A minha religião
é Renato Russo[*]
[*] Declaração
de Herbert Vianna, líder da banda Paralamas do Sucesso, ao
Jornal Nacional em 11 de outubro de 1996, dia da morte de Renato
Russo.
Gian, baixista da Legião, durante a turnê
do disco O Descobrimento do Brasil, disse nunca ter entendido
muito bem a idolatria que cercava a banda. Arthur Dapieve, no livro
Renato Russo - O Trovador Solitário, relata com detalhes
a conversão de Gian:
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(Gian) não era, entretanto, um grande fã
da banda. Achava meio engraçado, inclusive, a idolatria que
a cercava. Coisa do tipo fãs que dormiam na véspera
na porta dos estádios para poder pegar guimbas ou copos d'água
atirados por Renato ou que, se visse Dado (guitarrista) com um lenço
amarrado no pulso, no dia seguinte também estavam com um
lenço amarrado no pulso. "Achava que a Legião
era pára-raio de maluco", confessaria. Contudo, conforme
os shows da turnê O Descobrimento do Brasil iam avançando,
Gian foi entendendo a dimensão que aquilo tinha tomado. Em
junho (1994), no Gigantinho, em Porto Alegre, teve medo. Os 15 mil
ingressos haviam sido vendidos. E havia sido descoberto um derrame
de mais de sete mil ingressos, falsos. O ginásio, portanto,
estava hiperlotado, vinte e tantas mil pessoas. "... vai ter
morte e espero que não seja nenhum de nós", rezou
o baixista. Começou o show e a banda lá em cima, tensa.
Então, Gian começou a se sentir estranho, como se
seu braço estivesse anestesiado. E, quando Renato entoou
o refrão de "Índios" (Eu quis
o perigo e até sangrei sozinho/ Entenda - assim pude trazer
você de volta pra mim), o cético começou
a chorar, chorar, chorar, involuntária e incontrolavelmente.
"Eu tive a impressão de que ele estava cantando para
ele mesmo", diria Gian. "A sensação era
de que aquilo ia durar para sempre, era muito forte, era muito revelador
sim. Ali, no palco, eu descobri coisas sobre o sentido da vida.
Ali eu comecei a entender os fãs. [Arthur
Dapieve, O Trovador Solitário, p. 147, Editora Relume-Dumará,
2000, Rio de Janeiro, RJ.]
Se eu não tivesse visto, também não
saberia a que ponto chegou o fascínio da banda. Assisti vários
shows da Legião, um deles inesquecível. Estava no
Ibirapuera, São Paulo, no ano da turnê de As Quatro
Estações, quando depois da habitual uma hora e
meia de atraso, a Legião entrou no palco com o ginásio
lotado. Antes de terminar a primeira canção, alguém
do público jogou uma garrafa na banda. A garrafa acertou
Bonfá, de raspão. A música terminou e Dado
chega em Russo entregando-lhe alguns cacos. Furioso, ele exige da
produção e dos patrocinadores que acendam as luzes
imediatamente. O público, chocado, presenciou algo que nunca
seria esquecido.
Após uma meia-hora, acenderam-se as luzes.
E assim, com os restos da garrafa nas mãos, Renato perguntou:
"E se essa garrafa cegasse Bonfá, o que a gente faria?"
e logo em seguida, saiu do palco.
As luzes permaneceram por um bom tempo acesas e nada
da Legião. Apagaram as luzes e o público com isqueiros
acesos fez a sua parte. Por meia hora milhares de pessoas, todas
juntas, gritaram: "Desculpe Legião, por causa dos c......
desculpe Legião, por causa dos c......" A banda desculpou
e voltou ao palco. E Renato Russo fez um show à parte. Improvisou
letras, dançou esquizofrenicamente, lutou com o seu próprio
corpo, fazendo com que todos ali entrassem em êxtase ao assistir
seu explícito desnudamento a cada canção. E
no fim do show, declarou emocionado: "O que aconteceu aqui
foi inédito e histórico. Espero que vocês lembrem
disso com carinho. Que Deus proteja todos vocês!" Ezequiel
Neves tinha razão quando disse após um show da Legião:
"Isso é tão litúrgico! Parece uma igreja!"
A questão é saber astrologicamente
com que deus Renato Russo se assemelha.
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