Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 85 :: Julho/2005 :: - |
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ASTROLOGIA ESPORTIVASão Paulo de Júpiter e de Saturno
Os problemas no mapa de 1930O mapa de 27 de janeiro de 1930 mostra um belo trígono Sol-Júpiter entre os signos de Aquário e Gêmeos. Contudo, o planeta mais enfatizado é Saturno, por ser o dispositor final da carta. O aspecto mais forte deste Saturno é uma quadratura com Urano em Áries. Tal quadratura costuma indicar um conflito entre a necessidade de segurança, que leva a atitudes conservadoras (Saturno), e o impulso para o risco e para a independência (Urano). A conseqüência é uma dificuldade para manter um ritmo estável de vida, com alternância entre momentos de contestação e de acomodação ao que há de mais retrógrado. É um aspecto que mostra problemas com a hierarquia e com a autoridade, mas que leva às vezes a uma rebeldia estéril com posterior retratação e anulação do impulso reformista. Esta parece ser uma descrição adequada dos problemas que levaram à extinção do São Paulo da Floresta: surgido em decorrência de uma revolta contra a conservadora decisão da direção do Paulistano, que não admitia o profissionalismo no futebol, bastaram cinco anos para que decisões precipitadas da nova diretoria levassem a uma situação de risco e obrigassem o clube a aceitar a completa descaracterização ao entregar-se nas mãos do Tietê.
Em 14 de maio de 1935, data da extinção do São Paulo da Floresta, Marte e Lua em Libra formavam oposição a Urano e quadratura a Saturno do mapa de fundação. Esta configuração, chamada de quadratura T, curiosamente está prefigurada no próprio escudo do clube, que, além de conter dois triângulos retângulos simétricos (a mesma forma geométrica da quadratura T), apresenta ainda um grande T, claramente visível.
A compra do Trocadero, que foi o pivô da crise, parece simbolizar um momento jupiteriano na vida do São Paulo. Júpiter, quando mal posicionado no mapa, responde pelo exagero, pela suntuosidade, pelo gosto por demonstrações ostensivas de riqueza e pelo desperdício. No mapa do São Paulo da Floresta, Júpiter aparece em Gêmeos, seu signo de exílio, em trígono com o Sol (era um clube originário dos melhores estratos sociais) mas também em quadratura com Netuno (um aspecto que pode expressar a atração pela aparência sem substância). Júpiter e Netuno regem gases, e foi exatamente isso que o São Paulo conseguiu ao adquirir a mansão do Trocadero: uma grande bolha gasosa que evaporou ao primeiro contato com a realidade. Já o mapa da refundação, em dezembro de 1935, corresponde a uma repolarização das funções jupiteriana e saturnina do São Paulo Futebol Clube. Júpiter agora está em Sagitário, seu signo de domicílio, e exercendo a função de dispositor final, em substituição ao Saturno de 1930; e, não menos importante, Saturno agora se apresenta não mais em quadratura, mas sim em sextil com Urano, indicando, finalmente, a possibilidade de conciliar segurança e ousadia. Por outro lado, os dois protagonistas das duas fundações - Saturno e Júpiter - encontram-se agora em quadratura, sinalizando uma tensão que até hoje não se resolveu, pois o São Paulo, enquanto estrutura jurídico-administrativa, ainda não decidiu se integra totalmente ou se rejeita os primeiros cinco anos de sua história. O maior link entre os dois mapas é exatamente a oposição entre os dois posicionamentos de Júpiter, em 1930 e 1935. Esta transição de Júpiter de uma situação de exílio para outra, de domicílio e domínio sobre toda a carta, revela a característica mais forte deste clube que, oriundo da burguesia paulistana, precisou de um verdadeiro processo de iniciação (uma morte seguida de um renascimento) para assumir sua identidade própria. Um clube nascido para crescerA história mostra o São Paulo como um clube essencialmente jupiteriano. Basta lembrar que, a partir de 1937, por causa de um artigo publicado na Gazeta Esportiva, o São Paulo começou a ser chamado de "clube da fé". Mas a fase de crescimento só começaria realmente após uma nova fusão (mais uma!), que desta vez só trouxe vantagens ao tricolor. Para entendê-la é preciso voltar ao início de 1935: enquanto o São Paulo da Floresta se debatia na crise financeira decorrente da compra da mansão Trocadero, um grupo de jogadores e diretores fundava um novo clube chamado Estudantes, que seguia o modelo do Estudiantes de La Plata, da Argentina. Como o Estudantes não tinha estádio, acabou por fundir-se com o C. A Paulista, clube que utilizava um campo no bairro da Moóca. Com a fusão surgiu o Estudante Paulista - que quase desapareceu por causa de uma malfadada excursão ao Chile, em que um empresário desonesto fugiu como todo o dinheiro. Em 1938, o Estudante Paulista tinha estádio e bons jogadores, mas pouca torcida; o São Paulo da época já era popular, mas com um time fraco e sem estádio fixo. Não é preciso dizer que os dois clubes acabaram optando pela fusão. Como o Estudante estava muito mais bem colocado na tabela do campeonato daquele ano, exigiu que seu nome prevalecesse na nova agremiação, mas a maior popularidade do São Paulo pesou mais decisivamente para a manutenção do nome e dos símbolos do clube tricolor. Assim, esta fusão, apesar de importante, pode ser considerada como um incidente na história de um clube já existente desde... desde quando mesmo?
