O Homem-Aranha como
um herói aquariano
O próprio uniforme do Aranha é,
ao mesmo tempo, uma expressão infantil e um deboche.
Aliás, poderíamos considerar que uma de suas
armas são as frases de efeito que ele diz enquanto
espanca os adversários. Em geral quem gosta de quadrinhos
se diverte bastante com aquele monte de piadas que enfurecem
inimigos, mais fortes que o herói, diga-se de passagem.
Entretanto, são essas piadas que levam os vilões
a perderam a capacidade de raciocinar friamente. A arma do
aracnídeo é tirá-los do eixo com bricadeiras
ridiculamente infantis, absolutamente sem sentido numa batalha
de vida ou morte, como "ei, você é feio
assim mesmo ou sua mãe sentou em cima quando você
nasceu?". Nas histórias os bandidos, todos mais
velhos que o jovem herói, esquecem os objetivos iniciais
e direcionam toda sua fúria na tentativa de destruir
o rapaz. E é aí que eles dançam. O Homem-Aranha
é ágil demais para ser atingido. Desvia-se com
facilidade, de uma forma divertida que lembra muito a do coelho
Pernalonga. Muitas vezes o vilão acaba ele mesmo se
arrebentando sem que o herói tenha que lhe encostar
as mãos, de tanta fúria cega.
O personagem foi criado em 1962, fazendo a
primeira aparição em agosto daquele ano na revista
Amazing Fantasy. Só passou a ter sua própria
revista em 1963. Mas a criação artística
necessariamente foi anterior à primeira publicação.
Sua gênese se deu logo após a ocorrência
de uma configuração astrológica singular:
um stellium no signo de Aquário, em fevereiro de 62.
No início desta matéria falei a respeito da
capacidade de alguns autores captarem o teor psicológico
de seu tempo. O momento histórico em que Homem-Aranha
foi criado carregava em si toda a carga da simbologia representada
naquele stellium, assim como toda uma problemática
social que envolve o significado dos outros três signos
fixos: Touro, Leão e Escorpião. São os
problemas econômicos, as distorções psicológicas
decorrentes dos recalques, a vaidade e o desejo de poder.
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Uma curiosidade: a última cena
do Homem-Aranha deveria mostrá-lo voando entre
as duas torres do World Trade Center. Com o atentado de
11 de setembro, os produtores atrasaram o lançamento
do filme para substituir a cena. Carlos Hollanda, que,
além de astrólogo, é desenhista e
produtor gráfico, reconstituiu-a. Todas as ilustrações
deste artigo são criações exclusivas
de Carlos Hollanda, inspiradas no super-herói da
Marvel Comics. |
A postura aquariana do Homem-Aranha é
revelada quando o comparamos com os vilões que fazem
parte de seu universo. Todos eles trazem consigo a forte característica
dos signos fixos. Mas dos bandidos que enfrentam o herói,
apenas o Electro possui características aquarianas:
seu poder consiste na produção de descargas
elétricas de altíssima voltagem no próprio
corpo. Electro representa Aquário em sua mais perniciosa
forma, no uso desordenado e anti-ético de um recurso
que permitiu à sociedade todo o avanço industrial
que lhe provê ao mesmo tempo conforto e desigualdades
sociais.
Todos os outros vilões das aventuras
do Aranha apresentam algum tipo de deformação
causada pelo uso anti-ético da tecnologia e da ciência.
Até mesmo o Rei do Crime, cuja força nunca foi
explicada pelos autores das HQ's. Seu corpo é deformadamente
grande e gordo (bem maior que o de um lutador de sumô),
sua força é sobre-humana e ele não apresenta
os sintomas adversos da obesidade. Conclui-se que existe um
elemento artificial para sustentar tanta saúde num
corpo que logicamente teria que estar pedindo arrego.
O conflito entre o Aranha e seus inimigos representa
com clareza o drama ético de toda a humanidade a partir
das últimas décadas do século XX, com
seu final, digamos, "apoteótico", no atentado
terrorista às torres gêmeas do World Trade Center
. É o drama de Aquário, signo representativo
do Homem, da ciência e da tecnologia, tentando subjugar
os instintos através do intelecto e da supressão
das emoções. Estes são as "feras"
do inconsciente do Aracnídeo, que em geral enfrenta
inimigos mais velhos e mais fortes do que ele. As piores armas
destes últimos nem são seus poderes, mas o uso
de reféns e subterfúgios que limitam a capacidade
de ação do aracnídeo. Para derrotá-los
não raro ele se vale do brilhantismo intelectual, de
seus conhecimentos de física e de química. Os
vilões representam na verdade conteúdos reprimidos
ou condenados socialmente: a sexualidade, a criatividade,
as posturas infantis em adultos. Representam também
reações ao desinteresse do homem moderno para
com as conseqüências do uso indiscriminado da tecnologia
sem uma política de inclusão social. Os vilões
do Aranha em geral são, tal como ele mesmo, vítimas
de abusos da Ciência, do interesse último no
poder, e não na melhoria da condição
humana.
Leia na seqüência:
O Duende Verde e outros
bandidos muito simbólicos
Ou use a teia e salte
para:
O Super-Herói
sofre como um Cristo medieval
O Homem-Aranha e o Inconsciente Coletivo
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