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Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 101 :: Novembro/2006 :: - |
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A ASTROLOGIA NA CONTEMPORANEIDADEA singularidade do mapa
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Kátia Lins |
Quando fazemos uma leitura de mapa não estamos no reino das semelhanças, mas das analogias, e é isso que caracteriza a astrologia como um saber de grande importância para a afirmação da singularidade do sujeito e de resistência à cultura do narcisismo que "aniquila a alma".
Já
faz alguns anos que tenho pensado e desenvolvido um trabalho de "escuta"
sobre a universalidade dos símbolos astrológicos e sua transmissão
que sempre se dá pela linguagem, isto é, pelos discursos
que caracterizam o contexto histórico e cultural de uma época.
Dito de outra maneira, ainda que os símbolos se mantenham como
"atemporais", é somente na linguagem e na cultura que
podem ser transmitidos, vivenciados e subjetivados. Desse modo, é
inevitável que sofram modificações de leitura. O
mundo contemporâneo, como sabemos, se constitui sob a égide
de uma ideologia globalizante que nos impõe a "clonagem psíquica"
como modelo de subjetividade. Isso quer dizer que, sob essa ideologia,
a singularidade, o estilo próprio, a ética e o desejo de
cada um são tratados como algo que deve ser eliminado, pois a singularidade
é diferença que ameaça a ilusão das identidades
que se assemelham quase idênticas. Chamemos esse modelo cultural
de cultura narcísica, isto é, uma cultura de espelhamentos
de EUS que refletem uns aos outros e, assim, o que deveria ser concebido
como "diferença absoluta" é experienciado psiquicamente
como "diferença entre semelhantes". Podemos compreender
a "diferença entre semelhantes" como produtora de rivalidades
e como sustentáculo da violência, porque nesse jogo de espelhamento
entre "eus" a identidade constituída na semelhança
provoca a ilusão de apaixonamento e de idolatria, enquanto as diferenças
entre semelhantes evocam o ódio. Dito em outros termos, entre semelhantes
qualquer diferença é intolerável pois ameaça
a perda do EU. Isso é facilmente constatável nas rivalidades
entre irmãos que se assemelham em peso, altura e idade ou em qualquer
outro fator e que não toleram tratamentos diferenciais de seus
pais, imaginando privilégios para o outro. Do mesmo modo, a competição
que se dá entre pessoas de uma mesma classe econômica, social
e cultural. No que diz respeito à "diferença absoluta",
ela não se encontra nesse jogo de semelhanças e de espelhamento
mas de reconhecimento da alteridade e o que promove o respeito pelo outro
em sua singularidade de existência.
Mas o que tem a ver a astrologia com tudo isso? A astrologia é um saber que visa à singularidade do sujeito, ou seja, sua prática demonstra que cada sujeito é único ao criar significados e sentidos próprios para o seu mapa astrológico, ainda que todos tenhamos os mesmos símbolos no mapa ou que vários outros "nascimentos" ocorram sob um mesmo céu. Em outros termos, a astrologia é uma linguagem que se faz por analogia, e não por semelhança. Pensemos nas palavras do velho e sábio Hermes: "O que está em cima é ANÁLOGO ao que está em baixo e o que está em baixo é ANÁLOGO ao que está em cima". Neste adágio, o termo "análogo" não pode ser substituído por SEMELHANTE ou IDÊNTICO. O que estou dizendo é que o termo análogo é de suma importância para a compreensão da linguagem astrológica. Como astrólogos, sabemos que a seguinte seqüência de termos: chumbo, dente, coluna vertebral e instituição (etimologicamente, instituir é por algo de pé) nos remetem a uma linguagem de correspondência analógica com o planeta Saturno, e não de semelhança. Ninguém é ingênuo ao ponto de dizer que existem "semelhanças" entre Saturno e um "dente" ou entre um "dente" e um pedaço de "chumbo". Portanto, quando fazemos uma leitura de mapa não estamos no reino das semelhanças mas das analogias, e é isso que caracteriza a astrologia como um saber de grande importância para a afirmação da singularidade do sujeito e de resistência à cultura do narcisismo que "aniquila a alma".
Voltando à questão da transmissão do simbolismo pela linguagem, gostaria de pensar sobre os valores simbólicos de algumas casas astrológicas tais como são os das casas de Água, a casa 4, a 8 e a 12 e suas relações atuais, principalmente com a casa 10. As casas de Água, cada uma a seu modo, nos falam de privacidade e de intimidade. Entretanto, é fácil percebermos que os assuntos a elas correspondentes, como Família, Sexo, Morte, Fé, Sabedoria do Inconsciente, etc, se transformaram em assuntos de casa 10, isto é, o que era antes considerado como íntimo e privado passou a ser visto por todos (casa 10) em forma de espetáculo (casa 5). As pessoas são levadas a acreditar que é preciso ser famoso a qualquer preço, ainda que para isso tenha que se fazer sexo para todo mundo ver nos "reality shows" ou expor assuntos familiares, como brigas de família ou exames de DNA, em programas que mais parecem um "circo dos horrores". Sob a lona desses circos, a mensagem que nos é dada é: "roupa suja se lava em público" e serve de graça para todos e é "de graça". Sob essa grande lona não há espaço para a singularidade, pois querem nos fazer todos semelhantes, quase idênticos. Estaremos todos diante de um único espelho d'água netuniano que nos traz a ilusão de estarmos apaixonados por imagens de "EUS" idênticos (uma distorção do simbolismo de Vênus)? Por falar nisso, o que é namorar nos dias de hoje? Como fica o simbolismo de casa 5, Vênus, Marte, casa 8, que são símbolos envolvidos nas relações chamadas "afetivas"? Seria algo que hoje traz consigo a mesma efemeridade dos valores impostos pelo mercado financeiro (eixo casa 2 e 8)?
Quem
viu um episódio do seriado de TV Cidade dos Homens que tratava
sobre "o Baile de Sábado" poderá associá-lo
com os adolescentes que recebo em meu consultório e que me dizem
que em uma só noite são capazes de beijar até 10,
15, 18 bocas. Não são pessoas, são BOCAS. Todas são
semelhantes quase idênticas, pois, se houvesse diferença
absoluta, não haveria essa "repetição do mesmo".
Pensando em tudo isso é que acho importante que façamos encontros entre os astrólogos para que possamos trocar nossas experiências de leituras sobre mapa e pesquisas. Como profissionais de um saber que se relaciona intimamente com o psiquismo humano, não podemos deixar de nos preocupar sobre como se formam as subjetividades no mundo contemporâneo. Devemos pensar se estamos trabalhando no registro da analogia ou se estamos enfatizando as semelhanças narcísicas. Dito em outros termos, devemos nos questionar se ao fazermos uma leitura de mapa estamos, realmente, possibilitando aos nossos clientes que construam um estilo de vida próprio, isto é, abrindo possibilidades de construção, desconstrução e reconstrução de novos significados para cada existência, ou se, por receio de encararmos a alteridade, propomos uma "cola" entre simbolismo e significados, imobilizando, assim, a beleza do vir-a-ser.
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