Começou numa tremenda fria e acabou em
pizza. No meio, um encontro em que se falou de répteis, cinema,
Renato Russo, Lula e Descartes. Esta poderia ser uma descrição
da Astrológica 2003, que reuniu 16 palestrantes e
quase uma centena de participantes na Gaia, a espaçosa escola
de Astrologia no bairro da Aclimação, em São
Paulo.
Foi o fim de semana mais gelado do ano, mas nem todo
mundo lembrou de tirar dos armários os casacos e as meias
de lã. Houve gente, como Alexey Dodsworth, que chegou ao
evento sem um único agasalho, mas houve também, por
outro lado, quem aproveitasse a ocasião para tirar a poeira
de botas, sobretudos e cachecóis. Além do mais, a
baixa temperatura foi uma boa desculpa para os jantares de confraternização
onde se devoraram pizzas de dimensões pantagruélicas
regadas a vinho e chocolate.
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Após a abertura astrólogos
confraternizam durante a exposição "Antropofagia
Astrológica na Terra Brasilis". No fim de semana
gelado em São Paulo, muitos agasalhos e calor humano. |
Se o frio foi a estrela inesperada do evento, a programação
confirmou as melhores expectativas. A tônica foi dada pela
excelente apresentação multimídia do grupo
GaiaBrasilis, que coletou imagens e sons para compor um painel das
manifestações culturais e sociais do país sob
os trânsitos de Urano em Peixes desde 1500. A apresentação,
dividida em pequenos trechos, distribuiu-se por todos os intervalos
entre palestras e foi um gol de placa num evento que primou pela
conexão entre Astrologia e Cultura Brasileira. Além
da produção multimídia, o foco sobre o Brasil
esteve presente nas palestras de Maurício Bernis, que traçou
a trajetória da economia no governo Lula; de Edil Carvalho,
analisando a obra do cineasta Mário Peixoto; de João
Acuio, relembrando Cazuza e Renato Russo; de Lydia Vainer, que trouxe
como tema o "Exmo. Sr. Presidente Luiz Inácio Lula da
Silva"; e de Fernando Fernandes, que apresentou o simbolismo
astrológico das escolas de samba. Tudo em sintonia com Urano
em Peixes que, ao transitar pela casa 1 do mapa da Independência
do Brasil, vem trazendo com toda a força a rediscussão
de nossa identidade coletiva.
Astrólogos místicos,
astrólogos mundanos
Hector Othon, um físico cubano que acabou
se tornando astrólogo no Brasil, apresentou o trabalho mais
assumidamente esotérico do evento. Inspirado pela obra de
Edgar Cayce, convidou a platéia a relaxar e a fazer uma sessão
de Astropsicodrama - um exercício de interiorização
e visualização pessoal dos significados planetários.
Assim, fez um interessante contraponto com os astrólogos
de orientação mais técnica, como Maurício
Bernis e Nivaldo Figueiredo.
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Robson e Luiza Papaleo fizeram
a abertura e as apresentações da Astrológica. |
Bernis usou ciclos de planetas exteriores (de Júpiter
a Plutão) para mostrar que, como Lula assumiu com diversos
ciclos ainda em andamento, seu governo, no que diz respeito à
economia, está atrelado ao resultado de processos semeados
na fase inicial de cada um desses ciclos - a maioria ainda no governo
de Fernando Henrique Cardoso. Assim, há que se esperar que
a condução da economia não sofra mudanças
radicais nos próximos meses e que moeda continue estável.
Por outro lado, alguns dos projetos mais importantes
do governo Lula só começarão a render maiores
frutos na administração de seu sucessor. Como a maioria
dos ciclos astrológicos tem duração maior que
um mandato presidencial, seria desejável que os governantes
administrassem o país de olho na História, e não
apenas nas próximas eleições.
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