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olhar brasileiro em Astrologia
Edição 101 :: Novembro/2006 :: - |
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MITO, ASTROLOGIA E PSICANÁLISEO mito de Prometeu e o elemento Fogo
Entre o prazer originário e a realidade terrena existe uma ruptura - um fogo perdido - que será para sempre um lugar de fome e de mal-estar. Prometeu era um dos quatro filhos de Jápeto e Clímene e pertencia à raça dos Titãs. Como era um adivinho, previu a derrota de seu povo e tornou-se amigo de Zeus. Segundo a tradição (que não consta da Teogonia de Hesíodo), Prometeu criou os primeiros seres humanos na Terra. Bem antes da vitória de Zeus sobre os Titãs, Prometeu foi um benfeitor da humanidade. Devido a esta troca de lugares os deuses sempre desconfiaram da proteção dada por Prometeu aos homens. Um dia em Mecone, o deus filantropo desejou ludibriar o pai dos deuses e dos homens em favor dos mortais, dividindo um grande boi em duas porções: a primeira continha carnes e entranhas, cobertas pelo couro do animal. A segunda, apenas os ossos, disfarçados com a gordura branca dos mesmos. Ao escolher uma delas, Zeus optou pela segunda e, vendo-se burlado, "a cólera encheu sua alma, enquanto o ódio lhe subia ao coração"[1]. Um terrível castigo foi imposto. Zeus privou o homem do fogo - simbolicamente do nûs, da inteligência - tornando a humanidade "ignorante". Novamente o benfeitor dos homens agiu. Roubou uma centelha do fogo celeste, ocultando-a na haste de uma férula, e a trouxe à Terra, reanimando os mortais. O maior dos deuses Olímpicos resolveu punir com mais rigor a humanidade e seu protetor. Contra os homens imaginou perdê-los para sempre através da irresistível Pandora (cuja caixa continha todos os males da humanidade, inclusive a esperança). Contra Prometeu, a punição foi terrível. Ele foi acorrentado com grilhões em uma coluna e tinha o fígado "roído" durante o dia por uma águia e, à noite, o órgão se regenerava. Zeus jurou que jamais o libertaria daquela prisão. Habilitados parcialmente pela centelha de fogo celeste, os homens experimentaram o uso diferencial da inteligência e a fome de saber. Quanto a Pandora ("a detentora de todos os dons"), ela foi a primeira mulher modelada em argila, animada por Hefesto e tornada irresistível pelos deuses - "Afrodite deu-lhe a beleza e insuflou-lhe o desejo indomável que atormenta os membros e os sentidos." Por fim, Hermes concedeu-lhe o dom da palavra. Fome, saber e sexualidade desencadearam assim um projeto humano. A transgressão realizada por Pandora ao abrir a caixa que continha todos os males do mundo determinou o ponto de partida em que as pessoas passaram a conviver numa tremenda confusão, sendo uma tarefa importante a "diferenciação entre as espécies e, sobretudo, do homem com o próprio semelhante". [2] O desencontro com a situação paradisíaca de possuir todo o fogo implicou "o encontro com a sexuação, no prazer, no desprazer, no sofrimento, no trabalho, na dúvida". [3] Entre este prazer originário e a realidade terrena existe uma ruptura - um fogo perdido - que será para sempre um lugar de fome, de um mal-estar. Na Astrologia, as casas do elemento Fogo representam lugares onde o ser humano deve buscar a construção dos sentidos da vida. Em Áries, o que é mais básico e pulsional, o que se combina com seus afetos; em Leão, a sua paixão e seus derivados; e em Sagitário, a construção de seu caminho. Como nos explicita Bachelard, "o fogo é brilhante, como uma consciência da solidão". [4] NOTAS: 1- BRANDÃO, Junito, Dicionário Mítico-Etimológico,
Vol. II, Vozes: Petrópolis, 1992, p. 328-329. Outros textos de Luiz Roberto Delvaux de Matos. |
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