|  
             O eterno retorno do reprimido 
            Mas por que a alma americana descaracterizou Batman 
              e não o Superman? Porque toda vez Batman precisa ser revisto, 
              senão será deturpado nas mãos dos roteiristas? 
              No filme Batman e Robin já dá para ver uma 
              certa descaracterização do personagem, fazendo dele 
              um bom moço, gentil, mais próximo da beleza de Libra 
              do que das entranhas de Escorpião. Por que os Estados Unidos 
              recalcam Batman? 
            Para ter essas respostas basta ver o mapa dos Estados 
              Unidos. 
            
               
                  | 
               
               
                | Independência dos Estados Unidos - 
                  4.7.1776, 16h50 LMT - Filadélfia, EUA - 39n57, 75w10. | 
               
             
            A casa 12 dos Estados Unidos tem a cúspide 
              em Escorpião. A casa 12 sempre representa aquilo que tentamos 
              esconder da consciência, entre outras coisas. Os Estados Unidos 
              escondem de si mesmo e do mundo sua irracionalidade, o seu desejo 
              de matar, assim como uma relação afetiva mais madura 
              com a sexualidade. Quem viu o filme A Outra História Americana, 
              com Edward Norton no papel principal, sabe do que eu estou falando. 
            Qual é o país que tem serial killers 
              com jeito de Coringa? Que vende cosméticos ao mundo todo 
              para maquiar a passagem do tempo e esquecer a finitude? Que incentiva 
              qualquer psicologia voltada à adaptação do 
              comportamento e rejeita as psicologias do inconsciente? Os Estados 
              Unidos odeiam o signo de Escorpião. Aliás, neste mapa 
              não há sequer um planetinha nesse signo.  
            A imagem que os Estados Unidos transmitem ao mundo 
              é a mensagem que provém de seu Ascendente Sagitário, 
              o Super-Homem. 
            Esse Ascendente faz com que o país se mostre 
              como grande e otimista. Prosperidade é um valor sagitariano, 
              assim como a cultura (não há indústria maior 
              que a cultural nos Estados Unidos), como também gestos grandes 
              e generosos (muitas vezes colonizadores, diga-se de passagem). Lá 
              as universidades (instituição de Sagitário) 
              têm poder de opinião. A mania por quebras de recordes 
              também é uma tara desse país com Ascendente 
              Sagitário e que inventou o Guiness Book. Essa é 
              uma nação que faz do pragmatismo sua ética, 
              rejeitando qualquer impulso do Irracional, da Besta do Apocalipse, 
              isto é, Escorpião. 
            E Batman vem de encontro a tudo isso. Batman não 
              é um santo. Ele provoca fragilidades na alma americana com 
              sua história de família destruída, como tantas 
              durante o trânsito de Plutão por Câncer. Família 
              é um tema muito caro ao americano, que tem Sol em Câncer, 
              signo dos ancestrais, sentimentos de apego e laços familiares 
              que nos ligam ao berço da nossa história pessoal. 
              Câncer é o signo de uma esmagadora possessividade maternal 
              (isso é um pleonasmo). Imagine se Câncer simpatiza 
              com essa coisa que mete medo chamado Escorpião. Afinal de 
              contas, ele lembra todo o tempo que devemos largar o que já 
              não está conosco, mas que insistimos em segurar. 
            Em poucas palavras, os Estados Unidos evitam Escorpião 
              porque morrem de medo. 
            Com o trânsito de Plutão em Escorpião, 
              os Estados Unidos começam a lidar com sua casa 12 e com tudo 
              que escondeu embaixo do tapete. E é exatamente nesse momento 
              de crise americana que O Retorno do Cavaleiro das Trevas, 
              de Frank Miller, é lançado. Curiosamente é 
              quando Plutão toca o Sol de Bob Kane, fazendo-o renascer 
              através de seu personagem, e toca o ponto da Cabeça-do-Dragão 
              da primeira aparição de Batman, em 1939, dinamizando 
              a missão de Batman no trato de temas plutonianos. Já 
              vimos isso.  
            O mapa seguinte foi calculado para março de 
              1986, quando a revista foi lançada nos Estados Unidos. O 
              fato de não sabermos o dia exato, e muito menos a hora, faz 
              com que nos detenhamos nos planetas mais lentos (Plutão, 
              Urano, Netuno, Saturno, Júpiter) como critério de 
              análise. Considerando que revistas são lançadas 
              normalmente tendo como referência o primeiro dia do mês, 
              utilizou-se a data de 1° de março de 1986, às 
              6h, em Nova Iorque (tomar estes dados com muita reserva!). 
            
