bolívia: el
camino hacia la dignidad, um detalhado estudo sobre os acontecimentos
políticos do conturbado governo de Carlos Mesa no país vizinho,
que culminaram numa violenta convulsão social, em julho de 2005.
A crise do governo Mesa radicalizou posições e preparou
caminho para a eleição de Evo Morales, em 2006, cujas perspectivas
a mesma astróloga analisou para Constelar no evento Presságios2007.
A
palestra de Viviana no GeA foi um excelente exemplo do estilo argentino
de fazer Astrologia Coletiva, técnico e eminentemente "gramatical":
a astróloga começou utilizando os mapas dos ingressos solares
em Áries, calculados para La Paz, nos anos de 2003 e 2005; prosseguiu
com o ingresso do Sol em Libra, de 2003; daí, enveredou pelos eclipses
de Sol e Lua ocorridos no período, tanto diretos quanto conversos,
sendo que estes últimos são calculados a partir de trânsitos
e direções conversas, obtidos mediante a subtração,
tomando por base a carta radical, de um número de dias igual ao
transcorrido entre a data da carta radical e um fato presente. Parece
complicado? Eis um exemplo: entre a Independência do Brasil, em
1822, e a eleição de Lula, em 2002, passaram-se 180 anos
e algumas semanas. Projetando esse intervalo de tempo para trás,
ou seja, subtraindo 180 de 1822, chegaríamos ao distante ano de
1642. Depois de localizada a data conversa exata, com precisão
de dias, poderíamos analisar os trânsitos conversos, a revolução
solar conversa e analisar o impacto de eclipses eventualmente atuantes
naquele momento sobre os acontecimentos de 360 anos mais tarde!
Para completar, Viviana ainda utilizou todas as Luas Novas
e Cheias, diretas e conversas do período, sem falar em paralelos,
contraparalelos, antíscios e contra-antíscios. Uma boa parte
da platéia acompanhou a explicação de mapa na mão
e fez observações bastante pertinentes, o que demonstra
que a técnica das datas conversas não é algo estranho
ao repertório de técnicas de nossos vizinhos portenhos.
O
Editorial Kier, bem conhecido dos brasileiros, costuma aproveitar o GeA
para divulgar seus lançamentos anuais. Em 2006, o lançamento
em pauta foi a obra Astrologia Hermética, do autor cordobês
Eduardo Gramaglia. Trata-se de um mergulho na Astrologia Helenística,
cujas raízes remontam ao mítico Hermes Trismegisto e sua
escola de filosofia. O maior mérito do livro, segundo o próprio
autor - que também é músico erudito - é basear-se
em traduções diretas dos textos gregos, fornecendo ao leitor
subsídios que raramente estão disponíveis em língua
espanhola.
O Editorial Kier, que já foi uma forte referência
na publicação de obras astrológicas nas décadas
de setenta e oitenta, vem recuperando espaço nos últimos
anos mediante o investimento em autores locais (em vez do caminho fácil
das traduções de best-sellers americanos) e a publicação
de diversas pesquisas originais. Uma peça fundamental na nova fase
da Kier, segundo os próprios autores publicados, é Ana Lía
Rios (na foto, ao lado de Gramaglia), responsável pela seleção
e publicação da coleção astrológica.
Para Eduardo Gramaglia, por exemplo, o trabalho de Ana Lía vai
além do que um editor costuma fazer, na medida em que orienta pessoalmente
os autores a encontrar o meio termo adequado entre o aprofundamento do
tema e as expectativas do leitor mediano. O clima de idílio entre
os autores argentinos e sua editora preferida deixaria com inveja alguns
autores brasileiros, obrigados a lidar com problemas de distribuição
de suas obras, falta de apoio na divulgação e dificuldade
para recebimento de direitos autorais.
Não
é por acaso que Buenos Aires tem a maior quantidade de psicanalistas
per capita da face da Terra. A temática psicológica
é quase uma obsessão portenha (todo mundo parece já
ter-se submetido a análise ao menos uma vez na vida), e fez-se
notar fortemente em pelo menos dois dos trabalhos apresentados: Astrologia
e quadros psicopatológicos, por May de Chiara e Alejandro Lodi,
e Enfoque psicanalítico do Vértex, por Juana Vaisman.
Ainda na linha comportamental, o público pôde assistir também
a Leonor "Kuky" Nietzschmann (foto) apresentando Quíron
e o círculo sagrado.
Ao
contrário do Brasil, onde os representantes das linhas clássica,
mundana, comportamental e esotérica convivem sem maiores problemas,
as diversas tendências tendem a ser mais nítidas na Argentina,
assim como o patrulhamento ideológico sobre cada turma.
Os representantes de cada corrente já têm seu público
cativo, como é o caso do analista junguiano Alberto Chislovsky
(à direita), que apresentou Marcilio Ficino, a vista e os furores
divinos, e de Jerónimo Brignone (abaixo) e Norma Amor, que
fizeram uma demolidora palestra sobre Ensino e Pesquisa em Astrologia.
Brignone
e Norma são diretores do CABA - Centro Astrológico de Buenos
Aires, e apresentaram uma lista dos pontos que podem fragilizar o ensino
e o desenvolvimento de pesquisas na área astrológico. Entre
os pecados apontados, estão desde a inconsistência entre
metodologia e resultados até os exageros das correntes mística
e esotérica, passando pela tendência contemporânea
de dar à Astrologia um verniz científico "traduzindo-a"
no jargão de outros saberes, especialmente a Psicologia.
Brignone, autor de um Manual de Tecnicas de Sintese Astrológica,
assim como Silvia Ceres, autora de Astrosociologia (ambos publicados
pela onipresente Kier), estão entre os muitos autores argentinos
que merecem urgentes traduções para o português. Não
se justifica que as editoras brasileiras continuem publicando o fast-food
astrológico de alguns autores americanos de segunda linha quando
temos, bem aqui do lado, autores de tanta qualidade. A verdade é
que as Astrologias brasileira e argentina se complementam. E têm
muito a aprender uma com a outra.
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Fernandes.
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