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Edição 101 :: Novembro/2006 :: - |
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PLUTÃO EM SAGITÁRIO E CONFLITOS SOCIAISOs distúrbios em Paris ou
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Silvia Ceres |
Em outubro de 2005 milhares de jovens descendentes de imigrantes foram para as ruas e deram início aos mais graves distúrbios ocorridos na França nos últimos 40 anos. A revolta da periferia traz à tona o lado perverso da globalização econômica, uma das facetas de Plutão em Sagitário.
Para tentar compreender com base na perspectiva astrológica a revolta do final de 2005 nos subúrbios de várias cidades francesas, que ameaçou estender-se para outros países europeus, podemos incursionar por diversos caminhos de investigação. Um dos caminhos é focalizar somente a carta do país e os movimentos celestes que a ativam; outro é vê-la de uma perspectiva mais ampla, associada, por exemplo, com os ciclos planetários; um terceiro caminho possível é combinar os dois anteriores.
Neste caso, decidi utilizar como marco de referência o trânsito de Plutão por Sagitário - já analisado no artigo anterior -, na medida em que o entendo como protagonista principal das mudanças que quebram os valores que sustentaram "o estado de bem-estar". Sobre este pano de fundo, projetaremos o filme dos tumultos do final de 2005, que interpreto como emergindo de uma crise profunda que compromete a sociedade em seu conjunto.
Nos últimos meses de 2005, os meios de comunicação mostraram as imagens de distúrbios nas cercanias de Paris, que logo se expandem para outras cidades. Grupos de jovens saem noite após noite para incendiar o que encontram em seu caminho e confrontar violentamente a polícia.
Indubitavelmente, são rapazes que figuram nas estatísticas de pobreza, desemprego, deserção escolar, delinqüência, etc. A pergunta que surge é: quem são os protagonistas das revoltas na periferia de Paris?
O primeiro a defini-los foi Nicolás Sarkozy (foto), o ministro do Interior, que os denominou lixo. E, à parte a crueza do epíteto, talvez seja a maneira de denominar aqueles que ficam de fora da globalização, uma população excedente, supérflua, desnecessária nestes tempos pós-modernos.
Mas se lermos atentamente a história dos séculos XIX e XX, observaremos que a Modernidade, desde sua origem, produziu dejetos humanos, camadas de população marginalizada do processo de produção industrial. A Europa resolveu o problema expulsando para suas colônias aqueles que não tinham espaço nas metrópoles. Assim, numerosos franceses excluídos emigraram para o norte da África, especialmente a Argélia, onde exerceram um papel de invasores. Quando começam as revoltas pela independência das colônias, por volta da metade do século XX, essa comunidade fica sitiada entre dois fogos: para os argelinos são franceses e para os franceses, argelinos. De tal forma que, quando retornam a seu lugar de origem, tampouco encontram onde inserir-se e formam favelas nas periferias das grandes cidades, vivendo de maneira precária, num limbo, num "não lugar", sem enraizamento nem pertencimento. Com eles chegam outros contingentes de emigrantes, nativos das colônias, seduzidos pela possibilidade de adquirir o status de "franceses". Dessa maneira se constituem conglomerados, guetos de população marginal que sobrevivem como podem, flutuando entre a pobreza, a assistência social e o delito.
Os adolescentes que saíram demarcando violentamente seu território são os filhos e os netos daquela geração. Por mais que políticos apressados lhes apliquem a pecha de "estrangeiros", são cidadãos franceses, nascidos em seu território, educados em seu estrutura escolar e no dogma de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", exigindo um reconhecimento que nem o sistema nem os cidadãos de primeira classe podem ou querem outorgar-lhes.
Todavia este fenômeno que eclode no final de 2005 não vem do nada. Basta recordar a campanha eleitoral de 2002, onde Chirac joga sua reeleição frente ao candidato socialista Jospin, convertida num duelo para demonstrar à cidadania quem ia aplicar mais repressão à delinqüência juvenil dos subúrbios e onde o candidato da extrema-direita xenófoba, Le Pen, obtém uma porcentagem de votos que produz um sobressalto nos eleitores democratas e nos círculos intelectuais.
