Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 188 ::Fevereiro/2014 |
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ASTROLOGIA E CINEMAA face ausente de Ninfomaníaca
Quando o festejado diretor Lars Von Trier anunciou que faria um filme sobre ninfomania, incitou a curiosidade do universo do cinema, pois é um tema que desafia e produz perguntas como: quem é esta mulher, o que a motiva, por que é tão voraz? Para a Astrologia, sexo está relacionado ao signo de Escorpião. Seria ele o principal ingrediente do filme de Von Trier? Um filme que não é o que parece ser“O freixo (Fraxinus excelsior) é uma árvore da família das Oleáceas, a mesma família a que pertence a oliveira. É uma árvore de solos frescos e profundos, de porte médio, que pode atingir cerca de 25 metros de altura. A casca tem sulcos profundos, verticais e é castanha escura acinzentada. As folhas são verdes. As flores, que não têm cálice nem corola, são em cachos, pendentes, e surgem antes do aparecimento das folhas.” Wikipédia. “Que bom filme há para ver hoje?”, me perguntei. Olhei a lista do cinema. “Blue Jasmine já vi... O Lobo de Wall Street: não sei se hoje estou a fim de ver um filme tão cru, sobre poder e cobiça... Acho que vou tentar o tão aguardado Ninfomaníaca. A crítica diz que parece ser um filme sobre sexo, mas que não é exatamente sobre isto.” E, de fato, não é. Lançado durante o trânsito de Saturno por Escorpião (outubro de 2012 a dezembro de 2014), remete a um dos principais temas deste signo: sexo e seus desdobramentos, como a ninfomania. Mas seu impacto vai bem além. Para bons investigadores (montar quebra-cabeças psicológicos é algo que quem quer que tenha Escorpião, Plutão ou casa oito proeminente no seu mapa aprecia muito), o sexo – que é como uma capa que identifica o filme, expresso inclusive no nome – é somente a ponta do iceberg. Vendido como produto principal, é o de menos, ainda que pareça como sendo demais. Como tudo que aparece em excesso, desaparece, deixando que prevaleçam os restos que de fato são o que compõem o filme. Signos: onde há um, há sempre o seu opostoNinfomaníaca é um excelente exemplo de uma importante (e com frequência negligenciada) regra astrológica: tudo o que mostra uma face também possui muito da oposta. De tal forma que o filme, que parece ser fundado em Escorpião, contém doses maciças de Touro. A começar que é o apetite de Touro que recheia o tão propalado e sempre polêmico tema sexo. Sem apetite (e gula) simplesmente não há sexo. Tanto que há uma evidente e clara ligação entre comer, um prazer arraigadamente taurino (signo oral por excelência), e fazer sexo. Pessoas sensuais apreciam ambos os banquetes. A maneira como alguém come também revela muito sobre como também realiza o sexo em sua vida. Sentidos (Touro) embotados: sexo (Escorpião) idem. Assim, não é de se estranhar que a ninfomania da personagem tenha raízes em uma forte sensualidade em explorar o corpo. Aliás, como gostar de fazer sexo e aprender algo a respeito sem esta parte? Bem abaixo da superfícieMas se engana quem supõe que é o apetite exacerbado do corpo que, sozinho, criou o distúrbio que a protagonista carrega. Há algo mais. Estamos falando de seres humanos, e seres humanos são complexos, com suas engrenagens emocionais como ferragens precária e intrincadamente montadas (Escorpião). Joe ama o pai. Mas é um afeto sem escoadouro. Um afeto correspondido, delicado, bom, mas que se represa. E que termina por se congelar. Congelamentos podem ser coisa de Escorpião: corações congelados, complexos congelados, dores congeladas, comportamentos destrutivos congelados. Como o de Joe. Não se admira que a cena inicial do filme seja de neve e frio e que uma Joe de cinquenta anos esteja