Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 121 :: Julho/2008 :: - |
|
|
Novidades em mapas do Brasil Um link direto para os vinte mapas mais recentes Em breve: uma nova versão de Mapas do Brasil. |
ENSINO DE ASTROLOGIA NA ARGENTINAAs duas maiores escolas do continente
As grandes escolas de Astrologia de Buenos Aires têm pelo menos cinco vezes mais alunos que as maiores escolas brasileiras. CABA e Casa Once, com estilos bem diferentes, garantem um público fiel e são uma referência para todo o continente. O que explica esse fenômeno? Quando nós, brasileiros, pensamos numa grande escola de Astrologia, o que nos vem à mente são as poucas escolas que conseguem ultrapassar 50 alunos matriculados. Já o CABA - Fundación Centro Astrológico de Buenos Aires, mais tradicional escola argentina, consegue manter em média 300 alunos, enquanto a Casa Once, escola concorrente e com um perfil bem mais descontraído, alcança a inimaginável marca das 500 matrículas simultâneas. Para entender o fenômeno, a equipe de Constelar foi conhecê-las de perto, em três momentos: Fernando Fernandes visitou a ambas em 2006 e fez uma longa entrevista com Jerry Brignone, diretor técnico do CABA, em 2007; Carlos Hollanda e Lúcia Torres, da Unipaz-Sul, conversaram com Eugenio Carutti, diretor da Casa Once, na última semana de junho de 2008, enquanto Dimitri Camiloto e novamente Hollanda faziam trabalho semelhante com o CABA, no mesmo período. O resultado dessa investigação você vai conhecer agora. HOLLANDA: Fui visitar o Centro Astrológico de Buenos Aires, o CABA. A biblioteca deles tem várias raridades e livros imprescindíveis para a formação de qualquer astrólogo. Não bastasse isso, há muito me interessava conhecer o espaço e os astrólogos que ali trabalhavam. Lá encontrei o competente e sempre atencioso astrólogo Adolfo Gerez, que acabara de ministrar aula. Ele me mostrou o espaço e combinamos de nos encontrar no Congresso GeA no dia seguinte. FERNANDO: O CABA é a mais antiga instituição astrológica da Argentina, o que o transformou numa referência para todo o país, e também para países vizinhos. Uma história de 47 anos, onde se afirma uma identidade ideológica muito bem definida. O mapa da fundação da entidade é bem revelador quanto a este aspecto:
Centro Astrológico de Buenos Aires - 19.4.1961, 21h25. Esquerda: Jerry Brignone, Diretor Técnico do CABA. Sol, Mercúrio e Vênus estão em Áries, o signo do pioneiro, e numa casa que tem relação direta com educação e formação de novos quadros (é a casa dos filhos, no sentido literal e figurado). O Ascendente é Sagitário, signo ligado ao ensino e à postura acadêmica. De uma certa forma, o CABA simboliza o status quo do meio astrológico. Saturno em domicílio, oposto a Marte, destaca a importância da ação estruturadora e voltada para o estabelecimento de paradigmas. Plutão no Meio do Céu, em Virgem, regendo a 12, fala de rigor e, ao mesmo tempo, de um certo espírito de confraria, de ritual de iniciação. O CABA tem um currículo estruturado e valoriza muito o aluno que estuda metodicamente, que se esforça para obter a excelência técnica e que persiste até o término do curso. Ter o diploma do CABA é considerado uma distinção. O típico estudante brasileiro, que guarda em relação à formação astrológica uma postura bem mais lúdica e assistemática, teria alguma dificuldade para entender essa atribuição de valor, mas praticamente não há astrólogo argentino que tenha estudado no CABA que não destaque este fato em seu currículo. E isso também para a Casa Once, apesar de ser uma escola mais recente. Mas este é um dado que não podemos deixar de considerar: o estudante argentino é bem mais fiel à sua escola do que o brasileiro, até porque a escolha da escola acaba representando também uma escolha filosófica e metodológica. HOLLANDA: A Casa Once, diferentemente do CABA, apresenta