Visão herética:
a alquimia resgatada
A visão pagã do mundo não é
de transcendência, e sim de imanência. Ou seja, a busca
do homem pleno não é "sair deste mundo"
para "outro melhor", e sim tornar este mundo a própria
personificação do Paraíso Arquetípico,
através de uma interação com a natureza, e
não por intermédio de atitudes dominadoras (puro Ocidente)
ou transcendentais demais (puro Oriente). O "criador"
não é visto como uma entidade separada de sua criatura,
mas sim como uma unidade integrada onde o fruto e a árvore
são uma coisa só. A natureza e o próprio ser
humano são simplesmente "a parte visível de Deus".
Ou seja: "Venha a nós o Vosso Reino" - incorporar
a Casa 12 na Casa 6, fazer a integração do eixo.
Este ponto de vista tentou expressar-se ao longo
dos séculos através da Alquimia. Jung ousou dizer
que os alquimistas eram os psicólogos do seu tempo, por tentarem
compreender a natureza oculta do homem, assim como suas relações
com a natureza circundante. Na visão do alquimista, "o
homem é céu, o homem é terra, o homem é
a representação de todo o Universo" (Paracelso).
Essa visão é também válida
"de trás para frente", se considerarmos que todos
os arquétipos se materializam, "todos os deuses estão
em tudo", portanto podemos encontrar sentimentos humanos em
pedras, processos mentais em plantas, dinâmica psíquica
naquilo que em geral consideramos "inanimado". A essência
escondida na forma, esperando para ser compreendida e liberada.
Esta perspectiva aponta para uma psicologia da matéria,
que era a essência do trabalho do alquimista. Os alquimistas
modernos são em parte os homeopatas, poderíamos dizer,
em sua obra de compreender o daimon ou o "gênio"
aprisionado na lâmpada mágica da matéria, o
espírito que pode ser libertado através das dinamizações
homeopáticas. A idéia da homeopatia - tratar o indivíduo
- vai além da psicologia, no sentido de que o terapeuta homeopata
busca compreender não apenas a psique humana, mas também
o indivíduo enquanto corpo, assim como a psique da matéria,
e recriar a esquecida ponte entre homem e natureza.
Encarada como "lenta", a filosofia homeopática
nos recorda que o auto-aperfeiçoamento é o trabalho
de toda uma vida, e que o objetivo essencial não é
curar a dor de cabeça, a úlcera, o resfriado. A grande
tarefa é compreender, resgatar, restaurar a verdadeira natureza
individual. Seguindo esse processo, ocorre o inevitável:
as "doenças" também se vão... Não
é um processo lento, e sim de tomada de consciência,
onde o paciente deve assumir responsabilidade sobre seus conteúdos
e processos. Desta forma, "a cura" deixa de ser exercitada
como uma responsabilidade única do médico, e passa
a ser compreendida como prerrogativa do paciente.
Falemos então do astrólogo, outro moderno
representante da antiga arte da alquimia.
O astrólogo, na atual conjuntura, não
deveria mais ser "o adivinho, o profeta", e sim o intérprete,
o tradutor da linguagem da natureza. Obviamente nem todos cumprem
esse papel, vendendo seus préstimos a uma sociedade que encara
o astrólogo como um divertido animador de festas de finais
de ano. A astrologia, cartesianamente falando, não é
ciência, graças aos deuses. A astrologia é uma
filosofia de vida, onde a linguagem da natureza é respeitada
e encaram-se os elementos como um todo integrado.
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Astrologia e Homeopatia: dois instrumentos
para combater a burrice do paradigma dominante. |
Astrologia e homeopatia, dois instrumentos modernos
que, juntos, restauram a imagem do antigo alquimista, através
de sua obra de interpretar a natureza e restaurar a sua integridade.
Unidas, pura Alquimia.
Realidade imaginária
O termo "realidade imaginária" dá
lugar aos mais variados equívocos de interpretação.
À primeira vista, saltam-nos à mente conceitos tais
quais "fantasia", "reino do invisível",
etc. A raiz do conceito é, todavia, muito mais complexa.
Trata da imagem enquanto realidade, dos deuses enquanto formas,
dos arquétipos manifestos e expressos no mundo tridimensional.
Falamos de Ares, deus grego da guerra, e o encontramos simbolicamente
representado no planeta Marte, no metal ferro, na gema hematita
ou mesmo na granada, nas glândulas adrenais do homem e na
capacidade de competir e de lutar.
Falamos de Afrodite, e a encontramos encarnada no
cobre, representada pelo planeta Vênus, viva na capacidade
de amar e na necessidade de estética.
Os nomes que damos a esses "deuses" seguem
princípios culturais, mas não importa como o batizemos
- se é Mercúrio, Hermes, Exu ou Loki -, uma vez que
a necessidade de nomear é humana, faz parte de nosso processo
de compreensão da natureza. O importante é reconhecer
a existência de tais arquétipos universais, ou deuses,
percebê-los não como separados de nós, e reverenciá-los
como princípios inerentes não apenas ao homem, mas
anteriores a ele, vivos em tudo o que existe no universo manifesto,
dançando através de nós - como nos revela sabiamente
o mapa astral individual, único e irrepetível.
Literatura recomendada:
WHITMONT, Edward - Psique e Substância (Summus
Editorial)
HILLMAN, James - O Código do Ser
GREENE, Liz & SASPORTAS, Howard - A Dinâmica do Inconsciente
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Dodsworth.
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