machucada e estendida no chão (quem sabe uma metáfora para o chão da vida que criou). Como ocorre com todas as mulheres, Joe conhece um homem que representará o que o pai era para ela. No entanto, pelo menos no volume 1 do filme (se você não viu, melhor pular este parágrafo), também este afeto continuará sem solução, sem escoadouro. Um afeto que não escoa é como um lago que apodrece em torno de si. No caso, apodrece as entranhas de Joe: apodrece sua adolescência, sua juventude, sua maturidade. Joe dedica aos outros e a si mesma a mesma falta de amor que a mãe lhe legou. Porém, o que a diferencia da mãe apática é que Joe é observadora de si mesma, o que é alguma forma de consciência e de sensibilidade, que, apesar de tudo, vai um pouco mais além do vazio da mãe. Mas esta consciência não faz diferença nos seus atos em si, guiados pelo piloto automático do sexo e do prazer. Joe se tornou perita em sexo, vivendo para ele sem que isto, porém, lhe desse vida. A tragédia que ocorre no silêncio do dia a diaEra taurina a aparência da jovem no filme, bela e na maior parte das vezes vestida de forma comum, sem uma sensualidade evidente, bem diferente do que seria o estereótipo da ninfomaníaca. Quando não estava fazendo sexo, Joe caminhava no mesmo parque onde o pai a levara na infância e onde o afeto entre eles fora pacientemente tecido em torno de histórias sobre o freixo, repetidas pelo pai. Parques e freixo: Touro. O freixo era Joe. “As flores, que não têm cálice nem corola, são em cachos, pendentes, e surgem antes do aparecimento das folhas.” Cachos pendentes remetem à sexualidade, que em Joe foi precoce e que foi tomando conta dela antes que ela desenvolvesse as folhas, isto é, uma personalidade, um aparelho emocional que fosse além da sensualidade e pudesse incluir o relacionamento completo com outras pessoas, e não só o sôfrego, intenso, mas fugaz encontro permitido por meio do sexo. Quais teriam sido os dias em que, neste mesmo parque, Joe teria se perdido da criança sensível que um dia fora (e que ela própria, adulta, em um doloroso exemplo de baixa autoestima, tenha sido incapaz de admitir que tenha sido?). Haveria como não ter se perdido? Por que o amor do pai por ela, e dela por ele, não pôde salvá-la de seu destino de ninfomaníaca? E quão grande pode ter sido a influência da sua amiga de infância no distúrbio que desenvolveu? Afinal, o afeto que não tivera com a mãe, alicerçou com a amiga, e também a lealdade (Touro). Sabe-se que existe um componente social em vários problemas, como, por exemplo, no uso de drogas ou na anorexia. Ênfase no materialEnquanto eu assistia ao destino de Joe, lembrei, no decorrer do filme, dos outros dois filmes que citei no começo deste artigo. Foi quando liguei os pontos: em plena época de Saturno em Escorpião, a sombra (elemento oculto e também inferno) é a fixação exagerada na matéria (Touro). Nunca se viram mulheres tão “bombadas” quanto nos últimos tempos, com suas coxas, seios e glúteos hiperinflacionados de um jeito que seria impossível. E o preço a ser pago por envenenar o corpo com hormônios (Touro) é o desenvolvimento anormal do clitóris (Escorpião). Mas, voltando aos outros dois filmes, o que é Blue Jasmine senão a história de uma mulher rica (Touro) que perdeu sua fortuna (Escorpião) e que nunca se refez disso? A sombra de Touro não pode ser a dificuldade de adaptação e o apego tenaz a algo que já se foi? E O Lobo de Wall Street não trata exatamente disso: poder, dinheiro e prazeres exacerbados? A relação Touro-Escorpião, no entanto, mostra que, não importa o que aconteça, qualquer obsessão material está fadada a uma perda final. A morte despe a fortuna dos milionários tanto quanto a pobreza dos miseráveis e leva