um espaço um pouco mais amplo. Tivemos certa dificuldade de encontrá-la, pois não havia letreiro ou outra indicação mais clara de sua localização. LÚCIA: Claro que passamos do número, já que estava escuro e não tinha placa. Mas percebemos a tempo (isto quer dizer: nada longe do número exato), voltamos e achamos. Atrás da porta, exígua, um porteiro idoso e desconfiado perguntou-nos o que queríamos. Explicamos e ele nos conduziu à secretaria, onde explicamos de novo e recebemos a resposta - "Caruttti esta dando aula, esperem no bar para falar com ele". HOLLANDA: Chegamos e logo subimos para a livraria e café que antecede as salas de aula. Falamos rapidamente com o também competente astrólogo Alejandro Lodi (à direita, com Carlos Hollanda), um dos coordenadores do local, que nos indicou a aula de Eugenio. Subimos, com a autorização deste último, e ali assistimos a uma ótima aula, com uma turma de alunos altamente interessados, capazes de fazer perguntas muito pertinentes, demonstrando imenso interesse, escrevendo muito, comentando muito, participando muito. Como qualquer professor de astrologia gosta. LÚCIA: Ao subirmos, encontramos um ambiente efervescente - muitas pessoas comendo, tomando café, conversando antes da aula, um clima muito interativo. Começamos a olhar os livros, pedimos algo para comer e vejo o Carutti pela fresta da porta. Vou ao seu encontro, nos apresentamos e recebemos a "permissão" para assistir sua aula. O clima da aula era muito diferente de qualquer escola de astrologia que já vi: todo mundo sentado ou deitado no chão, nos colchonetes, ou sentados naquela arquibancada inusual (parecia os cursos de formação holística de jovens da Unipaz). HOLLANDA: LUCIA: Nenhum recurso audiovisual além do quadro branco, muito menos "lanchinho" grátis. E todo mundo ligado, prestando a máxima atenção, caneteando tudo! Tinha desde um senhor de terno e gravata, casaco de padronagem inglesa (aqueles clássicos, de tweed, sabe?), seguramente com mais de 60, até uma gurizada de vinte e poucos, bem underground. Para variar, dos quase 50 alunos, os homens totalizavam apenas quatro pessoas. Acima: Eugenio Carutti em aula na Casa Once. FERNANDO: Visitei a Casa Once há dois anos, em companhia de Celisa Beranger, e assistimos a uma aula de Carutti. Fiquei muito surpreso com duas coisas: primeiro, a quantidade de alunos presentes numa aula comum de curso regular. Havia mais de 50 pessoas na sala, que tinha um formato de arena, com arquibancadas. 50 pessoas numa segunda-feira à noite é um bocado de gente, e aquela era apenas uma das turmas. Carutti depois nos contou que a escola tem um número de matrículas flutuante, mas que costuma ficar em torno de 500 por mês. Isso faz da Casa Once a maior escola do continente, sem sombra de dúvidas. O CABA vem em segundo lugar, com uma média de 300 alunos/mês. Só depois é que aparecem as escolas brasileiras, mexicanas, colombianas. Isso não quer dizer necessariamente que haja mais estudantes de Astrologia em Buenos Aires do que no resto do continente, e sim que o modelo de ensino de Astrologia que prevalece na cidade favorece a concentração em escolas maiores. No Brasil, ao contrário, o que predomina são as escolas menores, às vezes de um único professor, e um comportamento mais imprevisível do estudante, que circula pela várias escolas na medida de seu interesse. Os dois modelos se equivalem, cada um tem suas vantagens e desvantagens, e trata-se, antes de tudo, de uma diferença cultural. DIMITRI: Só para dar seqüência a um ponto que você levantou, é realmente gritante a diferença em termos de "política acadêmica" entre eles e nós. Lá prevalecem o incentivo à qualidade e a alternância, bom senso, ausência de corporativismo, elegância e verdadeiro espírito acadêmico. Chega a ser humilhante. Esse é aliás um ponto importante, porque o intercâmbio é inevitável e