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ASTROLOGIA, HOMEOPATIA E ALQUIMIA

Natureza, Símbolo, Realidade Imaginária

Alexey Dodsworth

 

Visão herética: a alquimia resgatada

A visão pagã do mundo não é de transcendência, e sim de imanência. Ou seja, a busca do homem pleno não é "sair deste mundo" para "outro melhor", e sim tornar este mundo a própria personificação do Paraíso Arquetípico, através de uma interação com a natureza, e não por intermédio de atitudes dominadoras (puro Ocidente) ou transcendentais demais (puro Oriente). O "criador" não é visto como uma entidade separada de sua criatura, mas sim como uma unidade integrada onde o fruto e a árvore são uma coisa só. A natureza e o próprio ser humano são simplesmente "a parte visível de Deus". Ou seja: "Venha a nós o Vosso Reino" - incorporar a Casa 12 na Casa 6, fazer a integração do eixo.

Este ponto de vista tentou expressar-se ao longo dos séculos através da Alquimia. Jung ousou dizer que os alquimistas eram os psicólogos do seu tempo, por tentarem compreender a natureza oculta do homem, assim como suas relações com a natureza circundante. Na visão do alquimista, "o homem é céu, o homem é terra, o homem é a representação de todo o Universo" (Paracelso).

Essa visão é também válida "de trás para frente", se considerarmos que todos os arquétipos se materializam, "todos os deuses estão em tudo", portanto podemos encontrar sentimentos humanos em pedras, processos mentais em plantas, dinâmica psíquica naquilo que em geral consideramos "inanimado". A essência escondida na forma, esperando para ser compreendida e liberada.

Esta perspectiva aponta para uma psicologia da matéria, que era a essência do trabalho do alquimista. Os alquimistas modernos são em parte os homeopatas, poderíamos dizer, em sua obra de compreender o daimon ou o "gênio" aprisionado na lâmpada mágica da matéria, o espírito que pode ser libertado através das dinamizações homeopáticas. A idéia da homeopatia - tratar o indivíduo - vai além da psicologia, no sentido de que o terapeuta homeopata busca compreender não apenas a psique humana, mas também o indivíduo enquanto corpo, assim como a psique da matéria, e recriar a esquecida ponte entre homem e natureza.

Encarada como "lenta", a filosofia homeopática nos recorda que o auto-aperfeiçoamento é o trabalho de toda uma vida, e que o objetivo essencial não é curar a dor de cabeça, a úlcera, o resfriado. A grande tarefa é compreender, resgatar, restaurar a verdadeira natureza individual. Seguindo esse processo, ocorre o inevitável: as "doenças" também se vão... Não é um processo lento, e sim de tomada de consciência, onde o paciente deve assumir responsabilidade sobre seus conteúdos e processos. Desta forma, "a cura" deixa de ser exercitada como uma responsabilidade única do médico, e passa a ser compreendida como prerrogativa do paciente.

Falemos então do astrólogo, outro moderno representante da antiga arte da alquimia.

O astrólogo, na atual conjuntura, não deveria mais ser "o adivinho, o profeta", e sim o intérprete, o tradutor da linguagem da natureza. Obviamente nem todos cumprem esse papel, vendendo seus préstimos a uma sociedade que encara o astrólogo como um divertido animador de festas de finais de ano. A astrologia, cartesianamente falando, não é ciência, graças aos deuses. A astrologia é uma filosofia de vida, onde a linguagem da natureza é respeitada e encaram-se os elementos como um todo integrado.

Astrologia e Homeopatia: dois instrumentos para combater a burrice do paradigma dominante.

Astrologia e homeopatia, dois instrumentos modernos que, juntos, restauram a imagem do antigo alquimista, através de sua obra de interpretar a natureza e restaurar a sua integridade. Unidas, pura Alquimia.

Realidade imaginária

O termo "realidade imaginária" dá lugar aos mais variados equívocos de interpretação. À primeira vista, saltam-nos à mente conceitos tais quais "fantasia", "reino do invisível", etc. A raiz do conceito é, todavia, muito mais complexa. Trata da imagem enquanto realidade, dos deuses enquanto formas, dos arquétipos manifestos e expressos no mundo tridimensional. Falamos de Ares, deus grego da guerra, e o encontramos simbolicamente representado no planeta Marte, no metal ferro, na gema hematita ou mesmo na granada, nas glândulas adrenais do homem e na capacidade de competir e de lutar.

Falamos de Afrodite, e a encontramos encarnada no cobre, representada pelo planeta Vênus, viva na capacidade de amar e na necessidade de estética.

Os nomes que damos a esses "deuses" seguem princípios culturais, mas não importa como o batizemos - se é Mercúrio, Hermes, Exu ou Loki -, uma vez que a necessidade de nomear é humana, faz parte de nosso processo de compreensão da natureza. O importante é reconhecer a existência de tais arquétipos universais, ou deuses, percebê-los não como separados de nós, e reverenciá-los como princípios inerentes não apenas ao homem, mas anteriores a ele, vivos em tudo o que existe no universo manifesto, dançando através de nós - como nos revela sabiamente o mapa astral individual, único e irrepetível.

Literatura recomendada:

WHITMONT, Edward - Psique e Substância (Summus Editorial)
HILLMAN, James - O Código do Ser
GREENE, Liz & SASPORTAS, Howard - A Dinâmica do Inconsciente

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Atalhos de Constelar 02 - agosto/1998

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