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 Arquivos de Constelar - Edição 04 :: Outubro/1998 :: -

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MEDITAÇÃO E ASTROLOGIA

Os Vedas e a iluminação

Waldemar Falcão

O mito da expulsão do paraíso, tão enraizado na nossa civilização judaico-cristã, parece nunca ter existido no inconsciente coletivo da cultura Védica. Como a origem desta "expulsão" se encontra localizada na perda de contato com o sentido sagrado e divino da vida e da própria existência individual, e na sua interrelação com o Macrocosmo que nos rodeia, fica mais fácil compreender porque a cultura Védica nunca experimentou esta "queda".

A primeira coisa que sempre associamos com a Índia são as palavras iluminação e Guru, que aliás são complementares: Guru em sânscrito significa "aquele que traz a luz". Não é por acaso que os dois pilares básicos da prática védica são a Meditação e a Astrologia; através destes dois conhecimentos essenciais, os hindus puderam manter sempre avivados os seus instrumentos de iluminação.

No Ocidente, dois pensadores importantes aprofundaram e traduziram este conceito tão vago para nós: Carl Gustav Jung o batizou de "individuação", e o definiu como "...tornar-se um ser único, homogêneo, que gradualmente (...) reduz a camada do inconsciente pessoal que recobre o inconsciente coletivo (...), colocando o indivíduo numa comunhão incondicional, obrigatória e indissolúvel com o mundo". Abraham Maslow (1908-1970), um dos pioneiros da Psicologia Humanista (foto), chamou esta experiência de "auto-atualização" (Self-Actualization), e sintetizou-a na afirmação: "Eu penso no homem auto-atualizado não como um homem comum a quem alguma coisa foi acrescentada, mas sim como o homem comum de quem nada foi tirado; o homem comum é um ser humano completo com poderes e capacidades amortecidos e inibidos".

O que se vê, portanto, é que o significado da iluminação está muito mais em realizar-se ("actualize") o potencial latente do ser humano do que em acrescentar-se algo exterior a este ser. Neste sentido, a Meditação e a Astrologia representam caminhos diversos, duais e complementares de se experimentar a relação de unidade com o Cosmos: a primeira nos leva na direção do Microcosmo, da interiorização e da (re)descoberta da nossa Centelha Divina (Atman) pulsando no lótus do coração, e restabelecendo a partir daí a nossa ligação com o Todo através da "comunhão incondicional com o mundo" citada por Jung; a segunda nos remete ao Macrocosmo, ao Universo Exterior (Brahman), e nos mostra através do estudo do Mapa Natal que essa interligação com o Todo é um fato "impresso" na nossa psique no momento do nascimento, e que os planetas, casas e signos do Zodíaco estão também dentro de nós mesmos.

A sensação de isolamento da pessoa que não consegue se "re-ligar" com a Totalidade surge, segundo os Vedas, de uma atitude que em sânscrito se chama Pragyaparadha, o erro do intelecto; pelo prisma do intelecto, incorremos no equívoco de nos acharmos separados da realidade que nos rodeia. Desta forma, na nossa relação com a Vida, vão existir sempre três componentes: o Observador (Rishi), o Processo de Observação (Dévata) e o Observado (Chhandas) como entidades distintas, separadas.

Na prática da Meditação, como conseqüência natural da interiorização, o meditante se torna o Observador, o Processo de Observação e o Observado, fundindo Rishi, Dévata e Chhandas no Samhita (Totalidade), e resgatando a experiência de unificação de si próprio com o Todo à sua volta: não há divisão, a unidade é experimentada diretamente, vivenciada.

Na prática da Astrologia, esta unidade é percebida a partir da constatação de que o Universo/Criador (Rishi), o Processo da Criação (Dévata), e a Criatura (Chhandas) estão interligados através dos planetas, signos e casas do Zodíaco.

É fácil, portanto, entendermos porque a Cultura Védica nunca se considerou alijada do processo evolutivo da Criação, e porque as maiores revelações técnicas e filosóficas na direção da Iluminação/Individuação/Auto-Atualização surgiram na Índia, particularmente nas florestas e montanhas dos Himalaias, que continua a ser a região do nosso planeta onde se encontra melhor preservada a Sabedoria Universal.

Outros textos de Waldemar Falcão.



Atalhos de Constelar 04 - outubro/1998

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