Calculei seu ascendente
num recibo de aluguel
Em 27 de março de 1960, às 04:00, no
Rio de Janeiro, nasce Renato Manfredini Jr.
[Fonte: O Trovador Solitário, Arthur Dapieve, Editora
Relume-Dumará.]
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Renato Russo - 27.03.60, 4h (-03:00) Rio
de Janeiro, RJ - 22s54, 43w12. |
Sol e Lua no impulsivo signo de Áries, o signo
briguento com tudo e todos por sua independência.
Áries é mais ou menos assim:
Tire suas mãos de mim/ eu não pertenço
a você/ não é me dominando assim/ que você
vai me entender/ Eu posso estar sozinho/ Mas sei muito bem onde
estou (Será)
Ou assim:
Meu orgulho me deixou cansado/ meu egoísmo
me deixou cansado/ Minha vaidade me deixou cansado/ Não falo
pelos outros/ Só falo por mim/ Ninguém vai me dizer
o que sentir/.../ E eu vou cantar uma canção pra mim
(Soul Parsifal)
Eu sou ariano, eu aprendo
dando cabeçadas.
Áries sugere franqueza, ação
direta e o lema punk "do it yourself". Sex Pistols fez
muito a cabeça de Renato, a ponto de ele formar, aos 18 anos,
provavelmente a primeira banda punk do Brasil, a lendária
Aborto Elétrico.
Renato não faz aquele tipo ariano musculoso,
tatuado, amante de esportes e sempre pronto para a caça amorosa.
Ao contrário, seu corpo sempre esteve debilitado, considerava
seu sex appeal igual ao de uma velhinha de bobs e peignoir
e, provavelmente, não deveria saber o que é um impedimento.
Mesmo assim não deixava de expressar sua vital agressividade,
por exemplo, quando cantava: sua voz tinha uma força e firmeza
natural.
Também mostrava os dentes quando estava na
frente de um público incontrolável.
Em 1988, com o Estádio Mané Garrincha
(Brasília) superlotado, o Brasil viu Renato Russo desafiar
e ironizar todo um público que insistia em se expressar através
de socos e pontapés. Sua reação foi transmitida
no horário nobre de domingo. Centenas de pessoas, neste show,
se feriram e Renato, ao ser atacado por um fã, defendeu-se
com microfonadas.
Há uma fita pirata que mostra Russo cantando
(provavelmente para uma platéia de universitários
de Brasília), um pouco antes de formar a Legião, em
que, ao final, diz provocativo: - "Vai pessoal, pode vaiar!"
Áries é desafiador, fálico,
direto, música ligeira com três acordes. Mordaz, capaz
de dizer coisas assim:
Não confunda ética com éter (Natália);
é tão emocionante um acidente de verdade/ estão
todos satisfeitos/ com o sucesso do desastre/ Vai passar na televisão
(Metrópole).
Pura ironia.
Essa agressividade não é à toa.
Áries trata da conquista da própria identidade, do
próprio nome e quase sempre faz isso lutando contra qualquer
espécie de restrição, venha dos pais, da sociedade,
dos relacionamentos ou de si mesmo. É aí que reside
o pioneirismo ariano: transgredir a antiga lei propondo uma nova
consciência. Semente nova em solo velho. A quadratura de Júpiter
em Capricórnio ao Sol-Lua em Áries ressalta esse drama.
Júpiter em queda sugere uma moralidade e um
sistema de crença baseados num sentido de pesada responsabilidade
beirando a culpa permanente, assim como um severo sentido de compromisso
social. Parece cocaína, mas é só tristeza.
À medida que crescia a adoração
pela banda, Renato preocupava-se com a repercussão de suas
palavras e postura. Uma prova disso, é o disco As Quatro
Estações, praticamente um disco religioso, mesmo
assim há ali um perfume que faz "que a gente se sinta
como no entardecer". Desesperança.
Júpiter somado a Saturno, domiciliado em Capricórnio,
faz pensar na ética que valoriza a seriedade, a cautela,
a solidão e a disciplina, em lugar da ética fundada
na franqueza, na criatividade espontânea, no risco e na ousadia,
representados pelo selvagem signo de Áries. Isto que é
uma relação de quadratura: princípios em tensão
que forçam a consciência produzir luz. Equilíbrio.
Ou mais tensão. Poesia.
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