               
                  | 
               
               
                | Relançamento de Batman - 01.03.1986, 
                  6h (EST) - New York, EUA - 40n45, 73w57. | 
               
             
            O cavaleiro negro de Frank 
              Miller 
            Frank Miller, que com essa obra revolucionou toda 
              a produção de histórias em quadrinhos para 
              adultos, conta a história de Batman sem a moral civilizatória 
              ou a ética do bom moço. Dá para dizer que há 
              uma história das histórias em quadrinhos antes e depois 
              do O Retorno do Cavaleiro das Trevas, desde o tipo de roteiro, 
              seqüência de desenhos e temas tratados. 
            Nesta história, por exemplo, o Cavaleiro das 
              Trevas se encontra em uma Gotham City (São Paulo, de atualmente) 
              governada pela corrupção, sujeira humana, por básicos 
              instintos. Esta história é tão radical que, 
              para começar, Batman tem 50 anos. Portanto, já viveu 
              a quadratura Plutão com Plutão que adensou cada vez 
              mais sua solidão capricorniana e o sentimento de perda de 
              Escorpião, já que o Robin havia morrido em combate 
              dez anos atrás - o tempo que Batman ficou em reclusão). 
              Alfred está vivo, mas morre durante a história. Selina 
              - a Mulher-Gato, já velha, é dona de um bordel (no 
              decorrer da história Batman beija Selina, que havia sido 
              fantasiada à força de Mulher Maravilha por Coringa). 
              O Comissário Gordon, policial e amigo de Bruce, também 
              amarga a morte de sua filha, a BatGirl, além de sua compulsória 
              aposentadoria. Coringa está no Asilo Arkham, catatônico, 
              desde a última aparição de Batman. Quando Batman 
              volta, ele volta a si. É como se Miller disesse que a existência 
              desses criminosos estava ligado à existência de Batman. 
              Duas-Caras faz plástica paga por Bruce Wayne, porém 
              não resolve seu conflito interior. Durante a história, 
              surge Robin, uma menina de 13 anos que havia ouvido falar do parceiro 
              do antigo justiceiro. Miller achava que a roupa de Robin ficaria 
              melhor numa menina do que num menino. 
            Batman volta a ser um assassino. Chega, durante o 
              combate com o Coringa, a deixá-lo paralítico. Não 
              respeita a instituição policial que tem ordem de prendê-lo. 
              Chega, com sua atitude, a ir contra a instituição 
              que o pensamento psiquiátrico representa, já que ele 
              não acredita na possibilidade de o Coringa recuperar a sanidade, 
              como o psiquiatra da história - um fã do Superman 
              - sugeria. 
            Bruce Wayne se vê atormentado por lembranças 
              dolorosas que o visitam sem trégua durante suas muitas noites 
              de insônia. Gotham é atacada por uma horda de adolescentes 
              chamada Mutantes que promovem assaltos, assassinatos e a tentativa 
              de implantar um regime de tolerância zero à base do 
              crime. Inclusive, o líder dos Mutantes mata o prefeito com 
              os próprios dentes que, no desenho, se mostram pontiagudos 
              como o de um tubarão sanguinário. 
            O Retorno do Cavaleiro das Trevas também 
              é uma crítica à sociedade americana da Era 
              Reagan. É importante lembrar que a Guerra Fria corria solta 
              nesta época. Tudo era motivo para polarizar os salvadores 
              do mundo, os Estados Unidos de um lado, e o diabo, o comunismo da 
              União Soviética, do outro. É interessante ver 
              na história de Miller que o único herói oficial 
              é o Superman, digno representante do ego americano. O Homem 
              de Aço detona bombas nucleares em testes atômicos sob 
              ordem do governo, em prol da paz mundial. Além de ser tratado 
              por Reagan como filho bom moço e agente de colonização, 
              Superman acaba por lutar com Batman, já que uma parte da 
              sociedade não admite que este último faça justiça 
              com as próprias mãos, contrariando os ideais de justiça 
              americanos. 
            Veja o que Batman diz durante o combate com o Superman: 
            "Sangramento nasal. Muito cedo, Clark. Não 
              caia agora. A noite é uma criança... e eu preparei 
              tantas coisas. Temos que terminar aqui, nesta calçada imunda... 
              onde meus pais morreram... onde posso usar a energia de toda a cidade 
              para tostar seu cérebro. Ainda falando, Clark? Continue. 
              Você sempre soube o que dizer... diz sim a qualquer um com 
              distintivo... ou com uma bandeira. (...) Já passou da hora 
              de aprender o que é ser um homem! Você traiu a todos 
              nós, Clark. Deu a eles o poder... que devia ter sido nosso. 
              Exatamente como seus pais ensinaram. Meus pais me ensinaram coisas 
              diferentes. Caídos nesta rua... sangrando muito... morrendo 
              sem razão nenhuma... eles me mostraram que o mundo só 
              faz sentido quando você o força a fazer." 
            "... O mundo só faz sentido quando você 
              o força a fazer". Frase tipicamente Escorpião-Capricórnio. 
              Aliás, Escorpião, detesta fraqueza, e é implacável 
              nas suas críticas aos "menos fortes". 
            
