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Edição 130 :: Abril/2009 :: - |
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PLUTÃO EM CAPRICÓRNIOJerusalém e o simbolismo
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Maria Dulce Figueiredo |
A presença de Plutão em Capricórnio coloca em questão o simbolismo da pedra e a tradicional concepção do Axis Mundi, o eixo do mundo que conectava o homem ao Cosmo. Estamos prestes a perder a referência do sagrado?
Este artigo sintetiza palestra proferida pela autora em evento conjunto realizado pela CNA e por astrólogos do SINASPE em Recife, em junho de 2008. A partir de uma sugestão da astróloga e professora de Filosofia Martha Perrusi, todos os palestrantes desenvolveram temas relacionados ao simbolismo da pedra e de sua destruição, em alusão ao ingresso de Plutão em Capricórnio.
O signo de Capricórnio está ligado ao simbolismo da montanha, uma analogia presente em muitas tradições. Por ser o lugar mais alto na superfície da Terra, também é o lugar mais perto do Céu e da Divindade. Local sagrado por excelência, simboliza o ponto em que é possível haver uma revelação ou uma hierofania.
Desde a mais remota antiguidade, os homens pressentiram a unidade do Cosmo e sempre se colocaram como parte integrante dessa unidade. Assim, onde quer que tenha se manifestado uma civilização, toda vida e todo saber originavam-se de uma fonte cósmica – a Tradição Primordial. Esta fonte era sagrada e única para todos os povos, embora ela se revestisse de cores diferentes em cada época e em cada grupo humano.
Para melhor compreendermos essa questão, devemos nos colocar diante da visão que o homem antigo tinha do mundo: a superfície da Terra era um disco plano e, para além das bordas que delimitavam essa área, estavam as águas do Mar Tenebroso. Acima, ele via a abóbada celeste, que era o firmamento com as estrelas, o sol e a lua. Abaixo da superfície, situava-se o local das trevas. Assim, o Universo ficou estruturado em três níveis superpostos: o Céu, a Terra e as Regiões Inferiores. Uma linha imaginária atravessava estes níveis ligando-os de forma a haver uma comunicação entre eles. Esta linha, conhecida por Axis Mundi (Eixo do Mundo), tocava a superfície da Terra num ponto chamado Omphalos, palavra grega que significa umbigo, considerado como sendo o Centro do Mundo. O termo umbigo é representativo de uma analogia que os homens bem conheciam: a imagem de um bebê em gestação no útero da mãe. O bebê se sente como parte integrante desse corpo que o abriga. Podemos, então, imaginar a unidade mãe/bebê. A partir dessa idéia, podemos também imaginar o homem antigo. Para ele não havia diferença: o Cosmo e ele eram um só. O Cosmo era sagrado e habitado pela Divindade. Assim, todo saber, toda orientação, vinha do alto, de Deus, o pai/mãe universal. Da mesma forma que o bebê se nutre através do cordão umbilical cuja origem é a mãe, também o homem antigo se nutria através do Axis Mundi, sendo o umbigo do mundo representado pelo local onde o eixo tocava a superfície.
Representação esquemática do conceito de "umbigo do mundo", apresentado pela autora em sua palestra. Tal como uma grávida que alimenta seu filho através do cordão umbilical, acreditava-se que o Axis Mundi conectava o Céu, a Terra e as regiões inferiores.
Mircea Eliade, historiador das religiões, chamou este homem antigo de homo religiosus, o homem religioso, inteiramente ligado ao Céu. O próximo passo, então, seria determinar o local onde situar o umbigo da Terra. Na fase em que a maioria dos povos era nômade, era comum haver um centro móvel ou bétilo: um poste de madeira ou pedra consagrado à divindade, e que era transportado em seus deslocamentos para que a divindade estivesse sempre com eles.
Segundo Mircea Eliade, o homem antigo considerava o espaço descontínuo, ou seja, possuía qualidades diferentes entre um sítio e outro. Basicamente, o espaço era sentido como sagrado ou profano. O espaço sagrado era aquele onde aconteceu uma hierofania, onde o Sagrado se manifestou. Este espaço era, então, delimitado e separado por muros ou muralhas. O espaço profano era aquele além das muralhas, um espaço desconhecido e cheio de perigos. Com o centro determinado, toda a orientação posterior era baseada nos pontos cardeais, sendo o oriente o mais importante, pois representava o nascimento do Sol, trazendo luz e alegria.
Vejamos, então, o que aconteceu, historicamente falando. Fixemos nosso estudo no período entre os anos 5000 a.C. e 200 a.C. Neste estudo, a parte do mundo ocidental em evidência é o Oriente Próximo, com a Mesopotâmia e a Palestina, o norte da África, com o Egito, e o sul da Europa, com Grécia e Roma. No centro, estava o Mar Mediterrâneo cujo limite eram as Colunas de Hércules, hoje o Estreito de Gibraltar. Este era o mundo conhecido dos povos dessa época. Diz o filósofo Pic Adrian que o homem se espalhou pela superfície da Terra vindo do Oriente para o Ocidente. Então, nos primeiros tempos, a grande concentração da população estava entre a Mesopotâmia, a Palestina e o Egito. A Palestina tornou-se o corredor de passagem entre uma região e outra, além de ser uma área de terras férteis com clima ameno, terras bastante cobiçadas por todos que por ali passavam. Os primeiros ocupantes da região foram os cananitas, descendentes de Canaã, neto de Noé, sendo por isso conhecida como Terra de Canaã. Posteriormente, essa terra foi ocupada pelos filisteus, vindos de Creta e descendentes de Mizraim, outro neto de Noé. O termo Palestina vem de Philistia ou terra dos filisteus. Tempos depois, a região foi conquistada pelos hebreus, descendentes de Abraão, que unificaram os povos existentes e dividiram as terras entre as doze tribos originárias dos filhos de Jacó, também chamado de Israel. A partir dessa época, os hebreus passaram a ser conhecidos como israelitas ou judeus. O termo judeu tornou-se depois generalizado, mas inicialmente era próprio de quem pertencia à tribo de Judá.
