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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 141 :: Março/2010 :: -

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ASTROLOGIA E COMPORTAMENTO

Júpiter e a falta de medida

Silvia Ceres

Júpiter é o o Grande Benéfico que simboliza a abundância e a graça. Todavia, quando tensionado também significa o risco de deixar-se levar pela soberba e pelo orgulho que justificam todos os excessos. Um roteiro para compreender o papel de Júpiter nos signos e nos aspectos harmônicos e desarmônicos.

Júpiter e JunoA proposta original deste trabalho era investigar se o conceito hindu de Carma apresentava alguma possível equivalência no universo grego. A razão para imaginar um possível paralelismo baseava-se na origem indo-européia de ambas as culturas.

[Esquerda: Júpiter e Juno
Carraci, s. XVI]

No decorrer da investigação, surgiu a noção de hybris, uma força desproporcional que, ao irromper, quebra toda noção de equilíbrio. Esse conceito nasce na estrutura da tragédia da Grécia antiga.

O herói trágico é alguém excepcional, fora do comum, seja por sua virtude, consciência ou posição social. Em algum momento de sua existência se vê confrontado de maneira inevitável pelos deuses ou pelo universo, sendo empurrado por uma força cega para um desenlace fatal: a loucura ou a morte.

A hybris ou excesso remete a um sentimento de orgulho, de paixão descontrolada que leva a homem a tentar ocupar um espaço que não lhe pertence. Quem comete hybris é culpado por querer tomar para si uma parte maior do que a atribuída pelo destino. Os deuses o castigam para recolocar o indivíduo nos limites que nunca deveria ter transgredido.

O herói trágico é alguém que paga com sua vida por desafiar os desígnios de uma ordem superior, à qual deve estar rigorosamente subordinado.

Idéias semelhantes à hybris grega encontram-se no mito de Lúcifer, no judaísmo, ou no pecado cristão da soberba.

Segundo as Escrituras, a soberba é o maior dos pecados e a origem de todos outros. Não só implica um excessivo orgulho pessoal, mas também também um menosprezo pelo próximo. A criatura não se reconhece como criatura e, com seus desejos, enfrenta Deus, decidindo não se submeter a seus desígnios.

Retornando ao velho mundo helênico, os estóicos aconselhavam: “Quando te levantares a cada dia não penses se és imperador, pensa: devo cumprir minha tarefa como homem”.

A hybrys provoca como consequência o castigo de perder o apoio e os favores divinos, porque o homem toma para si mais do que foi outorgado como graça.

Astrologicamente, a graça, como dom concedido ao ser humano, está representada por Júpiter, planeta que já traz implícito o risco do excesso, da falsa confiança e do autoengrandecimento.

ZeusComo assinala Peuckert, Júpiter foi em seus origens uma deidade do tempo, que reunia as nuvens e permitia as chuvas, a bênção do céu para as culturas agrárias. A Odisséia testemunha reiteradamente a constituição de Júpiter em uma deidade protetora da família e do lar, a quem se solicitava a abundância e o bem-estar. Este pai doador e protetor - ainda vigente na exaltação de Júpiter em Câncer e na forma lunar da parte superior de seu símbolo - cresceu em status até converter-se na autoridade máxima do Olimpo.

Como se pode apreciar na evolução histórica da figura do Júpiter, o risco de crescer em demasia já está implícito na passagem de uma deidade doméstica a dispensador da sabedoria.

Desta forma, o denominado “benéfico maior” pode facilmente desviar-se de sua meta, apropriando-se de mais do que seria necessário e caindo na miragem da abundância ilimitada. Neste sentido, é um gerador de Carma no presente que precisará ser reparado no futuro.

A crise econômica mundial que atualmente estamos padecendo pode ser pensada como uma disfunção jupiteriana. O trânsito recente de Plutão por Sagitário deixou como sequela um panorama de excessos que vieram à luz:

  • O excesso das lucros empresariais e seus executivos-estrelas.
  • O excesso no nível de vida do cidadão dos países desenvolvidos, tentado a endividar-se para viver acima de suas possibilidades reais.
  • O excesso de produção e consumo de bens que levou ao saque indiscriminado das riquezas naturais de nosso planeta.

E agora, assustados, tomamos consciência de que devemos pagar o desmedido festim. Estamos despertando na manhã seguinte de uma festa sensacional, sentindo o mal-estar de ter bebido e comido demais. Júpiter - regente do fígado - transitando por signos onde Saturno atua como dispositor - Capricórnio e Aquário - convida-nos a fazer dieta para voltar a equilibrar nosso organismo/sociedade.

Voltando para o Júpiter na carta individual, Oscar Adler assinalou que, especialmente quando o planeta apresenta aspectos tensos, produz hybris: arrogância, soberba e vaidade.

Sua presença em cada um dos elementos se relaciona com quatro possíveis tipos de crenças e o consequente risco de cair na jactância.

Júpiter em Fogo

A característica desta posição é a crença na vontade, somada a uma certeza moral interna.