               
                  | 
               
               
                | Mais um Batman saído 
                  da prancheta de Carlos Hollanda. | 
               
             
            O Retorno do Cavaleiro das Trevas, de Frank 
              Miller, faz ressurgir este símbolo da Morte e da sujeira 
              humana representado pelo signo de Escorpião. É claro 
              que Escorpião possui significados mais benéficos, 
              porém neste caso vemos a sombra da sombra da noite. Esta 
              história, inclusive, é o prenúncio da violência 
              juvenil nestes últimos 15 anos nos Estados Unidos, culminando 
              nas chacinas em colégios nos últimos anos, já 
              com Plutão em Sagitário. Em O Retorno há 
              a quebra da lei para se institucionalizar a bárbarie nas 
              mãos dos jovens. É uma boa leitura para entender o 
              que está acontecendo nas megacidades. 
            Depois do Cavaleiro, surgiram outras histórias 
              que resgataram as origem do Batman. Entre elas, Ano Um, dirigida 
              por Frank Miller com adaptações das primeiras histórias 
              do primeiro ano de Batman. A Piada Mortal, de Alan Moore, 
              que conta a origem do Coringa. Durante o enredo, Batman gargalha, 
              talvez pela primeira vez em toda a sua vida, logo após Coringa 
              lhe contar uma piada. Veneno, Asilo Arkham, Preto 
              e Branco, todos Um Conto de Batman, são títulos 
              que respeitam as difíceis origens do personagem. 
            Batman nasceu em Gotham 
              City 
            E por fim, gostaria de propor um mapa fictício 
              para o Batman. 
            Sol em Capricórnio, Lua em Escorpião, 
              Mercúrio em Capricórnio, Vênus Escorpião, 
              Marte em Áries, Saturno em Sagitário, Júpiter 
              em Aquário, Urano em Virgem, Netuno em Leão e Plutão 
              em Câncer. 
            Ou: 
            Sol em Escorpião, Lua em Capricórnio, 
              Mercúrio em Escorpião, Vênus em Escorpião, 
              Marte em Leão, Saturno em Câncer, Júpiter em 
              Virgem, Urano em Áries, Netuno em Gêmeos e Plutão 
              em Câncer. 
            O que você acha? 
            Também quero lembrar que uma sociedade ou 
              indivíduos que não falem da Morte, daquilo que corre 
              na veia plutônica, estão fadados a se atolar inconscientemente 
              num mundo de vale-tudo. Valetudo é a melhor tradução 
              de inconsciente, para os trópicos, segundo MD Magno, poeta-psicanalista 
              brasileiro. Gotham City deve estar alinhada ao Trópico de 
              Capricórnio. Ou de Câncer. Tanto faz. Escorpião 
              respira, sem ser notado. Por isso é sempre bom lembrar as 
              palavras de Batman: 
            "Então... algo se move oculto. Algo que 
              aspira o ar viciado... e sibila. Planando com graça milenar... 
              Ele se recusa a se afastar como seus irmãos. De olhos radiantes, 
              sem alegria ou tristeza... seu hálito é quente e tem 
              o sabor dos inimigos vencidos... o odor de coisas malditas. Com 
              certeza, ele é o mais feroz sobrevivente... O mais puro guerreiro... 
              Brilhando, odiando... possuindo minha pessoa... sonhando..." 
              [12] 
            ................................................................................... 
            [12] Frank Miller, em O Retorno 
              do Cavaleiro das Trevas, Editora Abril, São Paulo, SP, 
              1987, volume 1, pp.8 e 9.  
            Leia outros artigos de João 
              Acuio. 
             
              
 
            
             |