Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 123 :: Setembro/2008 :: - |
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NOVAS PROPOSTASAstrologia do Presente
Sobre a utilidade dos guarda-chuvasP – Então, para que serve enfim a Astrologia? R – Serve para saber o que a pessoa não é. Isso é suficiente. Todas as análises descritivas feitas a partir do horóscopo são falsas – pois se referem a uma realidade projetada – e ao mesmo tempo, na dimensão do ego, são verdadeiras, porque correspondem à manifestação do Ser dentro da realidade que ele mesmo Cria. Se considerarmos isto, essas descrições podem se tornar úteis, pois nos permitem questionar e nos livrarmos de todas as ilusões nas quais estamos submersos, permitem que olhemos para aquilo que pensamos (ou pensávamos) que somos sem nos identificarmos. Nesse caso, o horóscopo se torna uma poderosa ferramenta de libertação. E no caso de acreditarmos ser aquilo que o mapa ou o astrólogo descreve, o horóscopo se torna um lastro que nos puxa sempre para a mesmice e para a repetição de padrões. Quando, por exemplo, a natureza do capricorniano ou do ariano é compreendida, quando se reconhece que, na totalidade do fluxo de energia universal, as qualidades desses signos e dos outros existem, independentemente de nossa identificação ou vontade, só então podemos fluir de acordo com essas energias e em perfeita sintonia com a natureza e potencialidade manifestada através dos símbolos, dimensionada e modulada sob a forma do corpo que ocupamos. P – Então, toda a Astrologia que é normalmente praticada no mundo não serve para nada? R – Serve sim. A Astrologia “normalmente praticada” é útil para manter o mundo exatamente como se acredita que ele é. É um alimento para a mente, para o ego. É um poderoso instrumento para justificar a miséria humana na medida que vai explicando e ajudando o indivíduo a se identificar com a condição em que vive. Existe um ponto na vida de todos, um momento no qual o espírito grita e o corpo-mente talvez ouça. Esse é o momento no qual se joga tudo que se sabia fora, todo conhecimento inútil acumulado, o momento em que o novo começa a ser constatado como a única experiência possível em nossas vidas, o momento de des-cobrir. É um instante mágico, em que podemos constatar que todas as descrições foram feitas para alimentar e manter nossa personalidade, e através dessa personalidade, cristalizar o mundo na formatação que ele tem. Quando ouvimos o chamado de nosso espírito, ocorre algo como uma “sensação de infinito”, uma clareza na consciência, um tempo no qual tudo que foi descrito antes perde o sentido e podemos então fazer uma escolha, a única possível: viver o agora. Podemos fazer uma opção por nós mesmos e pararmos de atender à solicitação da cultura e da sociedade para que sejamos os seres submissos que querem que sejamos: basta “sair do tempo”, viver no presente exato em que estamos e não no futuro e no passado imaginários. Podemos romper os acordos culturais que nos foram impostos. Eles só têm valor no medo do futuro ou na nostalgia do passado. Podemos eliminar todas as crenças de nossa vida. Todas nos remetem ao Tempo não-presente, ao futuro ou passado. P – Mas a análise do horóscopo não pode ajudar a resolver problemas psicológicos e emocionais? R - A Astrologia não é psicologia. A Astrologia não é terapia. A Astrologia não resolve problemas. Ela pode apresentar o problema a ser enfrentado. A atitude precisa é que resolve problemas. As psicoterapias convencionais trabalham com um sujeito que está inserido em uma determinada programação e dentro de um contexto cultural definido. Sua função mais evidente é fazer o indivíduo se conformar àquela programação, ser feliz e adaptado com aquilo que ele pensa que é, e com o mundo fora dele. Podem ser úteis nessa dimensão e para aquele sujeito, especialmente quando se acredita que a vida é feita de sofrimento, conflitos e dores, e na luta contra essas dores. Quem está de bem com a vida, quem está vivendo dentro do amor, não procura psicoterapia ou qualquer outra terapia. O amor que sente o faz sentir-se são. Pode haver maior cura que essa? Creio que todos nós tivemos oportunidade de experimentar isso uma vez na vida. As linhas convencionais de psicoterapia criam uma situação de harmonia e equilíbrio entre o indivíduo e seu ambiente imediato, causando contentamento e bem-estar, sem questionar jamais o fato de que está integrando uma pessoa a um determinado ambiente tantas vezes doentio e insalubre. Para tolerar e conviver com um mundo hostil a qualquer tipo de consciência é necessário muitas vezes tornar-se “ele”, tornar-se esse mundo, transformar-se naquilo que as demandas sociais e culturais esperam do indivíduo, e isso consiste em um evidente processo de afastamento de sua própria essência, de si próprio. A necessidade dessa adaptação ao meio exterior é também conhecida como “normose” (como elaborou Pierre Weil, entre outros), talvez a fonte de todas as doenças modernas. A Astrologia do Presente desconstrói essa relação, no momento em que a pessoa percebe que ela já é o que tinha que ser, já está sendo, e ela é a criadora de sua própria realidade, nesse exato instante, sempre. P – Se a realidade existe dentro desse conceito de “essência divina” ou