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ENTENDENDO
A CRISE ARGENTINA
A
república das caçarolas vazias
Por que o sorumbático Fernando De la Rúa e o arrogante Domingo Cavallo tiveram de renunciar? De onde vem o poder das caçarolas vazias e das avós sofridas que derrubam governos? Que destino trágico é esse que apequenou um país e levou seu povo à miséria? O que se passa com a Argentina? A invasão das ruas por multidões da classe média a bater caçarolas é uma cena que já se tornou tradicional na Argentina em momentos de crise. Caçarolas são utensílios côncavos onde se prepara comida. São objetos regidos pela Lua, portanto. Tudo que diz respeito ao estômago tem conotação lunar. Assim, uma caçarola vazia pode ser uma boa forma de representar uma Lua em mau estado cósmico. A Lua rege Câncer, signo da maternidade e da nutrição. A da Argentina está em Capricórnio, signo oposto e, conseqüentemente, seu lugar de exílio. Capricórnio é o signo natural de Saturno, planeta da privação. Os cacerolazos que tomam Buenos Aires há quase um mês são, portanto, a expressão de um simbolismo astrológico universal. Talvez por isso tenham tanto força. O mesmo com as Madres de la Plaza de Mayo, inicialmente um movimento de protesto das mães que tiveram seus filhos desaparecidos durante a ditadura militar e que, desde então, têm estado na linha de frente de todos os protestos populares que consideram justos. Nas últimas semanas, as velhas senhoras de lenços na cabeça foram vistas nas ruas de Buenos Aires. Algumas enfrentaram os cassetetes e os cavalos das forças policiais. Seja pela idade, seja pela severa e sofrida dignidade, as mães da Praça de Maio já são mais que mães: são avós. São outra expressão da Lua em Capricórnio (a mãe idosa e com autoridade moral) no mapa do país. Caçarolas vazias e avós sofridas que derrubam governos. Que poder é este? Acontece que, em mapas mundanos, a Lua também representa o povo comum, em oposição à figura solar do governante. No mapa mais comumente aceito para a Argentina, o Sol está na casa 10, do Poder Executivo, enquanto a Lua ocupa a 4, da base populacional e da oposição. Por trás do aspecto que separa os dois luminares esconde-se a tragédia do país que já foi uma das mais importantes economias do mundo.
Um país com muitos mapas A primeira dificuldade quando tentamos entender astrologicamente a atual crise argentina é decidir que mapa utilizar. A Argentina teve dois momentos que podem ser definidos como um nascimento, separados entre si por uma distância de seis anos. O primeiro momento foi em 1810. Na época, boa parte do território da atual Argentina estava subordinada ao Vice-Reino do Prata, uma das divisões administrativas do império colonial espanhol na América. Como a Espanha enfrentava dificuldades na Europa, com a invasão de seu território pelas tropas de Napoleão Bonaparte, as lideranças criollas (nativas) de Buenos Aires aproveitaram para declarar sua independência em 25 de maio de 1810. Contudo, houve, de um lado, tentativas espanholas de reconquistar o território rebelde, enquanto, por outro lado, as províncias do interior não viam com bons olhos a idéia de integrarem uma nação onde todo o poder ficaria em mãos dos portenhos. A Argentina como a conhecemos hoje só nasce definitivamente
com o Congresso de Tucumán, em 1816, quando representantes de Buenos
Aires e das províncias chegam a um acordo sobre os princípios
básicos que norteariam a vida da nova nação. O congresso
estendeu-se por três meses e meio, considerando-se como data nacional
a que comemora o acordo em torno de uma Declaração de Independência,
proclamada em 9 de julho de 1816. O mapa da Independência: Congresso de Tucumán
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