Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 07 - Janeiro/1999 [republicado em janeiro/2009] :: - |
|
|
Novidades em mapas do Brasil Um link direto para os vinte mapas mais recentes Em breve: uma nova versão de Mapas do Brasil. |
ASTROLOGIA E CULTURA DE MASSAManchete: a revista, a TV, o homem
Manchete: uma rede de alto riscoRede Manchete - 5.6.1983 - 19h - Rio de Janeiro - 22s54, 43w12 O Ascendente da estréia da Rede Manchete, segundo horário informado pelo astrólogo paulista Zeferino Costa, é o décimo-primeiro grau de Capricórnio. As imagens simbólicas para este grau são: Capricórnio 11 – Um rei em seu trono se reclina para acolher um mensageiro que, profundamente inclinado, lhe apresenta um pergaminho selado. ou - Um rei coroado recebendo uma mensagem. Contudo, parece mais cabível a imagem associada ao grau seguinte, correspondente a uma entrada no ar cinco minutos mais tarde: Capricórnio 12 – À luz da Lua, um cão estimulado por seu dono persegue uma raposa que esta adiante e ganha terreno. ou – Um homem correndo com todas as suas forças. Temos nesta segunda figura analogias que parecem mais de acordo com a história da Rede Manchete: o cão (a equipe de subordinados) estimulado por seu dono (o entusiasmado Adolpho Bloch), à luz da Lua (um ambiente noturno, associado ao sonho, aos projetos quiméricos), tentando perseguir uma raposa (a maior concorrente, a Rede Globo) que está adiante e ganha terreno (que cada vez se distancia mais nos índices de audiência). O “homem correndo com todas as suas forças” dá bem a idéia desta rede que, na tentativa desesperada de firmar-se no gosto do espectador e escapar da insolvência financeira, experimentou os mais diversos caminhos, até chegar à completa exaustão. O regente do Ascendente da Rede Manchete é Saturno na 10, exaltado em Libra e conjunto a Plutão. Todavia, o regente de Libra, Vênus, está em quadratura com Saturno e Plutão, fornecendo uma indicação duplamente perigosa: dificuldades para a obtenção de um lugar ao sol (Vênus rege o Meio do Céu) e para a consolidação de um espaço no coração dos telespectadores (Vênus está na casa 7, significadora de público). Como este planeta é também regente da 5 (criatividade, teatro – no caso, teleteatro, ou seja, novelas), entende-se porque as produções da Manchete sempre tiveram mais dificuldade para manter bons índices de audiência do que as de sua rival, a Globo. O eixo 3-9, essencial para qualquer veículo de comunicação de massa, não apresenta qualquer planeta. O regente da cúspide da 3, em Peixes, é Netuno na 12 em conjunção com o Nodo Sul, um posicionamento um tanto difícil, dada sua natureza restritiva. O significado é claro: dificuldades de comunicação, inclusive do ponto de vista técnico. O astrólogo paulista Zeferino Costa, que foi o engenheiro responsável pela preparação da emissora para a entrada no ar em São Paulo, já tentara alertar para os riscos do mapa da estréia. Não foi ouvido. A Manchete estreou apenas com imagem, mas sem áudio. O regente da 9 é Mercúrio, isolado na casa 5 em Touro, sem qualquer aspecto maior. Touro é um signo mudo. Netuno, regente da 3, está na 12, uma casa de isolamento e silêncio. A melhor configuração desta carta é a que mostra Júpiter domiciliado em Sagitário, na casa 11 e regendo a 12, em trígono com Vênus na 7 e com a Lua na 4, em Áries, regente da 7. Esta conjugação de aspectos fluentes envolvendo planetas significadores de popularidade indica um caminho que a Manchete poderia ter explorado, e que passa pelo aproveitamento de conteúdos da casa 12: misticismo, fé, situações de exclusão social e tudo aquilo que normalmente permanece encoberto ou que pertence ao domínio do inconsciente. O melhor momento da história da Manchete foi a novela Pantanal, em 1990, que mostrou uma faceta do país até então ignorada pelos brasileiros de áreas urbanas. O slogan adotado na época pela rede poderia ter gerado frutos bastante saborosos, caso fosse transformada em política permanente: “O Brasil que o Brasil não conhece”. Mas vale notar que, em momentos de queda de audiência, os executivos da Manchete pareciam intuir o sentido do mapa da emissora, apelando para temas com nítida relação com a casa 12. Assim foi com a novela Kananga do Japão, ambientada num bordel da Praça Onze (centro do Rio de Janeiro) nos anos vinte, e com os muitos programas e documentários que abordaram o sobrenatural, o esotérico e o mundo cão de travestis, prostitutas e outros grupos