Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 124 :: Outubro/2008 :: - |
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ASTROLOGIA NA UNIVERSIDADEPlutão na compreensão da morte
Pacientes terminais e profissionais da área de saúde precisam aprender a lidar com a morte. Um caminho para isso é o conhecimento da função de Plutão no mapa individual e dos mitos associados a este planeta.
IntroduçãoAdmitindo que a Naturologia pretende uma visão holística do mundo, onde a natureza está intrínseca em sua constituição, podemos dizer que esta também preconiza uma visão cosmológica. A natureza apresenta um movimento do próprio modo de viver do homem, relacionando corpo, mente e espírito e seus movimentos equilibradores. Uma das mais antigas ciências do homem, a astrologia, abarca símbolos arquetípicos [1] provenientes de mitos [2] universais, que assumem poderes profundos e determinantes em fatos da vida humana. O conhecimento astrológico nos coloca diante de nossa própria dinâmica holográfica interior, visto que somos um fractal do cosmos (RUDHYAR 1990). Além disso, é igualmente importante o estudo da tanatologia, a ciência da morte e do morrer, fato este que permeia todo instante de nossas vidas. Pretendemos, portanto, inter-relacionar estas três ciências humanas em torno de um ponto em comum: a morte. Vamos analisá-la sob os diversos pontos de vista que nos permitirão abordá-la numa visão mais integradora e positiva diante de um processo terapêutico naturológico. NOTAS [1] Para Jung (2000), arquétipo “(...) significa nada menos do que a presença, em cada psique, de disposições vivas inconscientes, nem por isso menos ativas, de formas ou idéias em sentido platônico que instintivamente pré-formam e influenciam seu pensar, sentir e agir”. Trata-se de possibilidades herdadas da imaginação humana inatas ao ser que permeiam todo o conhecimento e seus diversos níveis de consciência, formando o inconsciente coletivo. [2] Ver capítulo sobre mitologia no mesmo artigo. MitologiaMitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação, através dos tempos. Todos nós precisamos contar nossa história, compreender nossa história. Todos nós precisamos compreender a morte e enfrentar a morte, e todos nós precisamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à morte. Precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno, compreender o misterioso, descobrir o que somos (CAMPBELL 1998: 5). Segundo Campbell (1949), o mito é uma abertura secreta através da qual as inexauríveis energias do cosmos penetram nas manifestações culturais do homem. Uma das maiores funções do mito é a mística, que significa: vivenciar o espanto diante do mistério. Os mitos abrem o mundo para a dimensão do mistério, para a consciência do mistério que subjaz a todas as formas. Se o mistério se manifestar através de todas as coisas, o universo se tornará, por assim dizer, uma pintura sagrada. Você está sempre se dirigindo ao mistério transcendente, através das suas circunstâncias da sua vida verdadeira (CAMPBELL 1998: 32). Segundo Puiggros (1988), referindo-se a mitologia grega, quando Saturno (Cronos) foi destronado houve a repartição do mundo entre seus filhos Plutão (Hades), Netuno (Poseidon) e Júpiter (Zeus), que receberam, respectivamente, o reino dos infernos, dos mares e dos céus. Para chegar à morada de Plutão, os mortos atravessam dois rios, o Aqueronte e o Estige, cujo barqueiro, Caronte (satélite de Plutão), é o guia [imagem à direita]. Este traslado exige um preço, e os que não podem pagar são rechaçados. Ao chegar ao outro lado, os passageiros eram entregues a Mercúrio (Hermes), o mensageiro dos Deuses, que os conduzia para o tribunal composto por três juízes: Minos, Eaco e Radamanto, compondo a justiça de Plutão. Após o purgatório, sai a sentença: alguns vão para os campos Elíseos (céu) e outros vão para o Tártaro (inferno). O inferno é uma cidade fortificada guardada por um tríplice muro de ferro e rodeado por um rio de fogo, chamado Flégeton. Neste rio são encontradas três fúrias infernais: Alecto, Megera e Tisífone, que nunca dormem. Ainda existe o cão Cérbero, o guardião de três cabeças, que tem como função proteger o reino e não deixar que ninguém saia. Este mito nos mostra as diversas facetas arquetípicas de Plutão. Primeiramente, temos a relação com a mudança das estações, os ciclos de semeadura e colheita. Nos meses de outono e inverno, Perséfone vai para o inferno e Ceres fecha-se numa caverna, o frio chega; enquanto nos meses de primavera e verão, Perséfone retorna do inferno para ficar com a mãe e o calor chega, tudo floresce. O que seria do