Raízes do declínio
nos ciclos planetários
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Até o velho símbolo
comunista da foice e do martelo serve para explicar o processo
de declínio do macho retratado em Mulheres Apaixonadas.
Antes de ter sua forma atual, o emblema soviético tinha
também uma espada, símbolo fálico. |
Seria tolice falar sobre o declínio do patriarcado,
algo instituído há talvez uns 5 ou 6 mil anos, como
se isso ocorresse da noite para o dia. Na verdade estamos diante
de um dos mais expressivos focos de um processo que já vem
se fazendo presente há séculos. E foi o rastreamento
dos ciclos de planetas lentos, em especial o de Urano, que tornou
possível descobrir algumas características que podem
ser equiparadas a um retorno do feminino. A passagem desse planeta
pelos eixos Leão-Aquário e Virgem-Peixes parece coincidir
com verdadeiros focos de retorno do feminino ou, mais ainda, de
desestruturação dos sistemas modelares das socidades
patriarcais. Não posso afirmar isso com relação
a tribos indígenas das Américas, nem com relação
às tribos e comunidades de culturas arcaicas do interior
da África, Ásia ou as da Oceania, já que não
tenho meios para observá-las. No entanto, ao menos no que
diz respeito às sociedades ocidentais industrializadas -
e também orientais, talvez -, essa desestruturação
parece estar a todo vapor.
A passagem de Urano em Aquário nos últimos
anos do século XX e seu retorno por retrogradação
a este signo em setembro de 2003 sugere a ruptura com a exclusividade
de poder masculino ao observarmos que Aquário é oposto
polar a Leão e é oposto adjacente a Capricórnio.
Ambos são signos ligados ao poder patriarcal. Mais ainda:
o signo de Câncer, que remete à idéia do poder
pátrio ("pátria" - relativo a "pai"
- "pátrio poder"), oposto polar a Capricórnio,
fica em quincunce natural com Aquário. O quincunce é
um aspecto representativo de retificações, reestruturações,
cortes abruptos e compensações. Ele ocorre de forma
a compensar excessos com algum fator inexistente ou inconsciente.
O quincunce natural de Aquário-Câncer, com a passagem
de Urano, no final do século XX, e de Netuno, atualmente,
em Aquário, marca o desafio de uma reestruturação
nos conceitos de família e de grupos sociais coesos por similaridade
de crenças e costumes. Aliás, o "pátrio
poder" - que, o nome já diz, pertencia ao pai, considerado
"o" chefe da família - só há bem
pouco tempo, durante a passagem de Urano em Aquário, foi
retificado para "poder familiar". A autoridade sobre a
família não está mais predefinida.
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A deusa Atená, uma guerreira que,
ao contrário de Ares, sabe usar a cabeça.
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Numa breve verificação de épocas
da passagem de Urano por Leão, Virgem, Aquário e Peixes,
logo encontramos a Revolução Francesa, em 1789 (Urano
em Leão). Mas afinal de contas, o que teria a ver aquele
importante processo histórico com uma novela? À primeira
vista absolutamente nada, mas, arquetípica e semioticamente
falando, elas têm muito em comum. Basta saber que o símbolo
mais usado para identificar as repúblicas nascentes desde
a Revolução Francesa é uma mulher em
cuja cabeça se encontra um barrete frígio. A mulher,
Marianne, para usar o nome dado pelos franceses (pejorativamente,
pelos contra-revolucionários e carinhosamente pelos revolucionários
), é uma reprodução iconográfica da
deusa grega Atená - ou Minerva, para os romanos. O
barrete frígio era usado pelos ex-escravos gregos como forma
de demonstrarem sua alforria: era um signo de liberdade. A figura
feminina ostentando o barrete é representativa da luta e
reviravolta, de inversão de ordem. E curiosamente, apesar
de os revolucionários da época não poderem
atentar para qual poderia ser o resultado de tudo aquilo num futuro
distante, eles já produziam imagens significativas de algo
que ao menos no nível do inconsciente coletivo já
podia estar sendo processado: o retorno do feminino. É óbvio
que a sociedade da época ainda era ultramachista e, por mais
dois séculos, o feminino viveu à sombra do masculino.
Entretanto, temos ali, na Revolução Francesa, um foco
muito importante desse retorno e do declínio do poder pátrio
Leão-Capricórnio, especialmente se pensarmos na reviravolta
que o processo deu no Antigo Regime absolutista, que concentrava
o poder nas mãos do monarca (no masculino). No Brasil, assim
como em diversos outros países, e mesmo com uma cultura que
suprimiu a figura feminina após a Proclamação
da República, houve profusão de publicações
que se utilizavam de tal ícone, seja para comemorar seja
para achincalhar o novo sistema de governo. E a alusão era
à Revolução Francesa.
Outra imagem interessante que mostra um sutil ocultamento
do poder fálico é o emblema da bandeira comunista.
A versão que conhecemos é a foice cruzada com o martelo.
Contudo, o primeiro símbolo, que não emplacou, contava,
em 1920, ano em que Urano já transitava por Peixes, também
com uma espada na vertical junto às duas outras ferramentas.
A manutenção dos dois ícones é muito
curiosa: a foice é um símbolo saturnino por excelência,
sendo até mesmo muito semelhante ao próprio glifo
do planeta. Entretanto, nota-se no formato da foice a forma lunar,
seja crescente ou minguante. É certo que o símbolo
comunista lembra algo entre Saturno e Marte, pelo vermelho, pela
foice e martelo e pelo fato de aludir à união entre
os trabalhadores do campo e da indústria. No entanto, a supressão
da espada, que representaria o poder militar, mostra a retirada
desse símbolo fálico do contexto da organização
sociopolítica soviética, que seria reassumida depois
por Stalin. Igualmente, a idéia de "trabalhadores"
em luta é uma questão levantada pela polaridade de
Peixes com Virgem, signo relacionado às classes subalternas
e ao trabalho.
Notem que Peixes é um signo relacionado à
idéia de produção de imagens, e nada mais significativo
do que a produção de símbolos revolucionários
para sintetizar as intenções e ideologias de seus
criadores durante a passagem de Urano em Peixes.
Daí surge a pergunta: "se Aquário,
por ser oposto polar e adjacente de Leão e Capricórnio
(respectivamente), ao receber o trânsito de Urano representa
uma ruptura relativa (ou, em casos como a Revolução,
"ruptura decisiva") com valores patriarcais, como essa
polaridade por adjacência se dá com relação
à passagem de Urano em Peixes?"
Peixes e Aquário são signos adjacentes,
é verdade, e são, tal qual Aquário e Capricórnio,
opostos em diversos sentidos. No entanto, a hipótese continua
se mostrando verdadeira se soubermos que Aquário, embora
desafiador do poder pátrio, não deixa de ser um signo
masculino. E não é tão universalista quanto
querem crer os observadores com visões mais parciais. Aquário
representa, também, o fechamento em grupos de afinidade por
ideologia. O que está fora do contexto ideológico
é passível de sanções, como no caso
da Revolução Francesa, que levou, em sua onda de guilhotinadas,
diversas cabeças da nobreza e de pessoas a ela ligadas. Mesmo
o humano signo de Aquário pode ser radical a ponto de tornar-se
despótico na defesa de ideais, como seus opostos, Leão
e Capricórnio.
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