indistintamente saudáveis e doentes, velhos e jovens. Subitamente, entendi porque o cardápio dos filmes me pareceu um tanto quanto árido neste ano. Eu queria ver algo com sentimento. Lembrei do ano de O Cisne Negro, um filme repleto de emoção, até carregada. Mas achei difícil encontrar isto. Nos últimos tempos, estrearam muitos filmes com um forte viés material, materialista: o corpo físico, o dinheiro, e, não raro, a pobreza na alma. O pior de Touro e o pior de Escorpião. Dois signos que falam muito da condição humana, pois tratam do nascer em um corpo físico (Touro), mas de ter anseios que o extrapolam, além da consciência da morte (Escorpião). Só os seres humanos se preocupam antecipadamente com ela – quando o fazem. No seu melhor, Touro e Escorpião são cuidar do corpo, do mundo material (Touro), mas tomar cuidado para não se identificar em demasia (Escorpião), entendendo que não passa de um empréstimo temporário. Tarefa difícil, aliás. É como ter filhos, dando-lhes todo o afeto (Touro), mas também preparando-os para o voo. É Escorpião quem tem de empurrar o filhote para fora do ninho para o voo a ser realizado em Sagitário. Se faltar Escorpião, não se compreende o ciclo da vida. Quer se manter iguais situações que não podem mais sê-las depois de algum tempo. Por isto, estes dois signos fixos têm temáticas muito difíceis. O que se manter e o que se perder. O constante jogo de ganhos e perdas e as escolhas frequentes que temos de fazer entre um polo e outro. O cerne da questãoDiretor de Ninfomania, o dinamarquês Lars Von Trier (direita) nasceu em 30 de abril de 1956. Seu Sol está em Touro, em quadratura com Marte, regente clássico de Escorpião. Voltando a Joe, a falha, portanto, não foi o sexo (Escorpião). Foi o afeto (Touro). Não são os sentidos que jogam alguém para um vício como este: é a falta de sentido. E que engendra um sexo material, uma relação material, uma coisificação do afeto. Joe e seus muitos parceiros anônimos. O outro virando, nas mãos dela, um objeto, como ela se permite ser desde a primeira vez em que se entrega para um homem. O mundo de Joe, porém, não é, de forma alguma, exclusivo dela. A arena do amor muitas vezes se parece com um mercado em que pessoas deixam de ser pessoas e se tornam ofertas, com frequência realizando negócios por baixo do tapete. Em que se troca um por outro melhor, dentre outras coisas que se veem nas questões afetivas. Sexo em excesso é o de menos. A parte taurina do filme é também a do homem que escuta Joe. Ele é calmo, prestativo e erudito. Da sua boca sai o belo, a música, o entendimento, o perdão, enquanto, da boca de Joe, somente uma crueza visceral, ácida e arrependida, da sua trajetória. O que prende Joe ao primeiro homem para quem ela se deu? É o que ele não lhe deu, e, que, no fundo do coração, ela esperava que ele desse, mas, acostumada à mãe, sabia que o mais provável é que não ocorresse. É o que ela nunca pediu. Ou quando tentou pedir já era tarde demais. Portanto, não foi o sexo em sua vida que foi precoce. Foi a desilusão do amor e a funda e irreparável (no caso dela) ferida disso. Nisso o sexo intenso pode ser um simulacro para o amor. Se não se pode vivê-lo, que ao menos o simule por alguns instantes no atrito entre os corpos. Teria sido sua história diferente se tivesse tido e se permitido receber amor e dar amor? Ah, o amor é assustador demais, tanto quanto a vida e a morte, pois não tem garantias. Sexo, somente, pode ser bem mais seguro, como descobriu Joe. Não se mexe em time que está ganhando, principalmente naquele que, como Joe, já perdeu há muito tempo. Outros artigos de Vanessa Tuleski. Comente este artigo |Leia comentários de outros leitores |
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