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Um olhar brasileiro em Astrologia
Edição 12 :: Junho/1999 :: -
[Arquivos de Constelar - Republicado: fevereiro/2007]

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Valores pessoais e a questão do apego

Poderíamos chamar estes códigos de "Critério de Realidade", que se compõe, sustenta-se e cristaliza-se através de nossos Valores Pessoais, a casa II.

A "questão" (casa, signo, planetas, regente etc) dos valores pessoais passa a ser, a partir do mecanismo de recompensa e punição - e a conseqüente insegurança que este mecanismo produz - outra base da sustentação do Sonho do Planeta em nós, e o terreno fértil onde é gerado nosso Sonho Pessoal, infelizmente adubado pela insegurança e separatividade.

Valdenir Benedetti produziu este texto em 1999 e divulgou-o em partes, através de uma lista de discussão na Internet, e, em versão completa, nas edições de Constelar.

Junto a esta imposição de valores, está um mecanismo que em princípio é sutil, mas vai-se tornando cada vez mais presente em nossas vidas, cada vez mais atuante, e poderíamos dizer que é a palavra-chave, a senha, a base da manutenção de todo o Sonho: o apego.

Nossos critérios de valor passam, em função dos condicionamentos, a ser mantidos com a insistência e determinação de quem precisa deles para sobreviver. Possuir algo, seja uma idéia, um conceito, um bem qualquer, é sempre uma questão de vida e morte no plano da grande ilusão coletiva. Com o tempo, vamo-nos tornando escravos deste apego, de tal forma que a experiência de possuir passa a ser mais importante que o próprio objeto possuído.

O conseqüente medo de perder o objeto possuído nos mantém escravizados a um sistema de valores que nos obriga a uma série de condutas e comportamentos coerentes com o Sonho coletivo.

A identificação com o objeto possuído, e o apego decorrente, dá-nos a ilusão de segurança, de que temos alguma inteireza, de que estamos materializados, de que temos consistência, de que somos "reais", de que temos alguma perenidade, pois os objetos maiores de nosso apego tendem a durar mais que nossas frágeis vidas.

Há também a ilusão de poder e controle que a posse nos oferece, e isto confere à mente condicionada a idéia de que somos autores de nosso destino, pois podemos possuir mais ou menos coisas, podemos dispor das "coisas" como não podemos dispor de nossa própria vida, e isto é bastante confortável.

Cada vez que analisamos a casa II de um horóscopo em termos do que a pessoa pode ter ou não ter, em termos de sua possibilidade financeira, de seu potencial de materializar e obter mais ou menos segurança, estamos endossando o Sonho do Planeta e a escravidão do indivíduo a ele, estamos reforçando os mecanismos de apego ou de insegurança da pessoa, exatamente por vivermos e estarmos sendo coerentes com o mesmo sonho, exatamente por nossa Astrologia ser criada e estabelecida dentro da grande ilusão.

Neste momento, deixamos de ser agentes de transformação, de libertação, auxiliares do despertar do próximo, por estarmos também comprometidos com o grande Sonho do que é certo e errado, por estarmos também sonhando. E para o grande Sonho do Planeta, o certo é possuir o maior número de coisas possível, a maior quantidade de pessoas, objetos, dinheiro que nossa vida puder conter, pois isto nos dará segurança e nos fará pessoas aceitáveis e normais dentro das regras da grande ilusão. Mesmo que, para conseguir as coisas e aumentar meu patrimônio, alguém tenha que sair perdendo.

O Sonho do Planeta reconhece como normal que alguém sempre perca para alguém ganhar. Isto mantém e alimenta a separatividade, a idéia de que somos separados uns dos outros.

Todas as nossas tendências normais são perdidas no processo da domesticação. E quando somos grandes o suficiente para que nossa mente compreenda, aprendemos a palavra 'não'. Os adultos dizem "Não faça isto, não faça aquilo". Nós nos rebelamos e dizemos "Não!". Rebelamo-nos porque estamos defendendo nossa liberdade. Queremos ser nós mesmos, mas somos pouco, e os adultos são grandes e fortes. Depois de um certo tempo, ficamos com medo porque sabemos que todas as vezes em que fizermos algo errado, seremos castigados.

O que este "Não" provoca em nós é a grande desconexão, a ruptura com o Universo, uma separação dolorosa com o grande organismo cósmico e a conseqüente e permanente sensação de solidão, solidão cósmica!

