Fernando Fernandes e Carlos Hollanda

Jade, a mulher jogada no vento

Jogar no vento? Nada mais adequado para um personagem que reúne tantos valores de signos de Ar somados à intensidade passional e às fantasias de imaginação dos signos de Água. A impaciente Jade vê como uma prisão aquilo que, para sua bem adaptada prima Latiffa, parece um paraíso. O pano de fundo cultural é o mesmo, mas a estrutura psicológica que reage a este contexto é bem diferenciada. A base da cultura islâmica é a religião e a moral, ambos assuntos associáveis ao signo de Sagitário. Jade individualiza tensões tão eternas quanto o zodíaco, na impossibilidade de conciliar sem conflito os signos que mantêm entre si relações de quadratura.

Falta a Jade um mínimo de paciência e de serenidade. Faltam a ela as qualidades saturninas necessárias para vivenciar na prática a ordem jupiteriana do Islã. Jade seria uma mulher mais completa e mais centrada se incorporasse as qualidades sagitarianas de seu tio Ali - o conselheiro, o sábio - e o senso prático de seu marido Said, um tipo terráqueo. Se Sagitário é a religião organizada e os valores morais que dão parâmetros para a vida social, Jade é o aspecto geminiano de superficialidade e ligeireza no trato das questões religiosas. Sob este aspecto, e na relação com o tio Ali, Jade incorpora Gêmeos. Contudo, não é este o signo que melhor a descreve.

A situação da mulher varia muito de um país muçulmano para outro. A burka (foto) imposta no Afeganistão pelos fundamentalistas raramente é utilizada nos países africanos, como o Marrocos.

Jade é uma rebelde. Insurge-se contra a ordem e contra a tradição, sempre que cerceadoras do livre arbítrio. Transita pela novela de crise em crise, de ruptura em ruptura, sempre com uma intensidade que ao mesmo tempo fascina e assusta os homens. Sua rebeldia quase compulsiva é Aquário e é Escorpião. Urano e Plutão enfáticos têm muito a ver com a disposição da personagem para correr riscos, para fazer o que "lhe dá na telha", para colocar em polvorosa todos os que a cercam. É uma figura apimentada e desestabilizadora, movida por pulsões que o bom senso não pode controlar. Sabota a família, sabota os costumes e, quando tem a chance de fazer escolhas que lhe tragam paz e harmonia, sabota as próprias expectativas de felicidade. Apesar de ardilosa - no que revela traços de Escorpião e de Gêmeos - não tem flexibilidade suficiente para fazer concessões, para contornar dificuldades. Neste sentido, predomina nela a teimosia dos signos fixos. Aliás, a energia predominante na novela como um todo é a das quadraturas e oposições entre os signos fixos: conflitos insolúveis, que se arrastam por décadas, mostrando que, no fundo, os personagens estão mais preocupados em não arredar pé de suas convicções do que em efetivamente resolver alguma coisa.

Se Jade é um tipo Aquário-Escorpião, os dois homens de sua vida devem complementá-la de alguma forma, expressando arquétipos dentro da mesma quadruplicidade. Said é a ponta taurina deste quadrado: trabalhador, bom administrador, bem sucedido, com uma disposição construtiva em relação ao casamento e à família. Na medida em que suas intenções são frustradas, aferra-se teimosamente ao casamento, torna-se mais e mais possessivo. Said guarda ressentimentos concentrados. Quando frustrado, refugia-se no silêncio. Quando posto diante de uma situação crítica, faz o que todo taurino faz: protela decisões e rumina lentamente a situação. Se bem que não seja bobo, sua mente não é tão rápida quanto a de Jade, o que o leva a proteger-se para não ser enganado. No melhor espírito "ver para crer" de Touro, que precisa de provas concretas para certificar-se de algo, submete Jade a testes, dando-lhe a oportunidade de ter contato com Lucas e observando-a. Said é um tipo taurino frustrado e infeliz. Por isso mesmo, assoma nele com freqüência a sombra menos desenvolvida de Escorpião, signo oposto.

Os filhos do nevoeiro e os filhos do trovão

DEBATE: Introdução Signos dos personagens Albieri, Jade Zoraide, Yvete, Leônidas Maysa, Mel, Dalva e Dona Jura Said, Latiffa, Mohamed e Ali Nazira, Alicinha, Lucas e Lobato OUTRA VISÃO: Os dois lados de Saturno Jade, mulher jogada no vento Filhos do nevoeiro e do trovão Albieri, Parsifal e o Santo Graal