A improvisação
no mapa de Maria Clara
Maria Clara Machado nasceu com o Sol em Áries,
signo de iniciativa e pioneirismo. Qualquer que tenha sido o horário
exato do nascimento, a Lua estava em Aquário. Esta Lua é
o único planeta fora do grupo dos outros nove, todos contidos
numa área de aproximadamente 180 graus, delimitada pelo jogo
de oposições de Urano e Mercúrio em Peixes
a Júpiter e Saturno em Virgem. Trata-se de uma estrutura
geométrica conhecida como Balde, onde a Lua, por ser
o planeta isolado na metade vazia, funciona como uma espécie
de alça que "puxa" a metade ocupada da carta. A
Lua foi o primeiro planeta a cruzar o Ascendente naquele dia e exerce
uma função especial neste mapa.
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Maria Clara Machado - carta solar - 3.4.1921,
horário não conhecido. Belo Horizonte, MG - 19s55,
43w56. As posições planetárias foram calculadas
para as 12h. |
A Lua é um símbolo essencial de imaginação,
de nutrição e de fecundidade. Maria Clara viveu para
estimular a imaginação do público infantil,
com suas peças, e mais especificamente de seus alunos do
Tablado, com os jogos dramáticos. O Tablado foi uma espécie
de útero para todos os que ali estudaram, mas um útero
aquariano - um lugar onde era possível experimentar e ousar,
da mesma forma como era também um espaço para o companheirismo
e a troca.
Com a Lua em Aquário, Maria Clara tinha o
impulso de buscar formas intelectualmente sofisticadas de expressão
da personalidade, muitas vezes associadas a uma certa dose de excentricidade.
A Lua em Aquário é independente e costuma ter opiniões
próprias, se bem que, por outro lado, seja também
gregária e necessite de alguma forma de atividade grupal.
Valoriza o respeito pelas diversidades individuais, mas é
um tanto resistente: jamais admite uma idéia nova porque
partiu de uma cabeça brilhante ou respeitada, mas apenas
após julgá-la em seu valor intrínseco.
É muito provável que a Lua em Aquário
esteja ainda numa órbita razoável de oposição
a Netuno em Leão. Para isso é preciso apenas que Maria
Clara tenha nascido na madrugada daquele 3 de abril, ou logo nas
primeiras horas do dia. Netuno, planeta da fantasia e da imaginação
- ainda num nível mais acentuado que a própria Lua
- está à vontade em Leão, signo de sua exaltação
e significador da experiência cênica. A oposição
Netuno-Lua no eixo Leão-Aquário potencializa ainda
mais a função desta mulher como geradora de vida no
plano do imaginário, a mãe de dezenas de personagens
que continuam vivos e povoarão os palcos e os corações
de crianças de todas as idades ainda por muitos anos.
Somada ao Sol em Áries, a Lua aquariana define
Maria Clara como uma mulher intelectualmente independente, capaz
de decidir com a própria cabeça e ousada o suficiente
para acreditar no seu projeto pessoal a ponto de apostar nele uma
vida inteira.
Outro aspecto que ajuda a entender a importância
da imaginação no mapa de Maria Clara é Mercúrio
em Peixes, signo da fantasia e do ilimitado, em conjunção
com o transgressivo Urano. Trata-se de uma configuração
que reitera e amplia os valores já presentes na oposição
da Lua em Aquário, signo de Urano, a Netuno em Leão.
É como se este mapa dissesse: é pra
fantasiar? Pois então vamos às últimas conseqüências!
E tome de fantasminha Pluft que tem medo de gente, de menina que
conversa com o vento, de cavalinho azul, da política brasileira
vista em tom de farsa em Tribobó City e do hilariante
concurso de bolos entre vizinhas de Maroquinhas Fru-Fru.
Como autora, é impossível não
reconhecer a originalidade da dramaturgia de Maria Clara. Não
foi exatamente a criadora da dramaturgia infantil no Brasil, mas
foi quem deu ao gênero suas linhas-mestras e sua dimensão
definitiva. Em termos de literatura infantil, Maria Clara é
tão importante na dramaturgia quanto Monteiro Lobato foi
no romance e no conto. Ambos, aliás, arianos, capazes de
escrever com a rústica poesia do signo da primavera e das
primeiras descobertas. Com o Sol em Áries, a sintonia básica
do indivíduo é com as formas de expressão mais
diretas e assertivas, como as da criança na primeira infância.
Não é à toa, aliás, que a também
ariana Xuxa Meneghel consegue tanta identificação
com o público infantil - e o mesmo já aconteceu em
nível mundial com Charlie Chaplin. Tanto ele quanto seu inesquecível
alter ego Carlitos eram arianos com um toque lunar. Chaplin
fazia um humor primário e essencial, de tombos e perseguições,
de correrias e chutes no traseiro. E era também - até
mesmo por este caráter tosco - um humor repassado de lirismo,
como tão bem reconheceu Carlos Drummond de Andrade no poema
Canto ao homem do povo Charlie Chaplin:
E a lua pousa
em teu rosto. Branco, de morte caiado,
que sepulcros evoca mas que hastes
submarinas e álgidas e espelhos
e lírios que o tirano decepou, e faces
amortalhadas em farinha. O bigode negro
cresce em ti como um aviso
e logo se interrompe. É negro, curto,
espesso. Ó rosto branco, rosto de lunar matéria,
face cortada em lençol, risco na parede,
caderno de infância, apenas imagem
entretanto os olhos são profundos e a boca vem de longe,
sozinha, experiente, calada vem a boca
sorrir, aurora, para todos. [*]
E já não sentimos a noite,
e a morte nos evita, e diminuímos
como se ao contato de tua bengala mágica voltássemos
ao país secreto onde dormem meninos.
[*] "Calada
vem a boca sorrir, aurora, para todos." - Chaplin tinha
a Lua (identificação com as massas, algo "para
todos") em Escorpião (calada), no Ascendente (onde
o Sol nasce, a "aurora"). Drummond, aqui, mostra
sua impressionante - até porque involuntária
- sintonia com o simbolismo astrológico.
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A importância de Saturno
na dramaturgia
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O Lobo Mau não era um estuprador
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