Um
olhar brasileiro em Astrologia
Arquivos de Constelar - Edição 04 :: Outubro/1998 :: - |
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MERCADO DE TRABALHOMatando um leão por dia, ou...
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Josilene Sousa |
Neste depoimento de outubro de 1998, a bauruense Josilene
Sousa mostra como os astrólogos de cidades de pequeno e médio
porte enfrentam o desafio de assumir uma atividade profissional que ainda
é vista pelos conterrâneos segundo a ótica da desconfiança
e do preconceito. Trabalhando muitas vezes em condições
de isolamento e sendo obrigados a criar um mercado de trabalho a partir
do nada, os astrólogos do interior repetem hoje a mesma batalha
travada pelos pioneiros que, dos anos cinqüenta aos anos setenta,
criaram pouco a pouco as bases para o desenvolvimento de uma Astrologia
brasileira de primeiro nível no eixo Rio-São Paulo e em
outras capitais.
Ser reconhecida como astróloga já é difícil. No interior do Estado de São Paulo, é quase um gesto de loucura! Bauru, uma cidade leonina (01.08.1896 - 12h), tem Ascendente em Escorpião. Em cima do Ascendente, há o 'mestre' Saturno, sentado na sua cadeira de balanço, fumando um cigarrinho de palha, e o jovem e original Urano, dentro do seu disco voador. É uma cidade bem difícil de se trabalhar. A maior parte da população é evangélica ou testemunha de Jeová e a forma de expressão é o falso moralismo. A astrologia aqui é conhecida pelas publicações da Editora Alto Astral, leia-se João Bidu, e horóscopos de jornal comprados da Agência do Jornal O Estado de São Paulo. Praticamente, Bauru era o monopólio astrológico de João Bidu, através de revistas e programas de rádio. Todos me alertavam a respeito de ser astróloga na terra do João Bidu. Diziam: "Você não vai conseguir!"
Fundação de Bauru - 01.08.1896 - 12h
Mas essas foram palavras mágicas para o meu paciente Ascendente a 16º10' de Touro. Como sou profissional de Marketing, criei uma estratégia de ações. A primeira providência foi estudar os veículos de comunicação da cidade. Assim, no mês dos namorados eu falava sobre Sinastria, no mês das crianças fazia matérias sobre mapas infantis. Também passava dicas de pauta para os jornalistas sobre Mapa Empresarial, Mapa de Eventos, Recursos Humanos (no Caderno de Economia). Fui aparecendo sempre com material pertinente, mas evitava fazer previsões, não era essa astrologia que eu queria divulgar. A que eu desejava propagar era uma Astrologia séria, competente, cotidiana, e sem aquela conotação de horóscopo de jornal ou de rádio. Igualmente, queria evitar o caminho de sair nas colunas sociais só para fazer mapas e ganhar dinheiro. O objetivo não era somente trabalhar com astrologia, mas também infundir respeito pela minha profissão, fazendo o que de melhor eu podia fazer: informar.
Com base nisso, resolvi dar uma palestra. Consegui o espaço de uma amiga e dei uma palestra gratuita. Quase morri, tremia que nem vara verde, o meu Sol de casa doze se apavorava com o avanço da hora. Não escrevi nada. Falei de Astrologia apaixonada, colocando meus 13 anos de estudo de uma forma que o povo entendesse. A tentativa surtiu efeito e as pessoas ficaram empolgadas. Formei minha primeira turma para um curso. O João Bidu mandou duas de suas profissionais para estudarem comigo: era o reconhecimento! Comecei a ser procurada pelos veículos de comunicação e sempre aparecia ao lado do João, sentia-me muito feliz com tudo isso, percebi que eles respeitavam o meu trabalho e que o meu esforço havia compensado.