Antes de passar às explicações astrológicas, creio pertinente pontuar um par de idéias. Além de um retorno do conflito colonial sob nova roupagem, existe um problema grave de insegurança social devido à precariedade do emprego, à incerteza futura das pensões, à crise do estado de bem-estar, à dissolução de valores que, desde a Revolução Francesa até começos de 1980, sustentavam solidamente a vida do homem comum. Insegurança social que o sistema de poder, ajudado pelos meios de comunicação, retira do foco de discussão, desviando-o para a insegurança pessoal de ser roubado, assaltado, maltratado, violentado.
Recordemos que a França, pouco tempo antes, vota pelo Não no plebiscito da Constituição européia. Entendo que a reação frente aos distúrbios e a negativa em aceitar a Constitução são faces distintas de um mesmo fenômeno: a sensação generalizada de temor do futuro e de perder a condição de estado nacional.
A carta utilizada foi calculada com os dados de André Barbault para a V República: 6 de outubro de 1958, 18 horas, Paris.
França, V República - 6.10.1958, 18h +02:00 - 48n52, 002e20.
Se bem que existam vários critérios para avaliar um mapa radical com base na perspectiva da Astrologia Mundana, só utilizarei eclipses, direções, trânsitos e algumas pinceladas sobre as revoluções solares de 2005 e 2006, concentrando-me naqueles pontos relevantes para justificar por que o fenômeno aconteceu na França em vez de outro país europeu com condições sociais semelhantes.
- A estação de eclipses ressalta o eixo I-VII, eixo de identidade que propõe o vínculo Eu/Outro. Polaridade importante nesta carta, porque aí se localizam os nodos, o positivo em Libra (VII), signo relacionado com a equidade e a justiça, termos mencionados vez por outra durante a revolta suburbana. Por causa da regência de Marte sobre o Nodo Sul , há mais predisposição para encontrar diferenças do que similitudes (Vênus). Um exemplo caricatural destas regências é o de uma emissora de rádio chamada Cortesia (Courtoisie) que atiçava os ânimos falando de indígenas da República, bárbaros que rejeitam a assimilação, guerra étnica, invasão.
Além da inversão por trânsitos dos nodos (Norte em Áries), o eclipse lunar de 24 de abril de 2005 se deu em 4º20' de Touro-Escorpião, ponto médio da fechada conjunção Júpiter-Netuno, regentes da XII presentes na VII. O oculto se tornou visível bem à frente, ou melhor, dizendo em termos tradicionais: os inimigos ocultos se tornaram declarados.
Eclipse lunar de 24.4.2005 projetado sobre o mapa da V República Francesa.
O eclipse solar de 13 de outubro se realiza em 10º19' de Libra, em conjunção estreita com o Sol, regente da VI, forças de segurança. Recordemos que o detonador é a perseguição policial a alguns jovens (Sol em conjunção com Mercúrio), um dos quais morre eletrocutado (mais adiante veremos os trânsitos que comprometem Urano natal, planeta associado com a eletricidade).
Eclipse solar de 03.10.2005 projetado sobre o mapa da V República Francesa.
As progressões secundárias para outubro de 2005 mostram o Sol em 29º54' de Escorpião, na casa VIII. Sua transição para Sagitário sinaliza que é tempo de formular um novo "contrato moral".
A Lua progredida em 19º26' de Áries começa a mover o eixo nodal sobre o nodo sul. A Lua, regente de IV e V e situada na cúspide da V: os filhos (V) sacodem abruptamente (Áries) os cimentos da República (IV).
Progressões secundárias de outubro de 2005 sobre o mapa radical da V República.
Mercúrio, planeta associado com os adolescentes, em 21º52' Sagitário, realiza desde 2004 conjunção a Saturno natal, regente da X na IX, questionando a autoridade dos mais velhos e os princípios em que se sustenta o Estado.
Vênus, em 02º41' de Sagitário, realiza uma oposição a Marte, ambos regentes dos eixos I- VII e II-VIII (identidade e valores ou necessidades próprias e alheias).
Fundo do Céu progredido em conjunção a Urano natal: as bases (IV) são alteradas radicalmente (Urano).
Por direções ptolomaicas (1º = 1 ano), Netuno chega à conjunção com Saturno, denunciando as carências e exclusões da ideologia do estado. Para 2006, a conjunção de Marte à Lua indica revoltas populares, o que permite pensar que não estamos frente a uma questão concluída.
