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CRÔNICA
ASTROLÓGICA DO DESFILE DAS ESCOLAS DE SAMBA DE 2005
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A águia decepada |
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Fernando Fernandes |
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Império Serrano politicamente correto
Nenhuma escola desfilou sob uma configuração tensa tão exata e tão angular quanto o Império Serrano, que entrou na Avenida quando Júpiter em Libra despontava no Ascendente e a Lua se aproximava do aspecto partil com Saturno (a oposição se tornaria exata nos momentos finais do desfile). Não foi uma grande apresentação da Império Serrano, mas foi o enredo mais politicamente correto. A escola tematizou os grandes problemas da relação do homem com o meio ambiente e as possibilidades da reciclagem, um tema universal. Júpiter em Libra no Ascendente explica a opção por um assunto de visibilidade mundial. Contudo, as quadraturas com Lua e Saturno funcionaram contra a escola, trazendo chuva, problemas com alegorias e frieza do público (Lua no reservado signo de Capricórnio e em quadratura com o Ascendente). Para completar, o restritivo Nodo Sul também se encontrava na casa 1, indicando mais limitações. Salgueiro
Passava da meia-noite (horário de verão) quando o Salgueiro pisou na avenida com Escorpião no Ascendente. O Sol, regente de Leão no Meio do Céu, fazia trígono com Júpiter e conjunção com Netuno, sendo Júpiter e Netuno os regentes de Peixes na casa 5 (criatividade). Além disso, a Lua acabara de ultrapassar a oposição exata com Saturno e tornara-se fora de curso (sem novos aspectos antes de deixar o signo), um sinal de que a porta estava aberta para o inesperado. O Salgueiro fez um bom desfile ao cantar o fogo sob todas as suas formas, mas não chegou a contagiar a platéia - efeito ainda da frieza da oposição Lua-Saturno. Todavia, o fato marcante do desfile foi a homenagem a contraventores ligados à escola e falecidos recentemente. Júpiter, no ápice da quadratura T, estava na casa 12 (atividades à margem da lei), em quadratura com Saturno na 9 e Lua na 3. Os dois regentes do Ascendente, Plutão e Marte, estavam na casa 2, dos recursos materiais, a dar testemunho da importância do dinheiro como fator-chave para o desfile da escola, uma das mais luxuosas do carnaval carioca. Estação Primeira de Mangueira
O Meio do Céu continuava em Leão, mas o Ascendente já se deslocara para Sagitário quando a Mangueira entrou em cena. Com os dois ângulos em signos de Fogo, não é de estranhar que o tema do desfile da Mangueira fosse a energia, sob todas as suas formas. Com um stellium na casa 3, indicando um excesso de componentes na avenida, a escola evoluiu lentamente e teve de apressar-se no final, cruzando a linha de saída no último minuto. Os quatro planetas em Aquário (signo costumeiramente associado ao conhecimento astrológico) na casa da comunicação também ajudam a explicar por que a Mangueira foi a escola com maior quantidade de fantasias e alegorias com claras referência à Astrologia - uma paixão do carnavalesco, diga-se de passagem. Júpiter, regente do Ascendente, está na casa 11, dos amigos e correligionários: a Mangueira foi a escola que entrou na avenida com maior apoio da torcida. Como Júpiter está fortemente tensionado, este apoio foi esfriando ao longo do desfile, que não chegou a empolgar. O momento mais marcante foi a apresentação da Comissão de Frente, que homenageava (mais uma vez) a Velha Guarda da escola, incluindo uma velha parteira da comunidade, que, aos 104 anos, desfilou em cadeira de rodas carregando uma boneca. Para entender, basta recorrer à regra do planeta mais angular, que desta vez é o Sol, regente da casa 10: colado ao Fundo do Céu, o Sol mostra como a reputação da Mangueira e sua imagem pública (casa 10) estão vinculados ao cultivo das raízes e das tradições (Fundo do Céu). A centenária parteira é simbolizada por Netuno, regente da 5 (parto é assunto de casa 5), em conjunção com o Sol. Quanto ao tema da escola - energia - não é preciso muito esforço para perceber a presença de Plutão e Marte na casa 1. Naturalmente, as fontes de energia que vêm do subsolo (Plutão), como o petróleo, também estiveram presentes no desfile. Unidos da Tijuca
A tradicional escola do bairro carioca da Tijuca, fundada em 1931, fez um dos desfiles mais impressionantes de 2005. Segundo o próprio carnavalesco, era a seguinte a proposta do enredo: Abriremos portas que levam de um lugar para o outro, numa incrível jornada pelo imaginário. D.Quixote será nosso guia, transformando fantasia em realidade. As crianças darão vida a tudo e nos levarão ao País das Maravilhas. A busca de riquezas, poder e sabedoria nos remeterão a Atlântida, El Dorado e Camelot. Atravessaremos as portas do medo, é criar o lugar ideal. Nossa Shangri-lá fica no Morro do Borel. D. Quixote, Shangri-lá, País das Maravilhas... tudo isso cheira a Netuno, não? Pois o regente do Meio do Céu, Mercúrio, está em Aquário, exatamente em conjunção com Netuno. Mas o desfile destacou também um outro aspecto, além da fantasia, como já revela o próprio samba-enredo: Quando se abrem as portas do medo Medo, vampiros, fantasmas.. e eis Plutão também mostrando os dentes. Em absoluta ressonância com o Ascendente Sagitário em fechada conjunção com Plutão e Marte, a escola apresentou uma alegoria sobre o castelo do Drácula e um impressionante carro sobre o Purgatório, onde centenas de mortos-vivos se movimentavam em agonia. A temática religiosa também esteve presente de diversas maneiras, destacando o fator ético-moral de Sagitário. O mapa do desfile é o primeiro em que, pelo progressivo desfazimento da quadratura T e pela crescente aproximação do Sol ao trígono exato com Júpiter, este planeta passa a ter um peso mais positivo na carta. Sua posição na casa 10, junto à cúspide da 11, coloca o desfile da escola em evidência, já que Júpiter rege o Ascendente. A criatividade imperou, especialmente em fantasias e alegorias relacionadas a assuntos mais agressivos: Marte, regente da 5, está exaltado em Capricórnio junto ao Ascendente. A maior fragilidade da carta é o posicionamento do Ascendente quase no último grau de Sagitário. Idealmente, mapas de eventos devem ficar entre o quarto e o 26° grau do signo, evitando, assim, os graus iniciais - que indicam situações ainda não definidas - e os graus finais - que revelam situações prestes a passar por mudanças. A Lua em Capricórnio, comum a todos os desfiles do primeiro dia de desfiles, também não favoreceu muito a reação mais calorosa do público. As manifestações mais extrovertidas da platéia estavam guardadas para a Lua em Aquário, no segundo dia.
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