Constelar

ENTENDENDO A CRISE ARGENTINA

A república das caçarolas vazias

Fernando Fernandes

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Dizem que sou chato... Deve ser porque não ando de Ferrari... Chamam de chato meu espírito austero, minha integridade moral, minha seriedade republicana. (palavras de Fernando De la Rúa durante a campanha eleitoral que o elegeu presidente da Argentina)

Não temos o horário do nascimento de Fernando De la Rúa, e mesmo os astrólogos argentinos também não parecem ter esta informação. O que sabemos dele é que nasceu em Córdoba no dia 15 de setembro de 1937. Levantando uma carta solar, vemos um Grande Trígono em Terra, formado pela tripla conjunção de Sol, Netuno e Mercúrio em Virgem a aspectar Júpiter e talvez também a Lua (dependendo do horário de nascimento) em Capricórnio e Urano em Touro. As tensões ficam por conta de Marte em Sagitário, que faz quadratura aos planetas em Virgem. Resumidamente, trata-se de um homem prático, com perfil de administrador, conservador (pelo Grande Trígono e pela ênfase em Terra), mas também com grande interesse em ciências jurídicas e temas sociais (Júpiter-Lua em trígono com Sol-Mercúrio-Netuno), sem falar no impulso de ascensão na vida política, típico de Capricórnio. De la Rúa formou-se em Direito e lançou-se na política desde os 26 anos, nunca mais a abandonando. As quadraturas de Marte mostram-no como um homem disposto a assumir desafios, mas ao mesmo tempo sujeito a envolver-se em situações críticas, violentas ou de muita turbulência.

Indivíduos que nascem sob um Grande Trígono (um triângulo formado por planetas nos três signos do mesmo elemento) tendem a encontrar um "caminho fácil" de expressão e manter-se fiel a ele, rejeitando mudanças. Raciocinam com base no velho ditado de que "não se mexe em time que está ganhando"... mesmo quando, ocasionalmente, o barco já está à deriva. Assim procedeu De la Rúa com a questão da paridade cambial. Assim agiu com seu cada vez mais impopular ministro Cavallo. A resistência a mudar levou-o à queda. Renunciou, mas não abriu mão de suas idéias.

De la Rúa foi um dos presidentes mais apagados intelectualmente da história recente da Argentina. Sobre ele contam-se histórias inacreditáveis. Em artigo para a revista Poder de outubro de 2001 o jornalista Martín Caparrós relaciona fatos e rumores sobre o comportamento do presidente, todos concorrendo para consolidar a impressão de um homem medíocre e de raciocício lento, incapaz de tomar decisões objetivas em situações críticas. Nos últimos meses apresentava uma "dicção confusa e ausências repentinas". Eduardo Duhalde, seu adversário peronista, insinuou que o presidente estava sedado por causa do excesso de medicamentos antidepressivos e, conseqüentemente, com dificuldade para articular idéias. O próprio ministro da Saúde chegou a afirmar que De la Rúa sofria de arterioesclerose. O cartunista do jornal La Nación apelidou-o de "ese lentísimo prescindente Frenando de la Duda" (esse lentíssimo prescindível freiando da dúvida). Numa ocasião, De la Rúa decidiu trabalhar pela mudança de sua imagem e compareceu a um programa de TV onde sempre era criticado. Comportou-se bem até o momento em que um jovem levantou-se da platéia gritando acusações. De la Rúa ficou aparvalhado enquanto o agressor era contido diante das câmeras por um ator fantasiado de tamanduá. Para completar o ridículo, o confuso presidente tentou sair de cena por uma porta falsa - uma porta de cenário que jamais poderia ser aberta - e acabou vagando pelo palco sem saber o que fazer.

Um dado curioso do mapa do ex-presidente é a absoluta ausência de planetas em signos de Ar, exatamente o do raciocínio lógico e da agilidade verbal. Mercúrio está bem posicionado em Virgem, mas em conjunção com Netuno, um símbolo astrológico para o caos e a indefinição. Este Netuno também fecha quadratura com Marte, indicando ações dispersivas e de pouca objetividade.

De Virgem, De la Rúa tem também um certo puritanismo e a disposição crítica, agravada pela agressividade verbal da quadratura Mercúrio-Marte. Durante a campanha eleitoral, tentou passar a imagem de um homem simples, íntegro e honesto. Meses depois esta imagem já estava tisnada por pequenos escândalos envolvendo seu filho (escândalos também são regidos por Netuno). No discurso de posse, em 1999, atacou o ex-presidente Menem e seu modelo de administração. Ao renunciar, continuou a criticar os governos anteriores e os políticos que colocavam seu interesse acima do bem comum. Ao renunciar, nenhum político influente do país saiu em sua defesa.

Se a teimosia já é um traço de De la Rúa, é muito mais de Domingo Felipe Cavallo, que nasceu em San Francisco, província de Córdoba, em 21 de julho de 1946. Mentor da estabilidade econômica do governo Menem, quando implantou o discutível Plano Cavallo, assumiu o ministério da Economia no governo De la Rúa quando as finanças do país já não iam bem e exigiu que fossem concentradas em suas mãos poderes especiais, que o transformaram num superministro. Levantando uma carta solar, encontramos uma conjunção Sol-Saturno em Câncer e outra entre Mercúrio e Plutão em Leão. Ambas concorrem para identificá-lo como um homem perseverante, que vai até o fim para alcançar o objetivo - ou quebrar a cara. Também explicam a rudeza de suas declarações e uma certa arrogância na postura. Duro, pouco flexível e amante do poder, Cavallo tem também uma quadratura ousada e provocativa, formada por Marte e Urano (além de uma Lua em Áries oposta a Júpiter!). Em momentos de crise, age como o incendiário, e não como o bombeiro. Sua postura diante da crescente insatisfação popular, nada conciliatória, contribuiu fortemente para a queda de De la Rúa. Mas quem conhece alguém com disposição conciliadora e humilde que tenha uma conjunção Mercúrio-Plutão em Leão?

Domingo Cavallo - carta solar calculada para o meio-dia (desconsiderar as casas) - 21.07.1946, sem horário conhecido. San Francisco, província de Córdoba, Argentina.

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