E quando chegar a noite,
cada estrela parecerá uma lágrima
Ao expor o caos, Renato Russo acabou organizando
com sua poesia um período de vida de toda uma geração.
Principalmente a geração com Netuno em Sagitário,
que tensionou em ângulo reto todo o seu Peixes de Casa 1.
Do ponto de vista do fã, reconforta ver alguém descrever
com tanta beleza as contradições do coração.
Comparando o mapa de Russo com o do Brasil, vê-se
Netuno de Russo sobre Marte do Grito do Ipiranga. O Marte do Brasil
está em Escorpião na Casa 9 - a das autoridades religiosas.
Outra conjunção ocorre entre Sol-Lua de Russo e Plutão
do Brasil. A identidade de um tocando o Eterno, e vice-versa. Seu
Júpiter encontra-se sobre Netuno-Urano do Brasil. Netuno
ativado novamente. E mais Urano conjunto a Vênus do Brasil,
sem falar do eixo Peixes-Virgem, ativado em oposição
e conjunção. De certa forma, há uma predominância
de Marte-Netuno/Áries-Peixes. Essa configuração
é comum aos que fazem cruzada religiosa.
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Carta interna e estrutura de casas: Independência
do Brasil - 7.9.1822, 16h30 LMT - São Paulo, SP - Planetas
no círculo externo: carta natal de Renato Russo. |
Penso que o seu despedaçamento em praça
pública, mais parecendo um inevitável auto-sacrifício,
e a promoção de determinados aspectos do cristianismo,
acabou educando toda uma geração que viu em Russo
um irmão mais velho em quem se podia confiar. É a
geração dos novos promotores públicos, por
exemplo. Não são eles que estão se propondo,
até com risco da própria vida, a eliminar a corrupção
e a construir uma nova ética social? Por linhas tortas, Renato
acabou também reatualizando a vocação do Brasil
como a maior nação católica do mundo.
Talvez isso só fosse possível para
quem tem como símbolo sabeu, para o grau do nodo sul em Peixes:
Uma organização religiosa é bem-sucedida
na tarefa de superar a influência corruptora de práticas
pervertidas e ideais materializados.
Nota:
Símbolos sabeus é o nome que Marc Edmund Jones deu
às 360 metáforas, uma para cada grau do zodíaco,
colhidas mediunicamente. No Brasil, os símbolos sabeus estão
organizados em livro, Uma Mandala Astrológica, de
Dane Rudhyar, Editora Pensamento.
Renato Russo morreu em 1996 por complicações
de saúde em decorrência do HIV. Disse Maria do Carmo,
sua mãe, logo após a cremação do corpo
no Cemitério do Caju, no Rio: "Nos últimos tempos
ele não cansava de repetir: 'Mãe, eu não sou
daqui'."
Renato Russo não era mesmo daqui. Era um poeta
romântico do século retrasado. Daqueles que vão
embora cedo e deixam saudade. Sua sensibilidade fez dele um dos
maiores poetas que este país já teve. Capaz de escrever
coisas como: o sol é um só mas quem sabe são
duas manhãs (L'Avventura). Ou: com a saudade teci
uma prece (Soul Parsifal).
A saudade e a falta que Renato Russo faz à
cultura brasileira, perguntam, no coração do Brasil,
o porquê de seu sofrimento inesgotável. Por que alguém
se fere apesar de não querer? Estou convicto que Renato sempre
tentou responder esta questão sem nunca encontrar ou achar
que havia alguma resposta.
Renato Russo é o mundo. Isso porque falava
das coisas do dia-a-dia, do amor, de paixões e saudades,
da perfeição e imperfeição humana, da
raiva frente à hipocrisia, sobre dias de sol. Tenho certeza
que muito dos fãs da Legião fariam qualquer negócio
para que Renato estivesse ainda aqui, preparando seu chá
de erva-cidreira, apesar de uma certa sensação de
que ninguém e nada poderia mudar o seu destino. Não
é bom sentir que não se pode fazer nada por quem se
é íntimo. Mesmo que à distância.
Principalmente sabendo que ninguém se
atreveria ou poderia lhe dizer o que sentir.
Conheça outros artigos de
João Acuio.
Leia Renato
Russo e a Legião Urbana no Contexto Cultural Brasileiro,
um estudo antropológico de Paulo Henrique Dantas publicado
em Astro-Síntese.
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