Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 100 :: Outubro/2006 :: - |
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A REALIDADE PROFISSIONAL EM PERNAMBUCOAstrólogos de vida dupla
Não é só Superman que precisa esconder sua identidade e trocar de roupa às escondidas na cabine telefônica. Os astrólogos de Recife também precisam bancar super-heróis de vida dupla. Como os de todo o resto do país, aliás. Uma das cidades onde é possível obter-se um retrato mais realista das verdadeiras condições em que a Astrologia é exercida no Brasil é Recife, cujas características locais determinaram o surgimento de toda uma geração de astrólogos de vida dupla. Vamos conhecê-los: Angela Brainer - Atual presidente do SINASPE, o sindicato local. Com fortes raízes sertanejas e católicas, é um caso raro de astróloga que faz a ponte entre a tradição simbólica e mitológica clássica, estudada desde os anos 80, e a cultura popular de beatos, raizeiros e benzedeiras. Sob sua gestão o SINASPE vem tentando uma guinada em direção à cultura local, de forma que a Astrologia não se apresente mais como um conhecimento exótico, mas como um saber vinculado à história pernambucana desde os primórdios. Com este objetivo, Angela vem tentando dois esforços em paralelo, que são a participação do SINASPE em projetos de resgate cultural no sertão e a prestação do apoio do sindicato aos astrólogos que queiram fazer atendimento social em Recife. Para estes, o sindicato reserva horários de atendimento a custo zero, o que permite ao astrólogo receber um tipo de clientela que normalmente passaria longe dos consultórios. Até pouco tempo Angela se dividia entre o trabalho de astróloga e a vida de funcionária de uma instituição financeira. Torcedora fanática do Clube Náutico Capibaribe, é capaz de trocar um cliente por um lugar na arquibancada do estádio dos Aflitos - mesmo que o clube do coração, há anos na segunda divisão do campeonato brasileiro, esteja mal das pernas. O Náutico, diga-se de passagem, é quase unanimidade entre astrólogos pernambucanos, entre os quais é raro encontrar torcedores do Sport Recife ou do Santa Cruz. Alcides Martins Junior - Foi presidente do SINASPE em gestão anterior. Trabalha na EMTUR, empresa de transporte urbano da Prefeitura do Recife, e faz parte da Diretoria do sindicato do pessoal de transporte, o que não o impede de dedicar atenção a algumas complexas questões cósmicas. No ano 2000, por exemplo, realizou-se no campus da USP de São Carlos uma programação de palestras de Astronomia. Um dos temas com maior público foi exatamente a discussão do conceito de eras astrológicas e da diferença entre zodíaco sideral e tropical. O palestrante, Ronaldo Garcia, é professor de Astronomia no Centro de Estudos do Universo e monitor voluntário do Setor de Astronomia do Centro de Divulgação Científica e Cultural da Universidade de São Paulo do campus de São Carlos. Ao desenvolver seu tema, Ronaldo afirma que: Aquário fala de uma igualdade, mas está longe dessa nivelação por baixo que se costuma ver por aí. Se compreendermos bem o mito do rapto de Ganimedes, veremos que a união deste com Júpiter acontece "...nas alturas...", num movimento ascendente em direção ao Olimpo, sinalizando para a necessidade de nos identificarmos com o infinito em nós mesmos, de ultrapassarmos nossa humanidade em busca do Sagrado. O texto é uma citação de Alcides Martins, mostrando que a reflexão astrológica desenvolvida em Pernambuco já pode ser lida dentro da vetusta Universidade de São Paulo e divulgada num dos sites oficiais da instituição. Dulce Figueiredo - Arquiteta com forte interesse em patrimônio histórico e em Antropologia, Dulce prepara uma pesquisa acadêmica digna de atenção: a análise do investimento simbólico realizado pela comunidade com relação ao espaço urbano. Neste estudo, Dulce leva em consideração a idéia de que toda comunidade tende a organizar-se de acordo com moldes que impregnam o imaginário coletivo e que podem ser correlacionados com conteúdos míticos e astrológicos. Embasada, de um lado, em pensadores como Mircea Eliade e, de outro, numa grande familiaridade com os equipamentos urbanos de Recife e Olinda, Dulce consegue fazer uma leitura criativa da cidade, encontrando significado em elementos que, para o transeunte desprevenido, passariam despercebidos. Eliane Caldas - É formada em Engenharia Sanitária e trabalha na empresa de limpeza urbana da Prefeitura do Recife. É astróloga atuante e ex-presidente do SINASPE. Se bem que seu trabalho esteja mais voltado para a área de Astrologia Comportamental, é dela o trabalho de retificação que resultou na primeira hipótese consistente para o mapa de Pernambuco. Ronaldo Castro - Formado em Filosofia, seguidor da linha tradicional em Astrologia e autor de diversos artigos e monografias de excelente qualidade acadêmica. Autor do livro Saber do Céu, publicado pela Editora Bagaço (Recife). Como tantos outros astrólogos locais, também trabalha num órgão da Prefeitura. Martha Perrusi - É professora de uma universidade pernambucana, onde leciona Epistemologia. Em 2004 levou ao Simpósio do Sinarj o trabalho Contribuição à leitura dos geracionais: Nietzsche e a filosofia, provavelmente o mais teórico de todos os temas apresentados naquele evento. Para Martha, a obra de Nietzsche reflete um período de assimilação do princípio uraniano, de descoberta de Netuno e da iminência de Plutão. Dona de um estilo que consegue ser denso sem perder a fluência, Martha é a