de “consciência cósmica”, e se a pessoa se harmonizar com a sociedade como ela é, também não estará se afinando com a mesma consciência cósmica que tudo isso criou? R - Tudo que podemos perceber no que você denomina “realidade”, apesar de – supostamente – ela existir independentemente de nossa percepção, será necessariamente e sempre reconhecida através de nossos próprios critérios e conceitos, será identificada pelos códigos e padrões que foram condicionados em nossa mente através da imposição cultural, através da educação – que é um canal para aquilo que vem de fora. E não poderia ser de outra forma. Você acredita que é realmente saudável “afinar-se” com crenças e regras que não lhe dizem respeito, não respeitam sua natureza mais profunda? Podemos aceitar que Tudo é sagrado, tudo é divino e tudo foi gerado pela “consciência cósmica”, mas nem todo sagrado é harmônico com as necessidades básicas e particulares de cada ser manifestado. É como, por exemplo, um animal essencialmente carnívoro querer se tornar herbívoro, ou vice-versa. Tanto os animais quanto a carne e os vegetais são supostamente sagrados, no entanto nem sempre cada um é o alimento correto para uma determinada natureza particular. Alguns processos psicoterapêuticos ou de doutrinação religiosa podem fazer com que um carnívoro se conforme – e seja feliz – comendo apenas alface, porque o importante para ele (e para seu terapeuta ou mestre eventual) é “ser feliz”. O horóscopo permite uma sintonia autêntica com o que É, especialmente tornando claro o que não é. Carne não é alface. Carnívoro não é herbívoro. P – Mas como isso é possível? Como usar o horóscopo para se saber o que não se é e isso servir para alguma coisa? R – É possível sim, o “como” é o que estamos construindo. Todos os símbolos são passíveis de infinitas interpretações. Cada símbolo é um “container” de energia. Energia pura (em nós, energia vital). O símbolo permite uma modulação dessa energia, para que ela se expresse e seja percebida como uma manifestação, um aspecto ou formato distinto da totalidade energética do universo, de forma que nós possamos expressá-la e experimentá-la de maneira diferenciada, para atender às necessidades de nossa natureza particular. A interpretação dos símbolos é uma tentativa de se conectar com alguma dimensão, algum dos infinitos níveis ou planos da manifestação dessa energia, e é isso que acontece. Quem interpreta será o modulador dessa energia, ou seja, ela será compreendida ou manifestada no nível de conexão em que se encontra o intérprete. Quando um intérprete fala, o símbolo se manifesta, adquire existência particular. As energias se concentram e se conformam dentro do molde que é o símbolo e adquirem então a aparente existência diferenciada. Qualquer leitura que façamos do símbolo, por mais precisa que seja, é uma interpretação, e será delimitada e formatada de acordo com os conceitos, a sensibilidade e capacidade de expressão do intérprete de perceber os níveis mais elevados – ou não – dessa energia. A tradução dos símbolos corresponderá apenas e somente a uma possibilidade interpretativa, e não ao fato em si mesmo. Portanto, será sempre e somente uma interpretação. Qualquer interpretação do símbolo também é uma redução. É o que podemos fazer por enquanto, talvez como estratégia para nos libertarmos da necessidade de qualquer interpretação... Aquilo que é não pode ser interpretado. Não é dual. Não existe, nesse caso, o intérprete e o objeto. Quando estabelecemos uma relação com o objeto na análise do horóscopo, já modulamos a energia e criamos um modelo de realidade qualquer, pessoal ou coletivo, baseado geralmente em experiências já vividas, em inventários acumulados na memória. E nada de novo acontece. Nenhuma interpretação, pelo seu próprio embasamento – técnico e histórico – pode trazer algum novo significado. São apenas velhos significados ressuscitando. E agora eu pergunto: a realidade é apenas a repetição de velhas experiências? É possível o vôo de um pássaro ser a repetição de alguma experiência, ou ele é sempre inédito? Ou aquele rio no qual ninguém entra duas vezes? Qualquer repetição ou tradução do já experimentado e conhecido – dentro desta lógica – não corresponde à realidade. Aquilo não é mais. Só existe no pensamento. A interpretação do horóscopo é costumeiramente isso: classificação e inventário, repetição de padrões (todo ariano é... todo capricorniano é... toda quadratura significa que...), e isto mostra exatamente o que não é. P – Isso está ficando complicado. Não entendi como, na prática, se usa o horóscopo para alguma coisa. R – Na verdade, usar o horóscopo para alguma coisa é simplesmente colaborar com a manutenção da “realidade coisa”. Fomos levados a acreditar que qualquer coisa tem que servir para alguma coisa, nem que seja para fazer sombra, mas quem estabeleceu essa verdade? É uma verdade? Aliás, essa “verdade” é bem adequada para guarda-chuvas. A prática astrológica existe, mas não é como você está acostumado a entender a prática das coisas. Não é uma experiência mecânica de repetição linear, de causa e efeito e do entendimento disso. Na Astrologia Presente, como no próprio presente, não há causa nem efeito. Tudo é causa. |
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