A hybris está relacionada à tentação de impor a vontade pessoal como se fosse uma vontade superior ou transcendente. Áries tentará situar sua autonomia acima da autonomia alheia. Leão se mostrará incapaz do menor sacrifício, procurando sempre o caminho mais cômodo. Sagitário se tornará um fanático da justiça, que não hesitará em impor sem maiores considerações.

Júpiter em Terra

Posição complexa, na medida em que os ideais são difíceis de confirmar na vida cotidiana, existindo um abismo entre a incansável busca do divino e a comprovação prática.

A hybris se relaciona com o orgulho da virtude, a fixidez moral que se torna rigidez frente à “incorreção” dos atos alheios. Capricórnio temerá ver-se obrigado a dobrar seu orgulho e humilhar-se. Touro, para defender-se, desqualificará os outros. Virgem esconderá uma secreta arrogância que se manifesta como hostilidade para o mundo.

Júpiter em Ar

O conteúdo básico é um ideal de liberdade de pensamento a serviço da verdade.

A hybris se manifesta como soberba intelectual, desprezando qualquer questionamento lógico de suas crenças. Carece de interesse pelas percepções intelectuais de outros e tem incapacidade para compreender outros pensamentos. Libra mostrará rivalidade frente a um interlocutor que não coincida com seu critério. Aquário exibirá a certeza de ser um “um gênio original e incompreendido”. Gêmeos se acreditará com direito a ensinar, ainda que contra a vontade do suposto “aluno”.

Júpiter em Água

Funciona como um oásis nas tormentas emocionais e proporciona um refúgio para a alma contra toda dor, oferecendo redenção ou apoio.

A hybris o leva a cair facilmente na crença de sentir-se um perito nos labirintos da alma humana. Câncer exagerará a tolerância para justificar quem faz parte de seu entorno emotivo. Escorpião abusará de seu poder pessoal para dominar a alma alheia. Peixes cairá na hipocrisia, devido a uma soberba exagerada em sua capacidade de compreensão.

Zeus e TêmisAspectos de Júpiter

Os princípios de fé, esperança e graça - intrínsecos à natureza de Júpiter - obterão uma manifestação mais ou menos adequada, dependendo principalmente dos contatos que se estabeleçam com os planetas pessoais.

Sol

Aspecto harmônico - reforça a segurança interna, a confiança em si mesmo e a certeza de estar ocupando o lugar adequado. Sabe o que quer e a razão de sua existência. Atua como um talismã invisível protegendo das crises da vida.

Aspecto desarmônico - a hybris consiste em superestimar o próprio valor, coexistindo com o secreto temor de não ser visto por outros tão bem como se vê a si mesmo. O desejo de parecer mais do que é, de ser considerado alguém importante, esconde o temor de sentir-se pouco valorizado.

Lua

Aspecto harmônico - O indivíduo emana um encanto pessoal que funciona como um amuleto: tem o poder de agradar, atraindo afeto e simpatias para sua pessoa.

Aspecto desarmônico - a hybris reside na falta de sinceridade - consigo mesmo e outros - com o propósito de atrair o beneplácito de quem o rodeia. Existe disparidade entre a convicção interna e a conduta externa.

Mercúrio

É um aspecto importante porque relaciona polaridades complementares e define o perfil intelectual do nativo.

Aspecto harmônico - colaboração entre intuição e lógica; aguda capacidade de percepção. A confiança na própria intuição leva-o a evitar o excessivo trabalho de análise.

Aspecto desarmônico - a hybris se manifesta como ceticismo ou superstição. São frequentes os enganos de julgamento devido ao desequilíbrio entre intuição e lógica.

Vênus

Aspecto harmônico - confiança em que a deusa fortuna não lhe retirará nunca os favores da vida. Tem o dom de retirar uma centelha de felicidade de cada instante - por mais corriqueiro que pareça para outros - desfrutando-o com alegria. Daí resulta um aumento na vitalidade proveniente da vivência de bem-aventurança.

Aspecto desarmônico - a hybris radica em supervalorizar sua boa estrela, desafiando frequentemente o destino. A vaidade o leva a acreditar que possui o segredo da felicidade, distinguindo-se sobre os demais. Percebe como injustiça qualquer vicissitude típica da vida.

Marte

Aspecto harmônico - tem fé na própria convicção e nos ideais, assim como valentia para defendê-los.

Aspecto desarmônico - a hybris intensifica o ardor pela justiça, manifestada como intolerância e incapacidade de autocrítica.

Para concluir, assinalaremos que a Mercúrio e Saturno cabe, entre outras tarefas, funcionar como antídotos dos excessos de Júpiter. Mercúrio questiona as crenças, pondo em xeque as possíveis “irracionalidades”. Saturno, por sua vez, recorda que a absorção deve fazer-se acompanhar do processo de assimilação.

O trânsito de Saturno por Virgem - regido por Mercúrio - entre 2007 e 2010 encarrega-se de nos avisar que é tempo de pagar pela abundância utilizada sem critério. Nas palavras de Elmer Bacher: “A riqueza implica uma grande esfera de utilização, e como não podemos levá-la conosco, devemos aprender a aplicá-la como uma expressão de um viver construtivo e proveitoso.”

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