marginalizados. Ao contrário da Globo, a Manchete jamais conseguiu estabelecer uma opção estética e estilística claramente definida. Concebida para ser uma emissora voltada para a classe A – um nicho de mercado mais exigente do que o público da Globo – muitas vezes mudou de rumo e voltou-se para as classes C e D, competindo pela mesma clientela do SBT. Basta observar o mapa para perceber a inconsistência das tentativas de implantar um padrão perfeccionista e clean, como o da principal concorrente: Plutão, o planeta das tintas fortes, ocupa o lugar mais elevado, na casa 10. Sua quadratura com Vênus remete a uma estética carregada, intensamente emocional, barroca e cheia de insinuações sexuais. A Manchete sempre teve um pendor pelo sexo hardcore, até o limite permitido pelos padrões morais de uma TV aberta. As cenas de nudismo em Dona Beija e Pantanal e a obsessão da emissora pelo bas-fond de prostitutas e garotos de programa é um reflexo do aspecto Plutão-Vênus, reforçado pelo materialismo sensual de Mercúrio em Touro na 5. A criminalidade e a violência urbana também foram temas muito explorados, seja nos documentários (Documento Especial, Manchete Verdade) seja nas novelas, uma das quais, em 1988, foi ambientada numa favela e toda construída em torno da questão do tráfico de drogas. A Globo, ao contrário, sempre foi extremamente cautelosa ao mostrar mazelas sociais, preferindo filtrar a realidade brasileira e oferecer doses de violência sob a forma de enlatados americanos. Plutão conjunto a Saturno na casa 10 pode ser também um indicador de como a Rede Manchete era dirigida: de forma tradicional, centralizada e patriarcal, no estilo de Adolpho Bloch e seus auxiliares diretos. Observe-se que o elemento mais dinâmico no mapa da emissora – a conjunção Júpiter-Urano em Sagitário – encontra-se bastante enfraquecido, dada a proximidade com a cúspide da casa 12. A crise financeira que afetou a Rede Manchete no final dos anos 90, e que motivou, inclusive, a transferência do controle das emissoras para um grupo financeiro de São Paulo (operação mal sucedida e mais tarde anulada), agravou-se nos últimos tempos com uma seqüência de trânsitos difíceis: no início de 1999 Plutão se encontrava em órbita de oposição com o Marte e o Sol natais na casa 6, dos trabalhadores assalariados e das relações trabalhistas. Todos os funcionários estavam em greve. Netuno transitava na cúspide da 2, indicando indefinições na área financeira e a possibilidade de que operações equivocadas do passado viessem a minar o que ainda restava de patrimônio: as Empresas Bloch deviam milhões de reais ao INSS, aos governos estadual e federal e sob a forma de pendências trabalhistas. Saturno, finalmente, aproximava-se da cúspide da casa 5, deixando claro que a Manchete teria de trabalhar muito duro caso pretendesse ainda oferecer uma contribuição criativa e original à televisão brasileira. No início de 1999, a tendência era de que a insolvência do grupo chegasse a um beco sem saída. Várias revistas da Bloch Editores – inclusive a própria Manchete – estavam com a circulação suspensa; a TV perdera todos os seus recursos humanos, e sequer vinha conseguindo levar ao ar os telejornais diários. O homem que corria com todas as suas forças, conforme descrição do grau simbólico do Ascendente, parecia ter caído ao chão, exausto. Restava saber se era o fim de um ciclo ou o fim definitivo de todo um império. A resposta veio cinco meses depois, com o anúncio da venda da rede ao empresário Amilcare Dallevo. Desaparecia de vez a Rede Manchete para dar lugar à Rede TV!.
Bibliografia BLOCH Editores. Manchete – Edição especial 45 anos – outubro de 1997, contendo a história da revista e a biografia de seu fundador. MORAIS, Fernando. Chatô: Rei do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. SILVA, Flávio Porto e. As fases da Telenovela Brasileira (incluindo histórico, sinopses e datas de lançamento). In: http://www.riopreto.com.br/araujo/novela/entrev.htm Sites: http://www.redemanchete.net e http://www.fortunecity.com/lavender/tomatoes/792/bloch.htm. Outros artigos de Fernando Fernandes. |
|
Atalhos de Constelar | Voltar à capa desta edição |Alexey Dodsworth e Roseane Debatin - Astrologia e Medicina | Signos Fixos e Vampirismo | |
Cadastre
seu e-mail e receba em primeira mão os avisos de atualização
do site! |
|
2013, Terra do Juremá Comunicação Ltda. Direitos autorais protegidos. Reprodução proibida sem autorização dos autores. |