Na platéia, astrólogos
que vieram de longe
É possível viver de Astrologia numa
cidade com menos de 20 mil habitantes? Júnia Caetano, que
viajou quatro horas para participar da Astrológica 2003,
afirma que sim e prova com seu próprio exemplo: morando atualmente
em Visconde de Mauá, uma pequena e fria cidade turística
encravada na região do Itatiaia, Júnia tem sua clientela
entre os turistas que procuram a região, além de atender
semanalmente na vizinha cidade de Resende, hoje um pólo industrial
de grande importância no Vale do Paraíba. Resende também
é a cidade do jornal independente Madhava, do qual essa astróloga
é uma colaboradora constante. Contudo, a parcela mais significativa
da clientela de Júnia mora longe dali e é atendida
à distância, mediante fitas gravadas e remetidas por
Sedex.
|
Platéia da Astrológica
2003. Em primeiro plano, Héctor Othon. Mais ao fundo,
à esquerda, o prof. Waldyr Fücher, presidente da
ABA. Ao lado, mas na fila da frente, Júnia Caetano (de
óculos e cabelos cacheados). |
A geminiana Júnia já trabalhou com
vendas e pesquisa de mercado, além de ter coordenado pesquisas
com comunidades indígenas em Bertioga, litoral de São
Paulo. Segundo ela, há espaço para astrólogos
em pequenas cidades, desde que estejam dispostos a investir esforço
na divulgação do próprio trabalho. O caminho,
diz Júnia, é abrir espaços na imprensa local
e explorar as oportunidades dadas pela própria vida comunitária.
O jornal Madhava, por exemplo, sustenta-se hoje apenas com anunciantes
locais da região de Resende e, mesmo falando exclusivamente
de temas ditos holísticos ou alternativos, vem-se firmando
como um veículo durável.
Betty Lopez, astróloga argentina que menos
de um mês antes participara como palestrante do Encuentro
Gente de Astrologia, em Buenos Aires, estava na platéia do
Astrológica 2003 acompanhando o trabalho dos astrólogos
brasileiros, que ela declara admirar:
-Na Argentina há profissionais de grande preparo
técnico. Contudo, a cisão entre as correntes psicológica,
hoje em voga, e clássica, ainda muito forte, é quase
completa. Os dois grupos são endogâmicos, fechados,
não se abrem um para o outro e também não encontram
espaço na grande imprensa. O CABA (Centro Astrológico
de Buenos Aires) continua sendo uma referência importante,
mas dentro da linha clássica. A Astrologia brasileira - afirma
Betty - é muito mais uraniana, mais ampla e abrangente que
a argentina. A troca é maior, num clima de mais igualdade
e liberdade de expressão entre os astrólogos.
|
Uma presença de última
hora: a astróloga lusitana Cristina Candeias fez uma
palestra e autografou seu livro, que é sucesso em Portugal. |
Segundo Betty, a Astrologia na Argentina vem sofrendo
com os efeitos de duas crises: a mais aguda é de ordem econômica,
o que levou muitos espaços culturais, escolas, editoras e
livrarias ao fechamento ou a sérias crises de sobrevivência.
A Editora Kier, muito conhecida dos astrólogos brasileiros
nos anos 80, continua forte, mas sem correr riscos. Publica apenas
livros com procura garantida, o que significa dizer que investe
muito mais na tradução e (re)edição
de conhecidos autores americanos que na produção local.
"O último autor argentino a lançar um livro de
Astrologia com algum sucesso foi Humberto Sabatini", diz Betty,
"e já faz algum tempo". Mas há também
uma crise crônica relacionada ao fato de que a Argentina não
tem uma cosmogonia própria. Com o Sol na casa 9 de sua carta
de independência, a tendência do país é
supervalorizar "a luz que vem de fora", ou seja, as influências
culturais estrangeiras, mais européias, no passado, e hoje
mais americanas. Para Betty, a Argentina precisaria voltar a suas
raízes, a suas fontes, num movimento semelhante ao que se
percebe hoje no Brasil.
Leia outros artigos de Fernando
Fernandes.
|