representante pernambucana do movimento Academia Celeste, grupo de astrólogos com formação universitária em nível de mestrado ou doutorado cujo projeto - ambicioso, se bem que conservador - é abrir espaços para a reinserção da Astrologia no meio acadêmico. Neste sentido, Martha não esconde a admiração pelo líder da facção, Marcus Reis, um caso raro de astrólogo carioca que está prestes a completar um curso de pós-doutorado em filosofia na PUC-RJ. Eros Santos - É engenheiro eletrônico e contador por formação, trabalha na Prefeitura do Recife e termina atualmente o curso de Filosofia. Casado com uma advogada também vinculada ao serviço público, é pai de duas crianças que atendem pelos nomes de Ulysses e Aquiles. Uma família verdadeiramente homérica, fruto da paixão de Eros pelos temas míticos. Eros é um dos "acadêmicos" que vêm contribuindo para elevar o nível de exigência teórica da Astrologia pernambucana. Cacah Travassos - Durante muitos anos foi professora alfabetizadora da rede pública municipal, onde desenvolveu uma experiência singular: a responsabilidade por classes de estudantes cegos e deficientes visuais, cujas limitações obrigaram Cacah a desenvolver técnicas criativas para a motivação e desenvolvimento da auto-estima e da assertividade dessas crianças com necessidades especiais. Conta Cacah que, entre outras atividades extracurriculares, chegou a levar as crianças para passeios de barco pelo rio Capibaribe. É ela quem relata: "Muita gente estranhava a idéia de levarmos meninos cegos para passear de barco. Acontece que eles podem ouvir, e sempre é possível trabalhar a experiência de sentir a diferença do barulho do barco quando passa embaixo de cada ponte. Se é a forma que eles têm de entrar em contato com o mundo, por que não estimular?" Cacah tem algumas pesquisas envolvendo a presença do simbolismo astrológico em obras literárias - um tema recorrente, aliás, entre astrólogos pernambucanos. Haroldo de Barros - Astrólogo e hipnólogo. Diretor da Escola Palas Athena, de formação de astrólogos. Há alguns anos é presença constante no Encontro da Nova Consciência, que se realiza anualmente em Campina Grande, Paraíba. Formado em Filosofia e Ciências Contábeis, é auditor fiscal da Prefeitura do Recife. José Miranda - É astrólogo profissional vinculado ao SINASPE e auditor do Estado da Paraíba. Foi um dos coordenadores da vigília promovida em Natal, quando do eclipse solar de março de 2006. Márcia Dowsley - É sócia simpatizante do SINASPE, engenheira e estudante de astrologia. Trabalha na construção civil e acumulou boa experiência em canteiros de obras, já tendo no currículo algumas edificações de grande porte. Márcia é enérgica, falante e assertiva - qualidades indispensáveis para quem precisa impor respeito aos peões. Pela familiaridade com as ciências exatas, transita com facilidade pelas áreas mais técnicas da Astrologia. Entretanto, sua preferência pessoal passa pela vertente mais mística e, sob o capacete que utiliza para subir nos andaimes, esconde fones de ouvido onde escuta o som new age de Ennia. Stela Siebra Brito - Cearense de nascimento e recifense de coração, Stela tem formação em Comunicação e fez carreira no BANDEPE (Banco de Pernambuco S.A.). Atualmente trabalha em oficinas de letras e de contação de histórias. Stela é uma verdadeira enciclopédia no que se refere à cultura popular nordestina. Com ela é possível aprender sobre a origem das cirandas, das cantigas de roda, do frevo e do maracatu. Com memória privilegiada e energia inesgotável, é capaz de cantar peças da música local ou recitar poetas pernambucanos durante horas seguidas. Anabela Simão - é astróloga profissional e tem formação acadêmica em Artes Cênicas. Reica Santos - é psicóloga e astróloga profissional, associada ao SINASPE. Marco Tinoco - É astrólogo profissional, advogado e trabalha no Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco. Nas horas vagas atua como assessor jurídico do SINASPE. Cris Aragão - No momento vivendo no Rio de Janeiro, Cris é mais uma astróloga interessada em Literatura. É autora, por exemplo, de alguns artigos que exploram significados astrológicos na obra de Cecília Meireles. Conta Cris que demorou muito a acostumar-se ao ritmo do Rio de Janeiro. "Nos primeiros tempos", ela diz, "sentia-me muito deprimida, exatamente porque falta aqui no Rio o clima de apoio mútuo e de estímulo à discussão e pesquisa que encontramos lá em Pernambuco". Astrologia como jornada de trabalho adicionalO contato com a comunidade de astrólogos
pernambucanos confirma o óbvio: a imagem estereotipada do "bruxo
esotérico" ainda pode conseguir algum espaço em estandes
de shopping center, mas está bem longe da realidade da prática
profissional. Todos têm excelente formação acadêmica
e cultural. Do ponto de vista financeiro, praticamente todos os entrevistados
em Recife estariam melhor se deixassem de lado a consultoria astrológica
para se dedicar exclusivamente a suas profissões "convencionais".
Para a maioria, a Astrologia concorre com as horas de lazer. Quase todos
levam vida dupla, como um super-herói de história em quadrinhos.
E ninguém trocaria a Astrologia por nada. Outros textos de Fernando Fernandes. |
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Atalhos de Constelar 100 - Outubro/2006 | Voltar à capa desta edição |Fernando Fernandes - O acidente do vôo Gol 1907
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anão | |
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