Os trânsitos para a época dos distúrbios não indicam nada muito diferente. Marte, retrógrado, efetua quadratura a Urano, assinalando a explosão caótica de violência, tanto por seus significados próprios como pelas regências. Marte, governante de I e II, age para converter os "ocultos" em protagonistas (Urano rege a XII).
Trânsitos de 27.10.2005 sobre mapa da V República da França.
Júpiter transita sobre a conjunção natal Júpiter-Netuno (regentes da XII, presentes na VII). Além de dar visibilidade aos excluídos, contribui para que o discurso dos políticos escorregue facilmente para denominá-los estrangeiros (Júpiter regente da IX), quando, na verdade, moram nas sombras da república.
Saturno em Leão fez em agosto de 2005 a quadratura a Júpiter-Netuno, endurecendo a repressão sobre os elementos marginais da sociedade. O sextil ao Sol-Mercúrio no momento dos acontecimentos facilita que o governo (Sol) declare que não terá contemplação para enviar os protagonistas a seus países de origem, esquecendo que é a França seu país natal.
Poucos meses antes dos incidentes, Urano em Peixes realizou a quadratura a Marte, a oposição a Plutão, o trígono a Júpiter-Netuno, gerando ocultamente (XII) as condições para a rebelião. Marte e Plutão são regentes da VIII: o lixo que é preciso eliminar, como declarou Sarkozy, o ministro do Interior.
Netuno, ingressando na XII natal, realiza oposição a Urano, ambos regentes da casa XII. Plutão, desde o final de 2004, transita sobre Saturno, anunciando que um modelo de nação e de legislação chegou ao seu fim. Vale recordar que a V República foi fundada quando já se havia declarado a luta de libertação na Argélia. Dito em linguagem coloquial, o assunto que De Gaulle botou porta afora - a descolonização - retorna pela janela - o "lixo", a população supérflua, excedente e marginalizada do processo da nova economia.
Quanto à revolução solar 2005, prestando atenção somente a alguns dados, observamos:
Círculo interno: Revolução
Solar da França para 2005; círculo externo: planetas
da carta radical da V República.
Júpiter-Mercúrio solares, presentes na III e em conjunção ao Nodo Norte natal, indicam a necessidade de diálogo para encontrar soluções equitativas (Libra), porém têm como dispositor Vênus em exílio em Escorpião, oposta e em recepção mútua com Marte no Meio do Céu.
Resumindo, existem indícios para pensar que Marte, o regente do Nodo Sul, domina a situação.
A revolução solar de 2006 mostra:
O sociólogo alemão Ulrich Beck defende que:
a globalização econômica levou a uma divisão do planeta, quebrando as fronteiras nacionais, definindo centros muito industrializados de crescimento acelerado ao lado de desertos improdutivos, e estes não estão "lá fora" na África, mas também em Nova York, Paris, Roma, Madri e Berlim. A África, como signo de exclusão, está em todas as partes. Há uma África real e outras tantas, metafóricas, em todos os demais continentes.
Para finalizar, gostaria de recordar uma observação formulada pelo filósofo I. Kant em 1784. Segundo Kant, considerando que o planeta em que vivemos é esférico, quanto mais distância estabelecemos em relação ao próximo, mais nos aproximamos dele. De forma que a natureza, afirmou, leva-nos a aceitar a hospitalidade recíproca.
Quando em 1989 derrubou-se o Muro de Berlim, celebramos o fim de uma ignomínia. Uma década e meia depois três novos muros estão em construção: o de Israel, em território palestino; o dos Estados Unidos, na fronteira do México; o da Espanha, estendendo a distância com as fronteiras de Ceuta e Melilla, seus dois enclaves africanos.
Sob a bandeira de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade",
a Revolução Francesa marcou um novo amanhecer para a humanidade.
Durante o século XX, em nome da liberdade, o capitalismo ignorou
a igualdade; em nome da igualdade, o comunismo depreciou a liberdade.
A única descoberta que resta por fazer, neste século XXI,
é a fraternidade, ou a hospitalidade recíproca, como a chamou
Kant.
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