Epa... o que faz aqui Marianne, a imagem-símbolo
da Revolução Francesa, que acabou virando um ícone
oficial? Mergulhe neste artigo que você vai descobrir. E se
você for homem, prepare-se para o susto: você faz parte
de uma raça em extinção.
O declínio do
Patriarcado
O objetivo deste artigo é explicar o processo
de declínio do Patriarcado por intermédio da comparação
entre os mitos patriarcais, os modelos comportamentais e as problemáticas
abordadas na novela.
Manoel Carlos, autor de Mulheres Apaixonadas,
utiliza os dramas sociais da atualidade para retratar o declínio
das relações sociais calcadas em modelos patriarcais.
O retrato do patriarcado está, por exemplo, na figura dos
"garanhões" (uma expressão que alude ao
cavalo - Sagitário) da novela, dos machões, o que
permite uma comparação com Zeus e sua rede de interesses
afetivos, como se esses machões assumissem uma faceta do
Zeus em busca de satisfação de seus apetites sexuais.
Basta lembrar os mitos onde Zeus assume uma posição
autoritária e surra ou ameaça surrar Hera por desobedecê-lo.
Em Mulheres Apaixonadas, Marcos, o personagem que espanca
a mulher (normalmente com uma raquete de tênis), apresenta-se
como a figura do deus masculino em declínio, que precisa
esconder sua maneira de forçar a mulher a proceder tal como
ele deseja que proceda.
O problema de Marcos tanto pode ser uma patologia
do ponto de vista da psicologia individual (doente que precisa de
tratamento) quanto pode ser a desestruturação de um
padrão de comportamento ou crença vigente e intocado
até então. Ao introjetar e representar o modelo de
maneira tão arraigada, Marcos é obrigado a enfrentar
a recusa da sociedade em aprová-lo em suas atitudes, o que
provoca a cisão psicológica: ele fragmenta o espelho.
Marcos não aceita a inviabilidade de "colocar a mulher
em seu devido lugar", fazendo dela um ser inferior, passível
de coerção.
Se outrora espancar a esposa seria tido como normal
e de direito do marido, atualmente é preciso que essa postura
seja escondida sob a máscara de cortesia, camaradagem e civilidade.
Quando essa máscara é removida ele entra em crise
e quebra o espelho onde vê sua imagem fragilizada. A ordem
social que muitos homens ainda acreditam estar incólume está
tão fragmentada quanto o espelho.
A novela sinaliza a existência de ordem social
em fase de reconstrução na figura de mulheres independentes
(Virgem-Libra), a grande maioria com idades que, ao menos na caracterização
da novela, variam entre 30 e 45 anos (grande parte delas da geração
Urano-Plutão em Virgem, de 1962 a 1969), com raras exceções
na figura de Lorena, que representa uma mulher de 50 ou mais. Algumas
dessas mulheres demonstram seu interesse por homens mais jovens.
Essas mulheres também são vítimas
da fase de transição que a sociedade vem passando
ao verem-se divididas entre uma postura submissa e de menor expressão
e seu total reverso. São várias as formas pelas quais
o processo vem sendo demonstrado. Uma delas, a extrema, através
de Heloísa, com seu declarado sentimento de posse incondicional,
manifestando o revés da visão masculina de outrora,
que esboçava a mulher como objeto. Com Heloísa, seu
homem é "seu objeto", que ela prefere que morra
a dividir com outra, ainda que em sua imaginação.
Uma outra forma são os dilemas éticos, morais e sociais
enfrentados pelo alcoolismo de Santana, uma mulher com vícios
que outrora seriam masculinos. Há ainda Edwiges, oscilando
entre a pressão da postura "modernosa" das meninas
de hoje, que perdem a virgindade numa idade que antes seria considerada
absurda, e seu desejo de viver um amor bonito com um homem sensível
e compreensivo, diferente da maioria que busca auto-afirmação.
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