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 Edição 92 :: Fevereiro/2006 :: -

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ASTROLOGIA E PERSONAGENS DE FICÇÃO

Plutão e o Conde de Monte Cristo

Vanessa Tuleski

Ao escrever O Conde de Monte Cristo, Alexandre Dumas criou uma das obras mais conhecidas da literatura mundial. E não é para menos: na história do jovem oficial condenado por um crime que não cometeu pulsa toda a intensidade de Plutão e de seus inescapáveis mecanismos transformadores.

Cartaz do filme "O Conde de Monte Cristo" (2002)Pelo menos três obras do escritor Alexandre Dumas foram adaptadas ao cinema: Os Três Mosqueteiros, A Rainha Margot e O Conde de Monte Cristo. Este artigo se concentra na última e na sua versão cinematográfica de 2002 (cartaz ao lado), ligeiramente diferente da do livro, mas ainda fiel a sua essência. A opção pela versão do cinema é porque a reinterpretarão de obras funciona como uma tradução da mesma para o público contemporâneo. Isto não quer dizer que histórias escritas há mais de um século sejam perecíveis, mas sim que a alteração de certos detalhes pode fazer com que o público atual possa se identificar mais com elas, e, com isto, haver maior penetração do conteúdo.

Astrologicamente, O Conde de Monte Cristo está fortemente baseado em Plutão, Escorpião e na casa oito, respectivamente planeta, signo e casa ligados a um princípio semelhante. Plutão representa o processo de transformação, Escorpião é o sujeito que transforma e se transforma e a casa oito é a forma pela qual a transformação acontece (exemplo: através de fatores amorosos, coletivos, de uma perda, etc).

Para simplificar, vamos resumir todos estes princípios em um só, atribuindo todos a Plutão. Plutão, portanto, será chamado de processo de transformação e de tudo o que faz parte dele, como os sujeitos transformadores. Estes, por sua vez, serão divididos entre Plutão positivo ou negativo, de acordo com os papéis que desempenharem. Plutão também será identificado como o poder, as artimanhas, mas também com a força regeneradora. Misturamos propositalmente estes conceitos pelo fato de que eles serão tão fartos na história que classificar o que seria planeta, signo, características humanas e processos impessoais seria exaustivo e não levaria a um maior esclarecimento. O importante, bem à moda de Plutão, é entender a essência e ser capaz de se enxergar como o protagonista de O Conde de Monte Cristo.

Por que O Conde de Monte Cristo é plutoniano

A história do oficial da marinha Edmond Dantès está baseada em questões ligadas às temáticas dos princípios de Plutão: traição, injustiça, perda da inocência, perdas concretas, morte real e simbólica, renascimento, vingança e resgate.

No início do filme, é dada uma chance ao espectador de apreciar as qualidades do oficial da marinha Edmond Dantès, nosso herói, futuro conde. Edmond é competente, corajoso, faz o que precisa ser feito, é bom amigo, belo, vigoroso, sincero e apaixonado por sua noiva Mercedes. Tudo perfeito. Em meio a tudo isto, porém, Edmond tem apenas um grave defeito, capaz de colocar em risco todas as suas boas qualidades: é ingênuo. O protagonista é puro não só no sentido de nunca ter sido corrompido, mas de nunca tê-lo sequer imaginado ou cogitado. Suas qualidades tão elevadas o isolam do elemento humano da maldade, inveja e interesses. Edmond parece desconhecer completamente a existência de um lado negro nas pessoas. Tal comportamento é patente em três situações:

  • Confia cegamente em seu amigo, o filho do conde Mondego, sem jamais perceber que, além de invejá-lo, ele cobiça a sua noiva.
  • Não percebe a si mesmo como uma ameaça para seu superior imediato, o primeiro imediato Danglars. No mundo de Edmond, o lugar que se conquista depende dos próprios méritos, e não de ardis, alianças e da capacidade de manter uma posição.
  • Tem uma empatia natural com as pessoas, a ponto de não perceber que um político experiente como Napoleão Bonaparte, em uma situação de exílio, tentaria empregar todos os meios para mudar sua própria situação, incluindo usar as pessoas. Napoleão fará isto com Edmond ao dizer que precisa que uma carta de conteúdo somente sentimental chegue a um velho amigo. Como Edmond não tem a maldade dentro de si, não pode conhecê-la no outro, e, assim, acredita em Bonaparte. Vale o que as pessoas dizem.

Um ponto importante a ser compreendido na história de um ingênuo marinheiro que se transforma em vingador é que Edmond é naturalmente bom e honrado, mas não é um santo, pois os santos conhecem profundamente os pecados daqueles que os circundam e mesmo assim os amam. Edmond vive em um mundo sem pecados, sem maus sentimentos e sem tramas. Um mundo afetuoso e simples. Em certa medida, um mundo taurino, do qual ele será dramaticamente retirado. É esta, digamos assim, a aberração que caracteriza Edmond, e que, igualmente, faz parte do seu encanto.

Nenhuma de suas boas qualidades, porém, será capaz de impedir a força com que a ausência deste componente plutoniano - o conhecimento da maldade ou daquilo que está oculto - irá arrastá-lo para o abismo, testando quem ele verdadeiramente é. Inclusive, se é bom ou não, e até que ponto. Plutão tem por função desmascarar. Mostrar como as coisas são é a única maneira de revelar forças e fraquezas, e, junto com elas, os nossos potenciais e a nossa verdadeira natureza. A lei da vida, portanto, irá obrigá-lo a conhecer tudo isto, como faz a cada um de nós. Há alguém que esteja livre de enxergar ou experimentar a maldade e as vilanias? Por que Edmond ficaria incólume? O único problema é que ele irá conhecer tudo isto de uma vez só. Não é incomum que Plutão represente o choque de se deparar com um porão de cuja existência nunca se soube. Vê-lo fará com que nada jamais volte a ser igual. Plutão é, portanto, o planeta 'anti-inocência', que é o aspecto mais evidente em Edmond Dantès. Plutão é como um pai rico e desconhecido, que surge do nada para testar se o seu filho é merecedor da imensa fortuna que tem a legar.