Jerusalém existe desde a Idade do Bronze e, primeiramente, foi chamada de Salem, que significa paz. Na época de Abraão, a cidade era governada por Melquisedeque, rei hierofante e adorador do Sol. Jerusalém só se tornou o Centro do Mundo a partir de sua ocupação pelos judeus comandados por Josué, sucessor de Moisés, por volta do ano 1300 a.C. Até a construção do Templo em 1000 a.C. aproximadamente, os judeus não tinham um centro do mundo fixo: o centro era representado pela Arca da Aliança que guardava as Tábuas da Lei, trazidas por Moisés ao descer o Monte Sinai. Em cada parada, montava-se uma tenda, o tabernáculo, que abrigava a Arca. Quando eles se estabeleceram em cidades, houve a necessidade de se criar um templo para este fim. O rei Davi estabeleceu-se em Jerusalém e fez todos os planos para a construção de um grande templo que seria a casa de Javé, mas a construção propriamente dita coube a seu filho Salomão.
Representação gráfica da concepção hebraica do mundo. A morada celeste de Deus fica acima das águas superiores. Abaixo dessas águas está o firmamento ou céu, que se assemelha a uma tijela emborcada, sustentada por colunas. Através das aberturas (comportas) na abóbada as águas superiores caem sobre a Terra, como chuva ou neve. A Terra é uma plataforma sustentada por colunas e rodeada de água, os mares. Por baixo e ao redor das colunas, estão as águas inferiores. Nas profundezas da Terra está o Xeol, a morada dos mortos (também chamada "infernos"). Esta mesma concepção pré-científica existia também entre os povos pagãos vizinhos.
Um ponto a ser cuidadosamente estudado era o sítio onde seria construído o templo. A preferência recaía sobre lugares elevados como montes e montanhas que, por serem acidentes geográficos naturais, levavam o homem para mais perto de Deus. Próximo ao palácio de Davi, existia uma elevação chamada Monte Moriá, e foi para lá que ele se dirigiu. Neste mesmo lugar existe uma grande rocha que a tradição diz ter sido o local onde Abraão ia imolar Isaac. Tempos depois, esta mesma rocha foi o local em que, segundo a tradição islâmica, Maomé subiu ao céu montado em seu cavalo Baruk. Criou-se uma esplanada onde o templo foi construído, tendo a rocha como o indicador de uma hierofania, ou seja, a intervenção divina na vida dos homens. Este sítio, dentro das muralhas de Jerusalém, tornou-se então duplamente sagrado: por abrigar a Arca da Aliança e por possuir esta pedra. Há também que se considerar o uso da pedra nestas construções. As pedras sagradas eram tidas como um material que guardava o divino dentro de si. Quando um culto era celebrado sobre a pedra, esta se tornava sagrada, tornando-se então a casa do deus. Como exemplo, podemos citar a Caaba, pedra cúbica e sagrada para os muçulmanos; Jesus Cristo também faz referência ao valor da pedra quando diz a Pedro: “Tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”.
Esquema geral das religiões do Velho Mundo, em que o Judaísmo e o Hinduísmo
ocupavam uma posição central.
Nos tempos antigos, Jerusalém foi um marco como cidade, bela e bem construída, um local onde todos passavam e muitos ambicionavam a sua posse; estava, por assim dizer, na encruzilhada do mundo. Tornou-se um centro espiritual somente depois que o templo foi construído, e assim se conservou, mesmo depois de sua destruição total. O desdobramento do monoteísmo, agora em três ramificações, judaísmo, cristianismo e islamismo, fortaleceu esse sentido de terra santa, mesmo quando o homem já não se considera unido ao Cosmo, e praticamente perdeu a ligação com o Sagrado e o sentido de sua existência. Esse sentimento será cada vez mais forte nestes próximos tempos, já que a entrada de Plutão em Capricórnio fará ruir este edifício mais uma vez. As palavras de Jesus diante de Jerusalém parecem bem atuais: “Vedes tudo isto! Em verdade vos digo que não ficará pedra sobre pedra; tudo será destruído”. Ao longo de sua história, Jerusalém sofreu mais de trinta invasões por parte de povos vizinhos e mais de três destruições de grande porte.
A situação geográfica, no entroncamento de rotas que ligavam o Ocidente ao Oriente,
ajudou a criar em torno de Jerusalém a concepção de Centro do Mundo.
Na realidade, o risco que corremos agora é destruir toda referência ao Sagrado dentro de nós. Seremos apenas pedra, sem a essência divina; seremos um amontoado de pedras sem sentido, sem um plano, sem uma razão de ser. Talvez precisemos de uma reforma, de uma regeneração e tirar a poeira que se acumulou por tanto tempo. Os ventos vão varrer toda a montanha – estaremos prontos para passar por essa transformação?
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