Esta separação a que somos induzidos para que, isolados e fracos, nada possamos fazer, transforma-nos em uma célula sem organismo, um órgão sem corpo, e parece que a consciência da separação - esta sim, permitida pelo Sonho do Planeta - deixa-nos perdidos e perplexos, sempre em busca de um outro para compor nossa totalidade perdida.

A grande função da Astrologia poderia ser o re-conectar com o universo, com o "em cima", com o "corpo de Deus", pois é uma linguagem que se baseia justamente nas correlações universais. Mas para que isto acontecesse, seria necessário que a Astrologia se desvinculasse do Sonho do Planeta e parasse de alimentá-lo, parasse de concordar e endossar a separatividade humana, não funcionasse mais como uma explicação reducionista para nossa pequenez e isolamento.

A função de re-conectar da Astrologia é análoga ao que entendemos na maioria das religiões como o religare, re-estabelecer o contato com o Divino.

A função de re-conectar da Astrologia, análoga ao que entendemos na maioria das religiões como o religare, re-estabelecer o contato com o Divino que há em nós, poderia ser muito simples e natural, se a Astrologia que conhecemos não estivesse tão comprometida com o Sonho do Planeta.

A simples compreensão dos ritmos e ciclos naturais, sem o comprometimento de valores morais e culturais, já nos poderia colocar em sintonia com esta totalidade, já poderia ser suficiente para permitir um resgate do "homem natural", o Homem Desperto, sintonizado com sua essência e com a plena capacidade de utilizar o poder de seu espírito para recriar a realidade, como fazem os gatos, os cães e as crianças, antes de serem domesticados.

Bem que poderíamos utilizar a linguagem da Astrologia, que é uma simples observação da linguagem da Natureza - antes de ser reduzida a mínimos denominadores comuns pela necessidade de justificar o Sonho em que vivemos - como uma das grandes ferramentas para nos reconectarmos ao todo, para experimentarmos o "religare" com o sagrado.

Mas para isto temos que ousar abrir mão de uma série de conceitos e regras baseados na idéia de bom e ruim, bem e mal.

A domesticação é tão forte que num ponto determinado de nossa vida não precisamos mais que ninguém nos domestique. (...) Somos tão bem treinados que passamos a ser nosso próprio treinador. Somos um animal autodomesticado. Agora podemos domesticar a nós mesmos de acordo com a mesma crença no sistema que nos forneceram, usando as mesmas técnicas de punição e recompensa.

Curiosamente, todas as ferramentas que temos ao alcance, inclusive a Astrologia, mas também o Tarot, a Yoga, a Psicologia e muitas outras linguagens voltadas para obter consciência e experimentar a transformação, estão comprometidos com o Sonho do Planeta, com o grande Maya, pois foram criadas dentro e a partir Dele. Conseqüentemente, acabamos entrando em um círculo vicioso no qual toda transformação ocorre de forma a não ser uma transformação verdadeira, e sim uma atualização, uma readaptação ao Sonho.

Entre outros símbolos de integratividade e de reconexão do homem ao cosmos, a tradicional cultura do México pré-Colombiano deixou-nos o calendário maia.

Cada gesto do ser em direção à transformação tende a ser um gesto ilusório, um argumento retórico para nos fazer sentir confortáveis dentro deste Sonho, para atenuar nossa rebeldia e fazer com que não nos sintamos covardes e apegados, para fazer com que vivamos dentro de outra ilusão: a de que estamos reagindo e fazendo alguma coisa, de que não somos totalmente covardes e acomodados. Mas, abandonar a idéia de que precisamos do outro para sermos completos - que é um dos fundamentos do Sonho do Planeta - isto não conseguimos conceber.

O medo de ficar só é muito forte para suportarmos o conflito de sermos plenos.

Abandonar a idéia de que somos seres únicos, exclusivos, especiais, individualidades poderosas, totens de vaidade social - em vez de partículas de uma totalidade - também é muito difícil, e preferimos não viver o desconforto de experimentar isto, pois a responsabilidade com o "outro" se torna um fato, e a necessidade de ser "inteiro" para poder compartilhar esta inteireza com o "outro", em vez de simplesmente ficar esperando aprovação, é muito, muito trabalhosa. O medo de ficar só - mesmo estando sós nesta pseudo-individualidade forjada (outro artificio do Sonho para nos manter atrelados) - é muito forte para suportarmos o conflito de sermos plenos e ao mesmo tempo partes fundamentais do corpo de Deus.

Leia também a seqüência deste artigo: O jogo da vítima, do mesmo autor.

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