Agora vinha uma outra etapa - as Previsões. Precisava sobreviver da profissão que escolhi para mim, e, com a cara e a coragem, fui até a editora e mostrei meu trabalho para o João Bidu. Ele me colocou como colaboradora e redigi a Revista Especial Zodiac (em novembro de 96) com uma tiragem grande e nacional. Fiz um trabalho honesto, peguei as efemérides e escrevi as previsões para cada um dos doze signos de forma séria e com muitos detalhes (tenho Marte, Urano, Plutão na 5ª Casa - Virgem). Pensei em cada signo como um universo único, deu um imenso trabalho. A recompensa veio através de cartas de pessoas de lugares distantes, que eu só conhecia através de um atlas. Essas cartas diziam que, ao lerem os textos, elas haviam se encontrado neles. Este era o melhor elogio que eu poderia receber, vindo diretamente do público.
Bauru, cidade de porte médio no interior de São Paulo.
A partir disso, comecei a ter um maior espaço na mídia. Como já estudava a técnica de Revoluções Solares há cinco anos, comecei a investir nela. Montei cursos e virei sinônimo de trabalho sério na cidade e na região, inclusive com previsões certeiras, mas com o cuidado de não criar alarmes ou pânico desnecessário. Quando aparecia algum profissional dizendo algo 'estranho', com cores excessivamente carregadas, alguns jornalistas me ligavam para perguntar se aquilo realmente era verdade. Criei cursos variados sempre com uma abordagem do cotidiano, algo ao alcance das pessoas. Uso muito a Lua nos signos e a Lua Fora de Curso, porque as pessoas as percebem na hora. Meus alunos são pessoas que, muitas vezes, somente conheciam a astrologia de jornal. É um público variado: há estudantes, donas de casa, médicos. São turmas bem inconvencionais. A aluna mais nova tem 16 anos e a mais velha, 62.
Criei uma metodologia bem diferenciada. Na inscrição, o aluno fornece os dados e é em cima do seu próprio mapa que vamos estudando. No primeiro dia de aula, dou uma interpretada geral, mas de forma que chame a atenção e o interesse. Depois, a cada aula, vou usando referências do mapa de um e de outro. O teste final é cada um interpretar o mapa do colega (na base do sorteio). Também usamos os personagens das novelas, algo sempre bem próximo das coisas que as pessoas estão vivenciando diariamente. Cada aluno traz para a aula um comentário ou uma atitude de determinado personagem. Então, estimulo os alunos a associar as características percebidas a uma energia de um determinado planeta, casa ou signo. É muito divertido e a astrologia começa a fazer parte da vida de cada um de uma forma simples, sem aquela 'mistificação' de um conhecimento inacessível ou 'para poucos'.
A minha intenção com estes cursos é exatamente mostrar que não existem somente previsões na astrologia, que dá para usá-la em assuntos cotidianos com sucesso, como os próprios astrólogos o fazem, sem se tornar alienado ou dependente ("Não saio de casa sem consultar os astros!", uma postura extremamente limitadora). Não sei se esta é a melhor forma de ensinar astrologia, nem quero revolucionar os métodos já existentes. Mas acho que conquistar o respeito por ela ainda é a melhor forma de conseguir simpatia pela profissão e, conseqüentemente, credibilidade para os profissionais que a exercem.
As pessoas temem a astrologia desconhecida, quase uma 'adivinhação' para elas, na qual o astrólogo é aquele que 'sabe tudo'. O problema é que tudo de que se tem medo, por desconhecimento, é o mesmo que se abomina, que se quer ver longe, que cria ilusões e fantasias. A maior prova de que meu o trabalho está dando certo é que, no ano retrasado, saiu um artigo de um colaborador adventista do Jornal da Cidade dizendo que nós, astrólogos, adorávamos os planetas como deuses e outras coisinhas mais (como se fosse o Candomblé da Constelação). O próprio jornal cedeu espaço para uma réplica e ainda colocaram um artigo meu sobre o surgimento da astrologia e a profissão de astrólogo. Eles não fariam isso se não confiassem no meu trabalho. Afinal, que veículo de comunicação se arriscaria assim? Acredito que é importante, antes de qualquer coisa, ensinar de forma simples que não somos "deuses do Olimpo" detentores de todas as verdades e respostas; somos, sim, profissionais hábeis em observar os astros - "assim em cima como embaixo" - e assim queremos ser respeitados. Afinal, "a Astrologia só tem sentido na medida em que enriquece a vida de todos e torna mais satisfatória a tarefa de viver."
Outros textos de Josilene Sousa.
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