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A TRADUÇÃO SIMBÓLICA DA NOVELA DAS OITO

Mulheres apaixonadas,
o mito por trás da novela

Carlos Hollanda

 

Raízes do declínio nos ciclos planetários

Até o velho símbolo comunista da foice e do martelo serve para explicar o processo de declínio do macho retratado em Mulheres Apaixonadas. Antes de ter sua forma atual, o emblema soviético tinha também uma espada, símbolo fálico.

Seria tolice falar sobre o declínio do patriarcado, algo instituído há talvez uns 5 ou 6 mil anos, como se isso ocorresse da noite para o dia. Na verdade estamos diante de um dos mais expressivos focos de um processo que já vem se fazendo presente há séculos. E foi o rastreamento dos ciclos de planetas lentos, em especial o de Urano, que tornou possível descobrir algumas características que podem ser equiparadas a um retorno do feminino. A passagem desse planeta pelos eixos Leão-Aquário e Virgem-Peixes parece coincidir com verdadeiros focos de retorno do feminino ou, mais ainda, de desestruturação dos sistemas modelares das socidades patriarcais. Não posso afirmar isso com relação a tribos indígenas das Américas, nem com relação às tribos e comunidades de culturas arcaicas do interior da África, Ásia ou as da Oceania, já que não tenho meios para observá-las. No entanto, ao menos no que diz respeito às sociedades ocidentais industrializadas - e também orientais, talvez -, essa desestruturação parece estar a todo vapor.

A passagem de Urano em Aquário nos últimos anos do século XX e seu retorno por retrogradação a este signo em setembro de 2003 sugere a ruptura com a exclusividade de poder masculino ao observarmos que Aquário é oposto polar a Leão e é oposto adjacente a Capricórnio. Ambos são signos ligados ao poder patriarcal. Mais ainda: o signo de Câncer, que remete à idéia do poder pátrio ("pátria" - relativo a "pai" - "pátrio poder"), oposto polar a Capricórnio, fica em quincunce natural com Aquário. O quincunce é um aspecto representativo de retificações, reestruturações, cortes abruptos e compensações. Ele ocorre de forma a compensar excessos com algum fator inexistente ou inconsciente. O quincunce natural de Aquário-Câncer, com a passagem de Urano, no final do século XX, e de Netuno, atualmente, em Aquário, marca o desafio de uma reestruturação nos conceitos de família e de grupos sociais coesos por similaridade de crenças e costumes. Aliás, o "pátrio poder" - que, o nome já diz, pertencia ao pai, considerado "o" chefe da família - só há bem pouco tempo, durante a passagem de Urano em Aquário, foi retificado para "poder familiar". A autoridade sobre a família não está mais predefinida.

A deusa Atená, uma guerreira que, ao contrário de Ares, sabe usar a cabeça.

Numa breve verificação de épocas da passagem de Urano por Leão, Virgem, Aquário e Peixes, logo encontramos a Revolução Francesa, em 1789 (Urano em Leão). Mas afinal de contas, o que teria a ver aquele importante processo histórico com uma novela? À primeira vista absolutamente nada, mas, arquetípica e semioticamente falando, elas têm muito em comum. Basta saber que o símbolo mais usado para identificar as repúblicas nascentes desde a Revolução Francesa é uma mulher em cuja cabeça se encontra um barrete frígio. A mulher, Marianne, para usar o nome dado pelos franceses (pejorativamente, pelos contra-revolucionários e carinhosamente pelos revolucionários ), é uma reprodução iconográfica da deusa grega Atená - ou Minerva, para os romanos. O barrete frígio era usado pelos ex-escravos gregos como forma de demonstrarem sua alforria: era um signo de liberdade. A figura feminina ostentando o barrete é representativa da luta e reviravolta, de inversão de ordem. E curiosamente, apesar de os revolucionários da época não poderem atentar para qual poderia ser o resultado de tudo aquilo num futuro distante, eles já produziam imagens significativas de algo que ao menos no nível do inconsciente coletivo já podia estar sendo processado: o retorno do feminino. É óbvio que a sociedade da época ainda era ultramachista e, por mais dois séculos, o feminino viveu à sombra do masculino. Entretanto, temos ali, na Revolução Francesa, um foco muito importante desse retorno e do declínio do poder pátrio Leão-Capricórnio, especialmente se pensarmos na reviravolta que o processo deu no Antigo Regime absolutista, que concentrava o poder nas mãos do monarca (no masculino). No Brasil, assim como em diversos outros países, e mesmo com uma cultura que suprimiu a figura feminina após a Proclamação da República, houve profusão de publicações que se utilizavam de tal ícone, seja para comemorar seja para achincalhar o novo sistema de governo. E a alusão era à Revolução Francesa.

Outra imagem interessante que mostra um sutil ocultamento do poder fálico é o emblema da bandeira comunista. A versão que conhecemos é a foice cruzada com o martelo. Contudo, o primeiro símbolo, que não emplacou, contava, em 1920, ano em que Urano já transitava por Peixes, também com uma espada na vertical junto às duas outras ferramentas. A manutenção dos dois ícones é muito curiosa: a foice é um símbolo saturnino por excelência, sendo até mesmo muito semelhante ao próprio glifo do planeta. Entretanto, nota-se no formato da foice a forma lunar, seja crescente ou minguante. É certo que o símbolo comunista lembra algo entre Saturno e Marte, pelo vermelho, pela foice e martelo e pelo fato de aludir à união entre os trabalhadores do campo e da indústria. No entanto, a supressão da espada, que representaria o poder militar, mostra a retirada desse símbolo fálico do contexto da organização sociopolítica soviética, que seria reassumida depois por Stalin. Igualmente, a idéia de "trabalhadores" em luta é uma questão levantada pela polaridade de Peixes com Virgem, signo relacionado às classes subalternas e ao trabalho.

Notem que Peixes é um signo relacionado à idéia de produção de imagens, e nada mais significativo do que a produção de símbolos revolucionários para sintetizar as intenções e ideologias de seus criadores durante a passagem de Urano em Peixes.

Daí surge a pergunta: "se Aquário, por ser oposto polar e adjacente de Leão e Capricórnio (respectivamente), ao receber o trânsito de Urano representa uma ruptura relativa (ou, em casos como a Revolução, "ruptura decisiva") com valores patriarcais, como essa polaridade por adjacência se dá com relação à passagem de Urano em Peixes?"

Peixes e Aquário são signos adjacentes, é verdade, e são, tal qual Aquário e Capricórnio, opostos em diversos sentidos. No entanto, a hipótese continua se mostrando verdadeira se soubermos que Aquário, embora desafiador do poder pátrio, não deixa de ser um signo masculino. E não é tão universalista quanto querem crer os observadores com visões mais parciais. Aquário representa, também, o fechamento em grupos de afinidade por ideologia. O que está fora do contexto ideológico é passível de sanções, como no caso da Revolução Francesa, que levou, em sua onda de guilhotinadas, diversas cabeças da nobreza e de pessoas a ela ligadas. Mesmo o humano signo de Aquário pode ser radical a ponto de tornar-se despótico na defesa de ideais, como seus opostos, Leão e Capricórnio.

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O levante do feminino com Urano em Peixes
Configurações, emblemas e características

O declínio do Patriarcado
Raízes do declínio nos ciclos planetários

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