Nesta época, e na maior parte do tempo durante os vinte anos subseqüentes, o grande técnico do São Paulo foi um homem gorducho e bonachão chamado Vicente Ítalo Feola. O mesmo Feola que dirigiu a seleção brasileira de 1958 e conquistou na Suécia a primeira Copa do Mundo para o Brasil. Gorducho e bonachão? Eis aí, mais uma vez, o arquétipo de Júpiter. Durante os anos 40 o São Paulo ganhou diversos títulos estaduais e viu sua torcida crescer. Já os anos 50 assistiram ao esforço do clube para construir seu próprio estádio. Iniciado em 1952, o Morumbi, maior estádio particular de futebol do mundo, foi parcialmente inaugurado em 2 de outubro 1960 e totalmente concluído dez anos depois. Chegou a abrigar, num evento evangélico de 1985, um público de mais de 162 mil pessoas. Gigantismo é, sabidamente, atributo jupiteriano. O mapa do dia da inauguração mostra apenas dois planetas em domicílio - Júpiter e Saturno outra vez - sendo que Júpiter dispõe direta ou indiretamente de todos os demais planetas, exceto Saturno.
Toda a saga sampaulina da construção do maior estádio particular do mundo, que exigiu anos de investimento e de negociação com bancos e fornecedores, tematiza de forma ampla o embate de forças da quadratura Júpiter-Saturno de 1935. É o próprio retrato do clube que se sacrifica e posterga algumas alegrias (Saturno) para crescer (Júpiter). Depois de treze anos sem ganhar um título, o São Paulo iniciou, em 1970, sua melhor fase. Em 1977 foi campeão brasileiro primeira vez, feito repetido em 1986. Bem administrado, com um supertime onde despontava a figura de Raí e sob a liderança do carismático técnico Telê Santana, o tricolor chegou ao auge no início dos anos 90, quando foi sucessivamente campeão brasileiro, bicampeão da Taça Libertadores de América e bicampeão mundial de clubes, derrotando nas finais os poderosos Barcelona, em 1992, e Milan, em 1993. No Brasil, apenas o Santos de Pelé conseguiu um feito semelhante.
Voltando ao mapa da fundaçãoMas afinal, qual mapa considerar? A análise da trajetória do clube leva-nos a descartar outras hipóteses e a ficarmos entre os dois mapas que efetivamente marcam a vida do clube: o de 27 de janeiro de 1930 e o de 16 de dezembro de 1935. O primeiro define - digamos assim - a alma do São Paulo, enquanto o segundo determina uma estrutura administrativa capaz de dar sustentação à mística tricolor. Não temos o horário da assembléia de 1930, mas, considerando o horário em que normalmente as assembléias eram iniciadas naquela época, podemos imaginar um horário entre 19h e 20h, o que deixará Leão no Ascendente. Quanto ao mapa de 1935, o Ascendente é outra vez Leão, o que destaca um forte fator solar na imagem do clube. Não é por acaso que o técnico que mais se identificou com a mística do São Paulo e que levou mais longe este clube nascido para ser grande foi o também leonino Telê Santana. E esta história de sucesso internacional iniciada por Telê ainda tem muitos capítulos para ser escrita. Veja também o mapa
do Atlético Paranaense, adversário do São
Paulo na final da Libertadores. Outros textos de Fernando Fernandes. |
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