Saturno esteve em Sagitário pela última vez entre 1985 e 1988. Mais exatamente, a estada de Saturno neste signo durou de 17 de novembro de 1985 a 13 de fevereiro de 1988. Depois de uma primeira passagem por Capricórnio, Saturno voltou a Sagitário onde ficou mais cinco meses: de 10 de junho a 12 de novembro de 1988. Vamos lembrar o que acontecia no Brasil durante aquele período?
No país do presidente José Sarney, o maior problema era a inflação elevada e fora de controle. Numa tentativa de sanear a economia, o governo lançou o chamado Plano Cruzado, em 28 de fevereiro de 1986. A moeda mudou de nome e três zeros foram cortados. Decretou-se um congelamento de preços e a população foi convocada a vigiar lojar e supermercados. De uma hora para outra, donas de casa e aposentados se transformaram em “fiscais do Sarney”.
Saturno transitava pela casa 10 de Brasil (a casa do governo e da autoridade) e formava quadratura com o Sol do país, na casa 7. Trânsitos tensos Sol-Saturno tem um sentido restritivo, seja para indivíduos, seja para coletividades inteiras. Entre outras possibilidades, Saturno significa rigidez e – não por acaso – congelamento e engessamento. Foi exatamente o que o governo fez com o plano Cruzado: congelou os preços e engessou a economia, gerando desabastecimento (outra palavra saturnina) e realimentando a inflação. O governo escondeu informações e empurrou o problema com a barriga enquanto foi possível. Tudo desmoronou em 1987, quando Saturno fazia quadratura a Mercúrio, regente da casa 8 (sistema financeiro) do mapa da Independência. Naquele ano houve uma enorme quantidade de protestos em grandes cidades brasileiras, com queima de ônibus, greves e saques. Sarney ainda tentaria outro congelamento, o chamado plano Bresser, de 1987. Tudo o que conseguiu foi entregar o governo a seu sucessor com uma inacreditável inflação de 4.853,90% ao ano.
Já sabemos, portanto, o que pode acontecer se o governo resolver tomar medidas que congelem preços e engessem a economia em 2015. Esperemos que a nova equipe econômica tenha juízo e bom senso – que também são conceitos saturninos, diga-se de passagem.
Outro processo histórico que pode ser associado a Saturno em Sagitário é a Constituição de 1988, ainda vigente. A Constituição, como lei maior do país, tem relação natural com Sagitário, o signo do primado do Direito. Com Saturno neste signo, o Brasil concretizou (Saturno) um novo paradigma jurídico, mais generoso, concessivo e abrangente (Sagitário) do que aquele que regeu o país durante o período do regime militar. Contudo, hoje é voz corrente que a Constituição de 1988 exagerou (verbo sagitariano) na fixação de alguns direitos, que geraram obrigações financeiras sem previsão de contrapartidas. A Constituinte foi eleita em 1986 e iniciou seus trabalhos em 1987, quando Saturno começava a formar uma quadratura ao Sol do Brasil. Em 2016 teremos uma o retorno de Saturno à mesma posição daquela época, o que levanta a possibilidade de uma revisão constitucional. Portanto, alerta vermelho: se a economia andar mal em 2015, pode se instalar um clima propício à revisão de alguns direitos considerados intocáveis.
Saturno é um planeta ligado ao trabalho duro, com vistas à ascensão social. Sagitário simboliza um forte impulso para cima, em busca de horizontes mais amplos. Saturno em Sagitário tem, portanto, muito a ver com a superação de limites através do esforço disciplinado. Até meados dos anos oitenta, o futebol reinava absoluto na preferência do público brasileiro. Com Saturno em Sagitário, porém, foi o automobilismo que viveu uma fase excepcional, com dois campeões do mundo diferentes – Nelson Piquet e Ayrton Senna – em anos consecutivos (1987 e 1988). Esses dois ídolos esportivos, ao contrário da maiores dos craques do futebol da época, eram jovens da classe média urbana, bem preparados e disciplinados. Sua enorme popularidade sinalizava uma mudança na autoimagem do brasileiro, de acordo com o trânsito de Saturno pela casa 10 do país: era possível vencer pelo empenho na perseguição de metas pessoais, e não apenas pela sorte ou pela malandragem. Senna, em especial, consubstanciava em sua postura noções de seriedade, ética e fé – em Deus e no próprio talento.
Com o retorno de Saturno em Sagitário, podemos esperar a emergência de novos paradigmas éticos. Seus porta-vozes podem surgir no campo esportivo, político, científico, mas certamente serão vistos como super-heróis em suas respectivas atividades. Num país com “complexo de vira-lata”, como já assinalava Nelson Rodrigues, os trânsitos de Saturno em Sagitário têm este lado positivo: dão visibilidade e credibilidade a padrões mais elevados, despertando em muita gente o impulso de cobrar mais e exigir mais de suas elites. Por isso os fiscais do Sarney tendem a reaparecer. Em breve, eles estarão por aí, vigiando preços e consciências.