mundo se não houvesse renovação? Significa, portanto, a força vital, a fecundação e a purificação. Esta seiva que nutre está sujeita à alternância entre vida e morte, em outras palavras, apresenta uma possibilidade de transcender a realidade atual e atingir uma outra melhor. É a possibilidade de morrer em determinada situação, de acabar com um estado definido e passar a outro novo – ação plutoniana (PUIGGROS 1988). A parte que morreu jamais retornará, mesmo que a vida retorne revigorada em uma nova forma (GREENE 1990). Para isso, a pessoa precisa se despojar de suas vestes, critérios e valores. Plutão destrói, aniquila e desintegra tudo aquilo que não é útil, deixando-nos no vazio mais absoluto, para podermos enfrentar com êxito a nova situação. Por isso, representa a expansão de consciência, como sendo a última apresentação de nossa concepção de verdade. Plutão aparece como o limite do sistema solar ordenado e, portanto, está mais próximo do caos, do mistério e do oculto (PUIGGROS 1988). Os romanos atribuíram-lhe o nome de Plutão, que significa “riquezas”, por se tratar de um depósito ou lugar (inconsciente), desde que corretamente utilizado, que oferece extrema abundância. O eufemismo deste nome era usado para ocultar as profundezas assustadoras do Hades. Transformação também é um eufemismo. Sua sonoridade muitas vezes tenta suavizar o prognóstico que augura a crise e o sofrimento, e a compaixão nada mais será do que o espelhamento na incipiente desintegração ou perda do outro. Para se lidar com Plutão, deve-se ter confiança no destino, pois o discernimento não pode poupar o sofrimento, mas pode evitar o sofrimento irracional (GREENE 1990). A energia representada por Plutão rege os extremos. Quando é canalizada para a parte do espírito, a força plutoniana amplia a consciência do indivíduo de forma lenta e imperceptível, tal como a aurora do novo dia. Quando é canalizada para o material, a semente plutoniana trabalha sob a terra, silenciosa e incessante, e, de repente, irrompe na superfície, como um terremoto ou vulcão, que nos colhe desprevenidos (PUIGGROS 1988). Depois de muito adormecida, esta energia pode irromper com tamanha força, trazendo uma grande destruição, física ou psíquica. É na reconstrução desta vítima do destino que se encontram as riquezas de Hades (GREENE 1990). Isso enfatiza a sua relação com o subconsciente que, no caso, age como uma ponte entre o mundo espiritual e o material (MARCH & McEVERS 1981). Partindo do princípio de que um determinado problema só existe em decorrência de um nível de consciência, quanto mais nos elevamos espiritualmente, menos problemas materiais temos em nossas vidas. Cada coisa viva contém a inevitável semente da morte. Hades não pode ser visto pelos homens, pois usa um elmo que o torna invisível. Esta é a conexão oculta. Em qualquer ato criativo, seja um pensamento, sentimento, inspiração, relacionamento, etc., ele está lá, oculto, como a morte que ainda não pode ser percebida (GREENE 1990). Portanto, a crise plutoniana pode levar-nos a conectar com o nosso lado obscuro, bárbaro, não-civilizado ou, se bem trabalhado, evidenciar uma sabedoria oculta. Acarreta, portanto, a gradual libertação, por bem ou por mal, dos vínculos da matéria que deixam de ser úteis para o espírito. São poderes de transformação para a vida que levam à obtenção de um maior controle sobre si mesmo. Sua forma de ‘criação’, diferentemente do Sol, consiste em destruir – metamorfose do denso em sutil – conduzindo ao desenvolvimento dos múltiplos estados do ser. Através de Plutão adquirimos sabedoria, mas para isso é preciso descer ao inframundo e ressuscitar, como no mito (PUIGGROS 1988). Hades, quando sobe ao mundo da superfície, é persistentemente mostrado representando um tema: o estupro. Perséfone foi uma de suas vítimas, e sua inocência virginal atraiu o desejo do senhor do inferno. Assim, onde Plutão estiver, haverá a possibilidade de uma intrusão na consciência, com um sentimento de penetração violenta, indesejada, porém inevitável. No mundo da primeira infância, inocente e protegido, a criança tem muito da pureza virginal de Perséfone e, por se tratar de um estado psicológico, muitas pessoas permanecem com suas consciências como um solo ainda não fecundado por um longo período. Nossa cultura não nos oferece mais os rituais de passagem e somos agora responsáveis por aceitar sozinhos o estupro de Hades. Perséfone, pura e virginal, colhe a estranha flor da morte plantada por Hades, que prenunciou a abertura da terra e a chegada do senhor das trevas (GREENE 1990). |
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