A maioria dos participantes do debate sobre O
Clone fez dos personagens uma leitura comportamental, ou seja,
procurou correspondências astrológicas com o comportamento
de cada um. Aqui propomos outra estratégia, que é
o de uma leitura funcional: entender cada personagem com
base no papel específico que desempenha na trama. E eis que
o Rei Artur e o Mago Merlin entram na história...
Outra forma de entender não apenas os personagens
de O Clone como de qualquer outra obra de ficção
é considerar que o zodíaco é um esquema universal
que tende a reproduzir-se em qualquer circunstância em que
encontremos um grupo - de indivíduos, de seres biológicos,
de objetos etc. - em que cada componente apresente qualidades distintas
de seus pares. Exemplificando: qualquer conjunto de seres ou de
objetos sempre tem um elemento no qual podemos identificar características
de iniciativa, agressividade, calor e energia. Ao encontrá-lo,
podemos atribuir-lhe, portanto, uma regência ariana. Outro
ser ou objeto apresentará características de solidez,
de estabilidade e de acumulação que permitirão
associá-lo a Touro. Assim, com base em analogias, localizamos
todos os doze signos.
Como podemos identificar o indivíduo que desempenha
um papel mais ariano dentro de um grupo? É simples: quem
toma as iniciativas? Quem é o guerreiro que luta em campo
aberto, sem utilizar subterfúgios? Quem é franco,
assertivo, espontâneo, alegre, ou tão pouco sofisticado
a ponto de parecer rude ou infantil? Quem está mais próximo
de expressar valores arianos, como o fogo, a cor vermelha, a natureza
cortante e metálica e assim por diante? No caso de O Clone,
rapidamente chegamos a um personagem que corporifica a maioria dessas
qualidades: trata-se de Yvete, a desinibida e objetiva mulher encarnada
por Vera Fischer. Bem observada, Yvete apresenta também uma
série de traços taurinos (muitos), leoninos e sagitarianos,
mas, na lógica da trama, a função ariana
é dela.
A novela estreou num momento
em que os muçulmanos estavam sendo vistos com extrema
desconfiança pelo Ocidente. |
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Áries forma com Libra um eixo de opostos,
uma polaridade, enfim. Provavelmente, o personagem mais libriano
da trama será alguém que terá com Yvete uma
relação de complementaridade (um parceiro) ou de rivalidade
(um adversário), ou ainda alguém que, mesmo não
estando em relação direta com Yvete, estabeleça
com ela um paralelo, um contraste, de forma que, pelas diferenças
mútuas, tanto o comportamento ariano quanto o libriano fiquem
bem visíveis.
Quem melhor se enquadra nesta definição
é Alicinha, uma vilã de carteirinha, feita sob medida
para a novela das oito. Alicinha é sofisticada, envolvente,
elegante, gentil (características de Vênus), e age
de forma radicalmente oposta à de Yvete: enquanto esta arromba
portas e irrompe na sala de um ou de outro como um furacão,
Alicinha planeja os próximos passos, pesa cuidadosamente
o efeito de suas palavras, está tão preocupada em
agradar - e sempre com segundas intenções - que já
não tem mais qualquer resquício de espontaneidade.
Alicinha, dentro da trama, exerce uma função libriana,
se bem que seja Libra no que tem de pior, somado ao que há
de pior também em outro signo: Capricórnio.
Aí surge um outro recurso muito comum em novelas
e em qualquer obra de ficção: se Alicinha é
uma combinação perversa de características
Libra-Capricórnio, em algum lugar deve haver um personagem
que simbolize a manifestação saudável
desta mesma combinação. Trata-se de Latiffa, a prima
de Jade.
Os dois lados de Saturno
Alicinha e Latiffa, dois personagens que sequer têm
contato entre si durante a novela, corporificam a mesma natureza
sedutora e gregária de Libra/Vênus a serviço
do desejo de ascensão social e de segurança de Capricórnio/Saturno.
Contudo, enquanto Latiffa é o que tal combinação
tem de melhor - paciência, fidelidade, dedicação
- Alicinha é a expressão mal resolvida de um contato
tenso Vênus-Saturno: o relacionamento utilitário e
a supressão da entrega afetiva em nome das ambições
pessoais.
Por outro lado, Latiffa e Alicinha também
estabelecem relações contrastantes com outros personagens.
Alicinha, como bem assinalou um dos participantes do fórum
de discussão, é o pólo libriano de relacionamentos
com homens primários e nada sofisticados, como Miro e Escobar,
ambos bons representantes do tipo ariano. Latiffa, por outro lado,
com sua ênfase saturnina (Saturno rege Capricórnio
e se exalta em Libra), faz um bom contraponto com a inquieta Jade,
um tipo com evidentes toques desarmônicos de Urano. O que
Latiffa constrói e valoriza é exatamente o que Jade
"joga no vento".
Jade, a mulher jogada
no vento
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DEBATE:
Introdução
Signos dos personagens
Albieri, Jade
Zoraide, Yvete, Leônidas
Maysa, Mel, Dalva e Dona Jura
Said, Latiffa, Mohamed e Ali
Nazira, Alicinha, Lucas e Lobato
OUTRA VISÃO:
Os dois lados de Saturno
Jade, mulher jogada no vento
Filhos do nevoeiro e do trovão
Albieri, Parsifal e o Santo Graal
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