nossas fraquezas e mesquinharias certamente ficarão mais evidentes para eles. Provavelmente estamos em nível infeirior, e muito por culpa desse tipo de coisa. Quando deixarmos esse atraso ibérico para trás (que eles definitivamente não têm), nossa criatividade e talento tem tudo para se equiparar. FERNANDO: Voltando ao que surpreendeu na Casa Once: como Lúcia observou, o número de jovens é muito significativo. Enquanto Carutti dava sua aula, discretamente fiz um levantamento de quantos alunos havia em cada faixa de idade. Havia um grupo numeroso, em torno dos 20%, com menos de 25 anos. Outro grupo, ainda maior, oscilava entre os 26 e os 40. No total, seguramente por volta de 60% da turma estavam abaixo dos 40 anos, o que é um dado muito animador em comparação com as escolas brasileiras. Hoje, há muitas escolas com média de idade muito elevada entre os alunos, o que prova que estamos dando pouca importância à renovação de público - ou, ainda pior, o discurso astrológico não tem nada a dizer à garotada brasileira. LÚCIA: Jantamos (Alejandro, Eugenio, Carlos e eu) lá mesmo na cantina deles. O cara da livraria, que também era o cozinheiro e garçom, entendia bem o português porque seu pai morava em Santa Catarina, veja só. HOLLANDA: Onde tive dificuldade para me fazer entender foi no CABA. Passei lá para comprar uns livros de Morin que me encomendaram e ninguém entendia o que eu queria. Demorei para entender que eles não pronunciam "Morran de Villefranche", mas Morim mesmo. FERNANDO: O CABA enfatiza muito a formação "gramatical" em Astrologia, com abordagem analítica dos fatores de interpretação. Lá se aprende Morin. Aliás, uma das primeiras publicações que li sobre Teoria das Determinações foi uma apostila do CABA, produzida nos anos 70. Já na Casa Once, há uma ênfase maior no estudo de casos a partir de uma abordagem comportamental. Vi, por exemplo, Carutti trabalhar detalhadamente um mapa a partir de uma série de questionamentos em que toda a turma era estimulada a participar. Por curiosidade, fotografei o quadro branco para que possamos ter uma idéia de como a aula é conduzida. A partir do mapa de um sujeito de vida complicada, com Netuno na 1 e Saturno na 7, Eugenio levantava as seguintes questões:
E assim a aula prosseguia. Era simples e funcional, porque o tempo todo a análise girava em torno de pessoas palpáveis, com problemas bem reais. HOLLANDA: As duas escolas que visitamos parecem complementar-se perfeitamente e suprir grande parte das necessidades dos estudantes e pesquisadores argentinos. Posso dizer que vários de nós, brasileiros, se encaixariam ao mesmo tempo no estilo de ambas. FERNANDO: Numa conversa com um grupo de astrólogos argentinos, depois de ouvir defesas apaixonadas do estilo de uma e outra escola, não resisti a perguntar: mas afinal, qual a melhor? E prontamente alguém me respondeu: o melhor é que as duas estão lá. O mais importante é a pluralidade e a possibilidade de escolha. As dicas:
Outras escolas argentinasSeria injusto afirmar que o panorama astrológico de Buenos Aires se resume ao CABA e à Casa Once. Outras escolas de boa qualidade, algumas já tradicionais, também disputam o mercado, dedicando-se normalmente a áreas de conhecimento mais especializadas ou à organização de oficinas e workshops. Algumas delas estão na seção Dicas & Eventos. Outros artigos de Carlos Hollanda, Dimitri Camiloto, Fernando Fernandes e Lúcia Torres. |
|
Atalhos de Constelar | Voltar à capa desta edição |Astroteste - Gente que vale um mapa | Douglas Carrara, o antropólogo | Edições anteriores: Gregório José Pereira de Queiroz - As qualidades primitivas | O cerne movente da vida | |
Cadastre
seu e-mail e receba em primeira mão os avisos de atualização
do site! |
|
2013, Terra do Juremá Comunicação Ltda. Direitos autorais protegidos. Reprodução proibida sem autorização dos autores. |