A primeira aparição
de Batman - o diabo
"Em Gotham, a noite tem seu rosto. Chame o diabo,
em voz alta ou em silêncio, e ele responderá. E o nome
do diabo é... Batman" [10].
Pouco antes do início da Segunda Grande Guerra,
com a Besta constelando em torno da figura de Hitler, Batman nasce
em 18 de maio de 1939.
Veja o mapa que foi feito sem considerar o horário
e local. Para efeito de cálculos foi usado o horário
das seis da manhã e latitude e longitude de Nova Iorque.
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Batman, estréia - 18.5.1939, 6h (EST)
- New York, EUA - 40n45, 73w57. |
Com forte ênfase em Touro (Mercúrio,
Cauda-do-Dragão, Lua, Urano e Sol), Batman deu as caras.
Evidentemente, Plutão estava em Câncer e Marte em Capricórnio
fazia trígono com o Sol. Tudo a ver com um personagem que
é calado, solitário, de certa forma deprimido, cauteloso
ao extremo e que só existe porque existe a morte. Mas onde
está todo aquele Escorpião, com suas obsessões
pela morte e a sexualidade?
Está em Plutão, regente de Escorpião,
quadrando Vênus e se opondo a Marte. E também no stellium
em Touro.
Toda vez que há um stellium em qualquer signo,
o signo oposto passa a ter um papel fundamental no mapa em questão.
Portanto, essa excessiva ênfase em Touro faz que o seu signo
oposto - Escorpião - ganhe evidência. É uma
forma de compensar o exagero no quieto e contido signo de Touro.
Sem falar da Cabeça-do-Dragão em Escorpião
que há neste mapa. É curioso notar que essa Cabeça
fará conjunção com o Sol de Bob Kane. A consciência,
representada pelo Sol de Kane, se alinhava com a do coletivo naquele
momento.
A Cabeça-do-Dragão é o direcionamento
de qualquer mapa em questão. É como apontar qual o
cano de escape que direcionará toda a restante da configuração
do mapa. E naquele momento, o céu apontava em direção
aos assuntos de Escorpião: morte, desejo, sexo, manipulação
emocional, poder. O que vai aparecendo na cultura é o fruto
deste direcionamento.
O taurino Hitler mostrou um jeito de lidar com a
Besta que reside dentro de cada um de nós. Batman foi outra
maneira de lidar com as mesmas questões. Pena que a indústria
cultural americana tratou de colorir tão depressa este personagem.
Batman, na sua origem, e Hitler são personagens
plutonianos. Ambos lidam com aquilo que Fausto Fawcett chamou de
básico instinto.
"Forças caóticas mandam sinais
em forma de Básicos Instintos que transformam as pessoas
em vetores de afirmação vital totalmente obsessiva
e amoral. (...) E a veia platônica pulsa desesperada enquanto
as forças caóticas da violência primordial são
cutucadas com vara curta pelo excesso de poluição
humana nas megacidades... (...) Megacidade, principalmente de terceiro
mundo, é uma inacabada e furiosa catedral do excesso humano,
violentos coliseus urbanos da luta pela sobrevivência. Brutalidade
de todas as presenças, de todas as formas de vida social
e subjetiva dando xeque-mate umas nas outras, gerando divisão
e dribles de realização emocional, e catártica
na mediocridade cotidiana. Luta pela sobrevivência e pela
ração de emoção, comida, divertimento,
ternura-família-amorzinho-cumplicidade-afetiva... Terreno
propício pra proliferação dos sentimentos plutônicos,
pra veia plutônica pulsar firme e forte nos espíritos
e nas carnes. A veia plutônica pulsa mais forte que a platônica."
Gotham City é uma megacidade do Terceiro Mundo.
O mundo, naquela época, estava pronto para explicitar essa
veia plutônica pulsante em todos os seres humanos no palco
da Segunda Grande Guerra. Dobermans nazistas babando fúria
lembram básicos instintos.
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[10] Em Um Conto de Batman:
Criminosos. Lançado pela Editora Abril Jovem, São
Paulo, SP, p. 28. Escrita por Steven Grant e desenhada por Mike
Zcek.
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Este é Bob Kane,
que tinha 22 anos quando criou o Batman. |
Curto-circuito no céu
Os enredos e os personagens de Gotham revelam uma
certa ambiguidade no mundo de Batman que se associa ao eixo Gêmeos-Sagitário.
