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MARIA CLARA MACHADO

A ariana que inventou Pluft, o Fantasminha

Fernando Fernandes

 

A improvisação no mapa de Maria Clara

Maria Clara Machado nasceu com o Sol em Áries, signo de iniciativa e pioneirismo. Qualquer que tenha sido o horário exato do nascimento, a Lua estava em Aquário. Esta Lua é o único planeta fora do grupo dos outros nove, todos contidos numa área de aproximadamente 180 graus, delimitada pelo jogo de oposições de Urano e Mercúrio em Peixes a Júpiter e Saturno em Virgem. Trata-se de uma estrutura geométrica conhecida como Balde, onde a Lua, por ser o planeta isolado na metade vazia, funciona como uma espécie de alça que "puxa" a metade ocupada da carta. A Lua foi o primeiro planeta a cruzar o Ascendente naquele dia e exerce uma função especial neste mapa.

Maria Clara Machado - carta solar - 3.4.1921, horário não conhecido. Belo Horizonte, MG - 19s55, 43w56. As posições planetárias foram calculadas para as 12h.

A Lua é um símbolo essencial de imaginação, de nutrição e de fecundidade. Maria Clara viveu para estimular a imaginação do público infantil, com suas peças, e mais especificamente de seus alunos do Tablado, com os jogos dramáticos. O Tablado foi uma espécie de útero para todos os que ali estudaram, mas um útero aquariano - um lugar onde era possível experimentar e ousar, da mesma forma como era também um espaço para o companheirismo e a troca.

Com a Lua em Aquário, Maria Clara tinha o impulso de buscar formas intelectualmente sofisticadas de expressão da personalidade, muitas vezes associadas a uma certa dose de excentricidade. A Lua em Aquário é independente e costuma ter opiniões próprias, se bem que, por outro lado, seja também gregária e necessite de alguma forma de atividade grupal. Valoriza o respeito pelas diversidades individuais, mas é um tanto resistente: jamais admite uma idéia nova porque partiu de uma cabeça brilhante ou respeitada, mas apenas após julgá-la em seu valor intrínseco.

É muito provável que a Lua em Aquário esteja ainda numa órbita razoável de oposição a Netuno em Leão. Para isso é preciso apenas que Maria Clara tenha nascido na madrugada daquele 3 de abril, ou logo nas primeiras horas do dia. Netuno, planeta da fantasia e da imaginação - ainda num nível mais acentuado que a própria Lua - está à vontade em Leão, signo de sua exaltação e significador da experiência cênica. A oposição Netuno-Lua no eixo Leão-Aquário potencializa ainda mais a função desta mulher como geradora de vida no plano do imaginário, a mãe de dezenas de personagens que continuam vivos e povoarão os palcos e os corações de crianças de todas as idades ainda por muitos anos.

Somada ao Sol em Áries, a Lua aquariana define Maria Clara como uma mulher intelectualmente independente, capaz de decidir com a própria cabeça e ousada o suficiente para acreditar no seu projeto pessoal a ponto de apostar nele uma vida inteira.

Outro aspecto que ajuda a entender a importância da imaginação no mapa de Maria Clara é Mercúrio em Peixes, signo da fantasia e do ilimitado, em conjunção com o transgressivo Urano. Trata-se de uma configuração que reitera e amplia os valores já presentes na oposição da Lua em Aquário, signo de Urano, a Netuno em Leão.

É como se este mapa dissesse: é pra fantasiar? Pois então vamos às últimas conseqüências! E tome de fantasminha Pluft que tem medo de gente, de menina que conversa com o vento, de cavalinho azul, da política brasileira vista em tom de farsa em Tribobó City e do hilariante concurso de bolos entre vizinhas de Maroquinhas Fru-Fru.

Como autora, é impossível não reconhecer a originalidade da dramaturgia de Maria Clara. Não foi exatamente a criadora da dramaturgia infantil no Brasil, mas foi quem deu ao gênero suas linhas-mestras e sua dimensão definitiva. Em termos de literatura infantil, Maria Clara é tão importante na dramaturgia quanto Monteiro Lobato foi no romance e no conto. Ambos, aliás, arianos, capazes de escrever com a rústica poesia do signo da primavera e das primeiras descobertas. Com o Sol em Áries, a sintonia básica do indivíduo é com as formas de expressão mais diretas e assertivas, como as da criança na primeira infância. Não é à toa, aliás, que a também ariana Xuxa Meneghel consegue tanta identificação com o público infantil - e o mesmo já aconteceu em nível mundial com Charlie Chaplin. Tanto ele quanto seu inesquecível alter ego Carlitos eram arianos com um toque lunar. Chaplin fazia um humor primário e essencial, de tombos e perseguições, de correrias e chutes no traseiro. E era também - até mesmo por este caráter tosco - um humor repassado de lirismo, como tão bem reconheceu Carlos Drummond de Andrade no poema Canto ao homem do povo Charlie Chaplin:

E a lua pousa
em teu rosto. Branco, de morte caiado,
que sepulcros evoca mas que hastes
submarinas e álgidas e espelhos
e lírios que o tirano decepou, e faces
amortalhadas em farinha. O bigode negro
cresce em ti como um aviso
e logo se interrompe. É negro, curto,
espesso. Ó rosto branco, rosto de lunar matéria,
face cortada em lençol, risco na parede,
caderno de infância, apenas imagem
entretanto os olhos são profundos e a boca vem de longe,
sozinha, experiente, calada vem a boca
sorrir, aurora, para todos. [*]

E já não sentimos a noite,
e a morte nos evita, e diminuímos
como se ao contato de tua bengala mágica voltássemos
ao país secreto onde dormem meninos.

[*] "Calada vem a boca sorrir, aurora, para todos." - Chaplin tinha a Lua (identificação com as massas, algo "para todos") em Escorpião (calada), no Ascendente (onde o Sol nasce, a "aurora"). Drummond, aqui, mostra sua impressionante - até porque involuntária - sintonia com o simbolismo astrológico.

A importância de Saturno na dramaturgia

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