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 Edição 99 :: Setembro/2006 :: -

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DOSSIÊ PLUTÃO

A menina que batizou um planeta

Fernando Fernandes

A atribuição do nome do deus do submundo ao planeta recém-descoberto não foi uma escolha dos astrônomos, e sim a revelação de uma menina inglesa de 11 anos.

Na fria e nublada manhã de 14 de março de 1930 uma menina inglesa chamada Venetia Burney, então com onze anos, tomava o café da manhã em sua casa, em Oxford, em companhia do avô, Falconer Madan. Num dado momento, o avô encontrou no Times uma notícia que muito o interessou, a ponto de motivá-lo a lê-la em voz alta para a neta:

Um novo planeta

Descoberta do Observatório de Lowell
Nova York, 13 de março

O professor Harlow Shapley, Diretor do Observatório de Harvard, anunciou hoje que o Observatório de Lowell em Flagstaff, Arizona, descobriu um nono planeta de grandes dimensões. O planeta, que ainda não recebeu um nome, situa-se além da órbita de Plutão e é provavelmente maior do que a Terra, se bem que menor do que Urano.

A descoberta confirma a crença do falecido Dr. Percival Lowell na existência de tal planeta, e representa o resultado de vários anos de investigação sistemática. O professor Shapley classifica a descoberta como a mais importante desde a descoberta de Netuno, em 1846.

Venetia era uma garota que gostava de ler e tinha uma boa cultura geral. Aprendera recentemente na escola que a distância de Netuno ao Sol era tão grande que de lá só seria possível enxergar o Sol como um pequeno ponto brilhando no escuro. Sabia, conseqüentemente, que qualquer planeta ainda além de Netuno deveria estar sempre mergulhado em trevas. Por outro lado, Venetia andara lendo também um livrinho chamado The Age of Fable, de Thomas Bulfinch, uma introdução à história da mitologia. Neste livro aprendera que todos os planetas tiravam seus nomes de figuras mitológicas, o que a levou a pensar em algum deus que ainda não tivesse sido aproveitado para nomear um corpo celeste. Como o artigo mencionava o nome de Percival Lowell, cujas iniciais são as letras PL, Venetia teve um insight e sugeriu tranqüilamente a seu avô: "Acho que Pluto poderia ser um bom nome para esse planeta."

Provavelmente o assunto teria morrido por aí se Falconer Madan não fosse um bem conceituado intelectual e irmão de Henry Madan, o cientista que sugerira, em 1878, os nomes Deimos e Fobos para os dois satélites de Marte. Falconer Madan gostou da sugestão da neta e decidiu transmiti-la a Herbert H. Turner, ex-astrônomo real, que, por sua vez, relatou-a em telegrama ao Observatório de Lowell, no dia seguinte.

O resto é história. No dia 1º de maio de 1930, Vesto Slipher, diretor do Observatório de Lowell, anunciou oficialmente a adoção do nome Pluto para o novo planeta. Venetia Burney levou um susto quando soube que o comentário que fizera com o avô acabara incorporado pela ciência. Mais tarde, já adulta, tornou-se professora, casou-se com um matemático e passou a residir na cidade de Epsom. Foi lá que, aos 87 anos, soube da notícia de que Plutão fora reclassificado como "planeta anão", o que a levou a comentar: "Preferiria que Plutão continuasse a ser um planeta, mas, na minha idade, isso não tem mais muita importância..."

Essa é a história. Agora, vamos ao mapa:

Se Plutão não tivesse sido batizado com este nome, teriam os astrólogos percebido as correspondências simbólicas entre o modelo de atuação deste planeta e os mitos envolvendo o deus do submundo entre os gregos? Em outras palavras, até que ponto a decisão dos astrônomos influenciou a posterior percepção dos astrólogos? Esta é, certamente, uma pergunta sem resposta, mas não deixa de ser incômoda. Por outro lado, podemos questionar se os astrônomos que "batizaram" Plutão realmente fizeram uso de seu livre arbítrio ou foram simples instrumentos de algo maior - uma "vontade inconsciente", uma percepção difusa da emergência de um novo conceito. O mais significativo é que a porta-voz do senhor do Hades, a pessoa que revelou ao mundo o símbolo que passaria a habitar o imaginário coletivo, fosse uma criança - alguém, portanto, mais próximo do instintivo, do irracional que o próprio Plutão representa.

Levantar o mapa do momento em que o insight (ou o desvelamento) do nome de Plutão veio à tona pode ajudar-nos a compreender o contexto da emergência deste símbolo. Sabemos que o fato se deu em Oxford, na Inglaterra, no dia 14 de março de 1930, na hora do "breakfast", ou seja, durante o desjejum matutino. Era uma sexta-feira, e provavelmente tanto Venetia quanto seu avô tinham atividades rotineiras a cumprir. Podemos pensar num horário por volta do nascer do Sol ou um pouco mais tarde, antes das oito da manhã. Isso nos deixa com três possibilidades de Ascendente: Peixes, das 5h49 da manhã (antes do Sol nascer) até às 6h40 (já com o Sol na casa 12). Daí até às 7h32 o Ascendente é Áries, passando a Touro daí em diante.