Carniça para corvos: a inocência para os ardilosos

Edmond está cercado do que chamaríamos de plutonianos 'negativos', isto é, pessoas tomadas por suas paixões, a ponto de serem implacáveis com os outros. Todos os inimigos de Edmond não têm nenhuma piedade por ele, a começar por Napoleão. Qualquer mortal encontraria motivos para desconfiar do ex-general que dominou a França e foi exilado, mas o carismático Napoleão Bonaparte (ninguém chega ao poder sem uma boa dose de carisma, o que tem a ver com Plutão) tira a sorte grande ao se deparar com Dantès. Seria apenas sorte? Certamente, não. Se Edmond não exercita o conhecimento humano, é bom que se diga que os plutonianos - negativos ou positivos - sim. Fazem isto o tempo todo. Estão sempre querendo descobrir como as pessoas funcionam, quais são seus mecanismos. Todos eles possuem sofisticadíssimos sistemas de detecção psicológica. O que diferencia um plutoniano positivo de um negativo é somente a forma como usa este poder. O negativo praticamente vive de explorar seu vasto conhecimento do ser humano, posto que só esteja interessado em obter vantagens para si mesmo. Para o plutoniano negativo indivíduos ingênuos e desarmados como Edmond são um banquete, pois é preciso menos tempo e trabalho para enganá-los. Napoleão, portanto, reconhece em Dantès o tipo que pode ser ludibriado. Os valores de Dantès são tão transparentes, e ele é tão crente na bondade das figuras de autoridade, que não é difícil persuadi-lo.

Aqui temos o primeiríssimo aviso de Plutão. A menos que você não ligue para o que possam fazer de você, sendo um santo ou uma pessoa iluminada, não ande tão desprevenido: assuma minimamente que é preciso ter uma certa precaução com as pessoas.

Fernand: o falso amigo de Dantès

Fernand Mondego duela com o Conde de Monte Cristo

Fernand Mondego é filho de conde. E, no entanto, anda com o simples Edmond Dantès. Por quê? Identificação, bons sentimentos, capacidade de fazer escolhas que transcendem classe social e aparência? Poderia ser. Porém, infelizmente, nada disso, em se tratando de Fernand. O filho dos Mondego recebeu tudo - educação, conforto, posição - e aparentemente nunca teve de fazer nenhum esforço, ao contrário de Edmond, que teve de conquistar tudo. Edmond ascende por seus próprios méritos e é alvo da paixão da bela Mercedes, de origem humilde como ele. Edmond brilha sem querer brilhar. Nada mais irritante para um menino mimado e sem méritos próprios, como Fernand. E a riqueza de Mondego não consegue emocionar Mercedes. Quando seu amigo fica feliz com o novo posto de capitão, a inveja que já existia em Fernand atinge um ponto insuportável. Plutão rege o que fica oculto e um dia emerge.

Fernand, porém, tem suas travas morais, e precisa de um motivo para voltar-se contra seu amigo. Quando este não lhe conta ser portador de uma carta de Napoleão (pois prometeu isto ao general), Fernand tem a primeira justificativa para se sentir traído. É algo plutoniano arranjar falsos motivos para destruir o que incomoda. E é mais plutoniano ainda que certos impulsos precisem de companhia para serem realizados. Plutão rege os companheiros de conluio, aqueles que somam força. Para Mondego, este companheiro será Danglars, que, com muito despeito, se torna subordinado daquele que antes chefiava, o novo capitão Edmond Dantès.

Antes de seguirmos, é preciso atentar para outro detalhe no mínimo intrigante: Fernand descobre que o amigo é portador de uma carta ao desconfiar do comportamento dele depois da conversa privada com Napoleão. Mexe nas coisas de Edmond e encontra a tal carta. Ou seja, ele, Fernand, pode desconfiar à vontade de Edmond e até mexer nas suas coisas, mas não permite que Edmond sequer sonhe em fazer a mesma coisa. O plutoniano distorcido tem delírios de se achar a única pessoa correta. E não suporta ser passado para trás. Diante da menor suspeita, faz isto antes. Este impulso automático, compulsivo, é altamente destrutivo. A pessoa é guiada como que por uma força cega. Ainda que não gostemos de Fernand, e que isto não justifique suas atitudes, o que ele trama é fruto de um momento típico de descompensação e reação automática.

A amizade de Edmond e Fernand está baseada na extrema diferença entre os dois. Enquanto Edmond não sabe nada sobre o mundo, Fernand está farto de saber como funciona. Inclusive, chega a avisar o amigo de que não será sempre bom. Se são amigos, e tão diferentes entre si, é como se o inconsciente de um precisasse desesperadamente do que o outro tivesse a oferecer. Fernand não pode ser naturalmente nobre e bom, enquanto a Edmond não é permitido assumir força e poder, tem de ser sempre humilde. Uma das funções de Plutão parece ser a de acabar com papéis rígidos e com o que aprisiona a personalidade. Em algum nível, Edmond precisa de Plutão para alcançar seu poder, e, com isto, suas potencialidades.

O auge como o início da derrocada



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