A estrela de seis pontas não tem seis
pontas, afirma Carlos Hollanda. E Quíron pode não
passar de um pedregulho fora de órbita. Além disso,
o mapa do eclipse também tem oposições e quadraturas
difíceis.
Muito já se disse a respeito de um fenômeno
curioso no céu do dia 8 de novembro de 2003: a formação
de uma estrela de 6 pontas, chamada Escudo de Salomão
ou Estrela de Davi, pelo posicionamento dos planetas no zodíaco.
Há uma corrente de pensamento que defende a teoria de que,
junto desse fenômeno, haverá uma "abertura de
portais". Tal abertura seria uma espécie de foco de
convergência - chamado de Convergência Harmônica
- para forças espirituais superiores que estariam elevando
a categoria vibratória da Terra. Segundo essa teoria, o planeta
- e conseqüentemente a humanidade - evoluirão um passo
a mais em direção à harmonia cósmica.
Esta é uma possibilidade que exige um pouco
mais de ponderação antes de uma conclusão satisfatória.
Vamos, pois, a seguir, enumerar alguns prós e contras.
No dia 8 ocorre um eclipse lunar. Considerado graficamente,
o mapa do eclipse parece surpreender pela disposição
geométrica dos planetas, que formam uma estrela de 6 pontas.
O eclipse da Lua corresponde a uma oposição, ângulo
de 180 graus entre a Lua e o Sol tendo como vértice a Terra.
Astronomicamente o eclipse nada mais é que a sombra da Terra
projetando-se sobre a Lua, que nesse momento estará na fase
cheia. Astrologicamente, o aspecto de oposição é
considerado tenso e muitas vezes ocorre em momentos em que uma situação
de potencial confronto merece um esforço de mediação.
O eclipse da Lua muitas vezes é interpretado
como o advento de alguma alteração funcional significativa
na mentalidade humana e na organização social. Entretanto,
é o eclipse solar que vemos com maior freqüência,
nas localidades por onde passa sua sombra, corresponder a alterações
dramáticas, de ordem política, social ou econômica
e, possivelmente, até geológica, em alguns casos.
Mas podemos dizer que eclipses, em geral, tanto os da Lua quanto
os do Sol, estão relacionados a fatores que desencadeiam
processos. Eventos imediatos associados a eclipses são pouco
freqüentes. Agora, quando passam por áreas com certa
incidência de atividade vulcânica e geológica,
isso dá o que pensar. É contraditório dizer
que haverá um elemento de paz duradoura na Terra quando a
perspectiva é bastante tensa sob diversos aspectos e quando
é possível haver, a partir do eclipse, a imposição
da vontade e do poder de uma nação sobre outra. A
não ser, quem sabe, que um evento mais violento e nada agradável
faça com que a humanidade acabe se preocupando um pouco mais
seriamente com as desigualdades hoje existentes.
A estrela de seis pontas do eclipse só existe
se levarmos em conta a posição de Quíron um
uma dessas pontas. Acontece que Quíron não é
planeta, é asteróide. Pouquíssimo se sabe sobre
ele e há pouca literatura astrológica decodificando
aquilo que seu posicionamento num mapa astrológico representa.
Pior ainda, sendo um asteróide que não se sabe se
permanecerá no sistema solar ou se é um astro errante
cuja trajetória pode desviar-se da órbita do Sol,
Quíron pode estar entre os mais de cem pedregulhos que orbitam
em torno do astro-rei. Estes últimos situam-se numa faixa
entre Marte e Júpiter (não é o caso de Quíron,
mas ele ainda assim é uma grande pedra não-esférica).
Se asteróides sempre fossem considerados para a composição
de configurações geométricas perfeitas, estrelas
de seis pontas, como a de 8 de novembro, seriam extremamente freqüentes.
Que significado isso teria?
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Eis como fica o mapa do eclipse de 8 de novembro
de 2003 sem a presença do asteróide Quíron:
a configuração ainda é extremamente reguar,
mas a estrela de seis pontas desaparece. |
Não sendo planeta, e sim asteróide,
Quíron não pode ou não deveria ser considerado
no mesmo nível dos astros reconhecidos como planetas de fato.
Mas suponhamos que Quíron seja imprescindível e que
ele represente o surgimento de uma faceta de consciência (ou
uma nova parcela do inconsciente, usando uma terminologia psicológica)
da qual ainda não havíamos nos dado conta até
sua descoberta: aí a estrela de seis pontas seria realmente
formada. Entretanto, retornam as dúvidas: se ele faz os trígonos
e sextis da configuração do dia 8, então também
estará fazendo a oposição com Saturno (e com
o Ascendente do horário do eclipse, em grande parte do Brasil).
Isso, por si só configuraria um conflito de autoridades,
de poderes políticos, de territorialidade (Saturno está
em Câncer - evidenciando o sentido de territorialidade e fronteiras
- e Quíron em Capricórnio).
Mais ainda: em alguns locais do mundo, o mapa do
eclipse mostrará, além dos dois grandes trígonos,
também uma grande quadratura envolvendo planetas e ângulos
da carta. É o caso de Bombaim e Nova Délhi, na Índia,
e de Islamabad, no Paquistão. Na costa oeste dos EUA, teremos
em situação angular a quadratura T formada por Netuno
e os dois formadores do eclipse, isto é, Sol e Lua. São
configurações críticas e associáveis
a graves dificuldades, por mais que tentemos ser amenos na interpretação,
especialmente quando falamos de coletividade. Temos, portanto, por
um lado, os dois grandes trígonos, harmônicos, fluentes,
e, por outro, as quadraturas e oposições tão
importantes quanto tensas e problemáticas. Se fosse um jogo
de futebol seria ampla a possibilidade de empate.
Explosões solares,
calendário maia e Estrela de Davi
Dois eclipses, astrólogos
em alvoroço e uma grande polêmica - Equipe de
Constelar
Eclipse, Lilith, tenentismo e UNESCO
- Tanyah Rodrigues
Leia também na edição
14:
Eclipse, Histeria
e Milenarismo - Fernando Fernandes
O que é um eclipse
- Raul V. Martinez
O eclipse de 11 de agosto
de 1999 - Raul V. Martinez
Astrologia, globalização
e mundança de paradigma - Paula Falcão
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