Venetia Burney sugere o nome "Pluto" - mapa especulativo - 14.3.1930, 7h GMT - Oxford, Inglaterra - 51n46, 001w15.

O Ascendente que corresponde ao horário mais provável, por volta das 7h da manhã, é Áries. Neste caso, Saturno em Capricórnio é o planeta mais elevado da carta, ou seja, o mais próximo do Meio do Céu, enquanto Plutão é o que ocupa a posição mais inferior, próximo ao Fundo do Céu. O Sol na 12, oposto à Lua, mostra a possibilidade de lançar luz e ganhar consciência sobre algo que ainda não é visível (como o próprio Plutão); Urano em Áries no Ascendente dá conta da natureza espontânea e inesperada da sugestão do nome. O próprio Plutão estaria na casa 4 - simbolicamente um lugar profundo - mas já em conjunção com a cúspide da 5, que rege as crianças e os atos criativos.

Literalmente, é um mapa que mostra a emersão de um símbolo ainda oculto e sem nome (casa 12, casa 4) que de repente alcança a consciência (Urano no Ascendente, Lua Cheia) e rompe os limites do mundo conhecido e estruturado (Urano em quadratura com Saturno no Meio do Céu). Plutão estava em Câncer, signo feminino e de nutrição, e é revelador o fato de que tenha sido batizado por uma garota e durante uma refeição.

O contexto histórico da descoberta de Plutão

A descoberta de Plutão coincide com alguns processos históricos bem conhecidos:

  • Grande Depressão - Crise econômica e desemprego em doses maciças, como conseqüência do crash da Bolsa de Nova Iorque.
  • Nazismo, Fascismo e Estalinismo - Emergência de um novo modelo de Estado autoritário, com anulação da individualidade e dos direitos civis em nome da segurança e da defesa dos interesses nacionais.
  • Desenvolvimento da energia nuclear, trazendo a possibilidade da destruição total da humanidade.
  • Propaganda a serviço do poder.
  • Cultura de massa - fortalecimento do cinema, dos quadrinhos e do rádio como "fábricas de mitos".

Vários desses tópicos são explorados em maiores detalhes em outro artigo, de autoria de Carlos Hollanda. O que nos interessa aqui é apenas traçar um paralelismo: no momento da descoberta de Plutão, era como se tais assuntos estivessem tomando de assalto a consciência da coletividade. 76 anos depois, o rebaixamento de Plutão à condição de "planeta de segunda classe" parece corresponder a um processo coletivo análogo, se bem que de sentido oposto: é como se o mundo estivesse cheio de lidar com algumas questões plutonianas, a ponto de decidir descartá-las e jogá-las para debaixo do tapete.

Este é um ponto, todavia, ao qual voltaremos mais adiante. Resta ainda lembrar um personagem de ficção que surge em sincronia com a descoberta de Plutão e, de tão plutoniano que é, carrega o senhor do Hades no próprio nome. Estamos falando de Pluto, o desengonçado e fiel cachorro de Mickey Mouse.

Leia também em Dossiê Plutão:

Pluto, o cão de Mickey Mouse - por Fernando Fernandes
O mapa do planeta anão - por Fernando Fernandes
Plutão não é mais planeta... e daí? - por Carlos Hollanda
Limpeza de órbita e limpeza étnica - por Maurice Jacoel
Os astrônomos viram a mesa e encolhem o Sistema Solar - por Fernando Fernandes



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Fernando Fernandes - Dossiê Plutão | A menina que batizou um planeta | Pluto, o cão de Mickey Mouse | O mapa do planeta anão |
Carlos Hollanda - Dossiê Plutão | Plutão não é mais planeta... e daí? | O medo do monstro sob a cama |
Maurice Jacoel - Dossiê Plutão Limpeza de órbita e limpeza étnica |
Thiago Veloso/Equipe de Constelar - Astrológica 2006 | No ritmo da Astrológica 2006 | Entrevista com Robson Papaleo |
Renata Lins - Os tempos de Saturno e Urano | Chronos e Kairós |

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Raul V. Martinez - Astrologia Médica no século XV | Um mapa de doença, delírio e morte |
Raul V. Martinez - Jack, o Estripador | Um assassino de sangue real | A carta natal de Albert Victor |
Dimitri Camiloto - Saturno em Leão e o Brasil em 2006 | Fuzarca, decepção e realidade |
Dimitri Camiloto / Fernando Fernandes - Astrologia Mundial | Coréia do Norte e agressividade infantil | Duas Coréias, muitos mapas |
Americo Ayala Jr. - Astrocartografia e catástrofes naturais | Terremoto na Indonésia, Maio de 2006 |
Thiago Veloso/Equipe de Constelar - Astrológica 2006 | No ritmo da Astrológica 2006 | Entrevista com Robson Papaleo |


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