Esses são os dois signos que lidam fortemente com dissociação
de personalidade (espécie de curto-circuito na coerência).
Não há signos mais duplos do que estes. É comum
Gêmeos criar dupla identidade para si mesmo. Veja o geminiano
poeta e astrólogo Fernando Pessoa, que criou diversos heterônimos
com personalidades delineadas. Sagitário também é
assim. Essas tendência à duplicidade ou, no popular,
em ter duas caras, há em quase todos os personagens do Batman.
Veja, Batman é Bruce Wayne. Robin é Dick Grayson.
Duas-Caras é Harvey Dent. A Mulher-Gato é Selina Kely.
Hera Assassina é Pamela Lillian Isley. Coringa é uma
referência à carta de baralho que, em alguns jogos,
pode ocupar a identidade de outra carta. Coringa é um trickster,
nada mais parecido com o amoral Hermes, regente de Gêmeos.
Essa duplicidade que Gêmeos representa é o pano de
fundo da origem de todos estes personagens.
Esta ênfase em Gêmeos faz com que os
EUA criem identificação com personagens com dupla
personalidade, já que o mapa deste país (que vamos
ver mais adiante) apresenta Gêmeos na casa 7, a casa do Outro-em-Mim,
sem falar da presença de Marte e Urano em Gêmeos. E
Sagitário no Ascendente também faz pensar em dupla
personalidade.
A crise de identidade na
mesma Bat-Hora no mesmo Bat-Canal
Talvez por causa desse ambígua ênfase
em Gêmeos, no interior das histórias, que marcou o
primeiro contato do povo americano com o Cavaleiro das Trevas, abriram-se
brechas para que os roteiristas descaracterizassem Batman por completo
durante os anos 60. Já que ele tinha dupla personalidade,
por que não inventar outras?
Já na primeira década, para amenizar
o aspecto aterrorizante de Batman, surgiu o menino Robin, acompanhado
de roteiros fracos, mais próximos da ficção
científica, e, para tirar a arma assassina das mãos
de Batman, surgiram em seu lugar as conhecidas e generosas doações
beneficentes de Bruce Wayne, o que indicava o acelerar de seu processo
civilizatório, sem falar das cores brilhantes que apagaram
as negras roupas de Batman.
Mas os anos 60 foram muito piores. Com a série
televisiva que estreou no dia 12 de junho de 1966, com o Sol em
Gêmeos, portanto, alcançando 49,5 % de audiência,
começou o massacre e o recalque da personalidade plutoniana
de Batman. A começar por suas roupas, que eram verdadeiras
sungas sobre collants, sem falar que seu cérebro funcionava
ao som de TOC! SOC! POOM! Infantilizaram tanto o personagem de Bob
Kane que, num episódio, Batman pára de combater o
crime por um dia porque estava com dor de garganta e poderia "ferir
cidadãos inocentes" com sua moléstia. Sem falar
da aparição de inimigos como Cabeça-de-Ovo
e Rei Tut que nunca existiram nos quadrinhos.
Muita gente, inclusive meu pai, dizia, em tom de
brincadeira, que Batman e Robin - a dupla dinâmica - eram
gays. O psiquiatra americano Frederic Werthand levou isso a sério
e escreveu um livro chamado The Seduction of the Innocents,
defendendo a tese de que o seriado de Batman e Robin promovia a
homossexualidade nos puros lares americanos.
"(Batman e Robin) transmitem a sensação
de que nós, homens, devemos nos manter juntos porque há
muitas criaturas malvadas que têm que ser exterminadas. (...)
Às vezes, Batman acaba numa cama, ferido, e mostra-se o jovem
Robin sentado ao seu lado. (...) Vivem em aposentos suntuosos com
lindas flores em grandes vasos. Batman é, às vezes,
mostrado num robe de chambre... é como um sonho de dois homossexuais
vivendo juntos" [11].
Depois disso, nos anos 70, Batman entra em decadência,
renascendo apenas em 1986 com as características que Bob
Kane havia-lhe dado, quando Frank Miller lança O Retorno
do Cavaleiro das Trevas.
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[11] MOYA, A. Shazam!,
p. 72.
O eterno retorno do reprimido
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